por Victor Davis Hanson
em 9 de junho de 2010
Não causa espanto que o Presidente Obama fale mentiras (por exemplo: não haverá aumento de impostos para a classe média, a “reforma” no sistema de saúde [health care] controlará custos, a cobertura pela C-Span[1] dos debates sobre o sistema de saúde, listar legislações pendentes na internet por cinco dias, fechar a base de Guantânamo em um ano, a defesa em favor da retirada de todas as forças de combate do Iraque até março de 2008, lobistas fora do governo, um basta a todas as dotações orçamentárias “especiais”, e todas as velhas mentiras sobre financiamento público de campanhas, o verdadeiro relacionamento com Wright, Ayers, Khalidi, Blago, etc.), já que todos os políticos mentem.
Na verdade, o espanto é que ele minta tão seguidamente, após prometer tantas esperanças e mudanças na cultura política passada – e que sua base aliada e a mídia favorável se importem tão pouco com isso, a mesma mídia que durante quase uma década se gabou de que sua marca registrada era se preocupar profunda e entusiasmadamente com a veracidade presidencial. Some tudo isso a uma economia enfraquecida, uma taxa de desemprego de 10 por cento, déficits astronômicos, nomeações polarizadoras, pedidos de desculpas no exterior, e novamente, o surpreendente não é que a aprovação a Obama tenha caído mais rápido e mais profundamente que qualquer outro presidente em seu primeiro ano, mas sim, que de forma um tanto quanto fantástica, ele ainda possua um índice de aprovação de 48 por cento em pesquisas de opinião. Isso sim é surpreendente, e é, ou um testamento de sua sagacidade política, do servilismo da mídia de Nova York e de Washington D.C., ou a esperança da grande maioria pessoas de que possam ser incluídas na crescente distribuição de direitos e benefícios, agora atribuídos a aproximadamente 30 por cento da população, direitos a subsídios substanciais ou quase completos.
Sim, palavras são importantes!
Uma das defesas usadas por aqueles que apóiam a administração Obama contra críticas às suas políticas antiterroristas é que, apesar do fervor partidário, ela não está fazendo as coisas de modo tão diferente dos protocolos de Bush (por exemplo: prolongação do Patriot Act[2], as capturas no exterior de suspeitos de terrorismo, os tribunais, o plano Bush-Petraeus de retirada do Iraque, etc.), ou ainda, foi até mais longe que a administração Bush, como na expansão radical dos assassinatos pré-direcionados com os Predator[3], ou na escalada militar geral no Afeganistão. Alguns dos mais cínicos defensores da administração, talvez longe dos holofotes, até argumentariam que o alcance retórico de Obama (tal como sua verdadeira vociferação para fechar Guantânamo, e verdadeiramente programar o julgamento de KSM[4]), a sua construção de confiança mútua com o mundo muçulmano, seu nome e linhagem não tradicional permitem que ele faça coisas que o caubói Bush não pôde fazer – isto é, expandir capturas, ou explodir, em uma taxa sem precedentes, suspeitos de terrorismo ou qualquer um desafortunado o bastante para estar nas cercanias, tudo isso enquanto ele parece muito feliz no Cairo falando sobre uma Renascença e Iluminismo de inspiração muçulmana.
Mesmo que a administração fosse tão cínica, o problema, para parafrasear o próprio presidente, é que “palavras têm importância”, e que nossos inimigos estão simultaneamente travando uma guerra simbólica, na qual imagem, vocabulário e percepções têm tanta importância quanto as realidades do campo de batalha. Então, quando Obama e sua equipe estavam sonhando com eufemismos, tais como “operações de contingências no exterior” e “desastres causados pelo homem” e renegando em voz alta termos como “Islã radical”, “extremismo islâmico”, e “jihad”, e maximizando nossas contravenções ao mesmo tempo em que minimiza os crimes do Islã, e alardeando sua intenção de dar a KSM um julgamento civil, ou ler os direitos civis de Abdulmutallab, ou recitar sobre Guantânamo, talvez uma mensagem sutil tenha sido entregue aos radicais islâmicos: a de que nós, ou não iríamos ou não poderíamos mais travar uma guerra contra eles. Como sabemos, Osama Bin Laden e Ayman AL-Zawahiri valorizam as palavras e as consideram as janelas das almas. Portanto, enquanto nós achamos que estamos sendo tão duro quanto antes – mas agora mais espertos, com menos retórica polarizadora e um comandante-em-chefe pós-nacional – nossos inimigos terroristas podem ter a percepção de que nos sentimos culpáveis e não seremos tão imprevisivelmente vigilantes como no passado – mesmo que as políticas reais em alguns casos permaneçam iguais.
