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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Todo o poder para a demência senil

FILADASOPA
8 DE AGOSTO DE 2010


Em 13 de agosto, Fidel Castro completa 84 anos. Há algumas semanas atrás Raúl alcançou 79. Dois anciãos. É verdade que Fidel parece ter se recuperado da gangrena intestinal que quase o liquidou, mas os sintomas de deterioração mental continuam vigentes. O diagnóstico que em sotto voce ['em voz baixa’, em italiano] gerenciam seus médicos cubanos é o de "Demência Vascular”, uma vez que no passado ele teve vários espasmos cerebrais transitórios que foram minando sua saúde mental com um efeito cumulativo.

Na verdade, Fidel apresenta quase todos os sintomas descritos pela Classificação Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Por Carlos Alberto Montaner

Ele tem dificuldades na fala, coordena desajeitadamente seus movimentos, repete idéias paranóides e ri, em circunstâncias imprevisíveis. É um velho louco e desobediente com raros momentos de lucidez os quais utiliza para contar antigas batalhas ou para tratar de deslumbrar o interlocutor com sua infinita sabedoria, traço clássico do narcisista incurável que sempre foi.

Para Raul, o quadro de deterioração mental de Fidel não é surpreendente. Ramon Castro, só dez meses mais velho que Fidel, está praticamente louco, como acontece com Angelita, a mais velha de todos os irmãos Castro Ruz. Mas o grave não é que Fidel tenha regressado da sepultura, algo que Raul não tinha em seus planos, mas que voltou disposto a coogovernar, apesar de seu penoso estado mental, que ele não é capaz de perceber e ninguém se atreve a revelar-lhe. Nos cálculos de Raúl, como no de quase todos os cubanos, a estas alturas do campeonato, Fidel já deveria ter estreado o enorme panteão que fizeram para ele em La Plata, onde o comandante teve seu acampamento quando lutava em Sierra Maestra.

Talvez isso explique a tímida natureza das pequenas mudanças anunciadas em 26 de Julho. Tudo segue igual, tal como exigido por Fidel. Raul afirmou que continuarão com o planejamento centralizado da economia e os princípios do regime comunista, incluindo a ausência de liberdades políticas e civis. No entanto, avançam para o passado. Eles curvam-se, lentamente, sem dizer às claras, ao ano 1968, quando Cuba era, como hoje, uma ditadura militar coletivista, mas com alguma atividade econômica menor em mãos de particulares que tornavam mais suportável o desastre marxista-leninista.

Nesse ano, Fidel decidiu que Cuba seria o mais comunista dos países e, contra o parecer de muitos líderes, lançou a "ofensiva revolucionária" para acabar com os hábitos burgueses dos cubanos empreendedores, tipos desprezíveis e exploradores que se moviam por estímulos materiais. Com um golpe cruel e desnecessário, Fidel destruiu todo o pequeno tecido empresarial que tornava a vida mais suportável para os cubanos.

Em Cuba, pois, não haverá correções e nem reformas estruturais, o que provocou o desencanto de quase toda a população, incluindo os membros do Partido Comunista que em 2007, impulsionados por Raúl Castro, pediram mudanças profundas que devolvessem aos cubanos o controle de suas vidas e lhes dessem a possibilidade de criar riqueza para o seu próprio benefício e para a coletividade. Mais de um milhão de sugestões chegaram ao gabinete de Raúl e a maioria pedia abertura, mercado e liberdades. Ou seja, um milhão de "revolucionários" frustrados com o desempenho de Raul, em quem haviam depositado certas esperanças.

A pergunta que se fazem hoje, os cubanos, os comunistas do poder e os democratas da oposição, é o que vai acontecer no país, quando os irmãos Castro, finalmente, morrerem ou quando a demência colocá-los fora de combate. É possível que Raúl acredite que seu filho Raul Alejandro possa continuar a dinastia militar, como Kim Jong Il na Coréia do Norte ou Bashar Al Assad da Síria, os herdeiros das satrapias fundadas por seus pais, mas em Cuba é improvável que isto ocorra, dada a falta de legitimidade histórica do jovem militar e a decepção profunda que existe na cúpula dirigente. Por que um partido comunista e um exército desmoralizado por mais de meio século de fracassos vão obedecer a um obscuro oficial de inteligência, filho de um homem que os desapontou totalmente, se o que prevalece entre eles é o desejo de uma radical mudança do sistema?

Por não fazer uma reforma profunda, Raul vai provocar o colapso da revolução. Talvez essa seja sua melhor contribuição para a história de Cuba. Tradução do FDS (Arthur)

Carlos Alberto Montaner é escritor e jornalista cubano

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