Abaixo, em vermelho, vai uma reportagem da Folha sobre a reunião de ministros de Lula para declarar apoio à candidata Marta Suplicy. Eu comento em azul. Realmente um estouro! Todos aqueles petistas poderosos num mesmo hotel? Mais o argentino Felipe Belisário Wermus, o autoproclamado francês Luís Favre? Certamente foi preciso reforçar a segurança do estabelecimento...
Eis o primeiro efeito da ação de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete de Lula: levar para a cidade a tropa de, por assim dizer, elite do governo. E todos eles têm uma receita muito clara para a cidade. Se estou percebendo direito, estão querendo convencer os paulistanos de que eles não sabem votar. Dilma Rousseff, a chefa das cheerleaders — eu a imaginei de maiozinho e pompons e quase caio no choro — até inventou a óbvia inverdade de que Gilberto Kassab já estaria se declarando vencedor. Onde? Cadê? Por enquanto, quem está dizendo que ele vence por 17 pontos são as pesquisas — e olhem que elas erraram mais a favor de Marta do que do atual prefeito, não é mesmo? Mas vamos adiante:
Em evento de apoio a Marta Suplicy (PT) ontem em São Paulo, ministros do governo Lula associaram o prefeito Gilberto Kassab (DEM) à "elite", ao "conservadorismo" e até o compararam a um "síndico".
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) afirmou que o adversário de Marta "utiliza as primeiras pesquisas para subir no salto alto e sentar na cadeira de prefeito" antes da hora. "É prova de soberba, de elitismo e de descompromisso com a democracia", disse a ministra.
Prova de descompromisso com a democracia? Dilma está dizendo que Kassab não respeita a democracia? A acusação é grave e irresponsável. Especialmente porque toda a carreira do prefeito se deu no regime democrático. Quem já integrou uma organização terrorista, que respondeu pela morte de pessoas inocentes, que nada tinham a ver com seus delírios, não pode sair por aí acusando o prefeito da maior cidade do país, com 61% de aprovação, de “descompromisso com a democracia”. À diferença de Dilma, Kassab não é um neoconvertido. Ela só se tornou, vá lá, democrata porque foi mal-sucedida na tentativa de implantar uma ditadura comunista no Brasil. Isso está claro ou preciso desenhar com mais dados de sua biografia?
O titular da Justiça, Tarso Genro, também foi duro. "Marta quebrou os tabus mais atrasados e conservadores de uma elite que nunca conheceu sua cidade", afirmou Tarso, sobre o período em que a petista governou a cidade (2001-2004). "Por isso recebeu um brutal preconceito da elite através da maioria da imprensa tradicional", disse.
Esse é meu predileto, o poeta de mão cheia. O que Tarso Genro sabe sobre São Paulo, ele que vem de um Estado onde o PT amarga hoje um dos maiores índices de rejeição? Os gaúchos no geral, e os porto-alegrenses no particular, devem saber muito bem por quê. Se o povo estava com Marta, e só a elite a rejeitou, por que não foi reeleita em 2004? Por que só perde para Maluf no quesito “rejeição” em 2008? Por que está 17 pontos atrás de seu adversário no segundo turno? De atraso e conservadorismo, Tarso entende. E de golpismo também. No 19º dia do segundo mandato de FHC, ele escreveu um artigo defendendo a convocação de eleições gerais. Durante o mensalão, inventou a tese de que tudo não passava de uma articulação golpista. Num de seus já célebres poemas, conta-nos que uma de suas vovós falava com lagartos. A fantasia parece ser um fantalismo genético.
Marta foi chamada de "líder" que levou o nome de São Paulo para fora do país. "Não podemos ter um síndico conservador dirigindo o destino de uma das maiores metrópoles do mundo", disse Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).
Quem fala? Luiz Dulci? Aquele que levou um beiço de Fernando Pimentel em Minas, vendo naufragar todas as suas tentativas de articular a política em seu próprio estado? É curioso que o petismo fale em “síndico”: é o reconhecimento implícito de que a cidade está sendo bem-administrada. O bom síndico deixa dinheiro em caixa, como faz Kassab, em vez de passar ao sucessor uma dívida de R$ 1,8 bilhão, como fez Marta. A obra do bom síndico funciona. A da líder, a exemplo dos túneis da Rebouças e da Cidade Jardim, ou desabam ou enchem d’água durante as chuva. Enquanto a responsável passa férias em Milão. Caros e inúteis, ainda tiveram de ser reformados mal tinham sido inaugurados. Isso é questão de fato, não de gosto.
Vice de Marta, Aldo Rebelo (PC do B) também usou a imagem do "síndico" e explorou as diferenças com o DEM. "Graças à capitulação de setores do PSDB, São Paulo se transformou no último barco à deriva para os náufragos das forças conservadoras do Brasil."
