Caras e caros, Tio Rei e família andaram bastante por Goiás nesta quarta. Estou cansado e feliz. É bom ver de perto as pessoas e as terras que fazem a real riqueza brasileira, a despeito dos mistificadores. Mas isso fica para outra hora. Acabei de chegar a Brasília. Há mil e poucos comentários na fila, mas deixarei tudo para esta quarta, quando estiver em casa. Vou me dedicar ao texto que prometi ontem à tarde.
Como vocês devem ter visto, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência e, dizem os crédulos, ministra-chefe da Casa Civil, concedeu uma entrevista a Emir Sader, Marco Aurélio Garcia e Jorge Mattoso (!). Mattoso, antes que me dê a outros considerandos, é aquele cara que era presidente da Caixa Econômica Federal e que, no exercício do cargo, quebrou ilegalmente o sigilo bancário do caseiro Francenildo, demonstrando o apreço que um petista de verdade tem pela Constituição. Ora, ninguém iria às ruas para defender os direitos de um caseiro, não é mesmo? A esquerda não tem tempo a perder com pobre que está do lado errado. O “bom” pobre, o que eventualmente rende uma passeata, é aquele que serve às verdades eternas do petismo. Sigamos.
A entrevista virou livro, que vai ser lançado no Congresso do PT, que começa na quinta e vai até sábado. É, como registrei, a única forma de compatibilizar Dilma e um livro: ela fala, os outros anotam. Emir Sader e Marco Aurélio Top Top Garcia são dois tubarões da subintelectualidade esquerdista. Jamais produziram qualquer coisa que possa ser considerada, ainda que remotamente, uma obra de referência. São expressões, no miserável mundo da academia brasileira, da chamada burguesia do capital alheio - um com cargo no governo, outro sem. Sader é bastante próximo de outros “estadistas”, como Hugo Chávez e Evo Morales. Tratarei dessa intimidade no futuro.
Escrevi ontem que bate-papo com Jorge Mattoso, dado o fato de que ele rasgou um direito constitucional de Francenildo - e, na prática, de qualquer brasileiro - , ficaria bem na Papuda, não é? E propus uma nova jornada cultural, dando seqüência a esta iniciada por Dilma: “Bate-papo na Papuda”. Que tal? Quando José Roberto Arruda foi preso, escrevi: “Por mim, está bem; não lamento a sua prisão; lamento é o fato de os 40 do mensalão petista ainda estejam soltos”. E não estou querendo atropelar processo legal, não, senhores! O que me pergunto e se a Polícia Federal foi tão diligente em produzir provas contra os “companheiros”. A resposta à minha indagação está nos fatos, que falam por si.
Eis aí: Arruda está preso, e isso é um bem para o Brasil; Mattoso não está apenas solto: ele está no grupo de entrevistadores daquela que pode ser nada menos do que presidente da República. Se Dilma o aceita como interlocutor, significa que endossa os seus métodos. A presença deste senhor no encontro é imoral, indecorosa mesmo. Se Dilma acata seu modo de fazer as coisas, então todos os sigilos do país estarão sob risco se ela se eleger. Não é assim porque eu quero. É assim por uma questão de lógica.
Estado empresário
Na tal entrevista, Dilma defendeu o estado empresário. Nem me perco muito em considerações. A fala serve para tentar carimbar no governo anterior, o de FHC, a pecha de “neoliberal”, o que é de um ridículo demonstrável pelos fatos. Os petistas anseiam ter criado um novo modelo, o capitalismo de estado. Que nem novo é. Trata-se de um geiselismo reciclado, agora sob os cuidados da tal burguesia do capital alheio.
À medida que um governo amplia a interferência do estado na economia, consegue também aumentar o grau de chantagem com que lida com os vários agentes econômicos. O “estado empresário” de Dilma é peça de um outro delírio: a construção de um regime de partido único. No fascismo, a fórmula de Giovanni Gentile era “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. No fascismo petista, o “estado” foi substituído pelo partido. Assim, os petistas têm nas mãos uma boa fatia do PIB. E cobra por isso - também em democracia! Já escrevi muito sobre isso, como sabem. O arquivo traz textos às pencas. Quero tratar agora de outro aspecto da entrevista.
Subintelectualidades
Informa o texto da Folha:
Durante a entrevista, Dilma Rousseff concordou com o coordenador do seu futuro programa de governo e vice-presidente do PT sobre o que Marco Aurélio Garcia chamou de “retraimento do pensamento crítico”, com o avanço de uma “subintelectualidade de direita”. Garcia defendeu a valorização da produção cultural “submersa” pela indústria cultural. Dilma acenou com o plano que pretende universalizar o serviço de acesso à internet por banda larga para ampliar os canais de comunicação. “Estamos vivendo um momento culturalmente explosivo. Precisamos colaborar com essa explosão”.
