por Patrick Barron, quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Insistentes e estúpidas intervenções governamentais estão impedindo que as maiores economias do mundo se recuperem e depurem todos os investimentos errôneos que fizeram durante a época da expansão econômica artificial.
O Japão, atualmente a terceira maior economia do mundo, tem apresentado um crescimento zero nos últimos 20 anos. Um argumento similar e sólido também pode ser para os EUA, ao se dizer que o país apresentou um crescimento zero nos últimos dez anos, porque hoje já se sabe que o então "crescimento" da primeira década do novo milênio revelou-se falso. Todos aqueles imóveis foram construídos com prejuízos, os quais somente agora estão sendo reconhecidos. Ainda é preciso avaliar toda a extensão da podridão.
As causas da crise mundial já não são mais questionáveis. Os governos de todos os países gastaram enormes quantias de dinheiro ao mesmo tempo em que forçavam seus bancos centrais a manterem as taxas de juros baixas. Os gastos crescentes foram direcionados para transferências improdutivas e para subsidiar planos governamentais de "aprimoramentos sociais" — mais notavelmente nos EUA, onde o governo instituiu o ideal de que cada homem tem o direito de ter sua própria casa.
Fica a pergunta para o Tio Sam: o que achou do funcionamento desse plano? Bom, agora que o estrago já foi feito, a tarefa é voltar ao trabalho e reconstruir todo o capital que foi desperdiçado — ou, como nós economistas austríacos dizemos, 'investidos erroneamente'.
O desemprego nos EUA segue alto, o que, de acordo com a teoria austríaca, era de ser esperado. Leva tempo para que os trabalhadores encontrem novos empregos em novas indústrias. As pessoas podem ter de aprender novas habilidades ou até mesmo se mudarem para outras localidades, algo que elas relutarão em fazer até que todas as alternativas menos tumultuantes já tenham sido exauridas.
O governo não é capaz de ter a mínima ideia a respeito de quais oportunidades existem para a mão-de-obra. Por conseguinte, ele não deve fazer nada para impedir que a mão-de-obra se reorganize e se redistribua o mais rápido possível. Por mais cruel que tal ideia possa parecer, um seguro-desemprego faz apenas retardar esse essencial processo de rearranjo, e deve ser abolido.
O mesmo é válido para aumentos do salário mínimo. Embora muitos que ficaram desempregados não recebessem salário mínimo, uma consequência perniciosa do aumento do salário mínimo é que ele força todos os salários para cima. Mesmo nos tempos áureos, quando o custo da mão-de-obra aumenta continuamente, o salário mínimo acaba por gerar menores oportunidades de emprego — o que dizer de agora, quando certamente os EUA e a Europa não estão vivendo nem de longe os melhores momentos de suas economias.
Vítimas de uma teoria econômica falida
Seguro-desemprego e leis de salário mínimo representam as típicas políticas perversas que advêm da falida teoria econômica keynesiana. O trabalhador comum americano e europeu poder achar difícil de imaginar que ele é a vítima de uma teoria econômica, mas esse é exatamente o caso. Ele pode ficar ainda mais estupefato em saber que ele é a vítima de uma equação econômica falaciosa:
C + I + G = PNB
Esta é a versão simples da definição keynesiana de produto nacional bruto (o produto interno bruto simplesmente acrescenta a balança comercial). Trata-se de uma soma dos gastos em Consumo mais os gastos emInvestimento e mais os gastos do Governo.
A teoria keynesiana sustenta a destrutiva ideia de que o gasto é o que realmente importa. Ao olhar a equação do PNB, pode-se facilmente entender por que os economistas keynesianos, que controlam as alavancas dos governos, acreditam ser possível "estimular" a economia com gastos do governo.
Quando os gastos dos consumidores e o investimento caem, o PNB irá necessariamente cair, a menos que o governo aumente seus gastos. Os EUA já passaram por um maciço pacote de estímulos de um trilhão de dólares, um programa que incentivava os americanos a trocar carros velhos por novos, e vários pacotes de resgate de empresas falidas — e, ainda assim, a economia continua na lona.
Ameaçadoramente, o governo Obama já fala em mais um pacote de estímulos. Por que isso não vai funcionar?
Os gastos do governo são um parasita sobre a economia privada
A principal falácia embutida na economia keynesiana e na equação do PNB é a ideia de que gastos do governo dão mais saúde à economia. Na realidade, o oposto é o verdadeiro: os gastos do governo reduzem a saúde de uma economia. A economia real é representada pela economia privada — não há outra. Sendo assim, os gastos do governo têm necessariamente de vir da economia privada.
