Publicado em 12/12/2009
O atual ocupante do Planalto sabe bem o que diz. Depois do impropério inusitado para um Chefe de Estado, dito em público, conclui-se que ele sabe que além de falar para a base da pirâmide social brasileira, provocará por vários dias, uma enxurrada de manchetes, artigos, comentários, enfim, tudo dentro da velha tática do “fale bem ou mal, não importa, desde que fale de mim”. Para que se crie um efeito de dissonância cognitiva, muito do que se divulga na mídia sobre o governo, especialmente a propaganda oficial que simplesmente ocupou todos os chamados “calhaus” – espaços disponíveis e que não conseguiram ser vendidos na mídia televisiva – vende um Brasil que não existe, se confrontado com os números divulgados no Jornal O Estado do Paraná na edição de 13.12.09.
Estes números, resumidamente, são os seguintes:
Brasil: 75º colocado no IDH,
Índice de corrupção – 75º no mundo.
70% das rodovias federais em precárias condições.
Taxa de homicídios, a cada 100 mil habitantes:
Alemanha = 1,0
Itália = 1,2
Chile = 1,9
Palestina = 4,0
Argentina = 5,2
EE.UU. = 5,8
BRASIL = 26,0.
Embora a propaganda do governo procura mostrar que o Nordeste está melhorando, em 2002 o PIB per capita era de 46% do nacional mas em 2008, o índice continua em 46%. Questão de pobreza ou... sanitária?
São muitos os tantos outros números negativos que deixariam este Editorial muito longo. Há que se reconhecer, contudo, que o Brasil cresceu e se desenvolveu desde 1964, passando por todos os governos, desde o “Milagre Brasileiro” da década de 1970 até a estabilização da inflação com o Plano Real em 1994. Se deixarmos de nos levar pela propaganda governamental e pela performance de pop star do atual ocupante do Planalto, notaremos que existem melhorias para a maioria da população e que há um incremento das chamadas classes C e D, razão dos investimentos feitos por grupos empresariais cada vez mais focados nestas. Mas essas melhorias pouco se devem aos governos e muito mais à iniciativa privada.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que governos não produzem nada, e quando se metem a fazer isso, as distorções são inúmeras, prejudicando a comunicação dos preços proveniente do consumidor, fazendo-o pagar, quando consegue, mais do que produtos e serviços realmente valem. Ou, se movidos por populismo, menos do que valem até extinguir a operação, afundar as empresas estatais em dividas que serão financiadas com mais e mais impostos. Não existe almoço grátis, nos ensinou Milton Friedman. Considerando que no resto do planeta, na maioria dos lugares a iniciativa privada tem razoável liberdade que levou a desenvolver mercados maiores e mais competitivos e maduros, resultou em muita tecnologia não apenas nas inovações mas no aumento da produtividade, reduzindo preços, tornando produtos e serviços acessíveis a faixas de público cada vez maiores. E o Brasil se beneficiou disto.
Para não ficar completamente ilhado, os governos que se seguiram nos últimos 25 anos foram obrigados a abrir o País. Especialmente no Governo Collor, quando a reserva de mercado automotivo, da informática e da propriedade intelectual foram suspensas com diversas medidas. Certamente, muitos dos que se locupletavam dessa reserva não aprovaram. Logo veio o Plano Real, as privatizações do setor de comunicações e, mesmo não tendo sido da maneira mais correta, o País experimentou avanços muito importantes, mesmo não tendo mais nenhum milagre de crescimento econômico. E isso não aconteceu exatamente pelas regras macroeconômicas vigentes até hoje, sendo uma das principais, a substituição da fabricação de moeda pela fabricação de títulos de divida pública. Os problemas estruturais, contudo, permanecem, senão, pioraram.
A independência e harmonia entre os Três Poderes praticamente se extinguiu com a nomeação de oito ministros do Supremo Tribunal Federal pelo Poder Executivo no governo atual. O Poder Legislativo está quase completamente dominado pelo Poder Executivo, graças a política clientelista da barganha dos recursos tributários extorquidos de todos os cantos do País, centralizados nas mãos do Poder Central. Afinal, parlamentares pensam, em sua maioria, na próxima eleição e suas bases estão nos estados. Além destes, os governadores pressionam as suas bancadas para que aprovem qualquer coisa que o Governo Central propõe, pois não podem ver o fluxo das migalhas dos Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios bloqueado. Um jogo de perde-perde, pois perdem os estados, perde o Povo, perderão até mesmo os governadores e parlamentares quando virem seu já parco poder eliminado pelo Poder Central. Será mais uma questão sanitária que não terá a mão do Grande Paizão....
Muitos de nosso Povo realmente já estão em caótica situação sanitária. Mas somente a atividade econômica plena poderá retirá-los disso. A mão estendida pelo Governo Central poderá proporcionar um alivio aparente, um paliativo como já bem percebido por boa parte da população brasileira que concorda em ajudar compatriotas por um tempo, mas não por todo tempo. E o lodo não é apenas econômico, mas social, moral, ético, e nele já estamos, todos, chafurdando, mais ou menos.
Não se pode esperar por um grande salvador da pátria, aquele que vai será solução sanitária para o País todo. Quanto mais se centraliza o poder, maior o lodaçal. A regra número um, seja numa patologia – e o caso brasileiro é patológico – seja em qualquer outra situação é reconhecer o problema. Cerca de 50% do mesmo já pode se considerar resolvido apenas com essa atitude. Os outros 50% dependerão do que se fará para resolver o problema e a inteligência diz que se deve atacar a causa do problema ou dos problemas, mesmo que sejam milhares e que turvem a visão e a mente. A boa ciência demonstra que sempre existe apenas uma causa primária de todas as causas secundárias e seus respectivos efeitos. Elimine-se a causa, e se alterarão os vetores, as soluções começarão a ser implementadas e resultados começarão a aparecer. O Brasil já deu mostras de quão poderoso é como nação mais do que emergente, mas um grande potencial que não pode mais permanecer como um grande país periférico. Não será uma vaga no Conselho de Segurança, nem manchetes com presidentes brasileiros recebendo tapinhas nas costas dos lideres das potências mundiais que mudará o que cada brasileiro realmente vive no dia a dia. A maioria em grave questão sanitária...
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