Por Olavo de Carvalho (*), 09 de dezembro de 2006
Resumo: A esquerda cresceu sozinha, no espaço vazio deixado por uma direita cujo único projeto político era ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, descaracterizar-se ideologicamente e mimetizar o discurso da moda, ditado pelos adversários.
© 2006 MidiaSemMascara.org
As vitórias fáceis de Lula e Chávez, depois de outras tantas obtidas no continente ao longo de uma ascensão esquerdista cada vez mais irresistível, são uma ocasião excelente para lembrar a seus adversários – ou vítimas – algumas verdades óbvias e arquiprovadas, cujo conhecimento teria podido salvá-los se obtido em tempo, mas que eles sempre se recusaram a ouvir.
Primeira. O presente sucesso esquerdista começou a ser preparado nos anos 60, com a fundação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas), primeira edição do que viria a ser na década de 90 o Foro de São Paulo (aqui, aqui e na pagina do blog).
Durante todo esse tempo, nada se fez na direita para criar uma organização equivalente e contrária (não venham me falar de Operação Condor, um arranjo de improviso, restrito à esfera policial-militar, sem nenhum alcance político ou cultural). A esquerda cresceu sozinha, no espaço vazio deixado por uma direita cujo único projeto político era ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, descaracterizar-se ideologicamente e mimetizar o discurso da moda, ditado pelos adversários.
Segunda. Em parte pela falsa sensação de tranqüilidade propiciada pelas ditaduras militares, em parte por seu próprio economicismo contumaz e sua decorrente indigência intelectual, a direita entregou aos adversários o domínio das instituições culturais e de ensino, justamente na época em que a influência das idéias de Antonio Gramsci recomendava aos esquerdistas a conquista prioritária desses espaços.
À progressiva ocupação de espaços correspondeu a ampliação das áreas de interesse intelectual da esquerda e concomitante retração na direita. Já na década de 80 o pensamento esquerdista mostrava presença em todas as esferas do debate público – educação, moral, psicologia, letras e artes etc. -, enquanto a direita se limitava cada vez mais a temas econômicos e ao puro argumento da eficácia, propositadamente amputado de justificação moral ou religiosa.
Terceira. A autocastração intelectual da direita latino-americana, freqüentemente legitimada em nome de um pragmatismo apolítico muito do agrado das classes empresariais, recebeu um tremendo incentivo do Concílio Vaticano II, que abriu as portas para o diálogo com os marxistas enquanto reprimia e marginalizava todo pensamento católico conservador, que acabou por se recolher às catacumbas.
Nas esferas direitistas, intoxicadas de weberianismo prêt-à-porter, essa tragédia chegou a ser celebrada como o sinal auspicioso de um grande progresso para a democracia capitalista, travada, segundo tagarelas liberais, pela moral católica.
Foi assim que, dominando o pensamento religioso do continente, a esquerda se investiu do papel sacerdotal e profético de guardiã da ética e da moralidade, deixando aos adversários apenas o espaço do puro discurso pragmático que os tornava ainda mais suspeitos aos olhos da multidão.
Quarta. A esquerda latino-americana tem um projeto histórico-civilizacional abrangente, ao qual corresponde uma estratégia integrada e de longo prazo, com esquemas de ação permanente em todos os setores da vida social, cultural e política.
Contra isso a direita não tem oferecido senão uma resistência esporádica e pontual, limitada sobretudo a esforços eleitorais que, contra esse pano de fundo inteiramente desenhado pelo adversário, não poderiam ser senão ilusórios, impotentes e condenados ao fracasso.
Publicado pelo Diário do Comércio em 04/12/2006
(*) Olavo de Carvalho é jornalista, escritor, filósofo e Editor do MÍDIA SEM MÁSCARA.
Resumo: A esquerda cresceu sozinha, no espaço vazio deixado por uma direita cujo único projeto político era ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, descaracterizar-se ideologicamente e mimetizar o discurso da moda, ditado pelos adversários.
© 2006 MidiaSemMascara.org
As vitórias fáceis de Lula e Chávez, depois de outras tantas obtidas no continente ao longo de uma ascensão esquerdista cada vez mais irresistível, são uma ocasião excelente para lembrar a seus adversários – ou vítimas – algumas verdades óbvias e arquiprovadas, cujo conhecimento teria podido salvá-los se obtido em tempo, mas que eles sempre se recusaram a ouvir.
Primeira. O presente sucesso esquerdista começou a ser preparado nos anos 60, com a fundação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas), primeira edição do que viria a ser na década de 90 o Foro de São Paulo (aqui, aqui e na pagina do blog).
Durante todo esse tempo, nada se fez na direita para criar uma organização equivalente e contrária (não venham me falar de Operação Condor, um arranjo de improviso, restrito à esfera policial-militar, sem nenhum alcance político ou cultural). A esquerda cresceu sozinha, no espaço vazio deixado por uma direita cujo único projeto político era ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, descaracterizar-se ideologicamente e mimetizar o discurso da moda, ditado pelos adversários.
Segunda. Em parte pela falsa sensação de tranqüilidade propiciada pelas ditaduras militares, em parte por seu próprio economicismo contumaz e sua decorrente indigência intelectual, a direita entregou aos adversários o domínio das instituições culturais e de ensino, justamente na época em que a influência das idéias de Antonio Gramsci recomendava aos esquerdistas a conquista prioritária desses espaços.
À progressiva ocupação de espaços correspondeu a ampliação das áreas de interesse intelectual da esquerda e concomitante retração na direita. Já na década de 80 o pensamento esquerdista mostrava presença em todas as esferas do debate público – educação, moral, psicologia, letras e artes etc. -, enquanto a direita se limitava cada vez mais a temas econômicos e ao puro argumento da eficácia, propositadamente amputado de justificação moral ou religiosa.
Terceira. A autocastração intelectual da direita latino-americana, freqüentemente legitimada em nome de um pragmatismo apolítico muito do agrado das classes empresariais, recebeu um tremendo incentivo do Concílio Vaticano II, que abriu as portas para o diálogo com os marxistas enquanto reprimia e marginalizava todo pensamento católico conservador, que acabou por se recolher às catacumbas.
Nas esferas direitistas, intoxicadas de weberianismo prêt-à-porter, essa tragédia chegou a ser celebrada como o sinal auspicioso de um grande progresso para a democracia capitalista, travada, segundo tagarelas liberais, pela moral católica.
Foi assim que, dominando o pensamento religioso do continente, a esquerda se investiu do papel sacerdotal e profético de guardiã da ética e da moralidade, deixando aos adversários apenas o espaço do puro discurso pragmático que os tornava ainda mais suspeitos aos olhos da multidão.
Quarta. A esquerda latino-americana tem um projeto histórico-civilizacional abrangente, ao qual corresponde uma estratégia integrada e de longo prazo, com esquemas de ação permanente em todos os setores da vida social, cultural e política.
Contra isso a direita não tem oferecido senão uma resistência esporádica e pontual, limitada sobretudo a esforços eleitorais que, contra esse pano de fundo inteiramente desenhado pelo adversário, não poderiam ser senão ilusórios, impotentes e condenados ao fracasso.
Publicado pelo Diário do Comércio em 04/12/2006
(*) Olavo de Carvalho é jornalista, escritor, filósofo e Editor do MÍDIA SEM MÁSCARA.
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