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sábado, 5 de junho de 2010

SEM TEMPLO E SEM ALTAR

VIVERDENOVO

SEXTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2010


Por Nadir Cabral

Ouvi a pouco que é iminente restaurar intelectualmente a religião, e isso lembra a visita do Papa João Paulo Segundo ao Brasil, o qual observou que a fé dos brasileiros é emocional, lúdica, estética.
É fácil perceber isto. O brasileiro vai à igreja ou a outro templo religioso para se sentir bem. É uma espécie de religião de autoajuda, onde fala-se e ouve-se o que se quer ouvir e falar. Em algum lugar do passado houve um desvio do caminho da retidão e o povo brasileiro perdeu-se num labirinto de mentira e de auto-engano. Ninguém quer ouvir do pregador a proposta da conversão, da entrega, do sacrifício e do rompimento com o mundo.

Atualmente, os erros de uma denominação servem de fiança para que outras se firmem em face dos seguidores. Concordo com Padre Paulo Ricardo quando diz que “qualquer pedaço de pau serve pra bater na Igreja Católica”.

O povo que se diz religioso está cego para o fato de que a “besta” descrita na bíblia, cujo significado é “Poder”, ainda está a crer que seja o papado essa tal “besta”. Acordem. Atentem para o poder político. Quem defende o aborto, a liberação de drogas, o desmantelamento da família, o fim da propriedade privada e da fé? A “prostituta” do Apocalipse traja-se de vermelho púrpura, mas não se engane. Não é o tom de vermelho do paramento de Sua Santidade. Subentende-se que o Papa Bento XVI, defende a vida, a família e a fé cristã em toda a sua essência, por isso é criticado, caluniado e até execrado não só no Brasil, mas mundo afora.

Ser cristão é politicamente incorreto. Escarnecem de Cristo a ponto de culpá-lo até pela Inquisição e os “cristãos” parecem vencidos diante desse flagrante desatino.

No livro “Introdução ao Cristianismo”, o Cardeal Ratzinger, atual Papa, expõe de maneira muito lúcida, elegante e inteligente o verdadeiro significado histórico da presença de Cristo na Terra. O livro é uma preciosidade. A pessoa que deseja descobrir verdadeiramente o motivo de sua crença deve torná-lo “livro de cabeceira”.

Só para se ter uma ideia da importância desse livro e de como ele se presta a fortalecer e a confirmar a fé cristã, no final do capítulo dois, onde o autor discorre longamente sobre os “desdobramentos da profissão de fé e a natureza do culto cristão”, há um relato sobre o livro “A República”, de Platão.

No relato ele comenta “a imagem do justo crucificado”, delineada por Platão, 400 a.C. Quais seriam as características “de um homem totalmente justo neste mundo”? Platão conclui que “a justiça de um homem só é perfeita e comprovada quando aceita as aparências da injustiça, porque só assim ficaria provado que ele não se importa com a opinião dos outros, mas apenas com a justiça pela justiça”. Assim, segundo Platão, “o verdadeiro justo deve ser um incompreendido e perseguido”. E continua: “Eles dirão que o justo, tal como o representei, será açoitado, torturado, acorrentado, terá os olhos queimados, e que, finalmente, tendo sofrido todos os males, será crucificado...” Ecce homo”. Eis o homem! Jesus Cristo! A verdade do ser humano é a mentira. “Todos os homens são mentirosos”, Salmos, 116, 11. O Maligno não suporta o justo.

A verdade do homem está na sua insistência em querer derrubar a verdade”. A cruz revela exatamente o que é o homem: dura cerviz (cabeça dura, imbecil, tolo), incircunciso de coração e de ouvido, traidor, homicida e resistente ao Espírito Santo. Esses “mimos” são de Santo Estevão, o primeiro mártir cristão. Mas também revela o que é Deus: amor infinito e incompreensível à criatura humana.

E, por falar em mártir, a impressão que se tem é a de que eles não mais existem. Engano. O século XX foi o século que mais martirizou cristãos, seja na Espanha, no México, na pessoa de Hitler, Stálin e associados.

Cristãos estão sendo martirizados agora em quantidade maior do que o foram os primeiros cristãos. Mas Deus parece impassível diante de tantos martírios. Martírios físicos, sim. Porém, muito mais abundantes em caráter moral. É proibido ser cristão. É proibido orar em nome de Jesus. Ofende as minorias. Não se pode ser cristão, professar a fé cristã. O que é isso afinal? Cristo morreu por todos ou por muitos?

