HEITOR DE PAOLA
02/10/2008
Se os árabes se desarmarem, acaba a guerra se Israel se desarmar, acaba Israel.
BINYAMIN NETANYHAU
Uma das maiores catástrofes da chamada ‘modernidade’ foi a desconstrução filosófica, psicológica, política e moral da humanidade, ocorrida na última metade do século passado. Das principais contribuições psicológicas desconstrucionistas é o que chamo aqui inversão e introjeção da culpa. A inversão da culpa faz parte do conceito mais amplo de inversão revolucionária. A introjeção é a admissão delirante da vítima de ser a culpada pelos ataques que sofre. Ela é especialmente necessária para o sucesso da guerra assimétrica, da qual ambas constituem os fundamentos psicológicos.
Pode-se definir guerra assimétrica como aquela em que um dos lados atribui a si, consciente ou inconscientemente, a totalidade dos valores éticos na qual suas ações são embasadas. Pode ser a ‘ética de construir um mundo novo’, de ‘eliminar as desigualdades’ ou de ‘reconquistar territórios que lhe pertencem’ ou qualquer outra coisa. Isto lhes permite lutar em plena potência, sem respeitar nenhuma lei a não ser a da força justificada pela própria ‘ética’ que a move. Enquanto isto, através de guerra psicológica, força-se o inimigo a aceitar esta situação na qual ele se vê obrigado a respeitar suas próprias leis e as convenções internacionais que regulam os conflitos. Principalmente convencendo-o de que não pode usar os mesmos meios dos possuidores exclusivos da ‘ética’. Caso o entrechoque avance para o interior do território inimigo – como no terrorismo – usa-se a liberdade e a abertura da sociedade livre e legal forçando-a a restringir seus métodos de defesa legais enquanto movem-se livremente, sem respeitar nada, e trabalham pela sua destruição desde dentro. Ou, em última instância, se o inimigo se desespera e rompe com seus princípios, posam como vítimas de crueldade. Isto é, invertem o sentido dos direitos constitucionais do inimigo para usá-los a seu favor, deixando o inimigo indefeso: as armas da legalidade jamais funcionarão e, se forem rompidas, serão acusados Em qualquer caso saem ganhando!
Existem dois fatores fundamentais para que a estratégia assimétrica funcione. O primeiro é fazer com que o inimigo, ou parte dele, introjete a culpa conscientemente e, a cada novo ataque, pergunte a si mesmo: onde errei? E intensifique as propostas de paz através de concessões e pagamentos. O segundo fator é a universalização da culpa, isto é, convencer ao resto do mundo de adotar o ponto de vista do atacante e buscar mecanismos internacionais corrompidos para avalizar e legitimar o agressor – que, tendo sua condição de vítima assim reconhecida, justifica e intensifica os ataques - e condenar o agredido que fica cada vez mais acuado pela tripla oposição: do inimigo, da comunidade internacional e de sua própria quinta coluna.
É claro que estou falando do que vem ocorrendo no Estado de Israel. Parte do povo Judeu aceitou esta condição e alimenta a assimetria com que a guerra vem sendo travada e se intensificando. É o caso, entre outros, do movimento Paz Agora e a esquerda judaica que se vê servindo a dois senhores: à sua condição de Judeus e à sua ideologia em defesa dos ‘povos oprimidos’. E o inimigo sabe explorar com maestria sua falsa condição de oprimidos e defensores de ‘seu’ território frente à ‘agressão’ israelense, a qual, sempre que é efetiva, é considerada escandalosamente ‘desproporcional’. Até as autoridades israelenses se vêem obrigadas pela pressão externa somada à interna, a interminavelmente assinar acordo após acordo, sabendo de antemão – como todo mundo sabe, aliás – que não há nenhuma intenção de cumpri-los por parte dos ‘palestinos’ enquanto Israel fica obrigado, pelas suas próprias leis e tradições, a respeitá-los. Finalmente, não é à toa que foram os Judeus a receber as Tábuas da Lei, base de toda a estrutura jurídica ocidental.
Para alimentar a divisão interna em Israel, o inimigo age em bloco, mas finge estar também dividido entre ‘radicais’ e ‘moderados’ e estende a mão sabendo que a quinta coluna está ávida para conversar e acabar com a guerra. Chega ao ponto de terroristas contumazes fingirem aceitar a existência de Israel – quando, em seus discursos em árabe nas mesquitas dizem ‘invasor sionista’ – pois assim conseguem apoio da ‘comunidade internacional’ e condenação da corrupta ONU, onde imperam ditaduras esquerdistas e totalitarismo teológicos islâmicos.
Parece-me que as autoridades israelenses entendem esta situação com clareza, mas ficam de mãos amarradas pela oposição interna, a pior de todas.
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