Material essencial

terça-feira, 4 de maio de 2010

A investida de Moscou contra o Vaticano

BLOG DO ANGUETH

Terça-feira, Abril 20, 2010


Corromper a Igreja foi uma prioridade da KGB[1]

Nota do Blog
: Ao mesmo tempo em que a KGB tentava corromper a Igreja, objetivando sua destruição, altos prelados eclesiais, com pleno conhecimento do Papa João XXIII, negociavam e firmavam com o Kremlin o 
fatídico acordo de Metz, que calou a boca do Concílio Vaticano II sobre a heresia mais insidiosa da época: exatamente o comunismo. O Vaticano II foi o único concílio ecumênico, de todos que a Igreja fez até então, que não condenou a heresia de seu tempo.
Ion Mihai Pacepa[2]
Tradução: Guilherme Ferreira Araújo

A União Soviética nunca se sentiu confortável por ter de conviver com o Vaticano no mesmo mundo. As revelações mais recentes documentam que o Kremlin estava preparado para fazer tudo o que fosse preciso para agir contra o sólido anti-Comunismo da Igreja Católica.

Em Março de 2006, uma comissão parlamentar italiana concluiu “além de qualquer dúvida razoável que os líderes da União Soviética tomaram a iniciativa de eliminar o Papa Karol Wojtyla”, em retaliação a seu apoio ao movimento dissidente polonês Solidariedade. Em Janeiro de 2007, quando documentos relevaram que Stanislaw Wielgus, então recém-nomeado arcebispo de Varsóvia, havia colaborado com a polícia política do período comunista da Polônia, ele admitiu a acusação e renunciou. No dia seguinte, o pároco da Catedral Wawel de Cracóvia, lugar do sepultamento de reis e rainhas poloneses, renunciou pela mesma razão. Então, descobriu-se que Michal Jagosz, um membro do tribunal do Vaticano que está considerando a santidade do recém-falecido Papa João Paulo II, foi acusado de ter sido um agente da polícia secreta comunista; de acordo com a mídia polonesa, ele foi recrutado em 1984 antes de deixar a Polônia para realizar uma tarefa no Vaticano. Presentemente, está prestes a ser publicado um livro que identificará outros 39 padres cujos nomes foram encontrados nos arquivos da polícia secreta de Cracóvia, alguns dos quais agora são bispos. Além disso, isso parece apenas arranhar a superfície. Em breve uma comissão especial começará a investigar o passado de todos os servos religiosos do período comunista, porquanto se acredita que milhares de padres católicos em todo aquele país colaboraram com a polícia secreta. E isso apenas na Polônia — os arquivos da KGB e os da polícia política no resto do antigo bloco soviético ainda têm de ser abertos conforme o tema das operações contra o Vaticano.

Em minha outra vida, quando eu estava no centro das guerras de inteligência externa de Moscou, eu mesmo fui surpreendido por uma tentativa deliberada do Kremlin de manchar o Vaticano por meio do retratar o Papa Pio XII como um insensível simpatizante do Nazismo. No final das contas, a operação não causou nenhum dano permanente, mas ela deixou um gosto amargo residual difícil de ser enxaguado. A história nunca foi contada anteriormente.

COMBATENDO A IGREJA

Em Fevereiro de 1960, Nikita Kruschev aprovou um plano super-secreto para destruir a autoridade moral do Vaticano na Europa Ocidental. A ideia foi uma invenção de Aleksandr Shelepin, presidente da KGB, e de Aleksey Kirichenko, o membro do Politburo Soviético responsável pelas relações internacionais. Até aquele momento, a KGB havia combatido seu “inimigo mortal” na Europa Oriental, onde a Santa Sé havia sido duramente atacada como um escoadouro de espionagem pago pelo imperialismo norte-americano, e seus representantes foram sumariamente presos como espiões. Agora Moscou queria ver o Vaticano desonrado por seus próprios padres em seu território nacional como um bastião do Nazismo.

