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sábado, 18 de outubro de 2008

Aloprados e truculentos

MOVIMENTO ORDEM VIGÍLIA CONTRA A CORRUPÇÃO - MOVCC

 Sete dias depois de veicular uma das maiores barbaridades eleitorais dos últimos tempos, o marqueteiro João Saldanha admitiu um “erro de avaliação”. O comandante da campanha de Marta Suplicy, João Santanna, em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da Folha de S. Paulo, lamentou profundamente não ter previsto a reação da opinião pública.Opinião do RPC – Por Alberto Dines

Aprendiz de Duda Mendonça, o novo Dr. Goebbels não lamentou o pérfido preconceito, nem a ostensiva introdução do lixo no debate eleitoral. A admissão do erro não foi um dever de consciência, esforço para mostrar alguma urbanidade e decência, na realidade foi mais uma tentativa de livrar a ex-campeã da tolerância do papel de ícone da arrogância e da presunção.

A solução “relaxa e goza” proposta pela então ministra do Turismo para enfrentar o caos aéreo foi evidentemente uma gafe, fruto da desatenção ou do despreparo, mas, como sabem psicólogos, psicanalistas e inclusive a autora do despautério, gafes são lapsos que não acontecem por acaso. Armazenados em algum recanto da alma, soltam-se na primeira oportunidade.

As duas perguntinhas fatais – “Ele é casado? Ele tem filhos?” – foram estudadas, foram estratégicas, resultaram de uma bateria de “pesquisas qualitativas” onde os marqueteiros identificaram uma oportunidade para cobrar esclarecimentos a respeito da intimidade de Gilberto Kassab.


Imaginaram que o eleitor engoliria a maldade. Não contaram com a internet onde, no mesmo dia em que começaram a ser transmitidas as primeiras mensagens (domingo, 12/10) já se abrigava uma enorme onda de protestos.

Na reta final da disputa pelo governo de São Paulo, em 2006, um pelotão de milicianos ligados à candidatura de Aloísio Mercadante também inventou uma operação suicida: a divulgação através da revista “IstoÉ” de um falso dossiê contra o candidato José Serra, o famigerado Dossiê Vedoin. Apesar da repercussão, como se tratava de grave crime eleitoral o então-ministro da Justiça Márcio Thomas Bastos associado ao então diretor-geral da Polícia Federal deram um jeito de livrar da merecida condenação os “aloprados” – a designação é do próprio presidente Lula.

A partir daquele episódio, aloprar e seus derivados, incorporaram-se ao nosso riquíssimo vocabulário político como sinônimos de paranóia e falta de escrúpulos. Insinuar que Gilberto Kassab pode ser homossexual porque não é casado e não tem filhos não constitui crime. É um ardiloso desvio de conduta, manifestação de preconceito, falha ética, irregularidade que o TRE de S. Paulo puniu rápida e exemplarmente.

É possível que o “deslize” (como o classificaram círculos petistas que condenaram as perguntas, mas não a candidata) possa ser absorvido e superado. O saldo, porém, dificilmente será esquecido: a percepção do eleitorado avançou, a veneranda passividade e complacência começam a ser substituídas por um senso de vigilância e responsabilidade social.

A ameaça de novos surtos de alopramento é concreta. A possibilidade da derrota de candidatos próximos ao governo federal em cidades-chave, como Rio de Janeiro, S. Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, pode estimular a insensatez, os desvarios e o seu ingrediente mais perigoso: o vale-tudo político.

Convém lembrar que nesta quinta-feira, um dos mais animados participantes do bafafá que resultou no confronto entre as polícias civil e militar em S. Paulo, era o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, presidente da Força Sindical que corre o perigo de perder o mandato por conta de uma sucessão de estrepolias com dinheiro público. Gente assim, ameaçada de perder as regalias, embarca sem qualquer constrangimento em aventuras e desatinos. Diferentes do Dr. Goebbels, não apelam para perguntas insidiosas. Preferem a truculência. - Alberto Dines é jornalista.




