10/4/2010
Cavaleiro do Templo: sei que o assunto abaixo é regional mas me chama a atenção por dois motivos, que quero compartilhar com vocês: nosso governador é do PMDB, aliado no ES do PT, e Rogério Medeiros, um dos que assinam o artigo, é ou era petista conhecido. O segundo motivo é o nome do artigo e a análise. Aqui no Espírito Santo, o PMDB do governador transformou o PT em serviçal, e isto é um belo serviço, mas acaba por aí pois trocamos o capeta pelo demônio. Sabemos que o PT quandio reclama de alguém é porque não está ganhando daquele, não tenho ilusão nesta reclamação toda... Mas muitas batatas estão no fogo. Vamos ao artigo:
Rogério Medeiros e Nerter Samora
O “fico” do governador Paulo Hartung continua embolando o caminho do candidato palaciano à sucessão, o vice Ricardo Ferraço. Após a costura dos apoios, o controle de PH azedou a relação da candidatura palaciana com o grupo do senador Magno Malta. A solução deste complicado impasse é tema deste Papo de Repórter.
Rogério: – Você vê que o governador Paulo Hartung, para não abdicar do poder, é capaz de tudo. Até atrapalhar o seu candidato ao governo, o vice Ricardo Ferraço (PMDB). O Ricardo vinha bem, costurando acordos que até não eram esperados. Impulsionando com a visibilidade que o governo lhe deu para a cabeça das pesquisas feitas até o momento. Agora, com o ‘fico’, o governador veio e tomou as rédeas da eleição do Ricardo. Para quê? No processo eleitoral a rédea tem que estar na mão do candidato. O Paulo Hartung não é candidato. O candidato, sim, é que fatia o futuro e nessa hora cria os acordos que vão elegê-lo. O Paulo está de saída. Ele não pode firmar acordo de futuro. Desde o ‘fico’ só se ouve o crescimento da candidatura do senador Renato Casagrande (PSB). E quem diz isso não são os grupos políticos longe do governo, mas vem de todos os lados. Ele não livra a cara nem do companheiro dele. PH se acha o mesmo podero so de antes.
Nerter: – Temos que lembrar dos nossos antigos papos, onde projetamos este momento eleitoral. Ainda em 2009 já conversávamos que a classe política negocia com a cadeira de governador. Com esse “fico”, a cadeira soltou os pés, aliás, PH está de pé. Isso para um político que almejava as páginas de destaque da política nacional foi um tiro no pé. É só comparamos com o que aconteceu em Minas Gerais. O governador Aécio Neves (PSDB) passou a faixa para o vice e foi tratar da sua eleição do Senado. Já por aqui as coisas tomaram um rumo diferente, pois o “fico” de Hartung não feriu apenas o Ricardo, mas também a seus parceiros, como o senador Magno Malta (PR) que não andou muito satisfeito com o tratamento que recebeu de Hartung.
Rogério: – Não é do tratamento. Ele reclamou da armadilha que o Paulo preparou para ele. Todo mundo sabe que o Paulo tem aversão ao Magno. Usando uma imagem interessante do professor Stélio Dias, o senador Magno nunca foi parceiro da mesa de pôquer do Paulo Hartung, o Magno sempre preferiu jogar paciência, um jogo que se joga sozinho. Convenhamos que, neste caso, aquilo que poderia parecer uma estranha má vontade de PH com ele, tá na cara que o governador com prazo de validade marcado não vai suportar um Magno sem data de validade a vencer.
Nerter: – Um cara que nunca foi na missa do Paulo, nunca deu confiança a ele e que construiu uma liderança política sozinho. Se você perceber, ele é sobrevivente. A mesma coisa não se pode dizer do Paulo Hartung depois de 31 de dezembro quando ele passará para o julgamento da história...
Rogério: – E os pepinos dele que estão escondidos por aí no Ministério Público, no Judiciário e fora do alcance do público em função da imprensa corporativa?... tudo isso vai desaguar numa Assembleia Legislativa cheia de inimigos do Hartung. Alguns dos exemplos de quem ele maltratou: o ex-governador Max Mauro (PTB), que tem uma eleição assegurada; o ex-prefeito de Linhares José Carlos Elias (PTB), que o Paulo também maltratou muito, e o ex-deputado federal Marcelino Fraga (PSDB), que sai eleito de Colatina e foi traído pelo governador quando entregou o comando do PMDB, sobre o qual tinha total controle. Então, a vida dele fora do poder não vai ser mole.
Nerter: – Vamos voltar a essas eleições. Ele pode atrapalhar mais o Ricardo Ferraço a ponto de colocar a eleição em risco?
Rogério: – Olha, teoricamente, não. Porque se o Ricardo não for eleito governador, PH não se salva. Mas o instinto de maldade dele é tão grande que ele capaz de pelo vicio de praticá-la... é capaz de ocasionar a derrota de quem é o único que pode salvá-lo. O que eu acho que ele não está suportando é a programada descida da escadaria frontal do palácio Anchieta por onde descem todos os governadores após o final do mandato.
