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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um crescimento mal explicado

DIÁRIO DO COMÉRCIO


Não é o fato dos brasileiros de baixa renda comprarem em 36 parcelas um refrigerador, uma TV ou um fogão novo que nos tornará um país de economia forte.

Édison Freitas de Siqueira
 - 21/6/2010 - 21h33
Levantamento feito por instituições governamentais e não governamentais revelam que, em 2010, nada menos do que 51,7 milhões de brasileiros residem em favelas e submoradias que carecem de rede de esgoto, fornecimento de água tratada e acesso, por intermédio de ruas trafegáveis, a serviços de transporte, saúde e segurança pública.

O governo, por intermédio do Ministério do Trabalho e do Ministério da Ação Social, assinala que 12,8 milhões de brasileiros recebem a Bolsa Família – em valores que variam de R$ 15 a R$ 95 mensais. Ou seja, este valor, que corresponde a um terço do salário mínimo, constitui a maior fonte de renda dessa imensa população. 

A  informação é preocupante, em especial considerando-se que o número de microempresas registradas no Brasil é menor do que 11 milhões (segundo dados do IBGE). Ou seja, as pessoas com baixa renda e os microempresários somam quase 25 milhões de brasileiros, possuindo renda próxima a 200 dólares mensais.
Isso ocorre porque, nos últimos 30  anos, o Brasil apresentou taxas de crescimento econômico entre 2,5% e 4,3% ao ano (média igual a 3%), o que representa 50% da média do crescimento econômico mundial apurado no mesmo período. A Argentina,  nos últimos 10 anos, cresceu por volta de 7% ao ano; a Rússia, um pouco acima disso;  a China, mais de 10%; e os Estados Unidos, com  o maior PIB do mundo, acima de 3% ao ano.

A economia norte-americana é tão maior quando comparada ao resto do mundo: somente o Estado da Califórnia, um dos 51 estados dos EUA, possui PIB  de 1,8 trilhões de dólares, superando tudo que é produzido no Brasil durante um ano. Os gastos militares e de defesa dos EUA, a cada quatro dias, superam os discutidos 10 bilhões de dólares que o Brasil custa a gastar para renovar sua  esquadrilha de caças. Aliás, mesmo após realizarmos a esperada compra dos 36 aviões militares, se fossem reunidos todos os caças da Força Aérea Brasileira, estes caberiam em um único porta aviões da numerosa frota americana.

Enquanto isso, o setor varejista brasileiro informa que, após a queda da redução de IPI, as vendas de eletrodomésticos, móveis e veículos caíram acentuadamente.  Mesmo assim, de forma muito estranha, importantes lideranças mundiais têm tolerado e contribuído para a afirmação de que o Brasil é um exemplo para a economia mundial. Inclusive, esses líderes não têm criticado analistas que comparam os níveis de crescimento brasileiro com os da China ou dos Estados Unidos.

O Banco Mundial estima que a taxa de crescimento do PIB da China, mesmo após a crise mundial, será de 9,5% em 2010, enquanto no Brasil as projeções mais eufóricas apontam que nossa taxa de crescimento será 50% desta – algo em torno de 5%, percentual que não deixa de surpreender, já que, nos últimos 20 anos o Brasil foi um dos países que menos cresceu no mundo.

Estes números deveriam alertar os agentes, os políticos e as empresas que estão ligados ao mercado de ações e investimentos do Brasil. Afinal, pode estar havendo, por parte dos players internacionais, manipulação e manutenção de uma bolha no mercado brasileiro.

É necessário vender-se um sentimento de estabilidade enquanto ainda estão sendo acomodadas as questões da crise mundial relativas aos  déficits fiscais dos países da Zona do Euro, à supervalorização do iene e  ao problema do mercado de derivativos e de equity funds irradiados a partir do setor imobiliário norte-americano.
O alardeado sucesso de nossa economia não se sustenta quando verificamos que não temos estradas trafegáveis, portos e depósitos com capacidade de estocar e escoar nossa produção agrícola. Não reunimos estrutura e investimentos que permitam aumentar a geração e a distribuição de energia se a taxa de crescimento for igual ou superior a 5% ao ano por dois ou três anos seguidos.

Portanto, a pergunta a que os números nos remetem é: "Como presumir crescimento econômico sem que haja a correspondente e proporcional criação de empregos? Como tornar os operários brasileiros consumidores iguais aos da Zona do Euro, ou aos canadenses, sem falar dos norte americanos?

Não é o fato dos brasileiros de baixa renda comprarem em 36 parcelas um refrigerador, uma TV ou um fogão novo (normalmente importados da China), que nos tornará um país de economia forte, com taxas de juros compatíveis com as verificadas nos EUA ou nos países da União Europeia. Quando estes países necessitam incentivar o crescimento econômico e a redução de déficit, praticam juros baixos, mesmo já possuindo redes de esgotos, segurança e saúde, além de ruas e estradas trafegáveis. Isso nunca aconteceu no Brasil.

Édison Freitas de Siqueira é presidente do IEDC - Instituto de Estudos dos Direitos dos Contribuintes em
www.direitosdocontribuinte.com.br

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