Não demonstre medo diante de seus inimigos. Seja bravo e justo e Deus o amará. Diga sempre a verdade, mesmo que isso o leve à morte. Proteja os mais fracos e seja correto. Assim, você estará em paz com Deus e contigo.
Material essencial
sábado, 11 de julho de 2009
Documentário - Orwell se Revira no Túmulo
Análise do filme "The Soviet Story" por Olavo de Carvalho
Mikhail Gorbachev
Todo militante ou simpatizante comunista é cúmplice moral de genocídio, tem as mãos tão sujas quanto as de qualquer nazista, deve ser denunciado em público e excluído da convivência com pessoas decentes. A alegação de ignorância, com que ainda podem tentar se eximir de culpas, é tão aceitável da parte deles quanto o foi da parte dos réus de Nuremberg. É uma vergonha para a humanidade inteira que crimes desse porte não tenham jamais sido julgados, que seus perpetradores continuem posando no cenário internacional como honrados defensores dos direitos humanos, que partidos comunistas continuem atuando livremente, que as idéias marxistas continuem sendo ensinadas como tesouros do pensamento mundial e não como as aberrações psicóticas que indiscutivelmente são. É uma vergonha que intelectuais, empresários e políticos liberais, conservadores, protestantes, católicos e judeus vivam aos afagos com essa gente, às vezes até rebaixando-se ao ponto de fazer contribuições em dinheiro para suas organizações.
Seguem abaixo algumas considerações sobre esse fenômeno deprimente. A convenção vigente nas nações democráticas trata os porta-vozes das várias posições políticas como se fossem pessoas igualmente dignas e capacitadas, separadas tão-somente pelo conteúdo das suas respectivas convicções e propostas. Confiantes nessa norma de polidez e aceitando-a como tradução da realidade, os conservadores, liberais clássicos, social-democratas e similares caem no erro medonho de tentar um confronto com os revolucionários no campo do diálogo racional.
Todos os seus esforços persuasivos dirigem-se, então, no sentido de tentar modificar o "conteúdo" das crenças do interlocutor, mostrando-lhe, por exemplo, que o capitalismo é mais eficiente do que o socialismo, que a economia de mercado é indispensável à manutenção das liberdades individuais, ou mesmo entrando com eles em discussões morais e teológicas mais complexas. Tudo isso não apenas é uma formidável perda de tempo, mas é mesmo um empreendimento perigoso, que coloca o defensor da democracia numa posição extremamente fragilizada e vulnerável. A discussão democrática racional não somente é inviável com indivíduos afetados de mentalidade revolucionária, mas expõe o democrata a uma luta desigual, desonesta, impossível de vencer. O debate com a mentalidade revolucionária é o equivalente retórico da guerra assimétrica.
Trinta anos de estudos sobre a mentalidade revolucionária convenceram-me de que ela não é a adesão a este ou àquele corpo de convicções e propostas concretas, mas a aquisição de certos cacoetes lógico-formais incapacitantes que acabam por tornar impossível, para o indivíduo deles afetado, a percepção de certos setores básicos da experiência humana. A mentalidade revolucionária não é um conjunto de crenças, é um sistema de incapacidades adquiridas, que começam com um escotoma intelectual e culminam numa insensibilidade moral criminosa. É uma doença mental no sentido mais estrito e clínico do termo, correspondente àquilo que o psiquiatra Paul Sérieux (http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=61092&p=1&do=page) descrevia como delírio de interpretação (Cavaleiro do Templo: este autor foi devidamente "desaparecido" da academia, no Brasil o livro sequer foi traduzido para o português e, portanto, nossos doutores "psi" qualquer coisa (psicólogos, psiquiatras, etc) não sabem que existe tal doença, não podendo portanto identificá-la, o que facilitaria imensamente a exposição destes celerados que estão no poder no Ocidente).
Numa discussão com o homem normal, o revolucionário está protegido pela sua própria incapacidade de compreendê-lo. Os antigos retóricos consideravam que o gênero mais difícil de discurso, chamado por isso mesmo genus admirabile, é aquele que se dirige ao interlocutor incapaz. Os melhores argumentos só podem funcionar ante a platéia que os compreenda; eles não têm o dom mágico de infundir capacidade no auditório, nem de curá-lo de um handicap adquirido.
Os sintomas mais graves e constantes da mentalidade revolucionária são, como já expliquei, a inversão do sentido do tempo (o futuro hipotético tomado como garantia da realidade presente), a inversão de sujeito e objeto (camuflar o agente, atribuindo a ação a quem a padece) e a inversão da responsabilidade moral (vivenciar os crimes e crueldades do movimento revolucionário como expressões máximas da virtude e da santidade). Esses traços permanecem constantes na mentalidade revolucionária ao longo de todas as mutações do conteúdo político do seu discurso, e é claro que qualquer alma humana na qual eles tenham se instalado como condutas cognitivas permanentes está gravemente enferma.
Tratá-la como se estivesse normal, admitindo a legitimidade da sua atitude e rejeitando tão-somente este ou aquele conteúdo das suas idéias, é conformar-se em representar um papel numa farsa psicótica da qual os dados da realidade estão excluídos a priori, já não constituindo uma autoridade a que se possa apelar no curso do debate.
Revolucionários são doentes mentais. Os exemplos de sua incapacidade para lidar com a realidade como pessoas maduras e normais são tantos e tão gigantescos que seu mostruário não tem mais fim. Cito um dentre milhares. O sentimento de estar constantemente exposto à violência e à perseguição por parte da "direita" é um dos elementos mais fortes que compõem a auto-imagem e o senso de unidade da militância esquerdista. No entanto, se somarmos todos os ataques sofridos pelos esquerdistas desde a "direita", eles são em número irrisório comparados aos que os esquerdistas sofreram dos regimes e governos que eles próprios criaram. Ninguém no mundo perseguiu, prendeu, torturou e matou tantos comunistas quanto Lenin, Stálin, Mao Tsé Tung, Pol Pot e Fidel Castro. A militância esquerdista sente-se permanentemente cercada de perigos, e nunca, nunca percebe que eles vêm dela própria e não de seus supostos "inimigos de classe". Esse traço é tão evidentemente paranóico que só ele, isolado, já bastaria para mostrar a inviabilidade do debate racional com essas pessoas.
O que separa o democrata do revolucionário não são crenças políticas. É um abismo intransponível, como aquele que isola num mundo à parte o psicótico clinicamente diagnosticado. O que pode nos manter na ilusão de que essas pessoas são normais é aquilo que assinalava o Dr. Paul Serieux: ao contrário dos demais quadros psicóticos, o delírio de interpretação não inclui distúrbios sensoriais. O revolucionário não vê coisas. Ao contrário, sua imaginação é empobrecida e amputada da realidade por um conjunto de esquemas ideais defensivos.
A mentalidade revolucionária é uma incapacidade adquirida, é uma privação de autoconsciência e de percepção. Por isso mesmo, é inútil discutir o "conteúdo" das idéias revolucionárias. Elas estão erradas na própria base perceptiva que as origina. Discutir com esse tipo de doente é reforçar a ilusão psicótica de que ele é normal. Uma doença mental não pode ser curada por um "ataque lógico" aos delírios que a manifestam. Se o debate político nas democracias sempre acaba mais cedo ou mais tarde favorecendo as correntes revolucionárias é porque estas estão imunizadas por uma incapacidade estrutural de perceber a realidade e entram no ringue com a força inexorável de uma paixão cega. E não se pode confundir nem mesmo este fenômeno com o do simples fanatismo. Fanatismo é apenas apego exagerado a idéias que em si mesmas podem ser bastante razoáveis. Em geral, mesmo o mais louco dos revolucionários não é um fanático. É um sujeito que expressa com total serenidade os sintomas da sua deformidade, dando a impressão de normalidade e equilíbrio justamente quando está mais possuído pelo delírio psicótico.
