30 DE MAIO DE 2010
Ainda busco uma melhor ideia para definir a utilidade do teatro. Mas, definitivamente, é bastante fácil encontrar um motivo para a sua inutilidade. O ator fala, dirigindo-se às mãozinhas tensas com uma voz ressonante, movimentando-se bruscamente de forma padronizada e, pior, com uma postura pedante, ridiculamente chata. Este é atualmente o responsável pela transição do texto ao público, aquele que tem a função de materializar uma personagem cuja vida é limitada pelo papel, sem forma, particularidades ou uma integral vida psíquica.
Mas o que realmente torna o teatro chato, pedante e inútil? Simplesmente a atitude de subestimar o público. Ainda tenho por certo que as tradições e costumes expressos principalmente nas artes, têm pelo menos a função primordial de educar. Mas isto não quer dizer que o público deva ser tratado como alunos da pré-escola. Cada pessoa sentada numa daquelas cadeiras confortáveis tem uma história, tem uma vida e, principalmente, um cérebro – além de, é claro, ter pagado o ingresso. Cada uma dessas pessoas, à sua medida, é capaz de contemplar o que vê no palco e fazer alusões com tudo aquilo que ela vê na realidade. Não está alí para um confronto, quer apenas uma reflexão. No entanto, o teatro moderno quer confrontar, quer impor, doutrinar. O texto pode ser um clássico, mas no palco torna-se apenas uma visão limitada de um diretor que quer se impor como um tipo de inconsciente do autor, que busca revelar significações misteriosas e a natureza dos sentimentos de onde brotaram a obra. O complexo causado pela impossibilidade de conhecer o autor e sua obra melhor do que o próprio autor, propõe uma indigna fuga na invenção. A neurose é tamanha que passa-se a acreditar em algo que se estivesse em algum lugar, residiria apenas num espaço inóspito e esquizofrênico. Aí a transição do texto ao público já se perdeu completamente. No seu lugar, constrói-se uma ponte para levar do texto às loucuras pessoais de um diretor e seus sentimentozinhos. Neste caminho obscuro, a expressão artística do teatro nada mais difere de uma música sertaneja: o homem que sofre por uma inutilidade qualquer, mas este sofrimento é irreal, uma invenção. Pelo menos esses sertanejos hi-tech inventam inutilidades que existem em algum lugar, não abstrações ideológicas que só fazem sentido a doentes mentais.
Enfim, a inspiração poética só pode ser encontrada fora de si, percebendo a realidade - ou um fragmento dela mesma – que está e sempre esteve inserida no mundo, independente da existência de quem a vê. Uma obra, por consequência, deve ser pensada visando expressar uma ideia do real. Mas o que se vê nos palcos altualmente – e tem se tornado um vício entre escritores e poetas – é a expressão de um sentimento, não de uma ideia. E, convenhamos: quem, numa época tão esquisita, está interessado em conhecer os sentimentos mais íntimos, sombrios e obscuros de alguém que sequer conhece?
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