No final das contas: palavras importam. Mesmo que possamos pensar que a retórica de Obama “botão de reiniciar” / “Não sou o Bush” ganhará corações e mentes no exterior e nos dará novos parâmetros operacionais, nossos inimigos podem muito bem olhar mais para as palavras do que para as ações – e ver nelas uma radical perda de nossa habilidade de detê-los. Então os Hasans, Abdulmutallabs, e Shahzads do mundo passam a interpretar nossa nova magnanimidade filológica como fraqueza, quer que seja isso verdade ou não. E isto me parece realmente muito perigoso. Talvez o Presidente possa esquecer os insultos aos “tea-baggers[5]” e esquecer a Fox News e Rush Limbaugh, e em vez disso, admoestar os islâmicos radicais a pararem com isso – ou então...
O terrorismo sem nome
Houve uma reportagem perturbadora sobre o crescimento interno do terrorismo islâmico, no programa 60 Minutes. Foi perturbadora em seu conteúdo e também na forma como a narrativa inteira foi apresentada pelo 60 Minutes. Ouviu-se sobre o perigo de “websites radicais”, do “crescimento do terrorismo no país”, de um “movimento global”, de terroristas “agindo sozinhos”, de mensagens “sofisticadas” e “magnéticas”, de jovens expatriados “em risco de serem recrutados” e dos perigos gerais das “organizações terroristas”. Mas houve pouca discussão sobre o fato de que o único elo, a ligação em comum, dentre todos os recentes terroristas baseados nos Estados Unidos, serem a ideologia islâmica radical e sua doutrina permeada pelo ódio que busca achar as culpas das misérias autoinfligidas do Oriente Médio nos supostos pecados do Ocidente e de Israel. Houve ainda menos discussões no 60 Minutes sobre como algumas mesquitas e madraçais localizadas nos Estados Unidos flertam com tal islamismo radical, ou têm mais conhecimento sobre ele do que dizem ter. Não foi dito muito sobre por que houve mais conspirações terroristas nos últimos 15 meses do que durante qualquer período comparável desde 2001, ou por que exatamente os islâmicos do período pós-discurso no Cairo, pós tour de pedidos de desculpas, pós tentativa de aproximação com a Síria e o Irã, e pós desprezo a Israel aparentam estar mais, e não menos, propensos a nos matar aqui em nossa casa.
O único objeto interessante do programa foi uma entrevista com a Secretária de Estado Hillary Clinton. Ela transmitiu três mensagens: na primeira, de modo duro, anunciou que nós iremos sim responsabilizar associações ou grupos no exterior por terrorismo projetado no solo dos Estados Unidos; segundo, lamentou sua enfraquecida posição diplomática devido à posição financeira americana minada por seus déficits incontroláveis; terceiro, ela admitiu ter ficado chocada com o convite para ser a Secretária de Estado de Obama, e que inicialmente objetou.
Portanto, pode-se concluir que nossa Secretária de Estado é mais dura com o terrorismo islâmico que o presidente, está mais preocupada com as consequências estratégicas de inflar a dívida americana - e não estava inicialmente inclinada, até o final de 2008, a trabalhar para o presidente. Parece que um membro da administração que possui um índice de aprovação bem mais alto que o do presidente, pode estar sondando o novo cenário político que resultar das eleições de novembro, com um interesse particular.
Tradução: Roberto Ferraracio
Publicado originalmente no National Review Online em 20/05/2010
Também disponível no site do autor.
[1] NT: C-Span (Cable-Satellite Public Affairs Network) é uma emissora de rádio e televisão americana, de propriedade da indústria de televisão a cabo. Sua programação consiste em cobrir eventos e acontecimentos do governo. A C-Span não aceita anúncios nem comerciais, nem recebe qualquer tipo de financiamento governamental. Sua visão corporativa e editorial é comprometida com cobertura política balanceada.
[2] NT: USA PATRIOT Act é uma abreviação de “Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act of 2001”. Pode ser traduzido como “Unindo e Fortalecendo a América ao prover ferramentas apropriadas necessárias para interceptar e obstruir a ação terrorista de 2001”. O Patriot-act, aprovado pelo 107º Congresso dos Estados Unidos, diminui restrições nas agências de segurança americanas para fazer buscas e investigações em ligações de telefone, e-mails, informações médicas, financeiras, assim como expandiu os poderes de agências ligadas ao controle de imigração e expandiu as definições de terrorismo para abranger uma gama maior de possíveis suspeitos.
