PERTO DO LIMITE
Gilberto Simões Pires
ÁGUA FRIA -Toda vez que me proponho a alertar sobre exageros praticados no Brasil, a turma dos otimistas incorrigíveis simplesmente não perdoa. Não aceitando que alguém jogue água fria na boa fase econômica do país, antes de usar o raciocínio imaginam que minha felicidade está em ver a festa acabar para os consumidores mais animados. Alguém que não suporta a alegria que está provocando o atual crescimento que estamos experimentando.
OPINIÃO E PALPITE - Como me dedico, diariamente, em opinar da forma mais fundamentada possível, coisa bem diferente de quem prefere dar meros palpites, a minha preocupação não é esfriar o prato servido, mas mostrar o cálculo econômico e a relação custo benefício daquilo que a sociedade paga e consome.
SATURAÇÃO - Pois é por aí que entendo que o crescimento das compras a crédito no Brasil está cada vez mais próximo da saturação. Por si só o limite vai se apresentar pelo esgotamento da capacidade de endividamento. Afinal, todos nós sabemos que a renda do povo brasileiro não é tão alta assim a ponto de ficar concedendo, num aumento sem fim do crédito.
VELOCIDADE -Já sei, de antemão, que vou receber muitas mensagens cheias de contrariedade. Mas, o fato é que o limite está ficando cada vez mais próximo em função da velocidade do crescimento da renda em comparação com o volume do crédito . Não acredito que se trate, por enquanto, de uma bolha. Esta ainda vai ficar para mais adiante. Algo para dois a três anos à frente, aproximadamente, quando muita gente simplesmente deverá desistir dos automóveis e imóveis, principalmente, que adquiriu nestes dois últimos anos. Por quê? Ora, porque não terá como pagar as prestações.
SUBPRIME - Não me compreendam mal. Não é nada parecido com o subprime americano que foi engordado com anabolizantes. Aqui os bancos estão trabalhando com alavangem baixa e juros bem mais elevados, o que, por si só já significa um provisionamento enorme de devedores duvidosos. Entretanto, por outro lado, os mesmos juros altos é o que vai aumentar a inadimplência. E a única saída será pela porta do encurtamento do crédito.
DUAS FRENTES - País em que a renda do povo é baixa, o crédito não é calculado pelo juro, mas pelo valor da parcela. Como uma renda baixa é explicada pelo baixo nível de esclarecimento das pessoas, o engodo se dá pelo aumento do prazo. E, quanto menor a prestação, maior o comprometimento da renda em novas compras a prazo. Até o momento da saturação. É sobre esta saturação que estou me referindo. E ela será percebida por duas frentes: por quem dá o crédito e por quem o recebe.
JUROS - Por favor: não olhem para a taxa Selic, que está abaixo de 10%. Olhem, com muita clareza, para o juro bancário, que está, em média, acima de 35%. Quanto maior for a perspectiva de inadimplência, a taxa de juro será maior e o prazo, ao contrário, será cada vez menor. Esta é a ferramenta normalmente utilizada. Os americanos tentaram uma outra, que acabou por matar vários bancos.
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