Os convidados – o estelar elenco de conselheiros do Brasilinvest, acrescido de poucos convidados de Garnero (entre eles o governador de Minas Gerais, Aécio Neves) e de Rothschild (como Javier Valls Taberner, controlador do Banco Popular, o terceiro maior da Espanha) – foram guiados para o Great Room, no andar superior
Edição 351 - 26/05/2004
Ele costurou em Londres projetos milionários, das finanças ao petróleo. Para Mário Garnero, o mundo não tem fronteiras.
Por Por Luiz Fernando Sá, Enviado especial a Londres
GARNERO NO SAVOY
Quartel-general de uma temporada de pompa, poder e bilhões
Quartel-general de uma temporada de pompa, poder e bilhões
Vizinho à sala do trono, o imponente salão de recepções do Palácio St. James, em Londres, foi, durante três séculos, o epicentro do poder do Império Britânico, aquele em que o sol jamais se punha. Se suas paredes – revestidas do mais fino veludo produzido na face da terra, bordejadas com frisos revestidos em ouro e decoradas com grandes telas a óleo retratando épicas vitórias militares inglesas, como a da batalha de Waterloo – falassem, revelariam ao mundo os bastidores do tempo em que, ali, gerações de soberanos elegiam quem era quem na nobreza que os cercava e definiam, com suas decisões, os destinos de, literalmente, meio mundo. Hoje, a rainha Elizabeth II vive e despacha do Palácio de Buckingham – a separá-los, apenas os jardins do Green Park – e os domínios do Reino Unido já não se estendem por tantas terras. As paredes do St. James, agora residência oficial do Duque de York (título oficial do príncipe Andrew, filho de Elizabeth e irmão de Charles, o herdeiro do trono) e palco dos mais concorridos eventos da realeza, porém, continuam a vislumbrar os fascinantes minuetos do poder e ainda teriam muito o que contar. Sua mais recente história teria como protagonista um certo brasileiro, que roubou a cena em um almoço oferecido por Andrew, na terça-feira 18. “Mário Garnero é um exemplo de como o Brasil pode liderar a aproximação comercial entre o Ocidente e os novos mercados do Oriente”, disse o príncipe à DINHEIRO ao final do banquete para cerca de 100 seletos convidados. Minutos antes, Andrew havia decretado, em alto e bom som, que cabia aos brasileiros “um papel estratégico no novo cenário das relações comerciais internacionais” e, usando Garnero como uma espécie de embaixador informal, avisado: “O Reino Unido quer caminhar cada vez mais próximo ao Brasil”.
BUSH NO PALÁCIO:
"Espero que mais homens de negócios no mundo sigam o exemplo de Mário Garnero"
"Espero que mais homens de negócios no mundo sigam o exemplo de Mário Garnero"
Apresentado o cenário, nomeie-se as testemunhas. Andrew sagrou Garnero no dia em que o homenageado principal era o ex-presidente americano George Bush, o pai – os três ocuparam cadeiras vizinhas na mesa central. A poucos metros de distância, a ex-primeira ministra Margareth Thatcher, lendária Dama de Ferro britânica. Espalhada pelo salão, a elite da nobreza e dos negócios em cinco continentes, ostentado títulos de lordes e sobrenomes como Rothschild, Churchill, De Benedetti... Foi o fecho dourado para uma breve temporada de pompa, circunstância, poder e bilhões. Garnero comandou em Londres a reunião anual do Conselho Internacional do Brasilinvest, o banco de negócios que lidera cerca de US$ 3 bilhões de investimentos ao redor do mundo. Durante três dias, os melhores salões da corte britânica se abriram para a não menos impressionante corte de conselheiros do brasileiro. Bush pai, amigo dos Garnero há três décadas, não é membro do board, mas, como convidado especial, foi a estrela maior em um clube cujos sócios reúnem patrimônio que, somado, se aproxima dos US$ 20 bilhões. A tradicional família de banqueiros ingleses Rothschild, por exemplo, tem um assento lá, ocupado pelo jovem Nathanael, 38 anos, presidente do fundo Atticus, com US$ 3 bilhões em ativos. Os petrodólares do Oriente Médio falam pelas vozes do sheik Salman Bin-Khalifa Al Khalifa, vice-presidente da estatal petrolífera do Bahrein – cuja produção de óleo corresponde a três Petrobras --, e de Youssef Hamada Al-Ibrahim, ex-ministro das finanças do Kuwait. Rei da seda e sócio de um império no varejo de luxo, David Tang faz a ponte com a emergente China, nova fronteira dos negócios dos Garnero. Oleg Deripaska, russo de US$ 12 bilhões que lidera a produção mundial de alumínio, e Armen Sarkissian, ex-primeiro ministro da Armênia, abrem as portas para a riquezas do antigo bloco soviético. E é só o começo.
