O que fazer com o Movimento Continental Bolivariano?
Eduardo Mackenzie
A Procuradoria não pode se negar a abrir uma investigação sobre os membros colombianos e estrangeiros do Movimento Continental Bolivariano (MCB). A exortação do presidente da República Álvaro Uribe para que esse organismo ajuize esta gente deve ser atendida, e rapidamente, pois o assunto é de importância estratégica. Mal faria o Procurador encarregado, Guillermo Mendoza, ao buscar pretextos para aprazar ou arquivar essa investigação. Nomear uma comissão para ver “se há provas”, quando estas já existem, não é um bom sintoma.
Os membros do MCB sabem em que estão metidos. O MCB não acolhe em suas fileiras as FARC, senão que tem esse movimento terrorista como núcleo central. Desde antes de sua fundação, quando o MCB se chamava “Coordenadora Continental Bolivariana” (CCB), as FARC já estavam lá orientando tudo. Quem esqueceu que um número de delegados da reunião da CCB em Quito entrou em contato pessoal com Raúl Reyes, número dois das FARC, em seu acampamento de Angostura, pouco antes do ataque no qual Reyes e outros perderam a vida?
Posteriormente, o comunista dominicano Narciso Isa Conde, cabeça visível do MCB, confirmou que as FARC fazem parte dessa organização e que os princípios destas, como a “combinação de todas as formas de luta”, fazem parte do arsenal político-ideológico do MCB. Quer dizer, o MCB incluiu em sua presidência “coletiva” Alfonso Cano e, de maneira simbólica, para que não restem dúvidas, o defunto e tristemente célebre Tirofijo. Yul Jabour, do Partido Comunista Venezuelano, reiterou que o MCB não exclui nenhuma forma de luta e que em conseqüência acolhe “qualquer movimento insurgente, inclusive a guerrilha das FARC”. O ELN colombiano também pediu para entrar. Por que Guillermo Mendoza faz como se não visse - nem entendesse - nada a respeito?
O MCB não é só uma “reativação” da frente internacional das FARC, dirigida agora por ‘Iván Márquez’, com escritório em Caracas, como acaba de confirmar o governo equatoriano, mas é um embrião de internacional terrorista como a que os bolcheviques construíram em 1919.
Como é óbvio, a senadora “liberal” Piedad Córdoba se pronunciou rapidamente contra a investigação pedida pelo presidente Uribe. Ela pretende passar ao Procurador Guillermo Mendoza, através da imprensa, uma contra-ordem no sentido de que derrube ou engane com mentiras esta iniciativa de alguma maneira. Já veremos o que Mendoza vai fazer.
Os colombianos devem saber bem o que é o MCB. Uma certa imprensa o está apresentando como um simpático movimento de esquerda. Como fez quando apareceu o M-19 em 1974. Sabemos bem em que terminou essa comédia. Na realidade, o MCB, organismo opaco e secreto, será dentro em pouco a organização internacional mais perigosa do continente. Seus chefes estão construindo nas barbas de todos os governos latino-americanos, sob a aparência de uma inofensiva e bem intencionada organização política que luta “pela paz”, embora não ocultem que as FARC estão bem instaladas lá.
O MCB é um organismo de guerra. É a aventura mais ambiciosa desde o desmantelamento, em 1978, da Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), de triste memória. Essa internacional terrorista de extrema esquerda roubou, seqüestrou e assassinou milhares de pessoas no continente e acumulou um tesouro de guerra com o qual financiou quase todos os movimentos armados do continente, que na época não eram poucos.
A JCR chegou a ter bases clandestinas em quatro países (Argentina, Chile, Uruguai e Bolívia), simpatizantes em outros dois (Colômbia e Paraguai) e discretos escritórios na França e Portugal. Um de seus agente lá era Carlos, o Chacal, hoje encarcerado na França.
Fundada em outubro de 1972 no Chile, por delegados de três movimentos terroristas (dois argentinos: o PRT/ERP, de Roberto Santucho e os Montoneros, de Mario Firmenich e o MIR do chileno Miguel Enríquez), a JCR se propôs a realizar a “revolução continental”. Depois somaram-se o ELN dos irmãos Peredo da Bolívia e os Tupamaros do Uruguai.
A JCR foi mais longe que as redes organizadas pelos cubanos. Esse projeto que implantava e treinava guerrilhas em vários países, porém no campo, será esmagado em todas as partes, salvo na Colômbia. A proposta da JCR era levar a luta armada às cidades e propiciar movimentos “de massas” urbanos para destruir as democracias. Durante oito anos causou desastres em vários países, porém finalmente foi brutalmente esmagada pelas ditaduras militares do Cone Sul. (VerLes Annés Condor de John Dinges, La Découverte, Paris, 2004).