Na peça de Pirandello, Henrique IV, um milionário louco se convence de que é o rei Henrique IV e força todos os seus empregados a vestir-se como membros da corte. No fim eles já não têm mais certeza de que são eles mesmos ou membros da corte de Henrique IV. É este o perigo a que os democratas se expõem quando aceitam discutir respeitosamente as idéias do revolucionário, em vez de denunciar a farsa estrutural da própria situação de debate. A loucura espalha-se como um vírus de computador. A maioria dos democratas que conheço é inteiramente indefesa em face da prepotência psicológica do discurso revolucionário. Daí a hesitação, a pusilanimidade, a debilidade crônica de suas respostas ao desafio revolucionário. Uma doença mental não pode ser "respeitada", aliás nem "desrespeitada". O respeito ou o desrespeito supõem um fundo de convivência normal, que justamente o delírio revolucionário torna impossível.
P. S. Sheila Figlarz, editora do jornal Visão Judaica, avisa que finalmente a devotada estudiosa Sonia Bloomfield terminou seu trabalho de traduzir para o português a página do Memorial do Holocausto. A versão já está no ar em
sexta-feira, 10 de julho de 2009
O Plano Macabro de um Delinqüente Internacional
O Extermínio dos Ucranianos pelos comunistas no inverno de 1932-1933
HONDURAS - EL VERDADERO ZELAYA
En los últimos días, todos hemos visto al ex presidente de Honduras, el prochavista José Manuel Zelaya, haciendo gárgaras con la palabra "paz" en CNN, diciendo que no usa armas, que detesta la violencia, etcétera, etcétera. Como bien dicen que una imagen vale más que mil palabras, va una foto que muestra al joven Zelaya con sus pertrechos de guerrillero...
Lixo unido jamais será vencido... Até a passagem do pessoal da coleta
A resistência do mundo árabe é parte da luta antiimperialista
José Reinaldo de Carvalho
As guerras preventivas de Bush, sendo a guerra de Israel no Líbano mais uma delas, mostram quão distante está o mundo dos justos critérios para organizar a ordem internacional
No momento em que redigimos estas notas – 28 dias depois do início dos bombardeios israelenses sobre o Líbano – o Conselho de Segurança da ONU ainda não deliberou sobre um documento capaz de produzir o único, razoável e aceitável efeito esperado de algo que seja digno de ostentar o título de resolução desse organismo ao qual a comunidade internacional atribui a responsabilidade de atuar como guardião da paz e promotor da harmonia entre as nações. A única resolução aceitável, no caso do Líbano, para efeito de promover a paz é a cessação dos bombardeios e de quaisquer operações militares israelenses em território libanês, ou o que se convencionou chamar de cessar-fogo imediato.
É sempre positivo que países influentes no concerto internacional e detentores do poder de veto no Conselho de Segurança tomem a iniciativa e impeçam que os Estados Unidos decidam sozinhos sobre o curso dos acontecimentos. Igualmente importante, contudo, é não permitir que os organismos internacionais e a ONU, a fortiori, sejam instrumentalizados e obrigados a deliberar mediante uma pressão chantagista. Israel e os Estados Unidos condicionam o cessar-fogo à manutenção de sua presença como força de ocupação no Líbano e à liquidação física e logística do Hezbolá (do árabe Hizb Allah – Partido de Deus). É digno de asco o cinismo com que as autoridades da diplomacia norte-americana entravam as negociações, impedindo a rápida decisão sobre o cessar-fogo, para permitir o tempo necessário a Israel a fim de completar seu desígnio pelo holocausto da população libanesa. Somente então, cumpridas as condições impostas por Israel e os Estados Unidos, o “processo de paz” ingressaria numa nova etapa, através do envio de uma “força multinacional”, sobre cuja composição, e patrocínio, há muitas controvérsias.
Enquanto isso, a aviação israelense continua a bombardear intensamente o Líbano, a capital Beirute e seus arredores. Em quatro semanas de uma guerra desigual, os facínoras israelenses já provocaram um holocausto. O Líbano encontra-se em chamas e sob destroços – mais de mil mortos, população civil massacrada, infra-estrutura destruída, êxodo de cerca de 1 milhão de pessoas e prejuízos da ordem de 2 bilhões de dólares à economia do país. (O massacre de Cana, em 30 de julho, ficará para sempre na história como uma ata de acusação ao sionismo como sucedâneo do fascismo, como crime de lesa-humanidade pelo qual inapelavelmente um dia, ainda que tardio, terão de pagar, como ato de justiça em nome da dignidade do gênero humano, da razão e da excelência dos valores democráticos.)
Uma avaliação realista nos leva a duvidar da eficácia e da justiça dos entendimentos realizados entre os Estados Unidos e a França em 5 de agosto, base para uma eventual resolução do Conselho de Segurança sobre o “fim do conflito”. Na verdade, da maneira que as coisas estão sendo conduzidas, e dada a intransigência dos Estados Unidos e Israel em impor cláusulas que assegurem seus interesses expansionistas, somos levados a crer exatamente no oposto. Ao não enfrentar, sequer perfunctoriamente, as verdadeiras motivações que levaram Israel a atacar o Líbano em 12 de julho, corre-se o risco de confundir agressor e vítima, dar ainda mais força a Israel e atuar no sentido de agravar os fatores de crise e de guerra, não apenas no Líbano, que é tão somente o cenário atual, mas em toda a região (cenário permanente), ou pelo menos numa parte significativa desta, num arco que abrange Palestina, Síria e Irã.
Não foi o incidente fronteiriço em que forças da Resistência nacional libanesa, nomeadamente o Hesbolá, atacaram uma guarnição inimiga o que provocou a fúria de Israel. Nem é, portanto, a reação israelense algo “desmedido” e “desproporcional”, mas justificável, como pretendem a mídia estipendiária e os governos acovardados. Igualmente, não foi outro fato semelhante protagonizado por forças da Resistência palestina duas semanas antes o que levou o Exército israelense a atacar Gaza e a desencadear atos de terrorismo de Estado contra o governo legitimamente constituído da Autoridade Nacional Palestina. Esses incidentes apenas apressaram algo já metodicamente planejado e preparado.
A atual escalada belicista de Israel é a decorrência de uma estratégia conscientemente elaborada pelos Estados maiores imperialista e sionista. A existência e a atividade de Israel como Estado expansionista e cabeça de ponte do imperialismo norte-americano na região choca-se objetivamente com as aspirações nacionais dos povos árabes e o palestino. A opção de Israel e dos Estados Unidos pela violência decorre da concepção de que Israel só estará em plena segurança se destruir a Resistência nacional árabe e palestina e eliminar os países considerados rivais na região –, hoje Síria e Irã, como foi até recentemente o Iraque de Saddam Hussein. Assim, a guerra no Líbano é parte de um conjunto de ações que abrangem a anexação do território palestino; o impedimento da autodeterminação palestina que só existirá com a existência de um Estado soberano sobre um território íntegro; o desmantelamento do Líbano e a instalação de um enclave militar no território desse país; e a confrontação com a Síria e o Irã, adversários desses planos expansionistas de Israel e, portanto, considerados inimigos figadais dos sionistas.
