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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Escola: “Consciência crítica”, o refúgio dos canalhas e Por uma escola sem partido

REINALDO AZEVEDO
Quarta-feira, Novembro 19, 2008

Segue o comentário de um professor. Volto depois:

Reinaldo, sou professor de História numa escola pública. No início do ano tive um atrito com a professora de Geografia/Sociologia da escola. Ela veio tirar satisfações porque eu estaria colocando alunos contra suas aulas ao fazer uma abordagem diferente das que ela fazia sobre determinado tema.

Extremamente indignada, dizia que eu devia tomar cuidado para não influenciar a "cabeça" dos alunos e que isso era muito sério. E veio com todo esse trololó de consciência crítica e blablablá... E, mais grave, fazia-se de vítima, pois apenas estava conscientizando os alunos contra a "sociedade de consumo e contra os EUA".

Motivo da confusão? Tive a infelicidade de defender a ação norte-americana na Bósnia, criticar o nacionalismo sérvio e o Milosevic. Um pecado, segundo ela, pois os americanos só foram lá para levar a sociedade de consumo, o que tornaria toda a região vítima do imperialismo.

Resumindo, em sua ótica autoritária, eu deveria seguir o péssimo livro didático que a escola adota e não discordar das "verdades inquestionáveis" que ele nos revela.

Se discordo, estou fazendo a "cabeça dos alunos".
Acredita?
E eles? Estão fazendo o que?
Edson Paiva

Comento
Acredito, sim, Edson. A “consciência crítica” é o refúgio e a desculpa da canalha para fazer proselitismo ideológico.


***

POR UMA ESCOLA SEM PARTIDO


Sim, VEJA voltará a fazer reportagens sobre a manipulação ideológica nas escolas, especialmente no ensino de história e geografia. E que se note: chegou a hora de trazer os pais para esse debate. A responsabilidade maior pela educação dos filhos, afinal, é deles. Essa é, sem dúvida, a conta mais pesada. E, é óbvio, eles pagam caro pela escola, seja a particular, seja a pública — sustentada pelos impostos. Um professor que renuncia aos fatos para fazer proselitismo ideológico comete uma variante do assédio moral. A questão não diz respeito apenas ao colégio A, B ou C — e isso não isenta o A, o B ou C. A dimensão é verdadeiramente (an)alfabética.

O tema é caro à revista, como sabem. Há três meses, VEJA dedicou-lhe uma capa. Assim começa a reportagem de Monica Weinberg e Camila Pereira, com a ilustração que se vê acima:

Tema para reflexão: vale a pena usar chocadeiras artificiais para acelerar a produção de frango? Deu-se com isso o início de uma das aulas de geografia no Colégio Ateneu Salesiano Dom Bosco, de Goiânia, escola particular que aparece entre as melhores do país em rankings oficiais. Da platéia, formada por alunos às vésperas do vestibular, alguém diz: "Com as chocadeiras, o homem altera o ritmo da vida pelo lucro". O professor Márcio Santos vibra. "Você disse tudo! O homem se perdeu na necessidade de fazer negócio, ter lucro, exportar." E põe-se a cantar freneticamente Homem Primata / Capitalismo Selvagem / Ôôô (dos Titãs), no que é acompanhado por um enérgico coro de estudantes. Cena muito parecida teve lugar em uma classe do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, outro que figura entre os melhores do país. Lá, a aula de história era animada por um jogral. No comando, o professor Paulo Fiovaranti. Ele pergunta: "Quem provoca o desemprego dos trabalhadores, gurizada?". Respondem os alunos: "A máquina". Indaga, mais uma vez, o professor: "Quem são os donos das máquinas?" E os estudantes: "Os empresários!". É a deixa para Fiovaranti encerrar com a lição de casa: "Então, quem tem pai empresário aqui deve questionar se ele está fazendo isso". Fim de aula.

Se você clicar aqui, terá acesso a uma grotesca seleção de bobagens, todas elas ideologicamente orientadas, publicada pela revista. E vai notar que a estupidez é democrática: não poupa escola ou editora. A íntegra do texto que cito acima está aqui, com links abertos para reportagens e quadros.

Fred Martins, leitor deste blog, professor, comenta: “Sou professor de sociologia, filosofia, história e geografia. Existe mesmo essa imposição ideológica nas escolas, sobretudo nas particulares, Reinaldo, por incrível que pareça. Se você tenta ensinar que a Igreja teve um papel decisivo durante a Idade Média para manter a civilização ocidental, pode receber a acusação de estar sendo ‘muito doutrinador’ (...). Se eu ensino que Karl Marx é apenas uma opinião dentre tantas outras da sociologia e que [Max] Weber explica muito mais satisfatoriamente o capitalismo e suas contradições do ponto de vista dos fatos, corro o risco de ser demitido por estar contrariando ‘os grandes estudiosos do tema’.”

Não, Fred, não há nada de “incrível” no fato de que a tentativa de doutrinação é ainda maior das escolas particulares. A militância marxista — e, evidentemente, petista — do magistério foi em busca de alguns confortos oferecidos pelo nefasto capitalismo com o qual ela ambiciona acabar. E decidiu aparelhar a escola particular, também os cursinhos, para “dizer umas verdades” para os “filhos da burguesia” que ela tanto despreza. Essa gente chama esse proselitismo vagabundo e ignorante de “educação crítica”.

Ali Kamel, em O Globo, escreveu artigos essenciais sobre a manipulação ideológica dos livros didáticos. Neste blog, essa é uma preocupação permanente. Ao fim deste texto, vocês encontrarão uma série de links sobre o tema — apontando, também, as distorções hoje presentes nas provas oficiais. VEJA, reitero, certamente voltará à questão. Afinal, não custa lembrar que a prática contribui para fazer da escola brasileira uma das piores do mundo — e as particulares não escapam desse desempenho pífio. Que os pais sejam chamados ao debate, como fazem aqueles que hoje colaboram com o site Escola Sem Partido.

Leia ainda neste blog:

PS: Não enviem comentários para esses posts antigos. Acreditem: ninguém os lerá. Quem quiser escrever a respeito deve fazê-lo neste post.

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