Seria uma Babel dos negócios, não houvesse a uni-los a linguagem universal das oportunidades e o magnetismo de Garnero. Todos lucram com a convivência.
Conselheiros, não raro, viram parceiros em empreitadas milionárias. E, com seus dólares e prestígios unidos, fazem do conselho do Brasilinvest uma entidade multinacional da qual todo mundo quer se aproximar. Garnero colhe os louros por onde passa.
“Quando ele me convidou para participar do conselho, há alguns anos, durante o Carnaval do Rio, não tinha idéia do que era o Brasilinvest”, conta o elétrico e bem humorado Tang. “Aceitei mais porque estava seduzido pelas mulatas, mas hoje sei do que Garnero é capaz. E ele leva o nome do Brasil com ele”. Bush, o amigo fiel, não cansa de disparar elogios ao brasileiro. Desta vez, repetiu a dose em pelo menos quatro diferentes eventos em Londres. No Palácio St. James, dividiu as honras reais com Garnero. “Espero que mais homens de negócios do mundo sigam o exemplo de Mário e procurem construir parcerias internacionais pela prosperidade”, discursou. Ergueu sua taça e brindou.
Conselheiros, não raro, viram parceiros em empreitadas milionárias. E, com seus dólares e prestígios unidos, fazem do conselho do Brasilinvest uma entidade multinacional da qual todo mundo quer se aproximar. Garnero colhe os louros por onde passa.
“Quando ele me convidou para participar do conselho, há alguns anos, durante o Carnaval do Rio, não tinha idéia do que era o Brasilinvest”, conta o elétrico e bem humorado Tang. “Aceitei mais porque estava seduzido pelas mulatas, mas hoje sei do que Garnero é capaz. E ele leva o nome do Brasil com ele”. Bush, o amigo fiel, não cansa de disparar elogios ao brasileiro. Desta vez, repetiu a dose em pelo menos quatro diferentes eventos em Londres. No Palácio St. James, dividiu as honras reais com Garnero. “Espero que mais homens de negócios do mundo sigam o exemplo de Mário e procurem construir parcerias internacionais pela prosperidade”, discursou. Ergueu sua taça e brindou.
AO LADO DE CHURCHILL:
Bush discursa no salão do hotel Savoy onde o ex-primeiro-ministro britânico (cujo busto está lá) reunia o The Other Club. Mais tarde, encontraria Winston, o neto (acima)
Bush discursa no salão do hotel Savoy onde o ex-primeiro-ministro britânico (cujo busto está lá) reunia o The Other Club. Mais tarde, encontraria Winston, o neto (acima)
NA CASA DOS ROTHSCHILD
No restrito perímetro que concentra as propriedades reais no coração de Londres, uma única propriedade privada se destaca. Com suas linhas neoclássicas, inspiradas nos templos da Grécia antiga, a Spencer House é a única mansão londrina do século XVIII a permanecer intacta às ações do tempo e dos bombardeios sofridos pela cidade em duas guerras mundiais. Foi erguida a partir de 1756 pelo John Spencer, o primeiro de uma linhagem de condes. Fora da corte britânica, ninguém os conheceria, a não ser por uma de suas descendentes diretas, Diana Spencer, a Lady Di. Ela herdou a nobreza, mas não o palacete, que a família, com dificuldades financeiras, teve de vender no início do século passado. Hoje, o senhor da propriedade é Lorde Jacob Rothschild, pai do jovem Nathanael e decano da família de banqueiros mais influente dos últimos dois séculos, que a usa apenas em ocasiões especiais.
