Quinta-feira, Abril 15, 2010
Nota: Este modesto blog (o Blog do Angueth) fica honrado com a manifestação do Prof. Olavo.
Agradeço muito ao Angueth pelas palavras gentis com que ele se refere à minha pessoa, as quais podem lhe render uma condenação como gnóstico no tribunal dos inquisidores mirins de Vila Nhocunhé.
Nunca pus em dúvida -- e até já proclamei várias vezes -- que o prof. Fedeli é um homem bom, um católico sincero e uma fonte altamente confiável no que diz respeito à doutrina da Igreja. Não escondo que gosto muito dele e do seu blog. O problema é que ele é um professor de religião e não um filósofo -- o que em si não teria nada de mau se ele não achasse que, com esse seu equipamento doutrinal, está habilitado a entender e julgar filósofias. Dado um problema, tudo que ele faz é consultar a doutrina e tirar deduções que lhe parecem aplicar-se ao caso individual. A coisa é de um automatismo atroz e bem poderia ser feita por um computador. Se tudo pudesse ser resolvido por esse método, não precisaríamos nem de aritmética,nem de História nem de ciência nenhuma: bastaria um laptop e um exemplar do Enchiridion de Denziger. Desde logo, é um método autocontraditório, pois, pretendendo tudo resolver só pela doutrina católica, faz amplo uso da lógica, que não é de fonte católica. O resultado da sua aplicacão é produzir essas mentalidades mesquinhas que, por terem aderido à doutrina católica, acreditam estar no certo mesmo quando mentem, mesmo quando negam os fatos mais óbvios. "Desconheço quem tenha se convertido ao catolicismo por conta de suas aulas. Para ele tanto faz ser protestante, budista ou espirita", proclama uma dessas criaturas, com aquela segurança fedeliana característica. Pois bem: é uma afirmativa inteiramente falsa, que deduz da ignorância uma mentira, e o faz com a boa consciência de estar servindo à Igreja.
Se há um bom motivo para estudar filosofia, é aprender que ter a doutrina certa não é tudo, que nem tudo pode ser descoberto mediante leituras devotas e dedutivismo "à outrance". Antes de ter ditado a Bíblia, Deus criou o mundo. Essa foi a primeira revelação. É preciso entender a Bíblia à luz da realidade, e não só esta à luz daquela. Doutrinários sem adestramento filosófico são proclamadores de generalidades: seu desprezo pelos fatos concretos não tem fim. Seu sentimento de certeza é uma auto-ilusão filológica. Deduzem frases de frases, e acreditam com isso estar na verdade. Decerto, é coisa que infunde nos corações uma certeza, uma segurança reconfortantes. Como muitas pessoas buscam essa sensação, e não a verdade enquanto tal, é lógico que se satisfaçam muito mais com as certezas fáceis do que com as investigações trabalhosas e não raro perigosas que o exame da realidade implica. O mais irônico de tudo é que um praticante do certezismo fedeliano venha cobrar de mim uma atitude socrática, como se o proclamador de certezas acríticas fosse eu.
Olavo de Carvalho
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