Nerter: – Uma hora esse momento chegaria e parece que o governador não estava preparado. Ou, pelo menos, crente que isso aconteceria.
Rogério: – O governador não se associa a ninguém, é só ele. Só que o governo acaba, o poder acaba. Tem uma indagação que permanece quando você tocou na situação do Aécio. Você acha que, se o campo estivesse livre, o Paulo Hartung com o prestigio em alta não disputaria o Senado? Claro que disputaria. Ele sabe que a batata dele tá assando.
Nerter: – Com o Paulo Hartung sendo um jogador de pôquer, como você bem definiu, ele só entra em mesa em que tem certeza da vitória. Ele não entra para perder. Nestas eleições, o estouro das masmorras de PH que teve repercussão internacional e o surgimento de um Casagrande com chances reais de vitória como indicam as últimas pesquisas... tudo isso consolidou a ameaça aos planos de PH. Pegando o governador pelas costas, já que ele estava preparado para tudo, menos para os direitos humanos e a ascensão de novas lideranças em seu condomínio.
Rogério: – É isso mesmo. Ninguém disse que ele vai sair incólume. As coisas não se reduzem ao fracasso da segurança, ao mau desempenho da saúde e à privatização da educação, tem muito mais. Veja o seguinte: o Tribunal Regional Eleitoral, cuja influência é notória, volta e meia retira alguns mandatos. Por que não pegou Paulo Hartung? É só pegar as prestações de contas de 2002 e 2006. Veja quem pagou e deu dinheiro para as transnacionais. Veja o que o governo deu para essas empresas. Um favorecimento à custa da saúde da população na Grande Vitória por conta do afrouxamento das licenças ambientais. Coincidentemente, licenças carimbadas pela Cepemar, empresa da relação do governador. Está claro que ele deixou essas empresas acabarem com o meio ambiente do Espírito Santo. A Aracruz colocou eucalipto por todos os cantos, mas que não acaba aí. Essas mesmas empresas foram beneficiadas com incentivos fiscais. Está caracterizand o uma coisa: corrupção eleitoral. É assim na Justiça Eleitoral de todos os cantos, menos aqui no Espírito Santo. Ele já teria perdido o mandato há muito tempo. Ele deu tudo que elas queriam em troca de doações de campanha dele e de quem ele apoiou. Mas vamos nos limitar ao caso da corrupção praticada por ele. Você acha que ele ia colocar a cara na reta? Até porque esse é um crime que não prescreve, tanto os cometidos em 2002 como os de 2006. Paulo tirou a cara dele da reta.
Nerter: – Concordo. Ninguém abriria mão de uma imunidade parlamentar de oito anos que ele tinha se estivesse prevenido de que vem tiro em cima dele. E a conta pelos sacos de maldades distribuídos ao longo desses oito anos?
Rogério: – Isso não é saco de maldade, mas uma carreta com 30 metros de comprimento que ele impregnou a vida política e empresarial do Espírito Santo... isso é. Um estado em que ninguém fala mais no telefone. Hoje, para se falar ao telefone, tem que se falar em código. Mas vamos abandonar isso porque já é conhecido. Vamos voltar ao campo político.
Nerter: – Como o Ricardo vai tocar sua campanha se as negociações estão concentradas na mão do Paulo?
Rogério: – Vamos falar do senador Magno Malta. Já estava tudo acertado. A dupla era Magno e PH, mesmo eles não se dando, eram eles. O Ricardo garantindo ao governador ser o candidato mais votado. Enquanto os dois principais patrocinadores de Magno, os prefeitos Neucimar Fraga (Vila Velha, do PR) e Sérgio Vidigal (Serra, do PDT), aceitando dar o mesmo tratamento de voto que iam dar para o Magno e para o governador. Ao mesmo tempo, aceitando que o governador não desse o mesmo tratamento de voto que eles iam dar. Aceitaram até isso! Já que naquela época o Paulo queria ser mais votado que o Magno para prosseguir no seu objetivo de comandar o Espírito Santo até 2025.
Nerter: – Tá certo. Mas agora vem o governador, deixa de ser candidato e quer armar uma arapuca para o Magno. Como disse em matéria recente a nossa colega Renata Oliveira, o Paulo quer fazer de um sem voto, o ex-prefeito Guerino Balestrassi (PV)– ele só tem voto em Colatina –, o candidato ao Senado mais votado do Estado, assim como fez com o próprio Casagrande. O governador, com essa fobia de diminuir o tamanho do Magno Malta, passou ameaçar a eleição do próprio candidato que garante a sua sobrevivência política. Parece estranho, e é.
Rogério: – Você acha que o Paulo vai perder a oportunidade de ser o destaque da eleição? Porque ele vai entregar as rédeas ao Ricardo e fazer um sem voto senador do Espírito Santo, isso é a glória. Ele às vezes, como diz um amigo meu, até quando se olha no espelho fica atraído em fazer maldade consigo mesmo. Pode ser o caso nesta eleição.
Nerter: – A presença da maldade está tão incrustada que ele ameaça a si próprio.
Rogério: – É isso aí!
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