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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Na Rússia falta trigo e o povo teme retorno à URSS

FLAGELO RUSSO
segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Trigo sarraceno só no cartaz
O povo russo acha que os tempos soviéticos da escassez de trigo estão de volta. O Kremlin atribui a falta à seca, acusa à especulação ‒ velho pretexto do falido regime ‒, mas teme uma reação violenta do povo, escreveu Clifford Levy, chefe do escritório do “The New York Times”em Moscou.

Levy fala de cidadãos soviéticos girando pelos supermercados e trocando boatos como nos tempos do vetusto comunismo. O trigo sarraceno, alimento central para os russos, desapareceu das prateleiras.

Os ferozes incêndios florestais que flagelaram o país estão ligados a essa escassez, mas paira na Rússia a forte impressão de um retorno à velha ditadura. Os incêndios patentearam a permanência dos desastrosos métodos administrativos comunistas.

Então, as explicações do regime não convencem como tampouco convenciam outrora. Os idosos percorrem as ruas à procura de mercadorias, prática soviética que o jornalista americano define como “técnica aperfeiçoada na época do comunismo”. 

“Não consigo encontrar trigo sarraceno em parte alguma e, se pudesse encontrá-lo, o preço seria alto demais para mim”, queixa-se uma velha senhora. 

O Kremlin está apelando à tropa de choque para dispersar os comícios da oposição, e a maioria dos russos parece não se importar. Afinal, os políticos de um ou outro lado passam uma impressão de cumplicidade. 

Museu da Memória, Tomsk.
Passado não esclarecido
assombra russos.
Mas o trigo sarraceno é o cereal do café da manhã, acompanha a carne, está nos recheios e é feito de muitas formas. Vagamente poderia se comparar a situação a um desaparecimento do arroz e do feijão no mercado brasileiro. 

O presidente Dmitri Medvedev garantiu à população que o governo trabalha para reverter a situação, mas só parece ter reavivado a lembrança das desculpas esfarrapadas do regime socialista. Ele ameaçou fantasmagóricos manipuladores do mercado de trigo sarraceno, gesto que evoca o pesadelo leninista.

Medvedev foi a uma loja em Voronezh, 300 km ao sul de Moscou, e pediu: “Há trigo sarraceno na loja?”. “No momento, não”, respondeu a funcionária. Porém, o governo insiste que há trigo sarraceno em quantidade e Putin proibiu a exportação de grãos até 2011 (no mínimo), para estabilizar o mercado doméstico. Onde está o prezado alimento?

Os rumores galopam como nos piores tempos do socialismo real. Os preços no mercado negro duplicaram. 

A carência desse trigo não é a causa profunda dos temores: a Rússia toda sente que a velha ditadura soviética paira sobre o país, encarnada pela atual cúpula política.

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