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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Humanização de animais versus deterioração humana

IPCO
14, outubro, 2010


Nilo Fujimoto
Esse comportamento desordenado produz, como toda desordem, outras desordens tanto no homem como nos animais.
“Os cães estão mais humanos. Demasiadamente humanos. Com roupas e nomes de gente, vão à creche de perua escolar, passeiam no shopping, fazem sessões de spa. De melhores amigos foram promovidos a filhos.
” É o parágrafo inicial de uma reportagem realizada por Juliana Vines, ao qual farei citações sempre entre aspas, disposta no site da UOL sob o título “Especialistas alertam sobre tratamento humanizado aos animais de estimação”
Vines cita Mirian Goldenberg, antropóloga, pesquisadora e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro que estuda algumas ansiedades urbanas e autora do livro “De Perto Ninguém é Normal” que afirma: “O cachorro é o centro de muitas famílias. É a nova televisão. É ele quem une as pessoas”.
Descreve o exemplo de pessoas, casais sem filhos ou solitárias que dão atenção a animais como se fossem filhos. Promovem adestramentos e vão de vans especiais às escolas ou creches para animais.
Até mesmo fraldário existe para o intenso cuidado desses animais. Localizado no shopping Cidade Jardim, em São Paulo, o pet shop apresenta o primeiro serviço no Brasil.
Há quem gaste mil Reais por mês com “peruagens” em pet shop e dedica amor incondicional a esses animais. Cuidados que muitos jovens nem podem sonhar em receber.
Entretanto há um alerta dado pelo psiquiatra Alvaro Ancona de Faria, professor da Unifesp que diz que o problema não
"o problema é idealizar a relação e projetar no animal um comportamento que não é de sua natureza. Como é mais fácil de controlar, a pessoa acha que é uma relação perfeita e acaba ficando desestimulada de criar outros vínculos sociais."
é chamar de filho ou dar regalias ao bicho, “o problema é idealizar a relação e projetar no animal um comportamento que não é de sua natureza. Como é mais fácil de controlar, a pessoa acha que é uma relação perfeita e acaba ficando desestimulada de criar outros vínculos sociais.”
Esse comportamento desordenado produz, como toda desordem, outras desordens tanto no homem como nos animais.
No homem poderá deteriorar as relações sociais e nos animais como, por exemplo, nos cães a agressividade “porque são tratados como gente” segundo a veterinária e terapeuta animal Ceres Berger Faraco.
Causa estupor que haja tanto empenho em preservar e cuidar de animais enquanto pessoas pensam, atuam e praticam o aborto sem nenhum constrangimento da mídia ou de ONGs em defesa dos animais.
Estas considerações são introdução para apresentar a matéria intitulada *“Não se deve tirar o pão dos filhos para lançá-lo aos cães” publicada por Catolicismo nº 81 – setembro de 1957, sessão Ambientes, Costumes, Civilizações de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira e explica bem a posição equilibrada que o homem deve ter diante da Criação.



*Catolicismo Nº 81 - Setembro de 1957

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Não se deve tirar o pão dos filhos para lançá-lo aos cães

Que dizer desse "facies"? Pele horrivelmente grossa e rugosa, bocarra vulgar e desmesuradamente rasgada, ventas chata, às quais não se segue nenhum nariz, pêlos ralos, sem beleza, formando um simulacro de barba ao mesmo tempo hirsuta e pobre. E no meio de toda esta disformidade, uma certa semelhança que faz pensar no homem... semelhança terrivelmente acentuada pelos olhos. Que olhos! Em certos momentos parecem pensativos e cheios de uma melancólica expressão. Se os observamos em outros momentos, se nos afiguram vazios, anódinos, e sem qualquer significação.

É assim o reino animal. Deus pôs nele espécies admiráveis, em que o homem visse a sabedoria, a graça e a bondade de Quem o criou. Mas, ao mesmo tempo, deixou-nos ver, bem patente, toda rudeza da natureza irracional, em seres como este. Pelos primeiros animais, elevamo-nos a Deus. Pelos segundos, sentimos melhor nossa dignidade natural, compreendemos a fundo a hierarquia que o Senhor pôs no universo, e amando nossa própria superioridade e a santa desigualdade da criação, elevamo-nos também até o Criador.

Nunca talvez sentimos melhor o abismo que nos separa do mundo animal, do que contemplando, de todas as suas espécies, precisamente a que mais se parece conosco!

*   *   *

Os animais que Deus pôs para o convívio do homem são precisamente aqueles em que a rudeza natural é velada por aparências belas ou até esplêndidas. Pássaros de penas brilhantes ou gorjeio harmonioso, gatos de atitudes elegantes e pêlos sedosos, cães de nobre porte ou imponente catadura, lulus mimosos, peixes que desdobram véus graciosos na placidez de seus aquários. São eles fatores de beleza, distração e repouso em nossa existência diária. É porque Deus respeita a nobreza do homem que, nos animais destinados ao seu convívio, velou com essas aparências magníficas a rudeza natural a todo ser não espiritual. Manifestamente, são essas criaturas como que as flores do reino animal, feitas para nosso lar como as flores do reino vegetal.
E segundo as regras da boa tradição, há modos ordenados para um homem apreciar as belas flores e conviver com os belos animais, sem entretanto passar da justa medida dedicando a esses seres um afeto ou concedendo uma intimidade que só a criaturas humanas se deve dar.

*   *   *

Os animais podem, pois, ter seu lugar numa sensibilidade cristã bem formada. Mas com limites.

Assim como há plantas que servem para o adorno da vida do homem e outras que têm uma rudeza incompatível com este fim, assim também os animais. Uma dama não desce de sua condição se olha uma flor, respira seu perfume e a usa como adorno. Mas desceria se fizesse o mesmo com uma couve-flor, e pior ainda talvez, com uma simples couve.

E pela mesma razão o homem, ao qual convém tanto o convívio do cão, não foi feito para beijar focinhos de cães como quem beija uma esposa ou uma filha, e também não foi feito para a intimidade de símios, ratos, javalis e girafas. Toda a inferioridade da natureza animal, patente nestes seres, é incompatível com esta promiscuidade com o homem.

E o homem se degrada quando faz calar em si a natural repugnância que causa a intimidade com essas criaturas, nas quais a rudeza animal não foi velada por qualquer aparência. Fazendo calar esta repugnância, o homem embota o sentimento de sua própria superioridade, e, por assim dizer, aceita e assume em si o que no bruto há de inferior.

Atitude de espírito bem freqüente em uma época como a nossa, na qual todos os igualitarismos, mesmo os mais degradantes, encontram clima compreensivo.

Não se deve dar aos cães o pão destinado aos filhos ( Marc. 7, 27 ), adverte Nosso Senhor, nem atirar pérolas aos porcos ( Mat. 7,6 ).

É o que faz quem, levado por estúrdio sentimentalismo de fundo igualitário, concede aos animais carinhos e intimidades que a ordem da Providência reservou às relações entre seres humanos.

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