Caracas, 3 de fevereiro – Em meio da crise que atravessa a Venezuela, provocada pelo fechamento de meios de comunicação, racionamento elétrico, expropriações, intervenções bancárias e repressão a estudantes, está ganhando força a proposta da renúncia de Chávez. Durante o final da temporada de beisebol, o esporte mais popular na Venezuela, o povo gritava nos estádios: Um, dois, três, Chávez estás ponchao!”, referindo-se aos três “strikes” que conduzem ao “out” (fora). Em que pese a que os canais comerciais tratavam de abafar o som – por medo de serem fechados pelo governo – o estrondo era inocultável.
O Foro Democrata Cristão, composto por reconhecidas figuras como Enrique Aristiguieta Gramcko, que pertenceu à Junta Patriótica que dirigiu a luta contra o ditador Marcos Pérez Jiménez, e o ex-Controlador da República, Eduardo Roche Lander, entre outros, lançaram um proclama exigindo a renúncia de Chávez e denunciando o sistema eleitoral venezuelano, por ser fraudulento e parcializado.
No domingo passado, o Polo Constitucional, conformado por inúmeros dirigentes políticos, incluindo ex-aliados de Chávez, deu uma coletiva de imprensa para ler um duro comunicado, onde se exigia a renúncia do mandatário venezuelano.
O líder opositor, Alejandro Peña Esclusa, presidente da ONG Fuerza Solidaria, enviou hoje uma carta a Hugo Chávez pedindo sua renúncia. Peña Esclusa afirma que se avizinha uma explosão social na Venezuela, precedida pelo colapso do sistema elétrico nacional, e acrescenta que a única maneira de evitar uma tragédia de proporções incalculáveis é mediante sua renúncia.
O Foro Democrata Cristão, o Polo Constitucional e Fuerza Solidaria asseguram que Chávez cometeu traição à Pátria, por haver entregado o país aos cubanos, e o acusam de abrir as portas às FARC e ao fundamentalismo islâmico pondo em risco a segurança hemisférica.Segundo Peña Esclusa, que também preside UnoAmérica, uma plataforma que agrupa 200 ONGs latino-americanas, Chávez perdeu o respaldo popular e para manter-se no poder “terá que massacrar o mais precioso que temos, nossos jovens estudantes”. Entretanto, diz, os colaboradores de Chávez não se atrevem a dizer-lhe a verdade,“porque o temem, devido à sua personalidade caprichosa e irascível” o mesmo ocorre com os dirigentes opositores, “porque uma palavra de Chávez significa o cárcere ou o exílio”.
A carta de Peña Esclusa acrescenta: “Sua permanência no poder só trará grandes calamidades e, como resultado, o Sr. abandonará a Presidência de qualquer maneira, porém em circunstâncias muito piores para o país e para o Sr. mesmo... Se o Sr. renunciar agora, ao menos não será lembrado como o causador de uma grande tragédia nacional”.
Carta de Peña Esclusa pedindo a renúncia de Hugo Chávez
Cidadão Hugo Chávez Frias
Palácio de Miraflores
Caracas
Depois de onze anos de governo, é óbvio que seu projeto fracassou, porque o Sr. só se ocupou de promover sua “revolução socialista”, esquecendo-se dos verdadeiros problemas que afetam nossa nação. O Sr. administrou a maior fortuna da nossa história e, entretanto, a Venezuela está empobrecida, dividida, paralisada e à beira de um colapso energético, sanitário e alimentar. Durante sua gestão a anarquia e a insegurança transbordaram. Existem máfias do crime e do narcotráfico que operam com grande poder e impunidade. Dentro de uns quantos meses serão mais poderosas que o Estado mesmo, se é que já não são.
As nações civilizadas o consideram um perigo hemisférico, porque o Sr. só cultivou relações com Cuba, Irã, o fundamentalismo islâmico e as FARC, o principal cartel da cocaína da América, enquanto ofende e agride nossos amigos e aliados tradicionais. O Sr. atua de maneira arbitrária, prepotente e desequilibrada. Sem dúvida, o Sr. já não é capaz de perceber a realidade. Em meio de sua fantasia, o Sr. acredita representar o ideário de Simón Bolívar, quando na realidade encarna o pensamento de José Tomás Boves, fomentando o ódio e o enfrentamento entre classes sociais. Se estivesse vivo, O Libertador teria tratado o Sr. como um traidor, por entregar vilmente nossa Pátria e nossas Forças Armadas aos cubanos.
O Sr. perdeu o respaldo popular e nos últimos anos manteve-se no poder somente pela propaganda, pela compra de consciências, pelo terror e pelo fechamento dos meios de comunicação. Porém, agora será pior: para manter-se aferrado a seu cargo, terá que massacrar o mais precioso que temos, nossos jovens estudantes. O Sr. encerrou toda a possibilidade de um desenlace pacífico e eleitoral à crise que o Sr. mesmo criou, porque seqüestrou os poderes públicos, especialmente o Conselho Nacional Eleitoral, que comete fraude de maneira aberta e descarada. Seus colaboradores mais próximos não se atrevem a lhe dizer a verdade porque o temem, devido à sua personalidade caprichosa e irascível. Os dirigentes opositores também sentem medo, porque uma palavra sua significa o cárcere ou o exílio.
Como conseqüência de tudo o que foi dito acima, se avizinha uma gravíssima confrontação social – precedida pelo colapso do sistema elétrico nacional – que devorará o Sr. primeiro e depois a milhares de venezuelanos inocentes. Ainda há tempo de impedir a tragédia, porém isso requer que o Sr. renuncie e ative os mecanismos contemplados na Constituição para uma sucessão presidencial.
Diferenças abismais nos separam, porém minha luta contra o Sr. não é pessoal. Tenho sido um férreo opositor seu, porém nunca ofendi sua dignidade, nem lhe manifestei ódio algum, apesar de suas calúnias e ofensas. Vejo-me obrigado a solicitar sua renúncia porque sua permanência no poder só trará grandes calamidades e, como resultado, o Sr. abandonará a Presidência de qualquer maneira, porém em circunstâncias muito piores para o país e para o Sr. mesmo. Se houvesse me escutado em dezembro de 2001, quando pedi sua renúncia pela primeira vez, o Sr. haveria poupado grandes sofrimentos aos venezuelanos e teria ido com a fronte erguida, o qual, a estas alturas, já é impossível. Entretanto, se o Sr. renunciar agora, ao menos não será lembrado como o causador de uma grande tragédia nacional.
Alejandro Peña Esclusa
Presidente de Fuerza Solidaria
Tradução: Graça Salgueiro
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