Arnold Ahlert
Em relação à Mesquita do Marco Zero, eu me sinto realmente fascinado pelo interesse recém-descoberto das elites progressistas pela tolerância religiosa. Não são estas as mesmas pessoas que passaram as últimas décadas dando o melhor de si para exorcizar virtualmente toda a expressão religiosa da vida pública? Não são estas as mesmas pessoas cujos companheiros de viagem em Hollywood deram o máximo de si para rebaixar o Cristianismo e seus correligionários em todas as oportunidades? Não é esta a gente “adorável” que está dando o melhor de si para transformar a temporada do Natal numa celebração do “Solstício de Inverno”? O próprio presidente não ridicularizou os americanos que “se agarram” à religião? Então, por que os progressistas estão subitamente empolgados com a liberdade religiosa?
Só dá para especular, mas eu suspeito que isto tenha mais a ver com a religião em particular sendo discutida do que com a religião per se.
Por exemplo, se os progressistas aplicassem à expressão do Islã o mesmo padrão que à do Cristianismo, o sujeito se embananaria todo para explicar como o sistema de ensino público da Califórnia obriga o ensino do Islã para a sétima série, incluindo o estudo das escrituras corânicas. O sujeito se embananaria para explicar por que uma escola pública de Nyssa, no Oregon, exigiu que alunos de sétima série se fantasiassem de muçulmanos como parte de um curso de quatro semanas sobre o Islã.
Quando este último caso foi a litígio, ele chegou ao Nono Distrito Judicial de Apelações, que decidiu que manifestações como estas do Islã no currículo da Califórnia – incluindo o vestuário de símbolos religiosos islâmicos, ou berrar “Alá seja louvado”, sob a instrução de professores – não violavam a Primeira Emenda.
Alguém consegue imaginar o mesmo tribunal permitindo aos alunos dizerem “Jesus seja louvado?"
Então, por que os dois pesos? A explicação mais plausível gira em torno de uma velha expressão árabe: o inimigo de meu inimigo é meu amigo. Nada ameaça mais o status das elites progressistas do que os cristãos americanos, majoritariamente religiosos e inclinados à direita. Os progressistas ficam loucos com o fato de a “Direita Religiosa” sentir que responde a um “poder superior” que não é um governo controlado por progressistas.
Que outro grupo de pessoas tem um desprezo ainda maior pelos cristãos? Os radicais islâmicos – e não poucos entre os assim chamados “muçulmanos moderados.” Também não é segredo que muitíssimos muçulmanos no mundo inteiro consideram os cristãos “infiéis”, cidadãos de segunda-classe (dhimmis), na melhor hipótese, e dignos do mais absoluto desprezo, na pior.
Ambos os grupos vêem o cristianismo como o maior obstáculo a suas ambições espantosamente semelhantes: para os muçulmanos, a construção permanente de um califado religioso planetário. Para os progressistas americanos, a construção permanente de um grande Estado gerido pelo Partido Democrata.
Deste modo, as classes dirigentes de ambos os grupos adotou um casamento de conveniência, com cada grupo usando o outro – até o momento em que o confronto final entre os dois ocorra inevitavelmente.
Enquanto isto, esta aliança temporária explica muita coisa. Explica o silêncio ensurdecedor das feministas muçulmanas em relação ao tratamento frequentemente brutal das mulheres nos países muçulmanos. Explica a determinação da administração Obama em expurgar do vocabulário nacional qualquer referência a uma “guerra ao terror” ou à participação islâmica neste. Explica por que celebridades idiotas como Rosie O’Donnell, que disse que o Cristianismo radical é “exatamente tão perigoso” quanto o Islã radical, e Bill Maher, que disse que os assassinos de 11 de setembro eram “guerreiros”, ainda conseguem trabalho na TV. Explica por que a malhação ao Cristianismo é um dos principais produtos de Hollywood, embora o Islã permaneça cuidadosamente salvaguardado. Explica por que o oficial mais graduado do Exército, o Gal. George Casey, aparentemente esteve mais preocupado com a morte da “diversidade” do que com 13 americanos assassinados em Fort Hood. Explica por que tantos progressistas tentam vender a idéia de que a política externa americana “justificou” a atrocidade de onze de setembro.
E isto muito certamente explica o imenso esforço das elites progressistas para pichar qualquer um que se oponha à mesquita próxima ao Marco Zero como um intolerante.