Eugenio Pacelli, naquela altura Papa Pio XII, foi escolhido como principal alvo da KGB, sua encarnação do mal, porque ele deixara este mundo em 1958. O slogan mais recente da KGB era “homens mortos não podem se defender”. Moscou tinha acabado de ganhar um “olho roxo” por ter incriminado falsamente e encarcerado um prelado ativo do Vaticano, Cardeal József Mindszenty, o primaz da Hungria, em 1948. Durante a Revolução Hungariana de 1956, ele escapou da prisão e encontrou asilo na Embaixada Norte-Americana em Budapeste, onde começou a escrever suas memórias. À medida que os detalhes de como ele foi incriminado falsamente se tornaram conhecidos para os jornalistas ocidentais, ele passou a ser amplamente visto como um mártir e herói santo.

Porque Pio XII havia servido como núncio apostólico em Munique e Berlim, quando os nazistas estavam dando início à sua tentativa para alcançar o poder, a KGB queria retratá-lo como um anti-semita que promoveu o Holocausto. O empecilho estava no fato de que a operação não poderia deixar o menor sinal de envolvimento do bloco soviético. Todo o trabalho sujo deveria ser executado por mãos ocidentais, usando provas do próprio Vaticano. Isso corrigiria outro erro cometido no caso Mindszenty, que havia sido incriminado falsamente com documentos soviéticos e hungarianos falsificados. (Em 6 de Fevereiro de 1949, dias antes do término do julgamento de Mindszenty, Hanna Sulner, a hungariana especialista em caligrafia que fabricou as “provas” usadas para incriminar falsamente o cardeal, fugiu para Viena e revelou microfilmes dos “documentos” a partir dos quais foi montado o falso julgamento. Hanna demonstrou, num testemunho dolorosamente detalhado, que todos eram documentos falsificados, produzidos por ela, “alguns aparentemente pelas mãos do cardeal, outros portando sua suposta assinatura”.) Para evitar outra catástrofe como a do caso Mindszenty, a KGB precisava de alguns documentos originais do Vaticano, até mesmo os que eram ligados remotamente a Pio XII, os quais seus especialistas emdezinformatsiya poderiam modificar levemente e projetar a “luz apropriada” para provar o verdadeiro “caráter” do Papa. A dificuldade estava no fato de que a KGB não tinha acesso algum aos arquivos do Vaticano, e foi aí que o meu DIE, o serviço romeno de inteligência externa, entrou em cena. O novo dirigente do serviço soviético de inteligência externa, General Aleksandr Sakharovsky, criou o DIE em 1949 e havia sido até recentemente o nosso principal mentor soviético; ele sabia que o DIE estava numa excelente situação para contatar o Vaticano e obter consentimento para investigar seus arquivos. Em 1959, quando fui designado para a Alemanha Ocidental, na posição de cobertura como agente superior da Missão Romena, eu coordenei uma “troca de espião” na qual dois oficiais do DIE (Coronel Gheorghe Horobet e Major Nicolae Ciuciulin) – que foram presos em flagrante na Alemanha Ocidental – foram trocados pelo Bispo Católico Augustin Pacha, que havia sido preso pela KGB numa acusação espúria de espionagem e finalmente retornou ao Vaticano via Alemanha Ocidental.

