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sábado, 27 de fevereiro de 2010

O PT, A POLÍTICA EXTERNA E O GOVERNO LULA: OPERAÇÃO URUBU

Fonte: BLOG REINALDO AZEVEDO
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010 | 16:52

A
 Secretaria de Relações Internacionais do PT preparou um documento, aprovado no congresso do partido, com a sua, chamarei assim, “visão de mundo do mundo”. Destaco abaixo alguns trechos do documento, com breves comentários. O link para a íntegra do texto está aqui. Uma das tolices em que se perdem setores importantes da imprensa e mesmo da oposição é considerar que o radicalismo retórico do PT não tem desdobramentos práticos. Tem, sim.  Seguem trechos do documento em vermelho, com comentários meus em azul. Vocês vão constatar que o Itamaraty segue à risca as diretrizes do partido.

A partir da convocatória feita pelo PT, nasceu o que futuramente se chamaria Foro de São Paulo, que ao longo dos últimos 20 anos contou com a participação ativa da Frente Amplio de Uruguai, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) de El Salvador, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) da Nicarágua, do Partido Revolucionário Democrático (PRD) do México e do Partido Comunista de Cuba, entre outras forças políticas.

Como sabem, Olavo de Carvalho, eu mesmo e alguns outros temos chamado a atenção, já há alguns anos, para o tal Fórum de São Paulo, tratado pela grande imprensa, por ignorância ou indústria, como se fosse algo meramente simbólico, uma associação lítero-musical. Não é. Trata-se, lá vou eu cutucar os botocudos, de uma Operação Condor de sinal trocado: a colaboração entre os vários partidos e governos de esquerda da América Latina. Chamemos de Operação Urubu. Em sua agenda, está o esmagamento da oposição “de direita” por intermédio de várias ações integradas — chamam “oposição de direita”  aquelas pessoas horríveis que defendem, por exemplo, a democracia representativa. O texto omite que, entre os fundadores do Fórum, criado por iniciativa de Lula e Fidel Castro, estão as Farc. Raúl Reys, o terrorista pançudo morto no Equador, tem um texto em que relata seu primeiro encontro com Hugo Chávez: numa reunião do Fórum de São Paulo. 

Além de participar ativamente do Foro de São Paulo, respondendo por sua Secretaria Executiva, o PT participa da Conferência Permanente de Partidos Políticos de América Latina (COPPPAL) e da Coordinación Socialista Latinoamericana (CSL).

Ao mesmo tempo, mantivemos as relações com nossos aliados europeus e buscamos estreitar relações com partidos do Oriente Médio, da Ásia e da África. Atualmente, o PT mantém protocolos de cooperação com diversos partidos, entre os quais o Partido Comunista da China.

Sim, sem a menor dúvida! O horizonte utópico do PT, hoje em dia, é a ditadura CAPITALISTA da China. Como tenho insistido aqui, sempre que o petismo falar em “socialismo”, deve-se ignorar o conteúdo propriamente econômico da palavra: socialização dos meios de produção, fim da propriedade privada etc. O “socialismo chinês” é outro: economia de mercado gerida por um partido único, dentro do qual várias correntes podem se abrigar. O partido dos “proletários e dos camponeses“ tornou-se uma nova aristocracia, que dispensa a tal “democracia de massas”.

Esta pluralidade não implicou em silêncio acerca de questões espinhosas; nem tampouco subordinação das posições partidárias aos interesses “de Estado”. Pelo contrário, há coisas que nosso governo pode e deve fazer (como receber o presidente dos EUA ou o chanceler de Israel), sem que isto impeça nosso partido de manifestar sua opinião política sobre tais convidados e suas respectivas administrações. Ou questões em que o Partido tem posição, como é o caso da independência do Sahara Ocidental e da luta da Frente Polisário, posição que esperamos ver acompanhada pelo governo. Assim como há temas em que o governo tomou a iniciativa e o Partido ainda não tem conseguido acompanhar adequadamente, como é o caso do Haiti. Além de outros assuntos nos quais há necessidade de maior debate, tendo em vista as diferenças de opinião, como é o caso do acordo entre o Mercosul e Israel; ou da Rodada Doha na Organização Mundial de Comércio.