VALE-TUDO ELEITORAL
As campanhas de Marta Suplicy, em São Paulo, e de Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, lançam mão de golpes baixos contra seus adversários, Kassab e Gabeira. - Fábio Portela e Ronaldo França - Veja


Disputas eleitorais aguerridas fazem parte do cardápio de qualquer democracia digna deste nome. E, quando a temperatura da batalha está muito alta, é desculpável que os candidatos subam um pouco o tom das críticas mútuas. O que não é admissível é que, em nome da disputa pelo poder, sejam jogadas no lixo as regras mínimas da ética, da decência e da responsabilidade. É isso que vem ocorrendo em São Paulo e no Rio de Janeiro, as duas maiores cidades do país. As candidaturas de Marta Suplicy, do PT paulista, e de Eduardo Paes, do PMDB fluminense, transformaram a reta final das eleições municipais num período que será lembrado com vergonha. Para tirarem votos de seus adversários – Gilberto Kassab, do DEM, e Fernando Gabeira, do PV, respectivamente –, as campanhas de Marta e Paes degeneraram em um caldo de insinuações preconceituosas de caráter sexual, calúnias publicadas em panfletos clandestinos e uso ostensivo da máquina pública.

A delinqüência eleitoral culminou, na última quinta-feira, com a transformação das ruas próximas ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em uma praça de guerra.

O que parecia ser um confronto entre a Polícia Civil, que está em greve e tentava invadir o palácio, e a Polícia Militar, que defendia o prédio, era, na verdade, uma ação engendrada por sindicalistas irresponsáveis, liderados pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que preside a Força Sindical apesar de ser acusado de desviar dinheiro do BNDES com a ajuda do dono de um prostíbulo. Paulinho deveria ter um único diálogo com a polícia: a confissão. Deram-lhe a chance de seguir outro caminho. Aliado de Marta, ele insuflou os policiais contra o governador José Serra, para atingir a candidatura de Kassab, apoiado pelo tucano. Paulinho escancarou seu objetivo em um discurso feito a policiais na semana passada: "Estamos chegando às vésperas do segundo turno. O chefe de vocês, que é o José Serra, sabe que tem de ganhar as eleições. E sabe que uma greve da polícia tem repercussão nacional. A proposta que eu quero fazer aos companheiros é que, na semana que vem, na quinta-feira, a gente faça uma passeata saindo do Morumbi, com carro de som, com bandeira, com faixa. E, do Morumbi, vamos para a porta do Palácio dos Bandeirantes". Ofereceu 200 carros de som e apoio da Força Sindical para encorpar a passeata.

Os grevistas compareceram armados – o que configura sedição, e não protesto trabalhista. O saldo foi o único que se podia esperar: os policiais civis entraram em confronto com os militares, que bloquearam o caminho. Houve tiroteio, ataques com armas de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Ao final, 24 pessoas ficaram feridas, incluindo o coronel da PM Danilo Antão Fernandes, baleado com uma pistola de calibre 9 milímetros. Paulinho saiu ileso. O sindicalista mandou os policiais e seus colegas para os escudos da polícia, enquanto estimulava a turba da retaguarda. Juntamente com ele estava o líder do PT na Assembléia Legislativa, Roberto Felício. "Não foi um duelo entre forças policiais, mas um movimento incitado politicamente. Houve participação da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, ligada ao PDT", denunciou o governador José Serra.

Não foi o primeiro ato aloprado da campanha de Marta. No último domingo, a petista desceu ao subsolo ao divulgar um comercial de TV com especulações maliciosas sobre a sexualidade do prefeito Kassab, de 48 anos, solteiro e sem filhos. Para justificar a ignomínia, a petista e seu marqueteiro, João Santana, botaram, é claro, a culpa na imprensa. Disseram que os jornalistas têm a mente poluída e vêem preconceito onde ele não existe. A Justiça Eleitoral não se convenceu e puniu a campanha petista com a perda de 104 minutos de comerciais no horário político da TV e 102 no do rádio. O episódio, que apequena a biografia de Marta e Santana, não teve impacto eleitoral: Kassab segue liderando com folga a disputa. De acordo com o Datafolha, ele tem 53% das intenções de voto, contra 37% da petista.