SURPRESAS
Al-Khalifa presenteia Bush com um relógio de US$ 50 mil (no alto); Evelyn Rothschild quase foi barrado no banquete do Duque de York
Al-Khalifa presenteia Bush com um relógio de US$ 50 mil (no alto); Evelyn Rothschild quase foi barrado no banquete do Duque de York
No domingo 16, Lorde Rothschild abriu as portas da casa no ensolarado fim de tarde de primavera. Serviu champanhe no terraço, diante da bucólica vista do Green Park. O sol se punha quando um arauto esmurrou o piso de madeira da biblioteca para atrair a atenção – assim manda a tradição da corte – e, com voz impostada, anunciou que era chegada a hora do banquete. Os convidados – o estelar elenco de conselheiros do Brasilinvest, acrescido de poucos convidados de Garnero (entre eles o governador de Minas Gerais, Aécio Neves) e de Rothschild (como Javier Valls Taberner, controlador do Banco Popular, o terceiro maior da Espanha) – foram guiados para o Great Room, no andar superior. Desfilaram por entre o mais completo acervo de mobiliário de época existente fora dos palácios reais e uma coleção ímpar de obras dos melhores artistas ingleses, com destaque para uma série de pinturas de Benjamin West cedida pela rainha. Para chegarem ao salão, cruzam portas emolduradas por colunas em estilo corinto em puro mármore grego, retirado das ruínas do antigo templo Erechteum. O mármore branco também abraça as esquadrias das janelas e dá acabamento à lareira. O teto, ricamente trabalhado, é réplica da capela de Greenwich, um dos orgulhos da arquitetura inglesa.
RODA DO PODER
Andrew cumprimenta Thatcher diante de Garnero, Aécio e Bush, ambos com o broche de Minas
Andrew cumprimenta Thatcher diante de Garnero, Aécio e Bush, ambos com o broche de Minas
Foi este o cenário do primeiro brinde, comandado pelo anfitrião. As taças de cristal da Bohemia ergueram-se para Bush e para Garnero. “Tenho-o como um quarto filho” , disse Rothschild referindo-se ao brasileiro. Na grande família das finanças internacionais, o lorde lembrou à DINHEIRO que tem outros irmãos no Brasil. “Há muito tempo tenho relações fraternas com os Safra”, contou. Lily, viúva e herdeira do banqueiro Edmond Safra, não perde a sua companhia quando está em Londres. Os laços de Rothschild se estendem por todas as direções. O magnata australiano da mídia Rupert Murdoch, por exemplo, o elegeu como tutor de seu filho James, de 31 anos, no comando da TV por satélite BSkyB. Entre a novíssima safra de bilionários russos, ele é quase uma unanimidade. Mikhail Khodorkovsky, do grupo petrolífero Yukos, apontou seu nome como uma espécie de chairman interino enquanto tenta livrar-se das acusações de fraude e sonegação que o levaram à prisão. Já Deripaska negocia com Rothschild o lançamento de um fundo para investimentos na Rússia. No jantar do domingo, o rei do alumínio sentou-se ao lado de Garnero. Queixou-se da dificuldade em obter mais bauxita no mercado internacional para ampliar sua produção. E segredou que sonhava com um projeto trinacional, envolvendo russos, chineses e brasileiros e que, em troca da bauxita, pode levar a qualquer país, inclusive ao Brasil, uma nova fábrica com investimentos de US$ 500 milhões.