INFILTRANDO O VATICANO

“Assento-12” foi o codinome dado à operação contra Pio XII, e eu me tornei seu principal agente. Para facilitar meu trabalho, Sakharovsky havia me autorizado a informar (falsamente) ao Vaticano de que a Romênia estava preparada para restaurar suas relações interrompidas com a Santa Sé em troca de acesso aos seus arquivos e de um empréstimo sem juros de um bilhão de dólares por 25 anos. (As relações da Romênia com o Vaticano se romperam em 1951, quando Moscou acusou a nunciatura do Vaticano na Romênia de ser uma frente encoberta da CIA e fechou seus escritórios. Os edifícios da nunciatura em Bucareste foram transferidos para o DIE e agora abrigam uma escola de idiomas). O acesso aos arquivos papais, eu deveria dizer ao Vaticano, era necessário para que se pudessem encontrar raízes históricas que ajudariam o governo romeno a justificar publicamente sua mudança de comportamento em relação à Santa Sé. O bilhão (não, isso não é um erro tipográfico), disseram-me, foi introduzido no jogo para tornar mais plausível a suposta mudança de atitude. “Se há uma coisa que aqueles monges entendem, é dinheiro”, observou Sakharovsky. Meu envolvimento anterior na troca do Bispo Pacha pelos dois oficiais do DIE de fato me abriu as portas. Um mês depois de ter recebido as instruções da KGB, eu tive meu primeiro contato com um representante do Vaticano. Por questão de sigilo, aquela reunião — e a maioria das que se seguiram — ocorreram num hotel em Genebra, na Suíça. Lá, eu fui apresentado a um “membro influente do corpo diplomático” que, disseram-me, havia iniciado sua carreira trabalhando nos arquivos do Vaticano. Seu nome era Antonio Casaroli, e eu descobriria em breve que ele era verdadeiramente influente. Imediatamente esse monsenhor me deu acesso aos arquivos do Vaticano, e logo três jovens agentes secretos do DIE, apresentando-se como padres romenos, estavam vasculhando os arquivos papais. Casaroli também concordou “em princípio” com a exigência de Bucareste para o empréstimo sem juros, mas ele disse que o Vaticano gostaria de estabelecer algumas condições sobre ele. (Até 1978, quando deixei a Romênia permanentemente, eu ainda estava negociando o empréstimo, que foi diminuído 200 milhões). De 1960 a 1962, o DIE conseguiu furtar dos Arquivos do Vaticano e da Biblioteca Apostólica centenas de documentos ligados de algum modo a Pio XII. Tudo foi imediatamente enviado à KGB por meio de um correio especial. De fato, nenhum material que incriminasse o pontífice jamais apareceu naqueles documentos fotografados secretamente. A maioria dos documentos eram cópias de cartas pessoais e transcrições de reuniões e discursos, todas escritas à maneira habitual da linguagem diplomática que alguém esperaria encontrar. Não obstante, a KGB continuou pedindo mais documentos. E nós enviamos mais.

A KGB PRODUZ UMA PEÇA DE TEATRO

Em 1963, o General Ivan Agayants, o famoso dirigente do departamento de desinformação da KGB, desembarcou em Bucareste para nos agradecer por nossa colaboração. Ele nos disse que “Assento-12” havia se materializado numa poderosa peça de teatro que atacava o Papa Pio XII, intitulada O Vigário, uma referência indireta ao Papa enquanto um representante de Cristo na Terra. Agayants foi o responsável pelo esboço da peça e ele nos disse que ela continha apêndices volumosos de documentos de fundo, reunidos por seus especialistas com a ajuda dos documentos que nós havíamos furtado do Vaticano. Agayants também nos disse que o criador de O Vigário, Erwin Piscator, era um comunista devoto que mantinha uma relação com Moscou há muito tempo. Em 1929 ele fundou o Teatro do Proletariado em Berlim, e poucos anos depois “emigrou” para os Estados Unidos. Em 1962, Piscator retornou à Berlim Ocidental para produzir O Vigário.