Imaginava-se que o segundo turno no Rio daria lugar a um debate de alto nível, mas lá também a campanha descambou para a baixaria. O alvo foi o verde Gabeira, cujo desempenho surpreendente tem tirado do sério a campanha de Eduardo Paes. Segundo o Datafolha, ele tem 44% das intenções de voto, contra 42% do peemedebista. Nas duas últimas semanas, foram distribuídos folhetos em que o verde é acusado de discriminar os suburbanos. O objetivo era explorar uma gafe de Gabeira, que se referiu à vereadora tucana Lucinha, a mais votada da cidade, como uma "analfabeta política, com uma visão suburbana". Paes tomou as dores de Lucinha, não para defendê-la, mas para jogar o adversário contra o eleitorado da Zona Oeste da cidade, que deverá ser decisivo nesta eleição. Peemedebistas organizaram ali uma passeata cujo mote era "fora Gabeira" e começaram a distribuir os tais panfletos, que não traziam a assinatura de Paes. Na semana passada, o Tribunal Regional Eleitoral flagrou uma Kombi lotada com esses papéis. Os ocupantes do veículo admitiram trabalhar para o PMDB.

A campanha carioca foi manchada, ainda, pelo uso da máquina estadual. O governador Sérgio Cabral não poupa esforços para beneficiar Paes, seu aliado. Depois de um quebra-quebra de cabos eleitorais, seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, entregou à campanha de Paes a ficha policial de um militante do PV agredido por peemedebistas. Encabeçou, portanto, uma tentativa de desqualificar a vítima para limpar a barra do agressor. Nem o futebol escapou. No Estádio do Maracanã, há um serviço que permite aos torcedores mandar mensagens de texto de seus celulares para ser exibidas no placar eletrônico, durante os jogos. Numa partida entre Flamengo e Atlético Mineiro, o telão do estádio exibiu os dizeres "Parabéns, Eduardo Paes" e "O subúrbio merece respeito". Nenhuma das mensagens dos eleitores de Gabeira foi exibida. Outro gol contra do governo Cabral.

Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, baixaria não dá resultado. "O eleitor é esperto e bem informado. Esse tipo de ação não se reverte em votos." Suas pesquisas confirmam a análise. A uma semana da eleição, os dois candidatos que partiram para o vale-tudo continuam atrás de seus oponentes. Seria muito bom se os candidatos que enfiaram o pé na lama se esforçassem para manter pelo menos a cabeça fora dela.




KASSAB LIDERA ENQUETE FEITA NA USP
Sondagem realizada na Cidade Universitária da USP mostra que, lá, Gilberto Kassab é o preferido dos eleitores.

Enquete feita entre os dias 8 e 10 de outubro com 443 pessoas do campus revela que o prefeito venceria o segundo turno lá com 44,3%. Marta Suplicy teria 31,4%. Os votos nulos somam 17,4%, e os indecisos, 5,6%. O levantamento foi publicado pelo "Jornal do Campus", feito por alunos da ECA (Escola de Comunicação e Artes). A sondagem, segundo os responsáveis pelo jornal, tem representação proporcional de todas as unidades da USP e de todas as categorias da Cidade Universitária, alunos, professores e funcionários. Leia mais 
aqui, no Blog Campanha no Ar





PT FICA EM SEXTO NO NORDESTE
Mesmo com o Bolsa Família, partido de Lula amarga desempenho insuficiente na região

O PT não conseguiu eleger um número expressivo de prefeitos no Nordeste, apesar da farta distribuição de benefícios do Bolsa Família na região. O percentual de políticos eleitos dobrou em relação a 2004, mas o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou em sexto lugar na região, atrás de grandes legendas, como PMDB, PSDB e DEM, e até mesmo de partidos médios, como o PSB e o PTB. Dirigentes petistas e até mesmo líderes da oposição imaginavam que o principal programa social do governo Lula traria dividendos eleitorais ao PT no Nordeste já nestas eleições. Na região, foram distribuídas 5,5 milhões de bolsas (11%) numa população de 50 milhões de pessoas. Como o governo considera 4,5 pessoas por família, metade da população nordestina estaria sendo atendida.

O maior percentual de prefeitos eleitos pelo PT ocorreu na Região Norte (14,8%), onde o percentual de bolsas-família também foi elevado (7,5%). O número de prefeitos eleitos também foi alto no Sul (16,6% do total na região). Nesses estados, o percentual de bolsas concedidas foi o menor (3,3%), o que demonstra, mais uma vez, a desvinculação desse programa com o resultado das eleições municipais. Isso não significa, porém, que o programa não tenha repercussões eleitorais numa campanha presidencial, onde a influência do presidente da República é maior. Por Lúcio Vaz do Correio Braziliense

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