Por sua vez, os Estados Unidos, que usam Israel como seu instrumento, encontram-se empenhados na execução do seu plano de reestruturação do Oriente Médio, no qual a diplomacia é o que menos conta, como não contava quando eles decidiram atacar o Iraque em 2003, a despeito da oposição do Conselho de Segurança e de constituir uma evidente violação de todas as normas do direito internacional. Do mesmo modo como naquela ocasião, Bush e seus operadores de política externa consideraram a ONU “irrelevante”, Condoleeza Rice declarou, numa coletiva à imprensa em 21 de julho, o que em outras épocas uma política externa conduzida com algum pudor silenciaria por se tratar de algo inconfessável. “Não vejo – disse a secretária de Estado do segundo governo Bush – qualquer interesse na diplomacia se for para voltar ao status quo anterior entre Israel e o Líbano. Penso que isso seria um erro. O que nós estamos presenciando de certa forma é um começo, são as dores do parto de um novo Oriente Médio e, seja o que for que façamos, devemos estar certos de que avançaremos para o novo Oriente Médio e não voltaremos ao antigo”. Entendamos o que disse a senhorita secretária de Estado.
Os Estados Unidos não aceitam que o Líbano permaneça livre da ocupação israelense, que durou 18 anos, desde 1982 a maio de 2000, quando as tropas sionistas foram escorraçadas do país pelo Hezbolá, que então se credenciou e se engrandeceu aos olhos do povo libanês não como organização “terrorista” ou “fundamentalista”, “a serviço do Irã”, mas como força de libertação nacional. “O Hezbolá goza de grande prestígio no Líbano porque libertou nosso país. Em todo o mundo árabe você escuta ‘o Hezbolá preserva a honra árabe, e apesar de ser muito pequeno enfrenta Israel’. E é claro que Nasrallah (secretário-geral da organização) tem o meu respeito”, disse o presidente libanês Emile Lahoud, em entrevista publicada no jornal alemão Der Spiegel – reproduzida no Brasil pelo sítio de internet UOL. A secretária de Bush não aceita também que o Hamas, outro movimento de Resistência nacional, indexado como “organização terrorista”, tenha vencido as eleições na Palestina, como não aceita que depois da tentativa do imperialismo norte-americano de dividir o Líbano, estimulando a chamada “Revolução do Cedro” em 2004, o Hezbolá tenha conquistado quase um terço das cadeiras do Parlamento nacional e tomado parte do governo do país, o que dissipou o perigo de uma guerra civil. O governo estadunidense não aceita que sua secretária tenha sido instada pelo primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, a cancelar a viagem ao Líbano quando ocorreu o massacre em Cana e que tenha dito que não negociaria enquanto não se declarasse o cessar-fogo. Ou que esse mesmo governante que os Estados Unidos supunham poder manipular indefinidamente tenha, também ele, agradecido de público ao Hezbolá “pelo sacrifício feito em nome do país”. A isso é que a secretária chama de “volta ao status quo”. E a isso é que os EUA declaram guerra, mancomunados com seus sicários israelenses.
Tudo está a indicar que o novo Oriente Médio de Bush e Olmert, e todos os herdeiros de Sharon, depende mais da repetição dos crimes da aviação israelense do que dos acertos entre Douste-Blazy e John Bolton. Para além da retórica, estão as manobras estadunidenses e israelenses protelatórias do cessar-fogo. No mundo unilateral e convulsionado pelas guerras preventivas de Bush, as únicas ações consideradas válidas na atual crise do Oriente Médio são a ocupação unilateral dos territórios palestinos; a construção do muro; a divisão da Palestina em três bantustões e a redução do seu território à décima parte; o desrespeito sistemático a anteriores resoluções da ONU; a nova (atual) invasão do Líbano; a destruição desse país; a nova invasão de Gaza; e as ameaças abertas de confrontação com a Síria e o Irã. Tem sido assim também no Afeganistão e no Iraque, que não são guerras passadas, mas conflitos em curso, em pleno desenvolvimento. No Iraque sucedem-se os massacres. Falluja e Hadhita são fatos da atualidade a mostrar que o novo Oriente Médio de Bush não será fruto de um entendimento para a paz, mas de uma carnificina.
Entretanto, mirando a perspectiva e tendo em conta as forças em confronto, algo nos diz que não existirá o novo Oriente Médio concebido pelo imperialismo norte-americano. E que do holocausto provocado por ele em conluio com seus aliados de Israel, poderão resultar vários cenários, difíceis de prever pela dureza dos confrontos que inevitavelmente se produzirão. Uma coisa é certa, porém. Da carnificina com que Bush empesta o ambiente no limiar do século XXI não surgirá a paz, nem a estabilidade.
No Oriente Médio não cabe outra solução duradoura que não passe por uma resolução abrangente e justa para o conflito árabe-israelense, que não se restringe ao Líbano. O ponto de partida terá de ser a decisão sobre a questão palestina, com a retirada de Israel de todos os territórios ocupados, a criação do Estado nacional palestino e o respeito à soberania de todos os países da região, o que pressupõe a convivência com a Síria e o Irã, tal como estes são.
A convicção de que o novo Oriente Médio do imperialismo norte-americano é uma miragem difunde-se cada vez mais não só nos países da região, mas entre as forças que em todo o mundo e mesmo nos Estados Unidos são solidárias com a Resistência árabe-palestina. E um espectro assustador a tirar o sono dos senhores da Guerra que habitam a Casa Branca e operam desde o Pentágono. É cada vez mais improvável um Oriente Médio dócil e submisso aos ditames do imperialismo estadunidense e de Israel. A derrota dos planos israelenses e norte-americanos quanto ao futuro do Oriente Médio está sendo desenhada também no terreno político. A atual guerra israelense no Líbano é o mais duradouro conflito entre os agressores sionistas e a Resistência árabe. E que diferença para 1967, quando Israel se impôs numa guerra de seis dias! Um mês depois de iniciado o atual conflito, não há perspectiva para Israel de silenciar e deter os Katiusha. Em 5 de agosto, ocorreram as primeiras batalhas terrestres entre o exército invasor e as forças da Resistência. É indisfarçável o sentimento de derrota em Israel e, inversamente, em meio ao horror semeado pelos bombardeios israelenses, é também patente um sentimento de orgulho nacional no Líbano por estar conseguindo levar adiante a resistência, pois nunca nenhuma força militar árabe agüentou por tanto tempo um ataque de Israel, que possui o mais poderoso exército da região. As conseqüências políticas são óbvias e inevitáveis. O Líbano, que há um ano estava à beira de uma guerra civil fomentada pelos EUA e Israel que instrumentalizam determinadas forças políticas internas, hoje conta com o Hezbolá, como fator político e militar decisivo para o enfrentamento do agressor externo.
Não é difícil prever que o mesmo sentimento de orgulho nacional e de ser possível resistir se espalhe a outros rincões do mundo árabe.
O mito da invencibilidade norte-americana também se esboroa no Iraque. Na semana seguinte ao massacre de Cana, generais estadunidenses e seus pró-cônsules no Iraque foram obrigados a admitir que o país se encontrava à beira da guerra civil. Três anos depois da ocupação, está longe, muito longe o momento em que os Estados Unidos poderão dizer que afinal “democratizaram”, “reestruturaram” e submeteram o Iraque. Tal é a sensação do fracasso que se debate abertamente nos círculos políticos e militares e mesmo às esconsas, dentro da Casa Branca e do Pentágono sobre uma irrecusável disjuntiva: permanecer no terreno sofrendo vergonhosas derrotas ou retirar as tropas.