Em épocas mais antigas, ninguém teria aceitado o argumento de que o rei poderia ajudar a economia de seu país aumentando seus gastos. Os gastos do rei eram financiados por impostos extraídos das pessoas. O mesmo ocorre hoje, não obstante a falsidade das manipulações feitas pelos bancos centrais sobre a oferta monetária.
Todo o gasto governamental é parasítico. Quanto menor for o governo e seus gastos, melhor para a saúde da economia. Ninguém alegaria que um aumento na criminalidade (algo que torna necessário um maior efetivo policial) ou um aumento nas tensões internacionais (o que torna necessário um maior efetivo militar) seriam coisas boas para a economia. Todos estamos em melhor situação quando as pessoas são honestas e pacíficas e outras nações são amigáveis, o que significa que a economia não precisa ceder recursos para financiar um aumento no efetivo policial e nas forças armadas. Todos preferiríamos que nossos filhos se dedicassem à produção de bens e serviços que melhorassem a qualidade de nossas vidas ao invés de irem para a guerra e combatessem traficantes e bandidos às nossas custas.
Programas de governo são essencialmente ilógicos. Por exemplo, pagar as pessoas para não trabalharem — consequência do seguro-desemprego — é uma medida que deve necessariamente absorver fundos que de outra forma estariam empregando pessoas. Com efeito, todos os gastos assistencialistas do governo são financiados pelo setor privado e não acrescentam nada — ao contrario do que a equação keynesiana faz supor — à saúde da economia. Os fundos para esses programas são confiscados da economia privada, reduzindo sua formação de capital e, consequentemente, asfixiando ainda mais sua capacidade de aumentar a riqueza de uma nação.
Podemos prosperar batendo mutuamente nossas carteiras?
Pessoas compassivas frequentemente sentem ser necessário fazer lobby para que o governo gaste mais com caridade — mesmo que seja moralmente repreensível retirar de uns sob a mira de uma arma para dar para outros —, porém elas não podem e não devem deixar de notar que tal medida é perniciosa para a economia. Uma vez que o governo obtém o poder de tributar com o propósito de aliviar a pobreza, passa a ser impossível determinar algum ponto de parada lógico. As pessoas irão demandar uma expansão cada vez maior desses programas, não porque elas acreditam que eles sejam meritórios, mas simplesmente porque elas se sentem sacrificadas e querem um pouco do seu dinheiro de volta na forma de benefícios.
O cidadão comum pode até não conhecer o termo "tragédia dos comuns", mas ele reconhece uma quando a vê. À medida que a briga por recursos públicos aumenta, um outro fenômeno econômico entra em cena: a falácia da composição, que afirma que tudo aquilo que beneficia um segmento da economia em detrimento de todo o resto não pode de maneira alguma ser benéfico para a economia como um todo. Colocando de maneira mais simples, não podemos nos subsidiar todos mutuamente e, com isso, acreditarmos que estamos prosperando. Ao passo que a maioria quer ser subsidiada por terceiros sem ter de pagar nada em troca, os grupos de interesse presentes em todos os lados garantem que a pilhagem passe a ser universal.
O keynesianismo institucionaliza a tragédia dos comuns e crê que a falácia da composição não é válida. Ele ignora o fato de que os gastos do governo devem advir necessariamente ou dos impostos ou da impressora do banco central, ambos os quais prejudicam o cidadão comum. Ao invés de reconhecer esse fato inegável, o keynesianismo promete ser possível todos nós enriquecermos batendo nossas carteiras mutuamente.
A única solução é declarar o keynesianismo tão morto quanto seu autor, acabar com todos os parasíticos gastos governamentais, e libertar a economia privada da tirania dos burocratas armados com regulamentações restritivas. Esse último ponto é crucial, pois acabar com os gastos assistencialistas sem ao mesmo tempo libertar as pessoas das amarras impostas pelo estado regulatório significaria libertá-las para morrerem de fome.
Em uma economia de livre mercado, na qual cada indivíduo é livre para cooperar com outros homens seguindo termos mutuamente acordados e sem fazer mal a terceiros, a prosperidade e a paz irão prevalecer. É o caminho certo para a nossa salvação econômica. Cortes nos gastos governamentais não são "programas de austeridade", como a mídia gosta de papagaiar, mas sim atos de libertação econômica.
Enterremos a essa bobagem de que C + I + G = PNB e voltemos ao trabalho.
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Patrick Barron é consultor privado da indústria bancária. Ele leciona na pós-graduação da Universidade de Winsconsin, Madison, na área de sistema bancário, além de ensinar economia austríaca na Universidade de Iowa, onde vive com sua esposa.
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