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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sobre o teatro. (Só sobre o teatro? Eu inseriria aí quase toda, senão 99% das "artes" ao nosso redor.Você já viu um bando de imbecis adorando um quadrado pintado em uma folha de papel em uma galeria de "arte"? Eu já...)

SHRUGGED

30 DE MAIO DE 2010


Ainda busco uma melhor ideia para definir a utilidade do teatro. Mas, definitivamente, é bastante fácil encontrar um motivo para a sua inutilidade. O ator fala, dirigindo-se às mãozinhas tensas com uma voz ressonante, movimentando-se bruscamente de forma padronizada e, pior, com uma postura pedante, ridiculamente chata. Este é atualmente o responsável pela transição do texto ao público, aquele que tem a função de materializar uma personagem cuja vida é limitada pelo papel, sem forma, particularidades ou uma integral vida psíquica.
Mas o que realmente torna o teatro chato, pedante e inútil? Simplesmente a atitude de subestimar o público. Ainda tenho por certo que as tradições e costumes expressos principalmente nas artes, têm pelo menos a função primordial de educar. Mas isto não quer dizer que o público deva ser tratado como alunos da pré-escola. Cada pessoa sentada numa daquelas cadeiras confortáveis tem uma história, tem uma vida e, principalmente, um cérebro – além de, é claro, ter pagado o ingresso. Cada uma dessas pessoas, à sua medida, é capaz de contemplar o que vê no palco e fazer alusões com tudo aquilo que ela vê na realidade. Não está alí para um confronto, quer apenas uma reflexão. No entanto, o teatro moderno quer confrontar, quer impor, doutrinar. O texto pode ser um clássico, mas no palco torna-se apenas uma visão limitada de um diretor que quer se impor como um tipo de inconsciente do autor, que busca revelar significações misteriosas e a natureza dos sentimentos de onde brotaram a obra. O complexo causado pela impossibilidade de conhecer o autor e sua obra melhor do que o próprio autor, propõe uma indigna fuga na invenção. A neurose é tamanha que passa-se a acreditar em algo que se estivesse em algum lugar, residiria apenas num espaço inóspito e esquizofrênico. Aí a transição do texto ao público já se perdeu completamente. No seu lugar, constrói-se uma ponte para levar do texto às loucuras pessoais de um diretor e seus sentimentozinhos. Neste caminho obscuro, a expressão artística do teatro nada mais difere de uma música sertaneja: o homem que sofre por uma inutilidade qualquer, mas este sofrimento é irreal, uma invenção. Pelo menos esses sertanejos hi-tech inventam inutilidades que existem em algum lugar, não abstrações ideológicas que só fazem sentido a doentes mentais.
Enfim, a inspiração poética só pode ser encontrada fora de si, percebendo a realidade  - ou um fragmento dela mesma –  que está e sempre esteve inserida no mundo, independente da existência de quem a vê. Uma obra, por consequência, deve ser pensada visando expressar uma ideia do real. Mas o que se vê nos palcos altualmente – e tem se tornado um vício entre escritores e poetas – é a expressão de um sentimento, não de uma ideia. E, convenhamos: quem, numa época tão esquisita, está interessado em conhecer os sentimentos mais íntimos, sombrios e obscuros de alguém que sequer conhece?

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