O DAY AFTER DAS ELEIÇÕES
Nivaldo Cordeiro
30/10/2010
Há seis meses a minha relação com o processo eleitoral que se aproximava era de indiferença, porque ambos os projetos de poder em disputa poderiam ser compreendidos como uma farsa, uma vez que o segmento da direita política estava previamente excluído. Pouco a pouco fui me dando conta de que, se nessa proposição havia um grão de verdade, ela também escondia um mentira hedionda: o fato de ambos os projetos serem de esquerda não os igualava em nada, muito pelo contrário. O projeto do PSDB é de estabilidade das instituições, de alternância de poder, de respeito à propriedade privada e à livre iniciativa, de assunção de uma postura tolerante diante da diversidade, de reverências às instituições democráticas, de estímulo e respeito à liberdade de expressão e de uma imprensa livre. Sem esquecer seu alinhamento com o chamado “mundo livre”, ou seja, o Ocidente, basicamente a Europa e os EUA.
O projeto do PT é o contrário de tudo isso. Desde o início do governo Lula vimos as sorrateiras e maquiavélicas tentativas de mudanças ilegítimas na ordem constitucional, a começar pelo chamamento das conferências nacionais, verdadeiras mutretas paralegais para legitimar mudanças na ordem vigente, na marra, como ficou cristalizado no decreto do PNDH-3. Vimos que o PT tenta, de todas as formas, impedir a alternância de poder, pois quer nele se perpetuar, se possível da forma a mais totalitária possível. O PT criou todos os instrumentos de compra de votos que a sociedade brasileira havia deixado para trás, a começar pela troca singela de bolsas por apoio político dos chamados grotões. Vimos o ilegítimo elo que foi criado entre o Estado e a estrutura sindical, que passou a ser formuladora de políticas públicas nos termos clássicos do fascismo. Vimos a sistemática perseguição dos meios de comunicação. Vimos o alinhamento do Brasil com o que há de pior em política internacional: China, Irã, Venezuela, Bolívia e quejandos, sem contatar com seu apoio ostensivo às FARC, organização ligada ao narcotráfico. Vimos a distorção absurda levada a efeito pela fusão do Estado com o partido e, na esteira, o inchaço do funcionalismo público.
Quando me dei conta dessa realidade brutal não tive dúvidas de pular na arena para lutar. Criei meu próprio canal no Youtube, instrumento no qual deixei registradas minhas próprias impressões e tentei alertar os meus amigos e eventuais conhecidos para os perigos que se aproximavam. A eleição da Dilma Rousseff em primeiro turno equivalia à implantação de um regime revolucionário marxista-leninista pela força do voto, em processo parecido com o de Chávez, na Venezuela, e de Hitler, na Alemanha. Minha alma ficou alarmada com todos esses perigos e, por dever de consciência, tentei fazer o bom combate.
Para piorar, revelou-se por inteiro o alinhamento do PT com a agenda globalista da cultura de morte, razão pela qual o partido virou o campeão da causa do aborto, da eutanásia e da liberação das drogas. Se Lula tivesse maioria qualificada no Congresso essas coisas hediondas teriam sido transformadas em lei.
A única coisa em comum, de fato, entre PSDB e PT é a defesa da tese de que o Estado deve se dar a tarefa de ser o mediador da distribuição de renda. Uma ou outra tese tem área cinzenta em matéria de costumes, porque alguns dos líderes do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, são defensores da agenda globalista. A coisa, todavia, se esgota aí. O PT é marxista-leninista, o PSDB não.
Alguém me perguntou o que vai acontecer. Há grandes chances de José Serra ser sagrado o novo presidente da República, mas isso não é uma certeza. O peso do governo federal, dos sindicatos e dos fundos de pensão tem sido avassalador, mais o apoio da plutocracia interesseira deu a Dilma Rousseff quantidade de recursos ilimitada para sua mobilização política. O grande problema dela na campanha foi manter o discurso ideológico puro, sem conseguir alargar o eleitorado tradicional do PT, somado aos currais comprados a bolsas-família. Assim Dilma deu a deixa para o eleitorado conservador, ameaçado pela agendaglobalista, se unir e marchar espontaneamente ao lado de José Serra. Até o papa fez discurso contra essa agenda, que é essencialmente anticristã. Todas as igrejas sérias, em fato inédito, cerraram fileiras contra o PT. Esse dado novo equilibrou a candidatura de José Serra, tida como perdida desde o primeiro turno (FHC foi passear em Londres na última semana de campanha, sintoma de sua descrença).
Um capítulo à parte tem sido o comportamento dos institutos de pesquisa de opinião pública, que passaram a mentir de forma sistemática a serviço do governo. Provavelmente fizeram isso a troco de dinheiro e alguns, os mais sérios, por pura chantagem. As pesquisas de opinião mentirosas geram cascatas de notícias favoráveis à candidata oficial. Elas carregam consigo o prestígio dos órgãos encomendantes, passando para o público a seriedade desses próprios órgãos, quando na verdade os senhores dos números são os estrategistas do Palácio do Planalto. O processo foi vergonhoso, mas serviu para estudo de caso de como se pode manipular a opinião pública a partir do controle de poucas variáveis, como os institutos de opinião pública. De que adianta o Estadão, por exemplo, declarar voto em José Serra se emprestar suas páginas e sua reputação para publicar as inverdades do IBOPE?
Outra surpresa foi o intenso papel da internet nestas eleições. Ela deu voz aos excluídos dos meios de comunicação. Veio contribuir decisivamente como ente autônomo e anárquico no processo de consolidação de uma opinião pública qualificada e não sujeita a controle algum, com grande capacidade de disseminação. O PT perdeu o primeiro turno graças à união da internet com os conservadores. Perdeu também as eleições em São Paulo por causa dela. Se José Serra for eleito tem a obrigação de creditar a esse fenômeno a sua vitória.
Mesmo que Dilma venha a ser a eleita creio que o ímpeto revolucionário e globalista do PT recebeu uma trava. Qualquer que seja o eleito, penso, estas eleições contribuíram para aumentar a consciência política de uma parte considerável da população, sobretudo do seu estrato médio, que se sentiu ameaçado pelo governo injusto e mal intencionado. Uma vitória fácil de Dilma Rousseff no primeiro turno teria dado a ela e a Lula a faca e o queijo para esquartejar, a bel prazer, as instituições, como vimos acontecer na Venezuela. Ficou provado que aqui a sociedade é mais vigorosa e sofisticada e nenhum aventureiro populista, por mais que seja, poderá impor sua vontade imperial. Ter os governos de São Paulo e Minas nas mãos de um partido de oposição ao PT é a garantia de que nenhuma violência institucional será levada avante com facilidade. A mística populista de Lula foi definitivamente abalada.
Acredito que no dia primeiro de novembro o Brasil amanhecerá mais forte e institucionalmente mais sólido. Quem viver verá.
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