George W. Bush e Condoleeza Rice talvez tenham razão num ponto. O holocausto dos libaneses é de fato as dores de um parto. Longas e lancinantes dores, não do nascimento do “novo Oriente Médio” de dominação colonialista, mas de uma nova luta antiimperialista, que objetivamente vai alterar a “novíssima” ordem mundial instaurada por Bush. Há muitas ilusões no mundo de hoje quanto ao desenvolvimento do cenário mundial. As guerras preventivas de Bush, sendo a guerra de Israel no Líbano mais uma delas, mostram quão distantes estamos duma “raison de Sisteme”, em que prevaleçam o multilateralismo e justos critérios de legitimidade para organizar a ordem mundial. Resistir e lutar, com firmeza, tenacidade e amplitude, com capacidade de unir todas as forças do progresso, da paz, da democracia e do socialismo parece ser a postura e a perspectiva do movimento antiimperialista em face do unilateralismo e do belicismo dos EUA e de seus aliados. A resistência em curso no Oriente Médio é parte desse movimento, acumula na mesma perspectiva.
O HOMEM VIVE - VIKTOR FRANKL
Abaixo segue entrevista concedida pelo médico Viktor Frankl que foi traduzida pelo colega
O HOMEM VIVE - VIKTOR FRANKL
ENTREVISTADOR: Dr. Frankl, o Senhor passou três anos em quatro campos de concentração durante a guerra, daria para me descrever como o Senhor encontrou sentido na vida, como o Senhor descobriu que a vida vale à pena após esse tipo de experiência.
FRANKL: Meus editores americanos costumam trazer à baila a história de que eu sai de Auschwitz com um novo ramo de psicoterapia com um novo sistema e tudo o mais. Há um erro nisso: eu entrei em Auschwitz com o manuscrito completo do meu primeiro livro escondido em meu bolso. E foi precisamente neste manuscrito - que posteriormente foi publicado nos EUA sob o título The Doctor and the Soul - que eu desenvolvi a idéia do significado incondicional da vida. Portanto a idéia de que a vida faz sentido e permanece significativa sob quaisquer condições é um conceito a que cheguei anteriormente às minhas experiências no campo de concentração. Assim dá para dizer que esta idéia, esta convicção da significação incondicional da vida foi mantida, ela sobreviveu à experiência do campo, e é ainda uma convicção, apesar do sofrimento e de todas as mortes ao nosso redor no campo de concentração. E o próprio campo de concentração estava ali servindo meramente como um campo de provas para confirmar - vivencialmente e experimentalmente - a justificativa de minha convicção.
ENTREVISTADOR: Assim ela confirmou a sua convicção. Contudo o Senhor deve ter visto lá pessoas que obviamente não viam nenhum sentido em suas vidas? Fale sobre aqueles que sobreviveram e aqueles que eram diferentes - como isso serviu para confirmar a sua teoria?
FRANKL: A lição que a gente poderia aprender seja em Auschwitz seja em quaisquer outros campos de concentração, em última análise, foi: aqueles que estavam orientados segundo a concepção de que havia um sentido na vida, em direção a uma realização que deveria ser executada por eles no futuro foram aqueles que tinham mais chances de sobreviver. E isto foi posteriormente confirmado por psiquiatras da marinha e do exército americano - em campos de prisioneiros de guerra japoneses, nos campos similares da Coréia do Norte, e recentemente nos campos de prisioneiros de guerra norte vietnamitas. Na Universidade Internacional de San Diego, Califórnia, eu tive três oficiais americanos no ano passado, durante o trimestre do inverno, quando eu estava lecionando naquela faculdade, que tinham sido aqueles que haviam permanecido por mais tempo internados em campos de prisioneiros de guerra norte vietnamitas - cerca de sete anos. E então improvisamos um painel; e eles realmente confirmaram o que eu tinha dito em meu relatório sobre a experiência de campo de concentração, Man's Search for Meaning - eles a reconfirmaram em sua essência: que a orientação em direção ao futuro - em direção a uma tarefa, uma tarefa pessoal, que esteja lhes aguardando para ser realizada no futuro; ou alguma outra pessoa que eles estivessem amando, a ser encontrada novamente, a se reunirem novamente no futuro - isto foi o que decisivamente manteve essas pessoas vivas. A questão não foi apenas de sobrevivência, mas tinha que haver uma razão para a sobrevivência. A questão era sobreviver para quê; a não ser que houvesse alguma coisa ou alguém, uma causa pessoal pela qual viver, a sobrevivência era altamente improvável.
ENTREVISTADOR: A maioria de nós jamais passou pela experiência do campo de concentração. Nunca tivemos que passar por este horror e tragédia e por isso tendemos a achar que hoje seria mais fácil buscar significado na vida - e ainda assim sinto que está sendo mais difícil encontrar sentido hoje do que era nos anos passados, o Senhor também pensa assim?
FRANKL: Você está totalmente certo.
ENTREVISTADOR: E por que será assim?
FRANKL: Porque estamos vivendo em uma sociedade - seja em termos de uma sociedade afluente ou em termos de um estado de bem estar social como este em que vivemos hoje na Áustria - seja lá como for: estes tipos de sociedade virtualmente satisfazem, ou pelo menos eles se propõem a satisfazer e gratificar cada uma das necessidades humanas, exceto por aquela necessidade - a mais básica e fundamental necessidade operando no ser humano: a necessidade de um significado. As sociedades de consumo, elas estão até mesmo criando necessidades, mas a necessidade de significado - ou, como eu costumo dizer - o desejo de encontrar um significado - permanece inatingido. É aquilo que eu costumo chamar ultimamente de o grito não escutado pela busca de significado.
Se, porém, não houver um sentido discernível, nenhum significado em seu campo visual, isso então acaba com a vida da pessoa.Recentemente tive acesso a uma estatística feita por uma universidade americana relacionada a sessenta estudantes que haviam tentado cometer suicídio...
ENTREVISTADOR: Esse número é muito alto...
FRANKL: Eles foram estudados posteriormente, psicologicamente, e resultou que oitenta e cinco por cento deles disseram aos doutores que a razão de sua tentativa foi porque eles não conseguiam discernir nenhum sentido na vida. E dentre eles, noventa e três por cento estavam, obviamente, física e mentalmente saudáveis; desfrutando de bons relacionamentos familiares, e de boas condições econômicas; e com desempenho acadêmicos e notas satisfatórias, e assim por diante.
ENTREVISTADOR: Isto foi o que ouvi; gastei um bom tempo com jovens, em sua adolescência, e muitos deles diziam estarem simplesmente entediados. Eles estão entediados com a escola, com seus pais, com a vida e o que imagino que o Senhor diria é que eles estão entediados com o sentido da vida.
FRANKL: Nem os pais e nem os professores são corajosos o suficiente para desafiá-los: não crie tensões, não coloque stress neles. Entretanto, até mesmo Hans Selye, o homem de Montreal que criou o conceito de stress, recentemente publicou um estudo em que ele diz que o stress é o sal da vida, que o homem necessita de tensões - eu diria de forma mais cautelosa que o que ele necessita é de uma quantidade saudável de tensão. Não tensões muito grandes, nem tensões muito pequenas, mas uma dose, uma dose saudável de tensão, tal como a tensão que se estabelece em um campo polar em que um pólo é representado por um homem e o outro pólo por um significado único e específico que esteja aguardando por ele para ser realizado, e exclusivamente por ele.