[3] NT: Predator – Nomeação dada a aeronaves ofensivas, não tripuladas e comandadas remotamente (drones).
[4] NT: Khalid Shaikh Mohammed, principal acusado de planejar os ataques de 11 de setembro. Hanson faz menção à controversa intenção de Obama de julgar o terrorista em um tribunal civil federal em Manhattan.
[5] NT: O termo “tea-bagger” é uma gíria com conotações sexuais. Usado por parte da mídia americana como menção ao Tea Party (movimento de oposição a administração Obama, recém criado). O correspondente da Casa Branca Jake Tapper, da ABC News, reporta que em uma entrevista a Jonathan Alter, em Novembro de 2009, Obama utilizou o termo em referência ao Tea Party.
Sim, palavras são importantes!
Uma das defesas usadas por aqueles que apóiam a administração Obama contra críticas às suas políticas antiterroristas é que, apesar do fervor partidário, ela não está fazendo as coisas de modo tão diferente dos protocolos de Bush (por exemplo: prolongação do Patriot Act[2], as capturas no exterior de suspeitos de terrorismo, os tribunais, o plano Bush-Petraeus de retirada do Iraque, etc.), ou ainda, foi até mais longe que a administração Bush, como na expansão radical dos assassinatos pré-direcionados com os Predator[3], ou na escalada militar geral no Afeganistão. Alguns dos mais cínicos defensores da administração, talvez longe dos holofotes, até argumentariam que o alcance retórico de Obama (tal como sua verdadeira vociferação para fechar Guantânamo, e verdadeiramente programar o julgamento de KSM[4]), a sua construção de confiança mútua com o mundo muçulmano, seu nome e linhagem não tradicional permitem que ele faça coisas que o caubói Bush não pôde fazer – isto é, expandir capturas, ou explodir, em uma taxa sem precedentes, suspeitos de terrorismo ou qualquer um desafortunado o bastante para estar nas cercanias, tudo isso enquanto ele parece muito feliz no Cairo falando sobre uma Renascença e Iluminismo de inspiração muçulmana.
Mesmo que a administração fosse tão cínica, o problema, para parafrasear o próprio presidente, é que “palavras têm importância”, e que nossos inimigos estão simultaneamente travando uma guerra simbólica, na qual imagem, vocabulário e percepções têm tanta importância quanto as realidades do campo de batalha. Então, quando Obama e sua equipe estavam sonhando com eufemismos, tais como “operações de contingências no exterior” e “desastres causados pelo homem” e renegando em voz alta termos como “Islã radical”, “extremismo islâmico”, e “jihad”, e maximizando nossas contravenções ao mesmo tempo em que minimiza os crimes do Islã, e alardeando sua intenção de dar a KSM um julgamento civil, ou ler os direitos civis de Abdulmutallab, ou recitar sobre Guantânamo, talvez uma mensagem sutil tenha sido entregue aos radicais islâmicos: a de que nós, ou não iríamos ou não poderíamos mais travar uma guerra contra eles. Como sabemos, Osama Bin Laden e Ayman AL-Zawahiri valorizam as palavras e as consideram as janelas das almas. Portanto, enquanto nós achamos que estamos sendo tão duro quanto antes – mas agora mais espertos, com menos retórica polarizadora e um comandante-em-chefe pós-nacional – nossos inimigos terroristas podem ter a percepção de que nos sentimos culpáveis e não seremos tão imprevisivelmente vigilantes como no passado – mesmo que as políticas reais em alguns casos permaneçam iguais.
No final das contas: palavras importam. Mesmo que possamos pensar que a retórica de Obama “botão de reiniciar” / “Não sou o Bush” ganhará corações e mentes no exterior e nos dará novos parâmetros operacionais, nossos inimigos podem muito bem olhar mais para as palavras do que para as ações – e ver nelas uma radical perda de nossa habilidade de detê-los. Então os Hasans, Abdulmutallabs, e Shahzads do mundo passam a interpretar nossa nova magnanimidade filológica como fraqueza, quer que seja isso verdade ou não. E isto me parece realmente muito perigoso. Talvez o Presidente possa esquecer os insultos aos “tea-baggers[5]” e esquecer a Fox News e Rush Limbaugh, e em vez disso, admoestar os islâmicos radicais a pararem com isso – ou então...
