Em conversa com uma pessoa muito mais nova do que eu, veio à baila a reivindicação de adopção de crianças por duplas de homossexuais. “Cada um sabe de si”, disse ela, “as opiniões são relativas e ninguém tem o direito de criticar os gays por quererem adoptar crianças”.
Logo a seguir, mudando de assunto, a minha interlocutora professora passou a criticar a ministra da educação. Naturalmente que quando criticamos as opções da ministra não podemos destacá-as das opções do ser humano que é a ministra; as políticas adoptadas pela ministra são consentidas pela pessoa que ela é. Por isso, é impossível dissociar uma pessoa das suas ideias e comportamentos.
“Se adoptamos uma posição relativista perante tudo o que acontece ao nosso redor” ― retorqui — “perdemos o direito moral de criticar quem quer que seja”. Ela riu-se, amarelada, pediu desculpa que estava atrasada, e “deu às de vila Diogo”. Quando não se têm argumentos “dá-se corda aos sapatos”.
É preciso dizer que um relativista não é um revolucionário: é antes alguém que se deixa instrumentalizar pela mente revolucionária que não é relativista, mas antes inverte o sentido da ética e da moral cristãs.
Aquela jovem relativista está impossibilitada de criticar o comportamento e as ideias da ministra. O relativismo torna impossível a crítica ao comportamento e às ideias que ditam o comportamento das outras pessoas, na medida em que se acredita na ideia de que a moralidade é uma questão de definição pessoal.Na medida em que aquela jovem é relativista, ela não pode acreditar que o “mal” existe. Para que uma jovem relativista seja coerente, o Holocausto foi uma opção dos nazis com a qual podemos até concordar ou não no nosso íntimo, mas não temos o direito de criticar os responsáveis pelo Holocausto.Os conceitos de “culpa” e de “recompensa moral” não existem para a jovem relativista, na medida em que não existe uma bitola moral através da qual ela possa fazer juízos de valor. Quando a jovem critica a ministra fá-lo por um egoísmo incrustado e não porque tenha alguma noção da existência de “culpa” da ministra. Na ausência de absolutos morais, a culpa não existe senão quando alguém belisca os nossos interesses, isto é, o relativista recusa sempre a culpa e reclama sistematicamente a recompensa moral, porque o relativista é essencialmente um egoísta inveterado.Aquela jovem não tem o direito de dizer que a ministra é justa ou injusta. Para uma relativista, a justiça não pode existir porque não existe culpa. A ausência de culpa moral passa a contaminar a própria Lei ordinária de uma sociedade (o Direito Positivo), e o Democídio surge como consequência dessa contaminação. Na sequência da ausência de culpa moral, surge o divórcio socretino “sem culpa” ― e aqui temos um exemplo de como o relativismo moral contamina o Direito. Passo a passo, e por via do relativismo moral como instrumento de acção política, toda a influência da moral cristã do nosso Direito Positivo vai sendo substituída por um Direito subjectivo que só serve (ainda mais do que já acontece) as elites e os poderosos.Aquela jovem está impedida, pela sua própria natureza, de evoluir do ponto de vista moral. A vida dela é como a água estagnada num charco, água que não corre e, por isso, não aproveita ninguém. Sem objectivos morais, ela constrói o seu mundo solitário e egoísta dissociado da sociedade em que vive.Uma relativista não consegue discutir a Moral. Por isso é que a jovem fugiu à conversa. Para a relativista, a discussão sobre os méritos e deméritos nunca se faz de uma forma abstracta e impessoal. Quando a jovem critica a ministra, critica-a por razões pessoais e não porque não concorde, de uma forma abstracta, impessoal e generalizada, com o comportamento e ideias que caracterizam a ministra como poderiam caracterizar outra pessoa qualquer ― isto é, se o mesmo comportamento incongruente e teimoso no erro da ministra fosse adoptado pelo vizinho da jovem, esta já não o criticaria porque não mexeria com a vida dela. Na medida em que a moral relativista é subjectiva, a jovem relativista vive em silêncio, ignorando o mundo em seu redor, a não ser que lhe pisem os calos.A jovem relativista não pode ser tolerante. Passa muitas vezes a ideia errada de que a “tolerância” é uma característica do relativismo moral ― isto é, pretende-se fazer passar a ideia de que “a moral é individual” e por isso, embora toleremos os pontos-de-vista dos outros, não temos o direito de julgar comportamentos e atitudes.
Contudo, este princípio relativista que define a “tolerância” cai numa contradição insanável: se não existem regras morais universais, não pode existir uma regra que exija a “tolerância” como um princípio moral ― a própria obrigação moral de ser “tolerante” viola as regras morais do relativismo. Se não existem absolutos morais, não faz sentido nenhum ser tolerante.
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