Terá surgido ali uma futura transação? Dará frutos aquele breve bate-papo no terraço em que o sheik Al-Khalifa disse, com todas letras, a Garnero que tem o maior interesse em qualquer negócio envolvendo a Petrobras? Nesse universo, conversas informais devem ser levadas a sério, assim como o jogo da diplomacia, explicitamente trabalhado na Spencer House. Ao final do jantar, Al-Khalifa entregou a Bush um presente. O relógio, cravejado de diamantes e com valor estimado em US$ 50 mil, era uma homenagem pelos 80 anos que o ex-presidente americano completa no dia 12 de junho. “Mas também um agradecimento por ter expulsado Saddam Hussein do Kuwait na primeira Guerra do Golfo, preservando os poços de petróleo da região”, disse o sheik à DINHEIRO. O local para a expressão de gratidão não podia ter sido melhor escolhido. A Spencer House ficou marcada na biografia de Bush como um de seus grandes palcos. O local serviu de cenário para uma histórica reunião de cúpula do G7, o grupo das nações mais ricas do mundo, em julho de 1991. O convidado especial era Mikhail Gorbatchov, líder da União Soviética. Ali, os dois líderes das superpotências encerraram de vez a era da Guerra Fria. Em dezembro daquele ano, Gorbatchov seria deposto e a União Soviética, desmantelada. “É como uma volta no tempo”, suspirou Bush.
O CLUBE DE CHURCHILL
A história caminha também pelos luxuosos ambientes do Savoy Hotel, quartel-general do Brasilinvest na reunião de Londres. Tromba-se com ela já na exclusiva ruela de acesso à imponente entrada – nas paredes do prédio, placas relatam passagens dos quase oito séculos que se passaram desde que, em 1246, Peter, o nono conde de Savoy, ergueu ali o seu palácio, “grande o suficiente para acomodar um exército inteiro”. Exatos 758 anos depois, um estado-maior corporativo instalou-se ali, com sua profusão de idiomas e temas. Na manhã da segunda-feira 17, o board do Brasilinvest reuniu-se em torno de uma grande mesa em forma de U. Colegas do conselho trocam experiências e falam de investimentos mútuos. O francês Marc Pietri – dono da Constructa, maior construtora da França -- é consultado sobre as últimas cotas de aplicação no Mary Brickel Village, empreendimento comercial e residencial de US$ 130 milhões no coração de Miami em fase final de construção. Oferece desconto para os presentes: só eles podem entrar com aporte mínimo de US$ 1 milhão, um terço do exigido no mercado. Há interessados. O sheik Khalifa anota tudo com atenção – projeto de US$ 1 bilhão para recuperação de uma área em São Paulo, ferrovias no coração do Brasil, lançamento de bônus ecológicos e ecoresort na Amazônia, sociedade com o megainvestidor George Soros para atuar no mercado de securitização de recebíveis no Brasil, US$ 250 milhões em hotéis em Cuba, um complexo turístico/empresarial em Santa Catarina... O cardápio dos projetos que passa por Garnero é extenso. E aumenta a todo minuto. Lado a lado estão o presidente da fábrica de artigos esportivos Head, Johan Eliasch, e a americana Georgette Mosbacher, dona de um império de cosméticos (Borghese) e spas avaliado em US$ 300 milhões. Um grupo de empresários escandinavos vem prospectar negócios na área de petróleo. O jovem financista Nicolas Berggruen – cujo grupo Alpha Investments and Management, com US$ 2,5 bilhões em caixa e aplicações em setores como bebidas e mídia – quer informações sobre o mercado de televisão no Brasil. Amigo de Jorge Paulo Lehman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, os donos da Ambev, ele foi o controlador do Media Capital, um dos maiores conglomerados de comunicação de Portugal. “Esse é o conceito do encontro”, explica Garnero. “Juntamos forças de diferentes áreas e mercados para localizar as melhores oportunidades de negócios.”
