| 04 JUNHO 2010
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
O eleitor colombiano não se deixou manipular pela propaganda, nem pelas ameaças que vinham da Venezuela, Equador e Nicarágua. O chamado de Juan Manuel Santos à unidade nacional tem um substrato positivo: a continuidade e o aperfeiçoamento do legado uribista.
A votação do 30 de maio evidenciou que a hora da ingratidão e do cinismo não chegou à Colômbia. A vontade popular manifestou-se com clareza nas urnas, como o havia feito nas eleições legislativas de março: o país agradece e quer a continuidade da obra empreendida pelo Presidente Álvaro Uribe. A grande distância que os eleitores impuseram entre Juan Manuel Santos e Antanas Mockus, indica que as confusas experimentações propostas pelo candidato verde despertam mais medo do que simpatia. Entretanto, entre 9 de abril e 30 de maio as empresas de pesquisa, muitos meios de comunicação e, sobretudo, certos colunistas, trataram de vender ao país a idéia de que havia uma "maré verde" que arrasaria com todo o existente, que eleitoralmente tudo estava jogado, que a Colômbia estava "cansada" da política de segurança democrática e que votariam em alguém que encarnasse a "anti-política".
Essa enxurrada foi regada pelo país e chegou aos Estados Unidos e Europa. Em Paris, o diário Le Monde, em artigo ditirâmbico de uma página inteira, assegurou que Antanas Mockus encarnava "a esperança de mudança". A correspondente em Bogotá fez um vendedor ambulante dizer: "Mockus é tão inteligente que para nós é difícil entendê-lo". E para dar uma mostra do brilho do professor-candidato, e de como este concebe "a guerra" na Colômbia e a luta contra "os rebeldes", Antanas aparece lá dizendo: "Na escala da desumanização, os 'falsos positivos' são crimes comparáveis ao fascismo".
Todavia, o triunfo do ex-ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, permite concluir que para as maiorias colombianas o desvio bastardo que Antanas Mockus propõe não é aceitável, e a percepção que os cidadãos têm do assunto dos "falsos positivos" não é a mesma que impulsionam os demagogos da oposição. Esse tema foi explorado, como tantos outros, até a saciedade, embora sem rigor nem objetividade, pelos que acreditaram que atribuir ao governo todos os males do mundo seria rentável.
Pois não, não foi assim. O eleitor colombiano não se deixou manipular pela propaganda, nem pelas ameaças que vinham da Venezuela, Equador e Nicarágua. Ele agora está muito mais informado, conhece mais detalhadamente o que ocorre realmente no país e isso o blinda, de certa maneira, contra as operações abusivas de agitação política.
Os eleitores tiveram que lutar contra os cantos de sereias do ético. Quem não fosse pró-Mockus era indecente, paramilitar, obtuso. Reprovaram Santos em suas gestões de paz com as FARC na época de Pastrana, quando essa linha errada era vista como a mais nobre e popular. Depois desabaram os trovões do juiz de Sucumbíos, pelo ataque ao acampamento de Raúl Reyes. Em seguida vieram as vociferações sobre os "falsos positivos", que mostravam Santos e Uribe como instigadores e não como os que puseram fim a esse horror. Contra Uribe agitaram as interceptações telefônicas do DAS, sem dizer que o Presidente, pelo contrário, havia sido vítima disso. Piedad Córdoba viajou à Venezuela e Europa para recitar a tese de Hugo Chávez e agitar, ante jornalistas escolhidos, suas falsificações contra Santos, culpado, segundo ela, de "insistir na confrontação". Ela não pode admitir a verdade: quem impulsiona a "confrontação" e a matança de colombianos são as FARC, e não a segurança democrática.
Antanas Mockus recebeu o apoio de Caracas e de Quito, e até dos comunistas brasileiros [1]. Seu pretendido ecologismo se esfuma a cada dia e por trás aparece uma proposta anti-sistema muito opaca. A política de segurança democrática sempre incluiu o princípio da legalidade democrática. Mockus, porém, pretende mostrar este último elemento como um descobrimento seu, como uma pedra filosofal, como um antídoto ao uribismo. O erro é maiúsculo. Quantos magistrados foram encarcerados ou acusados ante o Senado pelo escândalo Tasmania, ou por não querer eleger o Procurador Geral? Nenhum. Quantos jornalistas perderam o emprego por haver lançado acusações infundadas contra o presidente Uribe? Nenhum! Pelo contrário, houve magistrados inimigos do governo que pediram descaradamente a El Tiempo que censurasse vários jornalistas.
O mockusismo aparece como um socialismo pós-moderno errático que propõe isto: "trabalhe menos e ganhe menos". É isto o que hoje impulsionam os socialistas franceses, espanhóis e gregos, três partidos que levaram as finanças de seus países a pontos calamitosos.
O chamado de Juan Manuel Santos à unidade nacional tem um substrato positivo: a continuidade e o aperfeiçoamento do legado uribista. A unidade será feita sobre essa base. A unidade não significa somar programas diferentes e dissonantes e daí tirar uma síntese. Isto seria um erro. Juan Manuel Santos e os que vão respaldá-lo, não vêm as coisas assim.
Provavelmente os que vão chamar para que se vote em Santos no próximo 20 de junho, o farão sobre a base de que a segurança democrática continuará sendo aplicada como uma política de Estado. Essa doutrina não é um capricho, nem uma moda passageira. Nem o país está "cansado" dela. Muito pelo contrário. É uma base segura para o progresso econômico e para a paz. É um tesouro que deve ser preservado. É o que disseram os colombianos com seu voto em 30 de maio.
Nota:
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