Assim como Elias ironizou e ridicularizou os sacerdotes de Baal: “Gritai mais forte, é um deus, tem preocupações, necessitou ausentar-se, teve de sair; talvez esteja dormindo e é preciso despertá-lo!” (IRs, 18:27). Isso acontece hoje! Estão fazendo a mesma coisa com o Cristianismo!

Não é de arrepiar que essa mesma situação recaia sobre os cristãos nesse momento? Deus parece não ouvir os gritos. Qual a raiz desse ataque sistemático à Igreja Católica no mundo todo? Qual a razão de a Grande Mídia se empenhar tanto em destruir a fé cristã? Quem está financiando esse projeto? Você é capaz de se sentir seguro nesse mundo? Onde está o motivo de tantos insultos e escárnio à Pessoa que “julga o ser humano, salvando-o?”

O Cristianismo é a única fonte da qual emana as formas de responsabilidade comum dentro do mundo. Nunca foi ensinado ao cristão os caminhos de superação do mundo, porque isso é impossível. O mundo não é apenas maia, aparência. O mundo é real. O que está a acontecer nesse exato momento é que desviaram o eixo de entendimento do que seja real. O mundo existe! Lamento informar. Só Cristo venceu o Mundo. Ele é a verdade. E isso significa que para se viver de verdade, usufruir de uma vida abundante e plena, é necessário que se enxergue o mundo na perspectiva que Cristo enxergou. Isso é a verdade. “Jesus é a meta para a qual fomos criados”.

Pilatos não obteve resposta quando perguntou a Jesus “o que é a verdade?” justamente porque não estava em condições de receber a resposta. “Uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de ser mais breve do que a sua retificação”. Nunca se vence o diabo com os métodos do diabo.

Não se esqueça de que, “nos dias que correm, a simples adesão a um novo preconceito faz um sujeito se sentir livre de preconceitos”. Igrejas vazias, paredes vazias, mentes vazias. Tudo esvaziado de verdade e conteúdo.

Naquela trágica sexta-feira, o túmulo emudeceu Jesus. Seus seguidores se sentiram desamparados e amedrontados. O sábado que se seguiu à crucificação foi o mais longo de toda a eternidade! Deus estava em silencio! A sensação era a de profundo abandono. Muitos seguidores de Cristo devem ter pensado: fui seguidor de um executado, de um derrotado que não se defendeu das acusações a ele impostas.

O pensamento que segue é bastante complexo e teológico demais para quem nada entende de teologia, porém, quando Jesus padecendo na cruz em seus instantes finais exclama: “Deus, Deus, porque me abandonastes?”, e esse é o momento em que o texto bíblico diz: “Desceu aos infernos”, sente-se muito mais que um arrepio, mas um verdadeiro pavor ao imaginar que o amor de Deus é tão insensato que Ele é capaz de passar pela experiência de descer até aos mais profundos abismos infernais para resgatar a alma humana de seu pecado. E que se tal fato não tivesse ocorrido, todos estariam condenados à morte eterna. Jesus desceu ao sheol, morreu de verdade. Acredite. Não saiu da cruz vivo, como diz alguns ateus metidos a escritores, ou alguns demônios na pele de Deus.

O ser humano é tão vil que foi capaz de matar Deus, não uma vez, mas duas. Nietzsche, também não o fez?

Mas chegou o domingo da ressurreição. E só é capaz de aceitar isto quem tem juízo, quem não está contaminado pelo cientificismo idiota que manda na mente humana atualmente.
Deus não nos abandonou. Deus nos fala através de seu silêncio. Não apenas fala, mas grita também. Os sofrimentos impostos aos cristãos de hoje não são diferentes daqueles impostos aos cristãos dos primeiros tempos. O que muda é a perspectiva de entendimento.

O aparente silêncio de Deus em face aos dias de tempestade e escuridão pelos quais vêm sofrendo os cristãos pode ser um sinal de iminente transformação.

Deus não é somente a Palavra inteligível que vai ao nosso encontro, ele é também aquele fundo sigiloso e inacessível, incompreendido e incompreensível que foge à nossa percepção”.

É mais fácil morrer do que pensar”, diz o filósofo. Esforcemo-nos pelo pensar.

Nadir Cabral é Professora Universitária

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