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segunda-feira, 5 de abril de 2010

CARTA DE MARCOS SUSSKIND A CLARA ANT

HEITOR DE PAOLA



Prezada Clara Ant:


Gostei muito de ler seu artigo na Rua Judaica - nem tanto pelos rasgados elogios a Lula, mas por sentir que você se sente parte de nosso povo, dirigindo-se à Comunidade via um de seus respeitados veículos.

Seu artigo não mente em nada, o que considero positivo - mas omite algo muito doloroso para mim e para milhares de Judeus e Sionistas no mundo. Trata-se da inaceitável recusa de Lula visitar o túmulo e honrar Theodor Herzl, fundador do Sionismo Político e sem dúvida, a maior figura de libertação nacional nos séculos XIX e XX.

Querida Clara: talvez Lula não tenha sido informado que Theodor Herzl foi um jornalista que "acordou"  para seu Judaísmo quando do Processo Dreifuss, uma grande mancha na história da França e uma dolorida chama na história do Antissemitismo Francês. Herzl usou de sua pena e de seu tempo, visitando incontáveis líderes mundiais de sua época, usando de sua palavra e argumentos para realçar as idéias Sionistas. Também visitou e discutiu com líderes Judeus de diversas correntes, algumas das quais muito antagonistas à idéia de uma nação independente com caráter Judaico. Herzl NUNCA pegou em armas, NUNCA denegriu qualquer outro povo, NUNCA negou direitos a qualquer raça/religião, NUNCA exaltou assassinatos. Sua luta sempre se deu no âmbito dos livros, das colunas em jornal, da diplomacia e da argumentação. Não me parece ter existido nem antes, nem depois dele, qualquer líder que tenha lutado por um país para seu povo sem recorrer à violência. Este fato por sí só já merecia a visita de Lula a seu túmulo, onde inclusive poderia ter feito um pronunciamento maravilhoso contra a violência e o terrorismo.

Claro que eu não esperava que Lula soubesse de nada que está no parágrafo acima. Afinal, de um homem que se gaba de "nunca ter lido um livro em sua vida" não se espera conhecimento ou erudição. Mas seus assessores (e você era Assessora Especial dele até 01/04/2010) poderiam ter preparado "o cara" para isto, apesar das pressões do Sr. Celso Amorim.

No entanto, prezada Clara, na mesma viagem Lula depositou flores no túmulo do inventor do terrorismo moderno, Y. Arafat Imach Shmó. Apenas para lembrar, foi ele o idealizador dos primeiros sequestros de aviões para serem explodidos. Foi ele quem ordenou a invasão à escola de Maalot (1974) onde assassinaram uma criança de 4 anos, uma de 16 meses, sua mãe grávida e seu pai antes de entrarem numa escola onde tomaram 85 crianças reféns, amarrando explosivos em seus corpos. Para mostrar seu "heroismo" suas forças mataram 22 menininhas, diversas delas jogadas vivas do terceiro andar da escola. Eu estava lá, Clara, e me lembro da dor em todo o país e também do júbilo entre os membros da Fatah, Arafat incluso.

Os Cristãos Libaneses também se lembram do terrorista e assassino Arafat. Foi sob suas ordens que começou a guerra civil libanesa que matou dezenas de milhares de Cristãos Libaneses (a maioria entre os 40.000 mortos da Guerra Civil patrocinada por Arafat). Israel se lembra dos seus ataques terroristas indiscriminados contra supermercados, shopping centers, ônibus municipais, bancos e até discotecas, causadores de mortes estúpidas. Neste caso, até o iletrado Lula deve estar a par, dada a ampla cobertura dos "atos heróicos" deste infâme homem.

E no entanto, Clara "o cara" foi lá e depositou flores em seu túmulo. Honrou um matador, assassino indiscriminado (lembra da Olimpíada de Munique?), inacapaz de se solidarizar com a dor seja de adultos que perdem seus filhos, seja de crianças que perdem seus pais. Capaz de ordenar a suicidas que com seus atos tresloucados ceifem vidas humanas e deixem cicratizes irremovíveis nos sobreviventes, nos familiares e nos amigos das vítimas.

Clara, entendo as emoções da política e aceito integralmente que alguém se identifique com expoentes políticos. Mas não acredito (e você também não acredita) na infalibilidade dos líderes. Por maior que seja nossa afeição por nossos líderes, ao deixar de criticá-los passamos a ser coniventes. Espero que você, como Judia e como humanista, não se cale neste caso. Aceito os elogios de seu artigo, mas cobro as críticas faltantes.

No mais, te desejo um Pessach de liberdade, de luz, de independência - raízes desta festa que estamos celebrando. Que D-us (?) dê a você e à sua família motivos de alegria e a tranquilidade espiritual que todos nós buscamos.
 

Com todo meu respeito


Marcos L. Susskind

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