Estou bastante chateado com a morte, ocorrida nesta quarta, de Gildo Marçal Brandão, professor do departamento de Sociologia da USP. Era um intelectual de fato. E de esquerda. Tínhamos um ótimo relacionamento, a despeito de imensas divergências. Ele era realmente um estudioso, não um chicaneiro. Por isso mesmo, jamais atrelaria seu trabalho a um partido ou a um governo. Pouco importa se você é de esquerda, direita ou “extremo de centro”, tem de ler “Linhagens do Pensamento Político Brasileiro”. Eu o convidei várias vezes para escrever na revista Primeira Leitura, da qual divergia bastante. Se você quiser ficar ainda mais sabido, pode ler “Clássicos do Pensamento Político”. Gildo tinha UMA OBRA PORQUE TINHA O QUE DIZER. E manifestava um horror verdadeiro, genuíno, à demagogia e ao baixo proselitismo, como sabem seus alunos e orientandos na USP. Era tão discreto que não o víamos por aí a opinar sobre qualquer assunto. Entre aparecer e não aparecer, preferia se dedicar a uma tarefa a que os professores universitários brasileiros não costumam dar muita boa: escrever livros.
Gildo era um intelectual. Marco Aurélio Garcia e Emir Sader não passam de animadores do circo petista. O socialismo do partido, em nome do qual ainda falam, já escrevi aqui, resume-se hoje a defender um modo de governo que, no melhor (para eles) de sua forma, resultaria em ditadura. A “subintelectualidade” de direita a que o grupo se refere, com a anuência de Dilma, reúne aquelas pessoas que se atrevem a chamar pelo nome a ação desses valentes. Se escrevo, como escrevi, que Dilma talvez se dê melhor ainda hoje com uma arma na mão do que com idéias na cabeça, faço-o por amor aos fatos: ela pertenceu a um grupo terrorista que pegou em armas e que matou pessoas. E ela é bastante fraca de idéias. Como se nota, o que parece uma “diatribe da direita” é de uma objetividade escandalosa, não é mesmo?
“Será que eles estão se referindo a você, Reinaldo, mas ao….” - e os leitores citam uns dois ou três nomes. Evito reproduzi-los aqui para não meter ninguém nos meus rolos sem prévia consulta. O bom de ser um “subintelectual” de direita é que você não precisa dividir com ninguém os seus equívocos. Esquerdistas vigaristas é que atacam em bando. Quando eu tinha mais paciência para ouvir parte de platéias urrando ignorâncias, costumava participar de debates a que iam esquerdistas. Concluí que os nossos “intelectuais de esquerda” não leram Marx, assim como nossos padres progressistas jamais leram a Bíblia. Marco Aurélio Top Top não toparia, mas eu aceito confrontar a minha subintelectualidade de direita com a sua subintelectualidade de esquerda. E a gente não precisa debater Ayn Rand, que ele certamente não leu. Pode ser o velho Marx mesmo, ou o jovem, que ele também não deve ter lido. Ou, se leu, não entendeu.
Divertia-me - até que isto começou a me aborrecer - citar uma passagem ou outra de obras que deveriam ser referência para eles, não para mim, e perceber aquele olhar meio perdido, certa tensão na comissura dos lábios a denunciar: “Não li! Vamos mudar de assunto”.
O que interessa
A covardia desses caras os impede de fazer um debate honesto. E não é por acaso que, não podendo vencer no berro, tentam censurar a imprensa. Querem se impor pelo silêncio. Voltem àquele trecho em vermelho. Esses pterodáctilos ainda estão naquela conversa dos anos 60 de combater a “indústria cultural”. E prometem usar a revolução tecnológica em sua batalha. É isto: Dilma e Marco Aurélio querem universalizar a banda larga de Internet para poderem combater o imperialismo como mais eficiência… Não sei se vocês atentam para o humor da coisa.
Muitas pessoas da área de comunicação no Brasil darão de ombros para o absurdo e lançarão tudo na conta de mais uma bobagem de Dilma e Marco Aurélio. Ocorre que o risco de ela ser presidente da República é real. Como é real a visão autoritária que eles têm do poder. Se algo ameaça hoje a inteligência brasileira, como é óbvio, é a subintelectualidade de esquerda, cuja expressão genérica é o pensamento politicamente correto e cuja expressão particular são os ditos movimentos sociais, meras franjas do petismo. Aí se encontram as grandes reservas da estupidez nacional.
E encerro com uma certa ironia, e nem poderia ser diferente: houvesse mesmo subintelectuais de direita no Brasil, seriam dignos de aplauso, verdadeiros heróis da resistência. A razão é simples: SER SUBINTELECTUAL DE ESQUERDA CERTAMENTE RENDE BEM MAIS DINHEIRO.
Na próxima entrevista, por que não chamar Delúbio Soares e Fernandinho Beira-Mar?
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