14, outubro, 2010
Nilo Fujimoto
“Os cães estão mais humanos. Demasiadamente humanos. Com roupas e nomes de gente, vão à creche de perua escolar, passeiam no shopping, fazem sessões de spa. De melhores amigos foram promovidos a filhos.
” É o parágrafo inicial de uma reportagem realizada por Juliana Vines, ao qual farei citações sempre entre aspas, disposta no site da UOL sob o título “Especialistas alertam sobre tratamento humanizado aos animais de estimação”
Vines cita Mirian Goldenberg, antropóloga, pesquisadora e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro que estuda algumas ansiedades urbanas e autora do livro “De Perto Ninguém é Normal” que afirma: “O cachorro é o centro de muitas famílias. É a nova televisão. É ele quem une as pessoas”.
Descreve o exemplo de pessoas, casais sem filhos ou solitárias que dão atenção a animais como se fossem filhos. Promovem adestramentos e vão de vans especiais às escolas ou creches para animais.
Até mesmo fraldário existe para o intenso cuidado desses animais. Localizado no shopping Cidade Jardim, em São Paulo, o pet shop apresenta o primeiro serviço no Brasil.
Há quem gaste mil Reais por mês com “peruagens” em pet shop e dedica amor incondicional a esses animais. Cuidados que muitos jovens nem podem sonhar em receber.
Entretanto há um alerta dado pelo psiquiatra Alvaro Ancona de Faria, professor da Unifesp que diz que o problema não
é chamar de filho ou dar regalias ao bicho, “o problema é idealizar a relação e projetar no animal um comportamento que não é de sua natureza. Como é mais fácil de controlar, a pessoa acha que é uma relação perfeita e acaba ficando desestimulada de criar outros vínculos sociais.”
Esse comportamento desordenado produz, como toda desordem, outras desordens tanto no homem como nos animais.
No homem poderá deteriorar as relações sociais e nos animais como, por exemplo, nos cães a agressividade “porque são tratados como gente” segundo a veterinária e terapeuta animal Ceres Berger Faraco.
Causa estupor que haja tanto empenho em preservar e cuidar de animais enquanto pessoas pensam, atuam e praticam o aborto sem nenhum constrangimento da mídia ou de ONGs em defesa dos animais.
Estas considerações são introdução para apresentar a matéria intitulada *“Não se deve tirar o pão dos filhos para lançá-lo aos cães” publicada por Catolicismo nº 81 – setembro de 1957, sessão Ambientes, Costumes, Civilizações de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira e explica bem a posição equilibrada que o homem deve ter diante da Criação.
*Catolicismo Nº 81 - Setembro de 1957
AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES
Não se deve tirar o pão dos filhos para lançá-lo aos cães
Que dizer desse "facies"? Pele horrivelmente grossa e rugosa, bocarra vulgar e desmesuradamente rasgada, ventas chata, às quais não se segue nenhum nariz, pêlos ralos, sem beleza, formando um simulacro de barba ao mesmo tempo hirsuta e pobre. E no meio de toda esta disformidade, uma certa semelhança que faz pensar no homem... semelhança terrivelmente acentuada pelos olhos. Que olhos! Em certos momentos parecem pensativos e cheios de uma melancólica expressão. Se os observamos em outros momentos, se nos afiguram vazios, anódinos, e sem qualquer significação.
É assim o reino animal. Deus pôs nele espécies admiráveis, em que o homem visse a sabedoria, a graça e a bondade de Quem o criou. Mas, ao mesmo tempo, deixou-nos ver, bem patente, toda rudeza da natureza irracional, em seres como este. Pelos primeiros animais, elevamo-nos a Deus. Pelos segundos, sentimos melhor nossa dignidade natural, compreendemos a fundo a hierarquia que o Senhor pôs no universo, e amando nossa própria superioridade e a santa desigualdade da criação, elevamo-nos também até o Criador.
Nunca talvez sentimos melhor o abismo que nos separa do mundo animal, do que contemplando, de todas as suas espécies, precisamente a que mais se parece conosco!
* * *
Os animais que Deus pôs para o convívio do homem são precisamente aqueles em que a rudeza natural é velada por aparências belas ou até esplêndidas. Pássaros de penas brilhantes ou gorjeio harmonioso, gatos de atitudes elegantes e pêlos sedosos, cães de nobre porte ou imponente catadura, lulus mimosos, peixes que desdobram véus graciosos na placidez de seus aquários. São eles fatores de beleza, distração e repouso em nossa existência diária. É porque Deus respeita a nobreza do homem que, nos animais destinados ao seu convívio, velou com essas aparências magníficas a rudeza natural a todo ser não espiritual. Manifestamente, são essas criaturas como que as flores do reino animal, feitas para nosso lar como as flores do reino vegetal.
E segundo as regras da boa tradição, há modos ordenados para um homem apreciar as belas flores e conviver com os belos animais, sem entretanto passar da justa medida dedicando a esses seres um afeto ou concedendo uma intimidade que só a criaturas humanas se deve dar.
* * *
Os animais podem, pois, ter seu lugar numa sensibilidade cristã bem formada. Mas com limites.
Assim como há plantas que servem para o adorno da vida do homem e outras que têm uma rudeza incompatível com este fim, assim também os animais. Uma dama não desce de sua condição se olha uma flor, respira seu perfume e a usa como adorno. Mas desceria se fizesse o mesmo com uma couve-flor, e pior ainda talvez, com uma simples couve.
E pela mesma razão o homem, ao qual convém tanto o convívio do cão, não foi feito para beijar focinhos de cães como quem beija uma esposa ou uma filha, e também não foi feito para a intimidade de símios, ratos, javalis e girafas. Toda a inferioridade da natureza animal, patente nestes seres, é incompatível com esta promiscuidade com o homem.
E o homem se degrada quando faz calar em si a natural repugnância que causa a intimidade com essas criaturas, nas quais a rudeza animal não foi velada por qualquer aparência. Fazendo calar esta repugnância, o homem embota o sentimento de sua própria superioridade, e, por assim dizer, aceita e assume em si o que no bruto há de inferior.
Atitude de espírito bem freqüente em uma época como a nossa, na qual todos os igualitarismos, mesmo os mais degradantes, encontram clima compreensivo.
Não se deve dar aos cães o pão destinado aos filhos ( Marc. 7, 27 ), adverte Nosso Senhor, nem atirar pérolas aos porcos ( Mat. 7,6 ).
É o que faz quem, levado por estúrdio sentimentalismo de fundo igualitário, concede aos animais carinhos e intimidades que a ordem da Providência reservou às relações entre seres humanos.
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