O terrorismo sem nome
Houve uma reportagem perturbadora sobre o crescimento interno do terrorismo islâmico, no programa 60 Minutes. Foi perturbadora em seu conteúdo e também na forma como a narrativa inteira foi apresentada pelo 60 Minutes. Ouviu-se sobre o perigo de “websites radicais”, do “crescimento do terrorismo no país”, de um “movimento global”, de terroristas “agindo sozinhos”, de mensagens “sofisticadas” e “magnéticas”, de jovens expatriados “em risco de serem recrutados” e dos perigos gerais das “organizações terroristas”. Mas houve pouca discussão sobre o fato de que o único elo, a ligação em comum, dentre todos os recentes terroristas baseados nos Estados Unidos, serem a ideologia islâmica radical e sua doutrina permeada pelo ódio que busca achar as culpas das misérias autoinfligidas do Oriente Médio nos supostos pecados do Ocidente e de Israel. Houve ainda menos discussões no 60 Minutes sobre como algumas mesquitas e madraçais localizadas nos Estados Unidos flertam com tal islamismo radical, ou têm mais conhecimento sobre ele do que dizem ter. Não foi dito muito sobre por que houve mais conspirações terroristas nos últimos 15 meses do que durante qualquer período comparável desde 2001, ou por que exatamente os islâmicos do período pós-discurso no Cairo, pós tour de pedidos de desculpas, pós tentativa de aproximação com a Síria e o Irã, e pós desprezo a Israel aparentam estar mais, e não menos, propensos a nos matar aqui em nossa casa.
O único objeto interessante do programa foi uma entrevista com a Secretária de Estado Hillary Clinton. Ela transmitiu três mensagens: na primeira, de modo duro, anunciou que nós iremos sim responsabilizar associações ou grupos no exterior por terrorismo projetado no solo dos Estados Unidos; segundo, lamentou sua enfraquecida posição diplomática devido à posição financeira americana minada por seus déficits incontroláveis; terceiro, ela admitiu ter ficado chocada com o convite para ser a Secretária de Estado de Obama, e que inicialmente objetou.
Portanto, pode-se concluir que nossa Secretária de Estado é mais dura com o terrorismo islâmico que o presidente, está mais preocupada com as consequências estratégicas de inflar a dívida americana - e não estava inicialmente inclinada, até o final de 2008, a trabalhar para o presidente. Parece que um membro da administração que possui um índice de aprovação bem mais alto que o do presidente, pode estar sondando o novo cenário político que resultar das eleições de novembro, com um interesse particular.
Tradução: Roberto Ferraracio
Publicado originalmente no National Review Online em 20/05/2010
Também disponível no site do autor.
[1] NT: C-Span (Cable-Satellite Public Affairs Network) é uma emissora de rádio e televisão americana, de propriedade da indústria de televisão a cabo. Sua programação consiste em cobrir eventos e acontecimentos do governo. A C-Span não aceita anúncios nem comerciais, nem recebe qualquer tipo de financiamento governamental. Sua visão corporativa e editorial é comprometida com cobertura política balanceada.
[2] NT: USA PATRIOT Act é uma abreviação de “Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act of 2001”. Pode ser traduzido como “Unindo e Fortalecendo a América ao prover ferramentas apropriadas necessárias para interceptar e obstruir a ação terrorista de 2001”. O Patriot-act, aprovado pelo 107º Congresso dos Estados Unidos, diminui restrições nas agências de segurança americanas para fazer buscas e investigações em ligações de telefone, e-mails, informações médicas, financeiras, assim como expandiu os poderes de agências ligadas ao controle de imigração e expandiu as definições de terrorismo para abranger uma gama maior de possíveis suspeitos.
[3] NT: Predator – Nomeação dada a aeronaves ofensivas, não tripuladas e comandadas remotamente (drones).
[4] NT: Khalid Shaikh Mohammed, principal acusado de planejar os ataques de 11 de setembro. Hanson faz menção à controversa intenção de Obama de julgar o terrorista em um tribunal civil federal em Manhattan.
[5] NT: O termo “tea-bagger” é uma gíria com conotações sexuais. Usado por parte da mídia americana como menção ao Tea Party (movimento de oposição a administração Obama, recém criado). O correspondente da Casa Branca Jake Tapper, da ABC News, reporta que em uma entrevista a Jonathan Alter, em Novembro de 2009, Obama utilizou o termo em referência ao Tea Party.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá internauta
O blog Cavaleiro do Templo não é de forma algum um espaço democrático no sentido que se entende hoje em dia, qual seja, cada um faz o que quiser. É antes de tudo meu "diário aberto", que todos podem ler e os de bem podem participar.
Espero contribuições, perguntas, críticas e colocações sinceras e de boa fé. Do contrário, excluo.
Grande abraço
Cavaleiro do Templo