ENTREVISTADOR: Portanto não deveríamos ficar preocupados com todos os stresses e ansiedades de nossa vida. Não deveríamos... Bem, suponha que eu chegue aqui e diga-lhe, doutor, olhe, como é que eu faço para lidar com as ansiedades e stress de minha vida?
FRANKL: Dá para imaginar uma situação para um ser humano que seja mais cheia de stress do que Auschwitz? - E ainda assim, virtualmente toda a sintomatologia neurótica desapareceu em Auschwitz. E as taxas de suicídios em Auschwitz e Dachau foram surpreendente e incrivelmente baixas, de acordo com quem quer que estivesse escrevendo livros - psiquiatras escrevendo livros sobre psicologia e a psicopatologia da vida em campos de concentração. E por outro lado, no estado de bem estar social da Áustria um professor me mostrou uma lista de perguntas que seus estudantes tiveram permissão de fazer a ele, escritas sem nenhuma inibição, sem dar seus nomes, de forma absolutamente anônima. E o espectro das perguntas variava desde a pergunta "existe vida em plantas ou não" até o vício das drogas, problemas sexuais e assim por diante. E você sabe o que estava no topo da lista, medida pela freqüência com que ela aparecia? Suicídio! Dentre jovens de 14 a 15 anos de idade, em um estado de bem estar social como a Áustria, onde virtualmente não existem stress nem tensões porque eles são todos paparicados, e não se permite que ninguém os desafie. O que os jovens precisam é de ideais e desafios, tarefas pessoas e - em primeiro lugar - exemplos, exemplos pessoais, mas não dos covardes, as pessoas covardes que não os enfrentam em nada porque eles poderão ficar bravos porque estão sendo desafiados.
ENTREVISTADOR: Fiz uma entrevista no ano passado com o metropolitano Anthony Blum de Londres e ele disse exatamente a mesma coisa que o Senhor está dizendo. Ele era médico durante o ... e ele cuidou dos sobreviventes dos campos de concentração. Ele teve uma vida muito dura. E ele disse que a única vez em sua vida inteira em que ele chegou a considerar a hipótese de suicídio foi posteriormente, quando ele se tornou rico.
FRANKL: Isto é bem conhecido, eu costumo comparar isso com o caso dos peixes de águas profundas, que quando são trazidos à superfície do mar são deformados. E este é também o maior perigo para os mergulhadores, eles precisam ser trazidos lentamente para uma área de tensão menor, de menor pressão.
ENTREVISTADOR: Outra coisa que me ocorre é que a gente sempre pode encontrar sentido em algumas das instituições tradicionais que temos - a igreja, por exemplo, ou a família. E estas instituições parecem estar diminuindo. Parece que elas tem menos importância em nossas vidas hoje em dia. E isto deve frustrar a nossa busca por sentido, acho.
Agora esta é a origem do vácuo existencial. Mas, veja você, uma vez que as tradições estão batendo em retirada, as tradições estão se desmoronando - existe uma queda das tradições, não apenas no campo da religião, mas de modo geral - aquelas pessoas que são mais afetadas por esta perda de valores tradicionais são naturalmente os jovens. E isto pode ser evidenciado. Existem quatro testes, testes logoterapeuticos, desenvolvidos por ex-estudantes meus. Com eles você pode medir o grau de orientação de sentido, o grau do desejo de alguém de encontrar uma razão de ser em sua vida, e por outro lado, a frustração existencial, a frustração de seu desejo em relação ao sentido, seus sentimentos de falta de sentido. E ficou evidenciado por projetos de pesquisa empíricos e baseados em estatística que os jovens de fato são os mais afligidos por esse sentimento de vazio e de falta de sentido. Assim, você estava certo em bases intuitivas, como tem sido confirmado pelos testes efetuados pelos meus estudantes.
ENTREVISTADOR: Mas em termos de nossos valores tradicionais e nossas instituições religiosas estarem perdendo importância como dizemos - é possível alguém encontrar sentido na vida sem uma fé em Deus?
FRANKL: Veja você, eu tinha dito antes, existe um significado incondicional na vida. Eu ainda não tive uma oportunidade de apoiar...
ENTREVISTADOR: prossiga...
FRANKL: ...esta é a minha convicção pessoal. Mas de forma antecipatória, eu gostaria de dizer que uma razão de ser pode ser encontrada em cada uma e todas as pessoas, também por aqueles que não são religiosos. Concordaria pessoalmente que é mais fácil encontrar sentido na vida se você for uma pessoa religiosa. Mas por outro lado, eu teria que acrescentar imediatamente a seguir, que você não pode comandar, nem obrigar ninguém a ter fé.
ENTREVISTADOR: Entendo..
FRANKL: A crença, ou fé, precisa crescer dentro de você mesmo - organicamente. Você tem que permitir que ela cresça - você não deve contribuir para a repressão da fé. Mas em princípio cada um de nós pode encontrar um sentido na vida. E isto novamente tem sido empiricamente corroborado. Em casa tenho uma lista de 17 autores, pessoas que escreveram suas dissertações sobre este assunto - dentre eles dois, oriundos da Universidade em Ottawa. E para sumarizar o que foi evidenciado empiricamente por testes e estatísticas como eu disse antes é o seguinte: que o sentido da vida pode ser encontrado em todas as pessoas, independentemente de sua idade; independentemente de seu sexo, independentemente de seu nível educacional, independentemente de seu Q. I., independentemente de seu caráter, ou de sua formação estrutural e psicológica; até mesmo independentemente do ambiente - basta pensar apenas em Auschwitz, nas prisões, e das pessoas que são muito bem sucedidas e ficam entediadas. E finalmente, ficou claro que essa busca por uma razão de ser está disponível ao homem independentemente dele ser ou não religioso - e se ele for religioso a que denominação ele pertence. E um aspecto que merece registro: as últimas descobertas mencionadas por mim - as devemos à padres que estavam empiricamente efetuando pesquisas nos departamentos de psicologia das universidades.
ENTREVISTADOR: Exploremos por um momento como poderemos encontrar esse significado. Digamos que eu seja um sujeito médio, e nunca estive em um campo de concentração, então não fui testado através do sofrimento. Por exemplo, vivo uma vida muito confortável; talvez eu não tenha uma crença em Deus, talvez esteja entediado com meu trabalho, talvez esteja entediado com a minha família. Mas o Senhor está dizendo que ainda assim eu posso encontrar uma razão de ser para a minha vida. E é importante que eu a encontre. Onde eu a encontro? Aonde eu me apoio? Isto é, estou apenas sugerindo que podemos ter cidadãos que estejam passando por isso...
Portanto a vida é potencialmente significativa sob quaisquer condições. O American Journal of Psychiatry uma vez escreveu uma crítica sobre um livro meu, e ali você encontra esta sentença: "A mensagem do Dr. Frankl é a crença, a fé incondicional, na significação incondicional da vida." - Correto, mas é mais do que fé. Quando tinha 15 anos de idade, eu tive este relampejo, esta intuição. Mas posteriormente ela foi corroborada em terreno firme e sólido, através da análise fatorial de muitos milhares de questionários, de sujeitos que estavam sendo analisados psicologicamente, os dados sendo computadorizados, e assim por diante. Estes são fatos sólidos e estes são problemas ardentes, problemas ardendo sob as unhas dos dedos de nossos jovens.