Durante todos os meus anos na Romênia eu sempre lidei com certo cuidado com meus chefes na KGB, porque eles costumavam distorcer os fatos de forma a tornar a inteligência soviética a mãe e o pai de tudo. Mas eu tinha razões para crer nas alegações egocêntricas de Agayants. Ele era uma lenda viva no campo da desinformatsiya. Em 1943, como rezident no Irã, Agayants lançou o rumor desinformativo de que Hitler havia montado uma equipe especial para seqüestrar o Presidente Franklin Roosevelt na Embaixada Norte-Americana em Teerã durante a conferência de cúpula dos Aliados que seria realizada lá. Como resultado, Roosevelt concordou em estabelecer seu quartel-general numa vila ao alcance da “segurança” do complexo da Embaixada Soviética, que era protegido uma grande unidade militar. Toda a guarnição soviética designada para aquela vila era composta por oficiais secretos da inteligência que falavam inglês, mas, com poucas exceções, eles mantiveram aquilo como segredo para que pudessem escutar às escondidas. Mesmo com as limitadas capacidades daquela época, Agayants foi capaz de fornecer a Stalin relatórios monitoradores de hora em hora a respeito dos convidados ingleses e norte-americanos. Isso ajudou Stalin a obter o consentimento tácito de Roosevelt para deixá-lo reter os países bálticos e o resto dos territórios ocupados pela União Soviética em 1939-40. Foi também atribuído a Agayants o ter induzido Roosevelt a usar o familiar “Tio Joe” para Stalin naquela conferência. De acordo com o que nos disse Sakharovsky, Stalin estava mais feliz com aquilo do que estava em relação às suas conquistas territoriais. “O coxo é meu!”, exultou ele, de acordo com as notícias.

Apenas um ano antes de O Vigário ser lançada, Agayants obteve sucesso em outro golpe de mestre. Ele fabricou um manuscrito fictício destinado a persuadir o Ocidente de que no fundo o Kremlin tinha os judeus em alta conta; isso foi publicado na Europa Ocidental, com grande sucesso popular, como um livro Notas para um periódico. O manuscrito foi atribuído a Maxim Litvinov, nascido Meir Walach, ex-comissário soviético de negócios externos, que havia sido demitido em 1939, quando Stalin resgatou seu aparato diplomático dos judeus em preparação para assinatura do pacto de “não-agressão” com Hitler. (O Pacto de Não-Agressão Hitler-Stalin foi assinado em 23 de Agosto de 1939, em Moscou. Ele continha um protocolo secreto que repartiu a Polônia entre dois signatários e deu aos soviéticos liberdade irrestrita para agir na Estônia, na Lituânia, na Finlândia, na Bessarábia e na Bucovina do Norte.) Esse livro de Agayants foi falsificado de modo tão perfeito que o mais proeminente historiador britânico da Rússia soviética, Edward Hallet Carr, foi totalmente convencido da sua autenticidade e, na verdade, escreveu uma introdução para ele. (Carr foi o autor de uma História da Rússia Soviética em dez volumes)

O Vigário
 veio a público em 1963 como trabalho de um desconhecido alemão ocidental chamado Rolf Hochhuth, com o título de Der Stellvertreter:Ein christliches Trauerspiel (O Vigário, Uma Tragédia Cristã). Sua tese central era a de que Pio XII havia apoiado Hitler e o encorajado a seguir em frente com holocausto judaico. A peça imediatamente acendeu uma enorme controvérsia em torno de Pio XII, que foi retratado como um homem frio e cruel, mais preocupado com as propriedades do Vaticano do que com o destino das vítimas de Hitler. O texto original apresenta uma peça com duração de oito horas, apoiado por 40 a 80 páginas (dependendo da edição) do que Hochhuth chamou “documentação histórica”. Em um artigo de jornal publicado na Alemanha, em 1963, Hochhuth defende sua representação de Pio XII, dizendo: “Os fatos estão lá — 40 páginas abarrotadas de documentação no apêndice à minha peça.” Numa entrevista de rádio dada em Nova York, em 1964, quando O Vigário estreou por lá, Hochhuth afirmou: “Eu julguei necessário adicionar um apêndice histórico à peça com extensão de 50 a 80 páginas (dependendo do tamanho da impressão).” Na edição original, o apêndice é intitulado Historische Streiflichter” (informações históricas interessantes). O Vigário foi traduzida para uns 20 idiomas, drasticamente reduzido e com o apêndice usualmente omitido.