Claro, temos de nos entregar à liderança de Aldo Rebelo, o revolucionário do Saci Pererê, o líder do grande PC do B, este partido moderno que ainda não reconhece as críticas que Krushev fez a Stálin. Que destino o desse moço, hein? Está sempre na aba de nhonhôs e sinhás: na origem, a família Teotônio Vilela, nas Alagoas; agora, Marta Suplicy.
"Não vou me conformar em ver São Paulo na mão de uma direita disfarçada", disse o ministro Carlos Lupi (Trabalho).
Carlos Lupi? Bem, trecho de uma reportagem da VEJA: “A promiscuidade do sindicalismo com o poder, empresários, dinheiro e mordomias está na gênese da Força Sindical, criada em 1991, quando o ex-presidente Fernando Collor de Mello reuniu um grupo de empresários para financiar o modelo de representação dos trabalhadores que ele considerava ideal. O resultado não poderia ser outro: a central, que hoje agrega quase 1 000 sindicatos, um partido político, o PDT, e controla de cima a baixo um dos ministérios mais importantes do governo, o do Trabalho, está no epicentro de um escândalo que envolve a participação direta de seus líderes em casos de corrupção, desvio de dinheiro público, tráfico de influência e enriquecimento ilícito.” (leia íntegra aqui)
Já o ministro da Cultura e filiado ao PV, Juca Ferreira, criticou a decisão do seu partido de aderir a Kassab. "O PV aqui de São Paulo cometeu um erro: teve uma escoliose à direita."
Juca Ferreira? Quem é esse? Ele canta? Ele dança? Ele sapateia? Engole fogo? Engole espada? Toca pandeiro? Quem é Juca Ferreira, deus do Céu? Eu deveria saber?
O escritor Fernando Morais, militante histórico do PMDB, fez o mesmo -sua sigla também apóia o prefeito. "Uma pessoa que vive de fazer biografias como eu não pode sujar a própria biografia. Não voto no PFL [hoje DEM] da ditadura."
Ah, é verdade. Não dá mesmo para sujar a biografia de Fernando Morais, ele tem toda razão. Pobre coitado! A última vez que vi este senhor na televisão, estava cantando as glórias de Hugo Chávez. Pertence àquela parcela de deslumbrados que estão sempre grudados nos países baixos de algum poderoso. Foi assim com Orestes Quércia quando este era governador de estado e chegou a ser visto como presidenciável viável. Agora virou porta-voz entusiasmado do petismo.
Este homem limpo chegou a escrever a biografia de José Dirceu, que, vejam só, foi misteriosamente roubada. Fernando Morais, saibam, não vota no DEM — o que certamente deixa os eleitores do partido mais relaxados. Para um biógrafo, ele é péssimo historiador. O PFL a que ele alude se formou justamente como um dos instrumentos para pôr fim à ditadura. Sem o partido, Paulo Maluf teria vencido no Colégio Eleitoral. E, hoje, Morais, dada a sua trajetória, estaria produzido palavras de ordem para os herdeiros do malufismo. Não estranha que confunda tudo e inverta os sinais. A sua versão de Cuba, A Ilha, era um paraíso. A biografia que fez de Olga Benário eliminou da história as atrocidades cometidas pelos comunistas.
Marta foi conciliadora e lançou um "Compromisso com São Paulo", nos moldes da "Carta ao Povo Brasileiro" que Lula divulgou na campanha presidencial de 2002.
No documento, a petista reitera suas promessas, fala na criação de um "Conselho da Cidade", algo parecido com o Conselhão de Lula, para lidar com problemas crônicos do município e chega até a incorporar propostas de Geraldo Alckmin (PSDB), derrotado no primeiro turno.
Faz sentido. Se o Conselho não dá certo em escala federal, é o caso de repeti-lo em escala municipal...
O chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, se licenciará nos próximos dias para ajudar as campanhas do PT em São Paulo e no Grande ABC. Ele diz não se tratar de "intervenção".
Serra foi irônico ontem, quero crer, ao afirmar que Gilberto Carvalho iria elevar o nível da campanha petista em São Paulo. Sinal de que, bem, acredita que o nível pode ser elevado.
Vamos ver. Marta está bem perto do piso histórico do eleitorado do PT na cidade. Talvez ainda caia mais um pouquinho e depois suba um tantinho. Os disparos do petismo, na tal reunião, indicam que os petistas estão sem rumo. Como não conseguem atacar a gestão de Kassab, então resolveram caracterizá-lo como um representante do “Mal”, do “conservadorismo”, fazendo mera guerrilha ideológica.
Quem diria que o Tatuapé, um dia, se transformaria num celeiro de conservadores, não é mesmo? Mais Vila Matilde, Penha, Freguesia do Ó... Esse discurso é de um ridículo atroz. É conversa de desesperados. Mas desesperados que, como se vê, jamais renunciam à truculência.
Mas a cereja do bolo é mesmo Dilma Rousseff, titular da Pasta em que se tentou armar uma das trapaças contra o estado de direito (o dossiê anti-FHC), como professora de democracia.
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