Após a derrubada da URSS, a ambição das FARC era ter de novo um aparato de coordenação continental que as respaldassem em nível logístico, político e militar, e que desenvolvesse – ao mesmo tempo – atividades ofensivas em outros países e não somente na Colômbia. Esse projeto não se concretizou durante anos, pois Cuba estava na ruína porém agora, graças a Chávez, está tomando forma. Com o respaldo material da Venezuela e a orientação ideológica de Cuba, com os petrodólares venezuelanos e o tráfico de drogas das FARC, com agentes na Europa e talvez no Oriente Médio, o MCB estará em condições de abrir um novo período de graves desestabilizações no hemisfério. Os países que estão em sua mira não são só Colômbia, Peru, Panamá, México e Honduras. São todos os demais, inclusive Chile, Argentina e Brasil (onde haverá nos próximos meses mudanças de governos e não precisamente favoráveis à esquerda). Nem os Estados Unidos podem se considerar fora da lista. Chávez anunciou que quer derrubar o sistema político desta grande potência. O que Caracas procura é utilizar como alavanca de seus interesses as alas radicais do Partido Democrata e os grupos extra-parlamentares, para paralisar a ajuda de Washington às democracias atacadas.
O desafio que o MCB estabelece é, pois, enorme. Os países que estão na mira não têm alternativa diferente que a seguida pelos Estados Unidos e a União Européia em sua luta contra a Al-Qaeda: infiltração, vigilância eletrônica constante e desmantelamento antecipado dos núcleos combatentes. É nesse contexto que a Procuradoria colombiana e os organismos de segurança dos outros países latino-americanos devem ver o chamado do presidente Uribe sobre o MCB.
O MCB terá dois aparatos: um visível, com uma hierarquia mais ou menos identificável, e outro clandestino, com pessoal, equipamentos e logística ocultas. Porém, se o chavismo consegue vender a sigla MCB como um grupo “progressista” e de pessoas boas, organizado para fazer o bem em todas as partes, o aparato visível fará pressão na Colômbia para atrair o Partido Liberal e o Polo Democratico e conseguir um colapso eleitoral. É óbvio que Piedad Córdoba e sua claque mais o Polo Democratico colaborarão nessa empreitada, por nenhum deles ter diferenças de fundo com o MCB. Sua propaganda cuidará de que todo mundo esqueça que a nova internacional não escondeu jamais suas ambições nem seus métodos, os quais incluem a violência armada.
Na vida dos Estados estes podem escolher, em geral, duas vias para preservar seus interesses e sua segurança: mediante relações mais ou menos amistosas com os outros Estados e governos, ou mediante a manipulação de movimentos subversivos disseminados em todas as partes. Chávez escolheu a segunda via. Uma via fracassada. Com o MCB, Chávez completa sua panóplia de organismos de intervenção. Já tinha o Foro de São Paulo, a ALBA e a UNASUL, cada um com um papel diferente. Agora com o MCB, não lhe falta nenhuma alavanca. Chávez busca “bolivarianizar” a vida das nações do continente, como Stalin buscava “bolchevizar” o mundo inteiro. Como será a combinação disso tudo? Essa via, muito provavelmente, isolará a revolução bolivariana e a levará ao colapso, como ocorreu, com notável atraso, com o mundo soviético. Ter sido parte do campo vencedor na Segunda Guerra mundial atrasou 40 anos o afundamento da URSS. A diferença é que Chávez poderia não ter essa ajudinha da História.
Tradução: Graça Salgueiro
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http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=1477
Paralelo entre o Movimento Continental Bolivariano e o “informe da verdade” em Quito
*Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Há muitas coincidências entre o acontecido na semana passada em Caracas com o Movimento Continental Bolivariano e o publicitado “informe da verdade”, em torno do bombardeio sobre a guarida que Raúl Reyes tinha em território equatoriano, com a anuência complacente do presidente Rafael Correa.
Ambos os eventos coincidem em buscar a legitimação das FARC, lhes negam a condição de terroristas e os apresentam como “lutadores com ideais políticos”. De maneira simultânea excluem Chávez e Correa de qualquer nexo com os terroristas colombianos.
Entretanto, as evidências e as provas corroboram o contrário.
No caso do Movimento Continental Bolivariano, os computadores de Reyes, Ríos, Lozada, John 40, Jerónimo Galeano, Calderón e outros bandidos capturados ou abatidos, reforçam com fatos concretos a tese de que o MCB é o braço político internacional das FARC, que o terrorista dominicano Narciso Isa Conde mantém contato com Iván Márquez, que as FARC têm escritório permanente no Ministério da Defesa venezuelano, e que Chávez, Lula, Evo, Ortega e Correa fazem parte do complô comunista contra a Colômbia [1].
E, de remate, que o Partido Comunista Colombiano em associação com os partidos comunistas e outros movimentos ibero-americanos de esquerda pró-terrorista, estão mancomunados com as FARC e com alguns exemplares dos mal chamados “colombianos pela paz”, para minar a institucionalidade e pôr um governo títere de Chávez na Colômbia.