Antes de escrever O Vigário, Hochhuth, que não tinha um diploma de ensino médio (Abitur), estava trabalhando em várias ocupações não notáveis para a casa de publicações Bertelsmann. Em entrevistas, alegou que em 1959 ele se afastou do trabalho e foi para Roma, onde passou três meses conversando com pessoas e então escreveu o primeiro rascunho da peça, e onde apresentou “uma série de questões” a um bispo cujo nome ele recusou revelar. Provavelmente não! Quase ao mesmo tempo eu costumava visitar o Vaticano regularmente como um mensageiro oficialmente reconhecido de um chefe de estado e eu nunca consegui pegar algum bispo falador para ter uma conversa num canto com ele — e não foi por falta de tentativa. Os oficiais ilegais do DIE que nós infiltramos no Vaticano também encontraram dificuldades quase insuperáveis para penetrar nos arquivos secretos do Vaticano, ainda que eles tivessem o disfarce impermeável de padres.

Durante os meus velhos dias no DIE, quando pedia meu chefe de guarnição, General Nicolae Ceausescu (irmão do ditador), para me dar um relatório detalhado do arquivo de algum subordinado, ele sempre me perguntava: “Para promoção ou rebaixamento?” Durante seus primeiros dez anos de vida,O Vigário tendeu em direção ao rebaixamento do Papa. Ela gerou uma rajada de livros e artigos, alguns acusando e alguns defendendo o pontífice. Alguns foram longe o suficiente para pôr a culpa das atrocidades de Auschwitz sobre os ombros do Papa, alguns reduziram meticulosamente os argumentos de Hochhuth a trapos, mas todos contribuíram para a atenção que essa peça quiçá desengonçada recebeu em sua época. Hoje, muitas pessoas que nunca ouviram falar de O Vigário estão sinceramente convencidas de que Pio XII era um homem frio e malvado que odiava os judeus e ajudou Hitler a matá-los. Como costumava me dizer o presidente da KGB, Yuri Andropov, o incomparável mestre da fraude soviética, as pessoas estão mais preparadas para acreditar na sujeira do que na santidade.

FALSIDADES SOLAPADAS

Perto de meados da década de 1970, O Vigário começou a perder a força. Em 1974, Andropov admitiu para nós que se soubéssemos então o que sabemos hoje nós nunca teríamos perseguido o Papa Pio XII. O que fez a diferença foram as informações liberadas recentemente mostrando que Hitler, longe de ter sido cordial com Pio XII, estava na verdade tramando contra ele.

Apenas alguns dias antes da revelação de Andropov, o ex-comandante supremo do esquadrão da SS (Schutzstaffel) na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, General Friedrich Otto Wolff, saiu da prisão e confessou que, em 1943, Hitler lhe dera ordens para tirar Pio XII do Vaticano à força. Essa ordem foi tão confidencial que ela nunca apareceu em nenhum arquivo nazista após o final da guerra. Ela também não apareceu em nenhum dos muitos interrogatórios de oficiais da Gestapo e da SS conduzidos pelos vitoriosos Aliados. Nessa confissão, Wolff afirmou que havia respondido a Hitler que sua ordem levaria seis semanas para ser executada. Hitler, que havia culpado o Papa pela derrota do ditador italiano Benito Mussolini, queria a ordem executada imediatamente. Finalmente, Wolff persuadiu Hitler de que haveria uma resposta muito negativa se o plano fosse implementado, e o Führer o abandonou.