A história caminha também pelos luxuosos ambientes do Savoy Hotel, quartel-general do Brasilinvest na reunião de Londres. Tromba-se com ela já na exclusiva ruela de acesso à imponente entrada – nas paredes do prédio, placas relatam passagens dos quase oito séculos que se passaram desde que, em 1246, Peter, o nono conde de Savoy, ergueu ali o seu palácio, “grande o suficiente para acomodar um exército inteiro”. Exatos 758 anos depois, um estado-maior corporativo instalou-se ali, com sua profusão de idiomas e temas. Na manhã da segunda-feira 17, o board do Brasilinvest reuniu-se em torno de uma grande mesa em forma de U. Colegas do conselho trocam experiências e falam de investimentos mútuos. O francês Marc Pietri – dono da Constructa, maior construtora da França -- é consultado sobre as últimas cotas de aplicação no Mary Brickel Village, empreendimento comercial e residencial de US$ 130 milhões no coração de Miami em fase final de construção. Oferece desconto para os presentes: só eles podem entrar com aporte mínimo de US$ 1 milhão, um terço do exigido no mercado. Há interessados. O sheik Khalifa anota tudo com atenção – projeto de US$ 1 bilhão para recuperação de uma área em São Paulo, ferrovias no coração do Brasil, lançamento de bônus ecológicos e ecoresort na Amazônia, sociedade com o megainvestidor George Soros para atuar no mercado de securitização de recebíveis no Brasil, US$ 250 milhões em hotéis em Cuba, um complexo turístico/empresarial em Santa Catarina... O cardápio dos projetos que passa por Garnero é extenso. E aumenta a todo minuto. Lado a lado estão o presidente da fábrica de artigos esportivos Head, Johan Eliasch, e a americana Georgette Mosbacher, dona de um império de cosméticos (Borghese) e spas avaliado em US$ 300 milhões. Um grupo de empresários escandinavos vem prospectar negócios na área de petróleo. O jovem financista Nicolas Berggruen – cujo grupo Alpha Investments and Management, com US$ 2,5 bilhões em caixa e aplicações em setores como bebidas e mídia – quer informações sobre o mercado de televisão no Brasil. Amigo de Jorge Paulo Lehman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, os donos da Ambev, ele foi o controlador do Media Capital, um dos maiores conglomerados de comunicação de Portugal. “Esse é o conceito do encontro”, explica Garnero. “Juntamos forças de diferentes áreas e mercados para localizar as melhores oportunidades de negócios.”
Na entrada voltada para as margens do rio Tâmisa, um comboio de Land Rovers movimenta a pacata viela. O séquito de seguranças desembarca primeiro. Em seguida, David Tang, Mário Bernardo Garnero, filho do anfitrião, e George Bush. Chegam de um seção de compras na Asprey’s, nova meca do consumo de luxo na cidade. A loja só seria inaugurada no dia seguinte, mas Tang conseguiu que o dono, Lawrence Stroll, a abrisse exclusivamente para o grupo. A escolha era de Bush, a conta, um presente de Tang. O ex-presidente levou três echarpes, lembranças para a mulher Barbara, que ficou nos EUA. O almoço é em um dos salões do Savoy. Bush senta-se à cabeceira, ao lado de Winston Churchill. Ele mesmo, o mítico primeiro-ministro que comandou a reação inglesa na II Guerra Mundial. Um busto de Churchill fazendo o sinal da vitória indica que sua alma está ali. Antes de ascender ao poder, ele caminhava os 500 metros que separam o Parlamento britânico do Savoy e reunia-se com seus pares para discutir a situação internacional. Naquela sala revestida de madeira nobre, fundaram o The Other Club, cujo ritual de chá e política se repete até hoje.
Às quartas-feiras, no final da tarde, os últimos remanescentes do clube ainda se reúnem e mantêm mais essa tradição.