Para os petistas, a “concessão ao Mal” está em receber “o presidente dos EUA ou o chanceler de Israel”. Já a visita de Mahmoud Ahmadinejad certamente honra o Brasil.

defendemos a solução negociada dos conflitos internacionais, o direcionamento dos gastos com pesquisa e venda de armamentos para o combate à pobreza e à fome, o aumento dos investimentos em educação e saúde. O PT defende o desmantelamento dos arsenais nucleares, o fim das pesquisas e desenvolvimento de quaisquer tipos de armas de destruição em massa. Exigimos o fim da ocupação estadunidense no Iraque e no Afeganistão, que mergulhou os dois países numa situação de destruição e guerra civil;

Desmantelamento de arsenais nucleares é a desculpa usada pelo governo brasileiro para se alinhar com o Irã em seu programa secreto de… armas nucleares! E notem a oposição à ocupação “estadunidense” (sic) do Iraque e do Afeganistão, hoje o principal celeiro do terrorismo mundial.

O PT se opõe a toda forma de terrorismo, inclusive ao terrorismo de Estado, como foi o caso do ataque de Israel contra a Faixa de Gaza. Apoiamos a criação do Estado palestino, o desmantelamento dos assentamentos israelenses nos territórios da Cisjordânia, o reconhecimento mútuo por todas as forças políticas envolvidas, o fim dos ataques contra civis;


Opor-se ao suposto “terrorismo de estado” é mero pretexto para atacar Israel e se alinhar com o… terrorismo palestino! O PT apóia “o fim dos assentamentos”, mas não cobra o fim dos ataques do Hamas ao território israelense. Nota: o Brasil tem votado sistematicamente contra Israel em comissões da ONU.

defendemos Cuba e as conquistas sociais da Revolução Cubana, especialmente contra o bloqueio que se estende por já quase 50 anos;


Nada a comentar. Fala por si.

o Partido compreende que o governo brasileiro deva se relacionar com o atual governo de direita da Colômbia, país vizinho e integrante da Unasul; enquanto o PT mantém um protocolo de cooperação com o Pólo Democrático Alternativo (PDA), que faz oposição a Uribe e denuncia o fato do atual governo colombiano ter transformado o país no “Cavalo de Tróia” dos Estados Unidos na América do Sul.

Nem entro no mérito da boçalidade. Apenas lembro que o tal PDA, está comprovado, serve de barriga de aluguel para terroristas das Farc e que essa opinião cretina de que a Colômbia é mero títere dos EUA pauta a política externa brasileira, que se opôs fortemente ao uso de bases colombianas por soldados americanos no combate ao narcotráfico, mas nada disse quando ficou claro que Chávez forneceu armas às Farc.

O PT avalia que a política externa implementada pelo governo Lula faz o Brasil competir com os Estados Unidos. Trata-se de uma competição de “baixa intensidade”, até porque a doutrina oficial do Brasil é de convivência pacífica e respeitosa (“cooperação franca” e “divergência serena”) com os Estados Unidos. Mas, inclusive por se dar no entorno imediato da potência, as atitudes do Brasil possuem imensa importância geopolítica. É o caso da correta e corajosa atitude que o governo brasileiro adotou no caso de Honduras.

O antiamericanismo virou política oficial do Itamaraty. O governo segue a diretriz do PT.

A superação do neoliberalismo e também do capitalismo exigirão diferentes estratégias de resistência, de construção do poder e do socialismo. Não significa dizer que todas as estratégias são válidas, mas significa que recusamos a idéia de que exista uma única estratégia válida para todos os locais e tempos. Ao mesmo tempo, sabemos que os processos nacionais terão fôlego curto, se não estiverem articulados numa estratégia continental. Por isto apoiamos as iniciativas que visam acelerar a institucionalização da integração regional, reduzindo a ingerência externa, as desigualdades & assimetrias, seja para atuar internacionalmente como bloco, seja para aproveitar melhor as potencialidades da América do Sul.


Voltamos ao Fórum de São Paulo. O PT tem razão: EXISTE MESMO UMA AÇÃO CONJUNTA, A OPERAÇÃO URUBU coordena hoje as ações de vários partidos e governos “de esquerda” na América Latina. Na Venezuela, Chávez chega até onde permite a institucionalidade de seu país. Lula, por aqui, faz o mesmo, embora tenha mais dificuldades para emplacar medidas de autoritarismo explícito. Voltarei ao tema. 

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