Foi também durante o ano de 1974 que o Cardeal Mindszenty publicou seu livro Memórias, que descreve com detalhes dolorosos como ele foi incriminado pela Hungria comunista. Conforme as evidências de documentos forjados, ele foi acusado de “traição, mal uso de moeda estrangeira e conspiração”, ofensas “todas puníveis com a morte ou prisão perpétua”. Ele também descreve como sua “confissão” falsificada então tomou vida própria. “Eu tive a impressão de que qualquer um deveria ter reconhecido imediatamente que esse documento era uma falsificação grosseira, uma vez que era o produto de uma mente inculta e atamancada.”, escreve o cardeal. “Mas logo após, quando eu procurei pelos livros, jornais e revistas estrangeiros que lidaram com o meu caso e comentaram minha ‘confissão’, eu percebi que o público deve ter concluído que aquela ‘confissão’ havia de fato sido escrita por mim, embora num estado semi-consciente e sob influência de lavagem cerebral... Que a polícia tivesse publicado um documento que eles mesmos tinham inventado parecia, de modo geral, algo muito descarado em que se acreditar”. Ademais, Hanna Sulner, a hungariana especialista em caligrafia usada para incriminar o cardeal e que tinha fugido para Viena, confirmou que ela falsificara a “confissão” de Mindszenty.

Alguns anos mais tarde, o Papa João Paulo II deu início ao processo de canonização de Pio XII, e testemunhas de todo o mundo provaram de modo constrangedor que Pio XII era um inimigo, e não um amigo de Hitler. Israel Zoller, o rabino-chefe de Roma entre 1943-44, quando Hitler tomou aquela cidade, dedicou um capítulo inteiro de suas memórias para louvar a liderança de Pio XII. “O Santo Padre entregou aos bispos, em mãos, uma carta instruindo-os a suspender a clausura dos conventos e monastérios, de modo que estes pudessem se tornar abrigos para os judeus. Eu sei de um convento onde as Irmãs dormiam no porão, cedendo suas camas aos judeus refugiados”. Em 25 de Julho de 1944, Zoller foi recebido pelo Papa Pio XII. Notas tomadas pelo Secretário de Estado do Vaticano, Giovanni Battista Montini (que tornar-se-ia Papa Paulo VI), mostram que o Rabino Zoller agradeceu o Santo Padre por tudo o que ele fizera para salvar a comunidade judaica de Roma — e seus agradecimentos foram transmitidos por radio. Em 13 de Fevereiro de 1945, o Rabino Zoller foi batizado pelo bispo auxiliar de Roma, Luigi Traglia, na Igreja de Santa Maria dos Anjos. Em agradecimento a Pio XII, Zoller tomou como nome cristão Eugenio (o nome do Papa). Um ano mais tarde, a esposa e a filha de Zoller foram batizadas.

David G. Dalin, em O Mito do Papa de Hitler: Como o Papa Pio XII Salvou os Judeus dos Nazistas, publicado há alguns meses, compilou provas esmagadoras adicionais de que a amizade que Eugenio Pacelli nutria pelos judeus começara muito antes dele se tornar Papa. No início da Segunda Guerra Mundial, a primeira encíclica do Papa Pio XII era tão anti-Hitler que a Real Força Aérea da França jogou 88.000m cópias dela sobre a Alemanha. Nos últimos 16 anos a liberdade de religião foi restaurada na Rússia, e uma nova geração está lutando para desenvolver uma nova identidade nacional. Nós só podemos esperar que o Presidente Vladimir Putin decida abrir os arquivos da KGB e mostre, para que todos possam ver, como os comunistas difamaram uns dos Papas mais importantes do século passado.





[1]
 Publicado no National Review Online, em 25 de Janeiro de 2007. A National Review autorizou a tradução e a publicação do texto traduzido. (N. do Blog.)
[2] Tenente-general Ion Mihai Pacepa é o oficial de inteligência de mais alto cargo a ter desertado do antigo bloco soviético. Seu livro Horizontes Vermelhos foi republicado em 27 países.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá internauta

O blog Cavaleiro do Templo não é de forma algum um espaço democrático no sentido que se entende hoje em dia, qual seja, cada um faz o que quiser. É antes de tudo meu "diário aberto", que todos podem ler e os de bem podem participar.

Espero contribuições, perguntas, críticas e colocações sinceras e de boa fé. Do contrário, excluo.

Grande abraço
Cavaleiro do Templo