18 de novembro de 2010 | 10h 49
Para promotor, Celso Daniel foi torturado no cativeiro para revelar onde estava guardado um dossiê com informações contra integrantes do PT
SÃO PAULO - O promotor de Justiça Francisco Cembranelli, responsável pela acusação de Marcos Roberto Bispo dos Santos, acusado de ter participado do sequestro e assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, disse nesta quinta-feira, 18, que o crime ocorrido em janeiro de 2002 foi executado por um grupo criminosos que agiu "por encomenda" de corruptos que desviavam recursos da prefeitura.
Hélvio Romero/AE
Cembranelli (esq.): administração de Santo André era 'uma verdadeira máfia'
Pouco antes do julgamento ter início, Cembranelli afirmou que o dinheiro de corrupção se destinava a contas pessoais de políticos e também para abastecer campanhas eleitorais do PT, até mesmo a da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva naquele ano. Ele também disse que o petista foi torturado no cativeiro para revelar onde estava guardado um dossiê com informações contra integrantes do PT que estariam envolvidos no esquema de propinas da cidade
O promotor passou mais de uma hora expondo a acusação aos sete jurados que compõem o júri. Segundo ele, Daniel foi vítima de "um plano macabro, promovido por uma verdadeira corja de malfeitores que lesava o patrimônio público e desviava recursos para campanhas eleitorais e contas pessoais". O julgamento ocorre no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Para Cembranelli, a administração do PT em Santo André era "uma verdadeira máfia e o chefe da organização era o empresário Sérgio Sombra, amigo de Celso Daniel".
Ao fim de sua exposição no início do julgamento de Marcos Roberto Bispo dos Santos, acusado de ter participado do sequestro e assassinato do prefeito de Santo André, no Grande ABC (SP), Celso Daniel, o promotor Francisco Cembranelli disse hoje que o petista foi torturado no cativeiro para revelar onde estava guardado um dossiê com informações contra integrantes do PT que estariam envolvidos no esquema de propinas da cidade.
O documento estaria guardado na residência de Daniel. "Celso Daniel era um homem cuidadoso, meticuloso", disse. De acordo com Cembranelli, no dia seguinte ao sequestro do prefeito, o atual chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho, - na ocasião secretário da Administração da prefeitura na gestão Daniel -, teria entrado no apartamento do petista. Com ele, estaria Klinger Souza, secretário de Serviços Municipais na mesma gestão. O promotor disse que Carvalho e Klinger saíram do apartamento levando documentos. Cembranelli citou o resultado de perícia no corpo de Celso Daniel que apontou marcas de tortura. Neste momento, a defesa apresentar os argumentos aos sete jurados.
O banco dos réus está vazio, pois Santos está foragido. Ele está com a prisão preventiva decretada desde sexta-feira, 12, porque não foi localizado em seu endereço para receber a intimação do júri. O corpo de sentença é formado por cinco mulheres e dois homens, sorteados no início dos trabalhos. Também não há testemunhas, nem de acusação, nem de defesa. O julgamento de Santos é o primeiro do caso Celso Daniel.
Outros seis acusados deverão ser julgados, mas ainda não há data marcada porque todos recorreram ao Tribunal de Justiça (TJ-SP). Cembranelli pede pena mínima de 12 anos e máxima de 30 de prisão para o réu, denunciado por homicídio triplamente qualificado. A defesa, a cargo do advogado Adriano Marreiro dos Santos, nega a participação de Bispo dos Santos no crime.
Interesse. O promotor acentuou que não tem nenhum interesse político no caso. "Se tivesse já em agosto, quando estava em curso a campanha presidencial, eu teria realizado o júri. Não estou interessado em favorecer qualquer partido, nem prejudicar, desejo que o PT faça um bom governo. Mas não vamos negar as evidências, petistas desviavam dinheiro público para o caixa do partido", disse o promotor.
Ainda segundo ele, Celso Daniel tinha conhecimento do esquema de corrupção e "o PT nele depositava todas as fichas na campanha de 2002 porque o candidato (Lula) já havia sido derrotado três vezes". "Dizem que o PT não queria mais uma campanha amadora, com recursos doados por simpatizantes e venda de camisetas e bonés. Então, resolveu mudar."
De acordo com o promotor, Celso Daniel se insurgiu contra o esquema quando percebeu que o grupo que o cercava não tinha "qualquer ideologia partidária, quando percebeu que os recursos desviados iam para os bolsos daquelas pessoas capitaneadas por Sergio Sombra, o mandante da morte do prefeito". "Por isso, porque resolveu se tornar um obstáculo às pretensões da máfia, Celso Daniel foi varrido, vítima de uma trama macabra." Para o promotor, o prefeito se tornou "um estorvo para a quadrilha".
Texto atualizado às 14h24 para o acréscimo de informações.
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