ENTREVISTADOR: Então podemos encontrar a razão de ser de nossas vidas de três maneiras significativas, através do trabalho, amor...
FRANKL: ... E potencialmente através do sofrimento. Mas no sofrimento apenas se não tiver outro jeito - lembre-se: eu disse "se não tiver outro jeito". Carregar a cruz nos ombros desnecessariamente, para suportar o sofrimento quando for desnecessário - isso não produz nenhum significado. Se você tiver como modificar uma situação, você tem que fazê-lo. Se você pode fazer uma cirurgia para extrair um câncer, você tem que fazê-lo. Mas de qualquer maneira, o homem é um ser mortal. Temos que morrer, e antes de morrer inelutavelmente teremos que sofrer algumas vezes - como um médico tenho que confessar isso. Não existe ninguém que viva sob situações que não possam ser modificadas. Pode ser, por exemplo, o desemprego por alguns meses - mas ainda assim existe um significado na vida. Nos anos trinta, na época da grande recessão mundial, eu lidei extensivamente com jovens que tinham sido pegos em situações de desemprego, e descobri que o desemprego por si só não era o que pesava demasiadamente em suas almas; e sim o erro em que eles caiam, o erro de achar que não ter um trabalho significa não ter uma razão de ser, o que equivale a dizer ser inútil! No momento em que eu conseguia que estes jovens se voltassem para alguma organização - tal como a Father Tom’s Youth Corps e outras tantas -, eles passavam a ter um objetivo a ser realizado - mesmo sem ganhar um centavo -, e a depressão sumiu! Em outras palavras, o que necessitamos, veja você, não é apenas pão. E o que o desempregado necessita não é bem estar apenas, eles necessitam de uma razão de ser - e ela pode ser encontrada em qualquer lugar, mesmo na mais insignificante palhoça. Por outro lado, você encontra pessoas que são milionárias e bilionárias e eles não têm uma razão de ser, e eles se matam. Meu ex-assistente durante um período de magistério em Harvard, Rolf Von Eckhartsberg, pode demonstrar em sua dissertação que as pessoas depois de 20 anos de sua formatura em Harvard, estavam tendo carreiras maravilhosas, sendo muito bem sucedidos, mas não encontravam nenhuma razão de ser em suas vidas. - e por outro lado, eu posso te mostrar pilhas de cartas que por razões desconhecidas eu sempre recebo das prisões americanas, cartas nesse sentido: somente aqui na prisão, a uns poucos metros da cadeira elétrica, eu consegui encontrar uma razão de ser para a minha vida, apenas aqui! E até mais: as pessoas dizem que estão felizes, que fizeram as pazes consigo mesmas, e que suas vidas, bem lá nas prisões, sob aquelas condições! De modo que agora podemos entender como eu tinha razão em dizer: a razão de ser em nossas vidas pode ser encontrada independentemente da situação ambiental em que nos encontrarmos, de uma dada situação; ela depende de nós mesmos. E ela depende de estarmos ou não submetidos a um doutrinamento - nos campi americanos ou nos divãs de analistas - um doutrinamento no sentido de que o homem não é nada além de um mecanismo, o homem não é nada senão o resultado de condicionamentos ou processos psicodinâmicos, que o homem não é nada senão apenas um computador. Se você doutrinar as pessoas de acordo com essas linhas, não admira nada que eles sejam purgados de qualquer entusiasmo ou idealismo. Recentemente tive que abordar como um palestrante convidado no encontro anual do International P.E.N. club - o clube internacional de escritores, novelistas, dramaturgos e poetas. E eu implorei a esses autores de novelas e dramas e assim por diante... - eu implorei a eles: se vocês não forem capazes de imunizar os seus leitores contra o niilismo e o desespero, por favor, então pelo menos se contenham e evitem inocular neles o seu próprio cinismo.
ENTREVISTADOR: Isto é, ao que me parece, parte do problema que enfrentamos hoje nesta era em que vivemos: a mídia e os escritores de dramas que assistimos na TV, que lemos nos jornais, eles não estão realmente utilizando aquele tipo de linguagem que lida com aquilo sobre o que você está falando. Eles estão utilizando uma linguagem que é superficial, um tipo de linguagem efêmera. Não falamos muito sobre isso, não é mesmo?
E o mesmo acontece com o homem. Se você tiver uma opinião baixa a respeito do homem você o está corrompendo. Ele se deteriorará; ele se tornará pior moralmente. Em contraste, se você tiver uma alta opinião a respeito dele, então você fará com que ele possa efetivamente chegar aonde ele tem condições de chegar.
ENTREVISTADOR: Gostaria de lhe perguntar mais uma vez sobre a questão do sofrimento. Fico contente em escutar que o Senhor não acha que tenhamos necessariamente que sofrer a fim de buscar um sentido na vida. Porque em uma entrevista que fiz com Elie Wiesel...
FRANKL: Podemos apenas extrair o máximo proveito do sofrimento, se for possível.
ENTREVISTADOR: ... Eu estava interessado no que Elie Wiesel disse: que o sofrimento é contrário à sua criação judia. Ele não considera que o sofrimento seja uma parte necessária da vida, e de fato é uma parte má da vida, mas o Senhor vê valor no sofrimento - até certo ponto...
FRANKL: Primeiro: o valor potencial; um valor de oferta, uma oferta de significado que você tem que usar. Segundo: não em todo tipo de sofrimento. Existe um filósofo judeu famoso - o qual, incidentalmente, era o maior e melhor amigo de Franz Kafka e deve ser creditado pelo fato de que os trabalhos de Franz Kafka não tenham sido destruídos após a sua morte - falo de Max Brod. E Max Brod, em um livro filosófico relativamente desconhecido que transpirava filosofia judia - especificamente a filosofia judia - fazia uma distinção entre o sofrimento nobre e não nobre. O sofrimento nobre é aquele sofrimento que você não tem como evitar e não pode modificar. Então você tem que transcendê-lo, você tem que extrair o melhor dele, como eu havia dito em termos triviais, você tem que transformá-lo em uma realização, e esta realização então - caso você tenha conseguido fazer isso... esta conquista pessoal ... é a mais alta realização possível feita pela homem. Nenhum animal consegue fazer qualquer coisa semelhante. Nenhum animal se questiona sobre se a vida tem um sentido ou não. Nenhum animal é capaz de transformar um predicamento em uma realização - só o homem. Mas se ele o faz, então ele atingiu o pico de tudo aquilo que o homem é capaz de fazer.
ENTREVISTADOR: Doutor, o Senhor sublinha bastante o tema de nossas séries: o título da amostra é O Homem Vive, e me parece que para que o homem esteja plenamente vivo ele precisa encontrar o tipo de significado de que o Senhor está falando. Apesar disso, existem pessoas que passam por esta vida dizendo, "bem, eu posso suportar esta vida, posso seguir em frente nesta vida, porque existe outra vida após esta, eu irei para algum lugar melhor." E ainda assim ele não está vivendo a vida em toda a sua completude, não é?
