segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Trigo sarraceno só no cartaz |
Levy fala de cidadãos soviéticos girando pelos supermercados e trocando boatos como nos tempos do vetusto comunismo. O trigo sarraceno, alimento central para os russos, desapareceu das prateleiras.
Os ferozes incêndios florestais que flagelaram o país estão ligados a essa escassez, mas paira na Rússia a forte impressão de um retorno à velha ditadura. Os incêndios patentearam a permanência dos desastrosos métodos administrativos comunistas.
Então, as explicações do regime não convencem como tampouco convenciam outrora. Os idosos percorrem as ruas à procura de mercadorias, prática soviética que o jornalista americano define como “técnica aperfeiçoada na época do comunismo”.
“Não consigo encontrar trigo sarraceno em parte alguma e, se pudesse encontrá-lo, o preço seria alto demais para mim”, queixa-se uma velha senhora.
O Kremlin está apelando à tropa de choque para dispersar os comícios da oposição, e a maioria dos russos parece não se importar. Afinal, os políticos de um ou outro lado passam uma impressão de cumplicidade.
Museu da Memória, Tomsk. Passado não esclarecido assombra russos. |
O presidente Dmitri Medvedev garantiu à população que o governo trabalha para reverter a situação, mas só parece ter reavivado a lembrança das desculpas esfarrapadas do regime socialista. Ele ameaçou fantasmagóricos manipuladores do mercado de trigo sarraceno, gesto que evoca o pesadelo leninista.
Medvedev foi a uma loja em Voronezh, 300 km ao sul de Moscou, e pediu: “Há trigo sarraceno na loja?”. “No momento, não”, respondeu a funcionária. Porém, o governo insiste que há trigo sarraceno em quantidade e Putin proibiu a exportação de grãos até 2011 (no mínimo), para estabilizar o mercado doméstico. Onde está o prezado alimento?
Os rumores galopam como nos piores tempos do socialismo real. Os preços no mercado negro duplicaram.
A carência desse trigo não é a causa profunda dos temores: a Rússia toda sente que a velha ditadura soviética paira sobre o país, encarnada pela atual cúpula política.
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