A ignorância e o preconceito do jornalismo brasileiro quando o assunto é agronegócio são espantosos. É coisa que vem de longe. É o efeito MST. É o efeito Marina. É o efeito Minc. A entidade e essa, digamos, “personalidades” são formadoras de opinião, sabem? Sobretudo da opinião da classe média “pogreçista“, onde estão os jornalistas, que, não raro, não sabem a diferença entre uma vaca e uma jumenta. Adivinhem qual foi a abordagem unânime do Censo Agropecuário? Bidu! “Concentração de terra cresceu no Brasil!” É mesmo é?
Na Folha, lê-se a seguinte construção: “Em dez anos, o agronegócio brasileiro cresceu, modernizou-se e ganhou produtividade, mas esse avanço não alterou uma realidade: a concentração da terra na mão de poucos proprietários, que até aumentou.” “Mas”??? Por que “mas”? A concentração, vejam que espanto!, pode ser um dado positivo. Tudo indica que são terras incorporadas pelo agronegócio, que passaram a produzir usando tecnologia de ponta. Não tem “mas” nenhum! Se for o caso, deve-se buscar aí uma relação causal.
O glorioso Estadão, antiga referência de cobertura de questões agropecuárias, foi mais dramático. Leiam:
“A agropecuária brasileira permanece marcada pela desigualdade e com um nível de concentração de terras cada vez mais grave, como mostra o Censo Agropecuário 2006, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O censo retrata as mudanças ocorridas no setor na última década, já que o levantamento anterior refere-se a 1996. No entanto, a concentração de terras permanece praticamente inalterada há mais de 20 anos, desde 1985.”
“Concentração de terra cada vez mais grave?” Quem redigiu? João Pedro Stedile? Dom Tomás Balduíno? José Rainha? E aí se faz uma lambança danada. O Índice de Gini da concentração de terra é tratado pelo jornal como se fosse o da concentração de renda:
“O Índice de Gini - medida internacional de desigualdade - no meio rural chegou a 0,872, superando o dos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856). Pela tabela de Gini, que vai de zero a 1, quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade na renda.”
Virgem Santíssima!!!
E qual é a grande notícia do censo, que não interessa ao MST, pauteiro dos jornais? O formidável ganho de produtividade do setor. O país produz muito mais hoje em muito menos terra. Atenção: em 2006, havia 23 milhões de hectares a menos dedicados à agropecuária do quem em 1996. Por quê? Essas terras foram destinadas às reservas indígenas e a áreas de preservação. Mesmo assim, o país bateu sucessivos recordes de produção. Em 2006, houve um aumento de 42% nas áreas irrigadas.
No dia 22 de junho, escrevi neste blog: “É uma barbaridade, de uma estupidez que beira a sociopatia, a satanização continuada, sistemática, a que está sendo submetido o agronegócio, que responde por boa parte do crescimento recente do país e da estabilidade - e isso inclui a produção de comida barata.” No Jornal da Globo, Carlos Alberto Sardenberg deu os números:
Total das exportações brasileiras em 2008 - US$ 197,9 bilhões
Parcela do agronegócio - US$ 71,8 bilhões - 36,3%
Total das importações brasileiras em 2008 - US$ 173,2 bilhões
Parcela do agronegócio - US$ 11,8 bilhões - 6,8%
Superávit da Balança Comercial em 2008 - US$ 24,7 bilhões
Superávit do Agronegócio - US$ 59,9 bilhões
Viram só? Quem é que faz o superávit da nossa balança, além de abastecer o mercado interno com uma das comidas mais baratas do mundo? O agronegócio! De 2002 a 2008, o setor fez US$ 270 bilhões de saldo comercial, convertido em reservas, que impediram que o Brasil fosse para o buraco.
Mas e daí? Querem que o agronegócio viva pedindo desculpas - além, claro, de suportar as ofensas daquele ministro que comparece a shows de reggae na Chapada dos Veadeiros. Vai ver os produtores rurais ainda não se dedicam a plantas de sua predileção. Um dia nos livramos desta vaga de estupidez.
Ah, sim. O técnico do IBGE bem que advertiu os coleguinhas que essa conversa de concentração não tinha lá grande importância. Afinal, nas regiões onde o agronegócio se expande, costuma haver aumento de renda. Mas não tem jeito. Para a imprensa emessetista, a regra é “cada homem, uma gleba”. Nem que seja pra comer capim ou mandacaru.
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