Às quartas-feiras, no final da tarde, os últimos remanescentes do clube ainda se reúnem e mantêm mais essa tradição.
O SULTÃO DE CADOGAN SQUARE
Nos três dias de eventos em Londres, Garnero dividiu o papel de anfitrião. Tang, amigo do príncipe Andrew, foi quem abriu as pesadas portas de madeira maciça do Palácio St. James – um evento tão exclusivo que Evelyn Rothschild, primo e ex-sócio do lorde das finanças, chegou a ser barrado na porta por não trazer documentos e só teve a entrada liberada por intervenção do empresário chinês. Nemir Kirdar – banqueiro de origem iraquiana cujo grupo Investcorp foi responsável pelo ressurgimento de ícones como Saks, Tiffany e Gucci e que tem US$ 2,7 bilhões investidos em empresas de vários continentes – comandou um jantar de gala na Two Temple Place, mansão vitoriana cujos ambientes preservam os mais finos trabalhos de artesãos e entalhadores em madeira do século XIX e que, sobre o telhado, ostenta detalhes manufaturados com o cobre retirado da caravela Santa Maria, da esquadra com que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492. Lá, embaixadores, lordes e barões disputavam espaço com a realeza do Oriente Médio – o príncipe árabe Turki Al Faisal dividiu mesa com Garnero –, titãs dos negócios como o presidente mundial do HSBC, John Bond, e até um Winston Churchill de carne e osso, neto do original. Ali Bush reencontrou John Major, primeiro-ministro britânico que recepcionou os líderes mundiais na reunião do G7 de 1991.
Nos três dias de eventos em Londres, Garnero dividiu o papel de anfitrião. Tang, amigo do príncipe Andrew, foi quem abriu as pesadas portas de madeira maciça do Palácio St. James – um evento tão exclusivo que Evelyn Rothschild, primo e ex-sócio do lorde das finanças, chegou a ser barrado na porta por não trazer documentos e só teve a entrada liberada por intervenção do empresário chinês. Nemir Kirdar – banqueiro de origem iraquiana cujo grupo Investcorp foi responsável pelo ressurgimento de ícones como Saks, Tiffany e Gucci e que tem US$ 2,7 bilhões investidos em empresas de vários continentes – comandou um jantar de gala na Two Temple Place, mansão vitoriana cujos ambientes preservam os mais finos trabalhos de artesãos e entalhadores em madeira do século XIX e que, sobre o telhado, ostenta detalhes manufaturados com o cobre retirado da caravela Santa Maria, da esquadra com que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492. Lá, embaixadores, lordes e barões disputavam espaço com a realeza do Oriente Médio – o príncipe árabe Turki Al Faisal dividiu mesa com Garnero –, titãs dos negócios como o presidente mundial do HSBC, John Bond, e até um Winston Churchill de carne e osso, neto do original. Ali Bush reencontrou John Major, primeiro-ministro britânico que recepcionou os líderes mundiais na reunião do G7 de 1991.