Entretanto, o informe entregue a Correa que aproveitou a oportunidade para fingir estar decepcionado, corrobora os nexos com as FARC de Augusta Calle, Gustavo Larrea, Ignacio Chauvín, o coronel Brito e um pitoresco general de sobrenome Vargas (constituído em uma vergonha histórica para as Forças Militares Equatorianas).
Evidentemente que Correa sabia destes contatos, pois era quem os autorizava e os ordenava. Ninguém pode acreditar que na condição de ministro Larrea minta descaradamente, dizendo que se reuniu com Reyes na Venezuela, e nem sequer exista a prova das diárias para a viagem que devia receber por lei, nem a entrada legal na Venezuela registrada nos documentos de imigração desse país.
Prova disso é a caleidoscópica atitude que o mandatário equatoriano tomou frente ao problema. Após romper relações diplomáticas com a Colômbia, isso sim, muito dolorido pela sensível morte de seu comparsa e camarada Raúl Reyes, Correa iniciou um desesperado périplo para corroborar seu afã para impedir que as fumigações na fronteira diminuíssem as arcas de seus sócios das FARC e para apresentar ante o mundo o presidente Uribe como Satã, que impede que os comunistas tomem o hemisfério e que além disso havia agredido seu território sem sequer mencionar que com sua anuência desde o Equador, as FARC agrediam e ainda agridem a Colômbia.
Em seguida, em conluio com militares de algibeira Correa inventou a existência de um diário de Raúl Reyes, no qual o terrorista supostamente o detestava. Foi tudo uma grosseira montagem de Correa para preparar provas futuras que o façam sair airoso do problema.
Mais uma vez, Correa mudou a ladainha, diminuiu sua verborréia comunistóide contra Uribe e contra a Colômbia, baixou o tom de sua grotesca atitude e autorizou manipulados funcionários de sua chancelaria a abordar a busca de meios para normalizar as relações com a Colômbia, sem deixar – é claro - de lançar gracejos para os comunistas chiques latino-americanos, pela incômoda presença “gringa” nas bases militares colombianas.
Na mais recente trama, Correa acrescentou ao seu estratagema de fabricar provas que o livrem do problema em que está metido, o fantasioso informe da “comissão da verdade”, na qual de maneira cínica lança a culpa aos comandos médios, enquanto ele sai limpo. Típico comportamento do delinqüente com alta investidura e, em que pese as evidências contra ele, diz que “foi tudo pelas suas costas”.
Não obstante, ao fim de dois eventos em Caracas e Quito surge algo mais importante, do qual o governo e a justiça colombiana não só devem tomar nota senão uma ação imediata. Assim como o presidente Uribe pediu à Procuradoria que investigue todos os terroristas que dirigem o espúrio “Movimento Continental Bolivariano”, esse é o momento adequado para que os juízes da República da Colômbia vinculem formalmente à investigação penal, por apoio ao terrorismo comunista que as FARC praticam, Lula da Silva, Rafael Correa, Evo Morales, Hugo Chávez, Raúl Castro e Daniel Ortega.
A proposição não é para que se rasguem as roupas nem para entrar em argüição de conveniências diplomáticas e da consuetudinária dissimulação que caracteriza muitos dos “intelectuais” colombianos e os sisudos analistas. A razão é simples. Estes personagens estão mancomunados com as FARC para derrocar as instituições na Colômbia. Por sua natureza marxista-leninista estão em guerra contra a Colômbia e contra a ideologia política do atual governo, e nos vêm como seus “inimigos de classe” aos quais têm que submeter a ditadura comunista.
Então, se estes personagens estão dedicados a afundar a institucionalidade e a jogar com dupla moral nos cenários internacionais, mal podem fazer o governo e a justiça colombiana, afastando as contundentes provas encontradas nos computadores de Reyes, mais o descarado patrocínio e respaldo que os mesmos delinqüentes de colarinho branco mencionados deram com seu silêncio cúmplice, frente às agressivas declarações dos terroristas que presidem o Movimento Continental Bolivariano.
Se Lula e os demais sequazes do Foro de São Paulo quisessem a verdadeira paz na Colômbia, se tivessem respeito pela dignidade e soberania colombiana, nem teriam armado o novelão pela necessária e certeira operação contra Reyes no Equador, nem ficariam calados frente às declarações belicosas dos cabeças do mal denominado movimento bolivariano na semana passada em Caracas, nem muito menos coonestariam a palhaçada da “comissão da verdade” em Quito.
Em síntese, fica tudo como no princípio antes da morte de Reyes: a Colômbia está rodeada de governos títeres da ditadura cubana. Chávez e Correa continuam comprometidos até a medula em ajudar seus sócios das FARC, e os demais bandidos, com fuzil e sem ele, continuam conspirando contra as instituições e a democracia no continente, enquanto o governo democrata dos Estados Unidos vira a cara para o outro lado.
* Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.com
[1] – A esse respeito, leiam também:
http://notalatina.blogspot.com/2009/12/mcb-farc-fsp-membros-de-um-mesmo-corpo.html
Tradução: Graça Salgueiro
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