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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

EMPANTURRADOS DE PODER

VIVERDENOVO

TERÇA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2010


Por Arlindo Montenegro

Imaginemos um destes gráficos cruzados, com escala positiva à direita e para cima enquanto as medidas netgativas situam-se à esquerda e para baixo. Imaginemos que este gráfico está representado no terreno onde pisamos, vivemos, atuamos. No ponto central, vamos situar um mastro, uma bandeira que pode ser a bandeira brasileira. Isto porque hoje é o 7 de Setembro e ainda restam algumas pessoas que, conscientes do valor das liberdades políticas, carregam a emoção, a veneração e o respeito pelo símbolo que lembra quem somos.

Quem somos? Em que ponto destes limites territoriais nos situamos? O que pensamos? O que queremos? Há mais de meio século umas professorinhas gentís me ensinaram que aquela bandeira simbolizava a nossa Pátria, uma terra abençoada por Deus e vocacionada para ser o celeiro da terra. Incutiam nas cabecinhas carregadas por pés descalças, o dever de defender o solo "mãe gentil, Patria amada, Brasil".

Com o passar do tempo, cada um - daqueles piás, pixotes, gurís, meninos e meninas, - situou-se numa posição do terreno, explorando as possibilidades em excursões à direita ou à esquerda do pensamento-pátria. Uns ficaram ali mesmo onde nasceram. Outros mudaram-se para viver em diversos pontos, buscando melhores condições de bem estar, saber mais, conquistar melhores oportunidades econômicas para melhor educar a prole.

Numa data que nem esta, no passado, muitos despertaram ansiosos para vestir o uniforme escolar, azul e branco e participar do primeiro desfile, sabendo que no país inteiro aquela cena se repetia, com bandeirinhas que se agitavam e familiares que acorriam para apreciar e aplaudir, crianças, tropas armadas e ex-combatentes que haviam participado da guerra na Itália, em defesa da democracia.

O senso de civismo e responsabilidade unificava brasileiros de todos os credos e cores, as bandinhas tocando marchas e hinos pátrios, marcando o passo do povo brasileiro em direção ao futuro, o peito inchado de orgulho. Dia da Pátria, referencia amorosa, responsabilidade de cada um, resultado de trabalho e luta.

Aquele civismo, traço inseparável do carater de cada brasileiro na segunda metade do século passado parece ter desaparecido da memória, das aulas nas escolas e até dos quartéis. As pessoas que se apinhavam honrando seus filhos soldados, parecem ter esquecido as ameaças, os riscos e o papel da defesa confiada aos militares e policiais. Estamos ancorados no século do salve-se quem puder.

As pedras fundamentais que sustentavam a consciência nacional, essencialmente a família, a defesa do chão e o direito ao trabalho, apoiados na fé em um Deus presente e bondoso, tolerante e enérgico, tem sido alvo preferencial de uma guerra diferente, uma revolução de costumes implantada, que revoluciona e envenena o alimento espiritual da nação.

O momento de civismo que os poetas citavam, "diante do altar da Pátria" foi transferido para os campos de futebol. Substitui-se o que era emoção significativa da integridade, por paixão de torcida, que divide e tem conduzido à agressão entre os mesmos nacionais, organizados para sacrificar-se por times reconhecidos como "nações" que "lutam" para vencer umas às outras, nos campos e nas ruas.

No grande campo pátrio as divisões são fomentadas entre grupos etnicos, entre ricos e pobres, entre proprietários e sem terra, entre letrados e iletrados. Tudo orquestrado "científicamente", para substituir o que era sentimento de orgulho e construção nacional, por uma guerra permanente sem sentido consistente.

Perde-se o sentido da continuidade da vida e as consciências se vão moldando para lidar com a impermanência das coisas. Perde-se a visão estratégica da unidade e integridade territorial enquanto se fomenta a divisão em todos os sentidos – familiar, ético, religioso, costumes, etnias, cor da pele, práticas sexuais privadas se erigem em direito público, o estado interfere na educação e nas relações entre pais e filhos.

Nesta noite, os comentaristas da mídia referiam "o feriadão", "a folga", "o descanso prolongado" e aconselhavam o cuidado nas estradas, a roupa a ser usada, onde e o que comer. Nenhuma referência à comemoração! Memória apagada? Significado perdido?

As guerras e guerrilhas atomizadas, a defesa pessoal, da familia e da propriedade atribuida a cada um. E todos a serviço de um poder estatal ausente, distante que já não serve à Nação e muito menos à Pátria. Serve a "times" e "bandeiras" desconhecidas. Ostenta símbolos desconhecidos. Dirige por caminhos estranhos e confusos. Educa para o conformismo servil.

As emoções extremadas conduzem à loucura. Os loucos dominam o hospício. Tudo parece normal enquanto a insanidade se sobrepõe à razão. Resta a esperança na justiça maior, confiável, imutável, natural, presente na eternidade. Somos apenas estruturas pensantes, ínfimas, transitando na grandeza do infinito. O poder é transitório como um espirro ou arroto de animal empanturrado.

Sic transiit gloria mundi!

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