Tanto as elites progressistas quanto as islâmicas – e é importante fazer uma distinção entre os agentes políticos em ambos os grupos e os americanos liberais comuns e os muçulmanos genuinamente moderados – sabem que uma América guiada por expressões do Cristianismo, mesmo as mais brandas, como a referência ao “Criador” na Declaração de Independência, não vai sucumbir a suas ambições grandiosas. Pelo menos, não de uma só vez. É exatamente por isto que a estratégia do incrementalismo – o solapamento parte por parte dos costumes, lingua e cultura americanas – foi adotada por ambos os grupos.
O incrementalismo explica por que as tradições religiosas americanas, como os presépios nas praças, consideradas uma expressão de liberdade religiosa por quase dois séculos, agora são definidas como violações da doutrina da separação entre Estado e Igreja – a qual não se encontra em parte alguma da Constituição. É por isto que o espírito do “viva e deixe viver” destas tradições foi usurpado pelo espírito do “Quem reclama é que manda”, que decide que qualquer expressão de religião na vida pública, mesmo que apoiada pela ampla maioria, será proibida ou contesta judicialmente pela ACLU, mesmo que “ofenda” um único indivíduo.
O incrementalismo explica por que se espera dos americanos que aceitem sem questionar a idéia de que o líder do projeto do Marco Zero, o imã Feisal Abdul Rauf, é um muçulmano “moderado”, apesar do fato de que ele se recusa a condenar o Hamas como um grupo terrorista e se referiu à América como “cúmplice” da atrocidade de onze de setembro. É este incrementalismo que permite às elites progressistas insistir em que a “maioria dos muçulmanos está do lado da América”, na ausência de qualquer evidência – e com muitas evidências em contrário. E é a versão mais avançada do incrementalismo que se encontra na Europa, o qual resultou na criação de enclaves muçulmanos totalmente segregados, aos quais a polícia da Inglaterra e da França se referem como “zonas proibidas” – e levou o Arcebispo da Cantuária a comentar sobre a “inevitabilidade” da Xaria no Reino Unido.
Tanto os progressistas quanto os assim chamados muçulmanos moderados ligados à Mesquita do Marco Zero sabem que este projeto é profundamente ofensivo a quase setenta por cento dos americanos. Eles também sabem que ele não tem nada a ver com liberdade religiosa, o que a maioria das pessoas que se opõe ao projeto deixaram muito claro. Desde que este incidente alcançou proporções nacionais, estes dois pontos foram repetidos reiteradas vezes. Só uma pergunta ainda não foi respondida nesta questão: por que razão é necessário construir uma mesquita naquele exato local?
A pergunta não é por que você pode, mas por que você deve?
O plano do Islã radical e do elitismo progressista é estabelecer bases para operações ulteriores. O estabelecimento destas bases requer ataques imperceptíveis aos valores tradicionais, sejam eles ataques ao Cristianismo, a leis de guerra internacionalmente aceitas, ao conceito da assimilação ou à diferença entre liberdade de religião e libertação dela. Nenhum grupo estará satisfeito enquanto seu poder não se tornar absoluto, ou, no mínimo, até que eles sejam as duas únicas feras restantes na luta pelo mundo civilizado. Até lá, sua aliança será semelhante à aliança da América com a Rússia de Josef Stalin durante a Segunda Guerra: um casamento de conveniência, planejado para derrotar o mal maior do nazismo.
No presente momento, os “males maiores” são o Conservadorismo e o Cristianismo. Ambos devem ser intimidados até se submeterem. E embora boa parte da obra esteja adiantada, ela foi implementada “por sob o radar” do americano médio. Foi preciso o onze de setembro para nos fazer perceber que os radicais islâmicos tinham realmente declarado guerra à América. Foi preciso a eleição do presidente e do congresso mais radicais da história para fazer os americanos perceberem que as elites progressistas têm tanto interesse em “reordenar” a América quanto os radicais islâmicos. A Mesquita do Marco Zero não é nada mais do que a última tempestade nesta triste epopéia. É uma tentativa da vender a fachada de “tolerância” por parte de duas entidades determinadas a imporem sua visão de mundo – por quaisquer meios necessários.
Não será a última.
Tradução de Larry Martins, da equipe do blog DEXTRA, feita por recomendação e a pedido de Heitor de Paola.
Publicado no Jewish World Review, 19 de agosto de 2010. Artigo Original AQUI.
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