Horas antes, um grupo seleto subiu, em elevador com detalhes em ouro, ao quarto andar da residência situada no número um da Cadogan Square. O endereço foi adquirido há exatos 30 anos por Washe Manoukian, então um arrojado mercador, armênio nacionalizado libanês, amigo e parceiro de negócios do sultão de Brunei, naquele tempo apontado como o homem mais rico do mundo. A amizade acabou nas raias dos tribunais nos anos 90 e hoje os dois rivalizam em, digamos, prosperidade. Ao lado do conterrâneo Sarkissian, Manoukian ofereceu um coquetel de tirar o fôlego. A vista do luxuoso terraço era deslumbrante, mas os olhos dos convidados se fixaram muito mais nas paredes internas da sala de estar contígua, limitadas com batentes em ouro. “Oh my God!”, exclamava Georgette Mosbacher a todo momento, espantada com a riqueza da pequena amostra do acervo do anfitrião – talvez equivalente em valor à fortuna da milionária. Três Renoirs dividiam uma das paredes com um Degas e um Modigliani. Dois Pissaros estão suspensos no lado oposto. Pietri, também um colecionador de porte, apaixonou-se pela pequena tela com uma paisagem nevada da cidade de Eindhoven, na Holanda. O autor: Van Gogh. “Não sou um comprador profissional, que estuda o mercado. Compro por impulso”, afirmou o francês à DINHEIRO. “Se cruzo com uma tela dessas em um leilão, não sei até onde posso ir”. Centenas de milhões de dólares estavam expostos ali, mas há muito mais na casa. Manoukian desculpou-se por não poder exibir tudo. “Os outros andares estão fechados por exigência da segurança”, explicava. Olhos mais atentos ainda perceberam, pelo vão de uma porta entreaberta, um enorme Picasso pendurado, no térreo, atrás da mesa de trabalho do magnata de US$ 4 bilhões – cujas propriedades na Inglaterra só perdem em valor e quantidade para as da rainha.
O EXPRESSO PARA O ORIENTE
Manoukian e Sarkissian, influentes nas antigas repúblicas soviéticas ricas em petróleo, são, a exemplo do russo Deripaska e do chinês Tang, os co-pilotos do Expresso Oriente que Garnero quer liderar. “As melhores oportunidades no momento estão na China e na Eurásia. Temos de levar as empresas brasileiras para lá”, diz Garnero. O embaixador informal do Brasil mostra que tem ferramentas e prestígio para isso. “Com o passaporte carimbado pelo presidente Bush e o duque de York, qualquer porta se abre para nós”, discursou ele no Palácio St. James, em agradecimento à recepção pelo Príncipe Andrew. A palavra do brasileiro é ouvida e repetida.
Ao apresentar Aécio Neves a Bush na casa dos Rothschild, por exemplo, Garnero referiu-se ao governador como provável futuro presidente do Brasil. Durante os dias seguinte, o ex-presidente americano manteve na lapela um pequeno broche com a bandeira de Minas Gerais. No salão real, ao discursar, Bush citou a presença do “futuro presidente do Brasil”.
Manoukian e Sarkissian, influentes nas antigas repúblicas soviéticas ricas em petróleo, são, a exemplo do russo Deripaska e do chinês Tang, os co-pilotos do Expresso Oriente que Garnero quer liderar. “As melhores oportunidades no momento estão na China e na Eurásia. Temos de levar as empresas brasileiras para lá”, diz Garnero. O embaixador informal do Brasil mostra que tem ferramentas e prestígio para isso. “Com o passaporte carimbado pelo presidente Bush e o duque de York, qualquer porta se abre para nós”, discursou ele no Palácio St. James, em agradecimento à recepção pelo Príncipe Andrew. A palavra do brasileiro é ouvida e repetida.
Ao apresentar Aécio Neves a Bush na casa dos Rothschild, por exemplo, Garnero referiu-se ao governador como provável futuro presidente do Brasil. Durante os dias seguinte, o ex-presidente americano manteve na lapela um pequeno broche com a bandeira de Minas Gerais. No salão real, ao discursar, Bush citou a presença do “futuro presidente do Brasil”.
