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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ACABOU A FARRA CHAVISTA DO PETRÓLEO?!

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ACABOU A FARRA CHAVISTA DO PETRÓLEO?!

Publicado na quinta-feira, 16 de outubro de 2008 - Tradução de Francisco Vianna

O colapso financeiro de 2008 não perdoa nenhuma ideologia: pulverizou a escola do capitalismo especulativo e desregulamentado do governo Bush e arruinará também o populismo de esquerda do presidente venezuelano Hugo Chávez, com base nos altos preços do petróleo.

Quase todos os economistas coincidem em que a Venezuela será o país latino-americano mais duramente golpeado pela recessão mundial que se avizinha (para desespero da Argentina).

Isso se deve ao fato de que a Venezuela obtém 94 % de sua renda em dólares e outras moedas fortes estrangeiras da exportação do petróleo cru, e os preções dessa mercadoria bateram um recorde de queda de US$146 o barril no mês de julho para algo em torno de US$75 o barril na quarta-feira de ontem.

Numa recessão global, os países industrializados comprarão menos petróleo. O banco financeiro Goldman Sachs avaliou esta semana que os preços do cru cairão em média a US$70 o barril até o fim desse ano, e que podem baixar até chegar a US$50 o barril caso a recessão mundial se aprofunde.

Com tais preços, Chávez terá problemas para manter seus planos ‘sociais’ em seu país, o que poderá agravar as tensões que crescem entre os venezuelanos. E as grandiosas promessas de ajuda econômica que Chávez faz diariamente a outros países serão ainda mais difíceis de serem cumpridas.

A ‘PFC Energy’, uma empresa de consultoria com sede em Washington, disse que a Venezuela necessitará que o preço do petróleo se situe a peço menos US$97 o barril para que possa equilibrar a sua balança de pagamentos externos em 2009, uma cifra muito superior aos preços atuais. Rose Anne Franco, uma das autoras do informe da PFC, me disse que essa avaliação não inclui milhares de milhões de dólares prometidos por Chávez a outros países (como à Argentina, por exemplo), e que ainda não foram – e provavelmente não serão - oficializados.

Os funcionários do governo venezuelano dizem que o orçamento de 2009 foi todo calculado com o preço mínimo do petróleo a US$60 o barril, mas economistas independentes concordam que isso não quer dizer muita coisa, porque os presidentes venezuelanos sempre orçaram o petróleo a preços baixos para poderem gastar a seu bel prazer os excedentes que porventura consigam quando o produto alcança preços mais elevados, e  Chávez tem feito isso mais do que ninguém.

''Na América latina, a Venezuela poderá ser sem sombra de dúvida  o principal perdedor caso os preços do petróleo se mantenham baixos, pela imensa importância dessa mercadoria na economia do país'', disse Augusto de La Torre, o principal economista para a América latina do Banco Mundial. “A coisa pode ficar muito difícil, porque há um ritmo de gasto público muito elevado e não vai ser fácil politicamente reduzir esse  gasto público para ajustá-lo a um menor nível de renda do estado''.

O maior problema da Venezuela é que, embora os preços do petróleo tenham quintuplicado nos últimos seis anos, o gasto público também cresceu proporcionalmente. Para piorar as coisas, o governo de Chávez não incrementou suficientemente as reservas estrangeiras do país para poder enfrentar os anos de vacas magras e não pode aumentar a produção de petróleo para compensar a queda de preços porque muitas das instalações do monopólio estatal PDVSA não foram adequadamente mantidas e aumentadas.

''Acabou a ‘petro-festa’ chavista, e virá um ajuste muito importante'', disse Ramón Espinasa, assessor de energia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-chefe dos economistas da PDVSA. “Vai ser um choque forte em função da inércia do aumento de gasto público dos últimos seis anos''.

Um boletim informativo venezuelano, o VENECOMY, disse que o país poderá estar “no limiar de uma das piores crises econômicas de sua história''.

Com o preço do petróleo no nivel atual, é provável que o governo desvalorize a moeda antes do fim do ano, ou que aumente o imposto sobre o valor agregado, ou que anuncie um corte drástico do gasto público, ou que faça uma combinação de todas essas coisas, disse a publicação. Também começará ''a procurar bodes expiatórios, e como Bush já não está disponível, talvez escolha o setor privado venezuelano'', especula o relatório.

Minha opinião: a queda do preço do petróleo não impedirá Chávez de continuar gastando muito acima de suas possibilidades durante as próximas semanas, porque a primeira prioridade do ‘presidente narcisista-leninista’ da Venezuela será a de ganhar as eleições estaduais de fins de novembro.

E tampouco é provável que a recessão global provoque a queda de Chávez do poder. Ele agora controla as reservas do Banco Central, que  usa para absorver um pouco o impacto da crise. E sempre pode por a culpa no ''império'' norte-americano pelo inevitável aperto de cinto que os venezuelanos terão que se submeter.

Mas, com os atuais preços do petróleo, o ‘petro-populismo’ chavista ficará sem combustível (que me perdoem o trocadilho). A megalomania do presidente venezuelano sempre tem sido proporcional à alta dos preços do petróleo. E com tais preços em queda livre, preparem-se para assistir a um Chávez menos loquaz, ou a um Chávez que continuará falando até pelos cotovelos, porém com cada vez menos gente que lhe preste atenção.

Saudações,

VIANNA

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