FRANKL: Certamente que não. Mas eu gostaria de conversar com esse tipo de pessoa. E eu não descartaria a priori a justificativa de uma tal crença. Mas permita-me reagir de uma forma mais positiva à sua pergunta, observando que da maneira como eu encaro essa questão, temos que manter o significado potencial da vida apesar de sua transitoriedade. Assim muitos pacientes me fizeram essa pergunta: "Mas doutor, afinal das contas, tudo vai acabar. Tudo é transitório. Qual o sentido que permanecerá?" E eu costumo responder o seguinte: o que é transitório são apenas as potencialidades; são apenas as oportunidades: para realizar um objetivo na vida, seja por fazer algo, seja por amar alguém, seja por agüentar corajosa e honestamente um sofrimento que você não tem como evitar, e até mesmo enfrentar a sua morte de uma forma dignificada, enfim, com seu próprio estilo. Uma vez, porém, que tenhamos concretizado uma tal potencialidade transitória, uma vez que tenhamos utilizado essa oportunidade para fazer um ato qualquer, amar alguém, nos dedicarmos a alguma tarefa ou a outra pessoa, uma vez que tenhamos utilizado a oportunidade para transcender nosso predicamento a uma realização humana, então teremos resgatado todo esse significado, o teremos resgatado no passado; teremos seguramente entregue e depositado no passado. Ninguém pode nos tirar e nos roubar daquilo que depositamos no passado. O ato feito; um amor amado; um sofrimento que encaramos honestamente é algo indelével. Em geral apenas vemos os vestígios das colheitas do passado. O que não vemos, contudo, aquilo que ignoramos, é o celeiro completo, são os silos em que resgatamos nosso passado, nossos feitos, nossas experiências - a colheita de nossas vidas. Descobri uma formulação para isso no Livro de Jó, onde ele diz: você irá para o seu túmulo como um punhado de grão é colhido, na sua própria época. Então o passado é a forma mais segura de ser. Ele acaba, mas no passado tudo permanece, pois eternalizamos tudo. E ao invés de olharmos para uma vida futura ou uma pós-vida, diria que o que é importante é o senso de responsabilidade pessoal, aquele sentimento de que eu sou responsável por aquilo que estou depositando no passado - e então, depois de ter logrado êxito nesse mister, ninguém pode desfazer o que eu fiz. - Me pergunto se eu consegui me fazer compreendido...
ENTREVISTADOR: Eu entendo. Uma outra área, porém, que o Senhor mencionou anteriormente, sobre o envolvimento de cada um pelos cuidados com outras pessoas, que dariam significado à vida - amar outra pessoa: vemos em nossa sociedade hoje que nos tornamos mais individualistas, mais materialistas.
FRANKL: Para o futuro da nação...
ENTREVISTADOR: Para o futuro da nação. Seria este um sistema preferível?
O mesmo ocorre com os nossos olhos. A capacidade de nossos olhos de fazer o seu trabalho que é perceber visualmente o mundo que nos rodeia, de forma paradoxal é contingente à incapacidade que o olho tem de ver a si próprio. Quando o meu olho vê a si próprio? - Quando estou afligido pela glaucoma eu vejo halos de luz de arco-íris em torno das luzes: então meu olho percebe o seu próprio glaucoma. Se eu estiver sofrendo de catarata, eu vejo nuvens: essa nuvem é alguma coisa que meus olhos percebem de si próprio. Em geral os olhos não se vêem, mas vêem o mundo; e quanto mais ele vê, mais vê de si próprio, maior é o dano à sua função visual. O mesmo ocorre com o homem. O homem se torna ele próprio, o homem atua sobre ele mesmo, o homem é humano precisamente na extensão em que ele não esteja preocupado com ele mesmo, ou alguma coisa dentro de si próprio, mas vivendo a sua auto-transcendência - em que ele esteja servindo a uma causa, cumprindo um desígnio, ou amando outro ser humano.
ENTREVISTADOR: Bem, você sabe doutor, eu não sou um psiquiatra nem sou um teólogo. E ainda assim me parece que existe um conteúdo enorme de religião nesta logoterapia sobre a qual o senhor discorre. Qual é a diferença entre a logoterapia e a religião?
FRANKL: Uma grande diferença. Porque o objetivo de qualquer psicoterapia, como uma metodologia secular, é oferecer saúde mental; enquanto que o objetivo de um pastor, padre ou rabino não é primariamente qualquer tipo de higiene mental, mas até mesmo com o risco de provocar mais tensões, ele lutará, tal como Jacó fez com os anjos com aquela pessoa por conta da salvação, ou seja lá como você chame isso. Existe muita diferença! E você precisa entender que na qualidade daquele que criou o sistema denominado logoterapia e como psiquiatra tenho que me certificar de que a logoterapia esteja disponível para todo e qualquer paciente, e que ela esteja disponível tanto para o paciente religioso como para o ateu. E mais do que isso: que ela seja utilizável nas mãos de cada um e de todos os doutores e terapeutas, tanto o agnóstico como àquele orientado pela religião. Porque de outra forma estaria contradizendo o juramento Hipocrático que eu tive que fazer, no sentido de que eu estou disponível para cada um e todos os seres que sofrem. Desta forma não posso discriminar entre pessoas religiosas e não religiosas.
ENTREVISTADOR: Não, é que o Senhor utiliza tantos termos religiosos quando o Senhor fala não necessariamente o mesmo jargão, mas suas frases apresentam uma conotação religiosa
FRANKL: Por exemplo?
ENTREVISTADOR: Bem, que temos que cuidar da outra pessoa, não de nós mesmos, que a gente não procure a felicidade - ela virá até nós...
FRANKL: Isto é alguma coisa humana, isto é um fato antropológico, não uma questão teológica! Tornei isso explícito na medida em que você está esquecendo-se de você mesmo ao dar-se é humano. Agora me diga: será que se trata de uma questão religiosa se eu destaco este aspecto em casos de impotência masculina e frigidez feminina?
ENTREVISTADOR: (risada) Não.
Pode até ser religioso no longo prazo, mas implicitamente e não intencionalmente - tanto melhor para a religião e para a psicoterapia! Mas a distinção tem que ser feita, e não podemos confundir as dimensões. Existem tantos teólogos dando palpites no campo da psiquiatria que eu não gostaria de contribuir com tal confusão começando a dar palpites no campo da teologia.
ENTREVISTADOR: (risos)
O único atributo divino que podemos aspirar para nós mesmos é que somos onipresentes, que estamos em todos os shows, estamos nos shows “O Homem Vive” e assim por diante, estamos em todos os lugares! Mas vocês, particularmente - perdoe-me por externar isso -, mas particularmente vocês americanos deveriam parar de divinizar a psiquiatria, e deveriam ao invés disso começar a re-humanizar a psiquiatria.
ENTREVISTADOR: Muito obrigado! Eu percebo como o Senhor diz que depende de cada um de nós, independentemente de quem sejamos descobrir onde estamos ou em que condições estamos vivendo. O Senhor nos disse o que podemos fazer, e agradeço-lhe muito por fazer parte de nosso programa.
FRANKL: Obrigado.
ENTREVISTADOR: Dr. Frankl, particularmente os jovens hoje em dia parecem ter dificuldades em encontrar objetivos e propósito na vida. Por que particularmente essa geração de jovens? E o que você diria a eles?
FRANKL: Antes de mais nada: não se trata de uma neurose, de nenhuma doença, é, ao contrário, uma manifestação do que há de melhor no homem, o melhor observável no homem: honestidade e sinceridade intelectual.
Primeiro, depressão; depois eles se matam: agressão. Você tem as taxas espantosas de delinqüência juvenil de violência!
Em terceiro lugar, eles se drogam: e assim temos, depois da depressão e da agressão, o vício. Isto é o que eu chamo de a "tríade da neurose coletiva".