PESOS PESADOS NO CONSELHO
1- Sheik Al-Khalifa: vice-presidente
da Bahrein Petroleum
2- David Tang: rei da seda na China e sócio de uma cadeia de varejo de luxo
3- Nemir Kirdar: controlador
do Investcorp, com ativos de
US$ 2,7 bilhões
4-Youssef Al-Ibrahim: ex-ministro
das Finanças do Kuwait
1- Sheik Al-Khalifa: vice-presidente
da Bahrein Petroleum
2- David Tang: rei da seda na China e sócio de uma cadeia de varejo de luxo
3- Nemir Kirdar: controlador
do Investcorp, com ativos de
US$ 2,7 bilhões
4-Youssef Al-Ibrahim: ex-ministro
das Finanças do Kuwait
SUPERANFITRIÕES
1- Washe Manoukian: império
de US$ 4 bilhões e Renoirs,
Van Gogh na parede
2 - Lorde Rothschild: jantar na casa que foi dos ancestrais da princesa Diana
1- Washe Manoukian: império
de US$ 4 bilhões e Renoirs,
Van Gogh na parede
2 - Lorde Rothschild: jantar na casa que foi dos ancestrais da princesa Diana
OS NOVOS CONSELHEIROS
1 - Nicolas Berggruen: fundo
de US$ 2,5 bilhões e interesse
na mídia no Brasil
1 - Nicolas Berggruen: fundo
de US$ 2,5 bilhões e interesse
na mídia no Brasil
2 - Georgette Mosbacher: império de US$ 300 milhões em cosméticos e spas
O HUMOR E A AGONIA DE BUSH
Às vésperas de completar 80 anos, o ex-presidente americano George Bush demonstrou em Londres uma vivacidade invejável. Para prestigiar o amigo Mário Garnero, enfrentou animado uma maratona de eventos em ritmo de superstar. Em cada um deles, foi abordado dezenas de vezes para posar, em fotos, ao lado de nobres e plebeus, concedeu autógrafos e distribuiu charme em todas as direções. Seus discursos e as conversas em diversas rodas foram sempre recheados de humor – com a marcante presença, nas histórias, de Barbara, sua mulher, que desta vez não o acompanhou –, à exceção dos momentos em que tratava da presença americana no Iraque, sob as ordens de seu filho, o atual presidente George W. Bush.
Diante do inevitável tema, saía de cena o político carismático, dando lugar ao pai angustiado.
AS CRÍTICAS AO FILHO. “A questão do Iraque, para mim, não é política ou econômica. É pessoal. Quem é pai sabe do que estou falando. Não há angústia maior do que ver seu filho ser criticado e não poder fazer nada.”
A CRISE NO IRAQUE. “Vivemos, sem dúvida, um momento difícil e complexo no Iraque. A questão é que está havendo uma exploração muito grande dos aspectos negativos. Ninguém fala, porém, que os iraquianos vivem hoje em maior liberdade, que não são subjugados pela vontade de poucos.”
O MEDO DO TERROR. “Várias vezes, depois dos atentados de 11 de setembro, ouvi a mesma pergunta: ‘Como ser otimista em um cenário como esse?’ Minha resposta é sempre a mesma. Não vai acontecer de novo se lutarmos juntos pela democracia. Temos visto avanços significativos nessa direção em vários países, como a China, a Tailândia, Taiwan e Coréia. O processo de aperfeiçoar a democracia e criar um mercado internacional sustentável deve ser permanente, nunca acaba.”
SAUDADES DO PODER. “Encontrar com gente como Margareth Thatcher me traz ótimas recordações. Sinto falta da convivência com os grandes líderes mundiais.”
O DIA MAIS FELIZ. “Tenho um filho presidente e um filho governador, sou um homem realizado. Logo depois da eleição do presidente (ele agora se refere ao filho George dessa forma), eu e Barbara voltávamos da Flórida para nossa casa no Texas. Em certo momento, virei para ela e disse: ‘Esse é o dia mais feliz de minha vida”. Fez-se um longo silêncio. Até que ela me indagou:
‘E o dia do nosso casamento?’
‘E o dia do nosso casamento?’
A IDADE. “Completo 80 anos no próximo mês e gostaria de comemorar de uma maneira especial. Fui pára-quedista na II Guerra Mundial e desde então só voltei a saltar umas poucas vezes. Agora, pensei foi em voltar a saltar. Barbara, minha
mulher, não quer nem ouvir falar. Disse a ela: ‘De uma forma ou de outra, será meu último salto’.”
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