ENTREVISTADOR: Ok, o Senhor está nos dando essa descrição, e a prescrição é a de obter sentido - encontrar sentido em sua vida. O Senhor comentou mais cedo sobre sair de si próprio. E eu suspeitaria que isto é uma coisa que os adolescentes poderiam fazer, porque eles de fato tendem a ficarem “ligadões”, não é mesmo, eles são muito auto-conscientes nessa idade - conscientes deles mesmos. Como eles e as pessoas mais idosas também podem sair de si mesmos?
Agora tem o seguinte: você não pode dizer a nenhum paciente: por favor, esqueça de você mesmo. Você sabe como é que ele vai ficar? Da mesma forma que o maior filósofo da história ficou. Immanuel Kant uma vez observou que seu empregado era um ladrão, e ele teria que despedi-lo. Mas ele estava demasiadamente acostumado com ele e assim ele queria esquecê-lo. Você sabe o que ele fez - o grande filósofo? Ele escreveu em um pedaço de papel: “Lampe” - este era o nome do empregado – “Lampe tem que ser esquecido”. E ele colocou o papel na parede oposta à sua mesa. É claro que desta maneira ele estava impedindo que ele esquecesse o Lampe. Você não pode esquecer de nada, muito menos ainda de você mesmo, a não ser que você se devote a uma tarefa pessoal, uma tarefa pessoal concreta. Também, o desejo de buscar um significado não pode ser obtido a não ser que alguém esteja elucidando um significado, o próprio significado. E isto é o mais importante porque de outra forma fica sempre como se fosse um bumerangue. Uma vez eu estava dando uma palestra na Universidade de Melbourne, Austrália, e eles me deram um bumerangue como um souvenir, um bumerangue genuíno. Quando ele me foi dado eu subitamente tive aquilo que é chamado em psicologia de acordo com Karl Buehler uma "experiência aha". De repente eu tive esse lampejo, este é o verdadeiro símbolo da existência humana e da qualidade auto-transcendente da realidade humana. Porque geralmente se supõe que é a função do bumerangue retornar ao caçador - mas isso não é verdade, o Australiano me disse. Porque quando aquele bumerangue retorna ao caçador é porque ele falhou em atingir o alvo, a caça!
ENTREVISTADOR: (risos)
FRANKL: O mesmo ocorre com o homem. Somente aquele tipo de pessoa tão ligado nela mesma e tão ansioso em contemplar e observar a si próprio, de representar a si próprio, que em primeiro lugar não conseguiram encontrar - não um alvo, mas uma missão em sua vida; que não encontrou um significado fora deles próprios; ou um outro ser humano que não eles próprios. Isto é auto-transcendência: não estando primariamente preocupado com si próprio, mas com alguma coisa outra que si próprio, ou melhor ainda, com alguma outra pessoa do que si próprio.
ENTREVISTADOR: Mais uma pergunta: há pouco quando estávamos falando o Senhor utilizou a frase "o deus inconsciente". O que o Senhor quis dizer com isso?
FRANKL: Esse é o título de um dos meus livros mais recentes. Eu apenas me refiro ao fato, com o qual me deparei tantas e tantas vezes ao longo dos meus muitos anos de prática psiquiátrica, de que até as pessoas não religiosas são, no seu inconsciente profundo, religiosos - claro que no sentido mais amplo da palavra. Porém, uma vez que você concorde com a declaração feita uma vez por Albert Einstein no sentido de que ao se encontrar uma resposta a uma questão sobre o significado da vida significa ser religioso; uma vez que você concorde com uma definição de religião neste sentido mais amplo você pode supor que todas as pessoas, inconscientemente e de uma forma muito universal podem ser religiosas. E algumas vezes você pode também ressaltar que esta, não apenas inconsciente, mas também reprimida, religiosidade pode muito bem resultar em certas formas de doença neurótica. Desta forma a crença de Sigmund Freud de que a religião é uma neurose da humanidade pode, de certa forma, ser revertida: na medida em que podemos nos deparar com casos em que, ao contrário, a neurose é o resultado de um desejo religioso reprimido e persistente em um indivíduo. Mas certamente isso não deveria estimular ninguém a abraçar e esposar freneticamente alguma religião, e porque a religião institucionalizada está hoje em dia fora de moda, seguir cada uma nova religião que surja - e particularmente está na moda abraçar e esposar formas orientais de religião. Tenho muita compreensão e muita simpatia pelo misticismo e técnicas de meditação orientais, mas tudo isso não pode ser obtido e realizado mediante um comando, mediante uma ordem, mediante demandas feitas a você, nem mesmo pela vontade, mas somente de forma espontânea. E você não poderia negligenciar também o fato de que a religião oriental é muito diferente da nossa ocidental tanto quanto a mente ocidental... Será que eu posso falar em mente ocidental? Será que isso faz sentido?
ENTREVISTADOR: Sim, sim, faz...
FRANKL: ...a mente ocidental, na medida em que somos orientados à religião, essa orientação é profundamente personalizada...
ENTREVISTADOR: é verdade, é verdade...
FRANKL: ...religião - veja você - mais do que uma religião impessoal. Esse fato se torna ainda mais conspícuo no fenômeno da prece: na prece você está se dirigindo, você está falando com uma entidade inteiramente e absolutamente pessoal ao invés de uma entidade ou ser cósmico. Eu diria, a prece não é uma chamada de estação-para-estação e sim uma chamada de pessoa-para-pessoa, se é que eu posso fazer essa analogia. E este fato não pode ser negligenciado - que nossas mentes ocidentais estão muito ligadas à formas pessoais de religião. O contrário da religião institucionalizada é a religião personalizada - mas ambas podem ser combinadas, e é a responsabilidade de todo individuo pensante fazer uma síntese de ambas. Existe lugar para uma religião personalizada dentro de uma religião institucionalizada - e também vice-versa.
ENTREVISTADOR: O que o Senhor quer dizer com isso?
FRANKL: Existem diferentes linguagens; mas ninguém pode dizer que está contente que a sua própria língua-mãe seja superior a todas as demais línguas, simplesmente porque você chega à verdade em cada língua, você pode cometer erros, se perder, em cada língua; você pode até mesmo mentir em cada língua. Então não existe nenhuma superioridade ou inferioridade mútua respectivamente. E o mesmo é válido para todas as religiões ou denominações individuais. Simplesmente não pode haver nenhuma superioridade. Existe certamente uma verdade, eu admito e aceito, mas o que eu também teria que acrescentar é que ninguem em hipótese alguma jamais poderá dizer que ele, e somente ele é o detentor do monopólio da verdade.
ENTREVISTADOR: Muito obrigado. Muitíssimo obrigado
Tradutor: Felipe Cherubin
Introdução:“Man Alive” foi uma série de TV canadense sobre fé e espiritualidade. O título da série foi retirado de um poema de St. Irenaeus, bispo de Lugdunum (Atualmente Lyon) no século II que escreveu “A gloria de Deus é o homem verdadeiramente vivo”. A série teve inicio em 1967 na “CBC Television”.
Foi na série “Man Alive , em 1977 que Viktor Frankl deu uma das suas mais impressionantes entrevistas cuja transcrição foi publicada posteriormente e de forma estendida em edição comemorativa do “"International Journal of Logotherapy and Existential Analysis”.
Com muita satisfação apresento a tradução em português dessa célebre e tocante entrevista de um dos maiores pensadores do século XX.
Fonte: Viktor Frankl Institut: http://logotherapy.univie.ac.at/e/indexe.html
Vídeo e texto original em inglês:
http://logotherapy.univie.ac.at/e/clips2download.html