ROBSON BONIN | Brasília, 03 de agosto de 2008
A diplomacia brasileira está em xeque. Após cinco anos e meio investindo na aproximação com países emergentes e ampliando em 30% o número de embaixadas, o governo Lula abandonou os novos aliados em um momento crucial da Rodada de Doha e colheu um dos maiores fracassos de sua política externa.
Desenvolvida como tática para aumentar a projeção brasileira no Exterior, a estratégia de expansão do Ministério das Relações Exteriores criou embaixadas em 27 países desde 2003. A ocupação verde-amarela pelos continentes elevou de 94 para 121 o número dessas representações, e de 51 para 68 a rede de consulados.
Concentrados em sua maioria em países do bloco dos emergentes, os postos avançados, segundo o Itamaraty, têm a missão de consolidar o Brasil como o líder das nações em desenvolvimento e ampliar acordos comerciais com mercados alternativos. Esses objetivos fizeram com que o maior volume de ações se concentrasse na África, onde foram abertas 15 embaixadas. A Ásia recebeu quatro unidades e as outras oito foram espalhadas por América Central e Europa (ver quadro).
Na análise de especialistas e ex-diplomatas, porém, a política externa do governo foi equivocada. O Brasil teria escolhido nações sem importância no cenário internacional para se relacionar, negligenciando contatos com antigos parceiros do Mercosul, União Européia e Estados Unidos. Para o ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Barbosa, a política teria como foco os interesses políticos do país em conseguir um assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU):
– Foi um gesto para angariar a boa vontade dos países africanos na ONU, que não teve resultado no aumento do comércio. Basta ver o fracasso do apoio em Doha. Os países africanos ficaram contra o Brasil, junto com a China e a Índia.
O Itamaraty rebate as críticas dizendo que o interesse nos mercados distantes, por exemplo, também estaria apoiado no crescimento da projeção internacional.
– Não é só a questão comercial. É muito importante para um país ampliar a sua visibilidade, liderança e presença física no Exterior – diz o secretário do Itamaraty, Fábio Rocha.
Para o cientista político da empresa de consultoria Arko Advice Thiago de Aragão, esses objetivos também teriam sido frustrados na rodada. Para ele, ao buscar uma atuação independente em Doha, se descolando do chamado G-20 – bloco dos 20 países em desenvolvimento –, o chanceler Celso Amorim acabou se desentendendo com as nações que julgava liderar. O cientista também avalia que o país se sairia melhor se fortalecesse a rede diplomática já consolidada.
– O país foi buscar parceiros muito longe, acabou não ganhando nada com isso e ainda perdeu espaço com os amigos vizinhos – avalia Aragão.
O episódio em que o Brasil teve de vender as refinarias da Petrobras ao governo boliviano e as recentes crises com o Paraguai seriam, segundo Aragão, dois exemplos da perda de comando na região. O especialista acredita que ao tentar liderar pequenos mercados para se fortalecer, o governo acaba enfraquecido pela falta de representatividade dessas nações, o que justificaria o fracasso em Doha.
– Que importância econômica tem o Gabão? Que força adquire o Brasil sendo parceiro de Uganda, por exemplo? – provoca.
Para o Itamaraty, no entanto, a ampliação do comércio com economias alternativas tem o objetivo de tornar o Brasil uma nação menos vulnerável. Diversificando o destino dos produtos nacionais, o governo quer diminuir a dependência de grandes mercados e sofrendo assim um menor impacto – em eventuais crises internacionais.
Para responder às críticas, o governo apresenta números que comprovariam a expansão nas exportações. Vendendo mais do que comprando, o país atingiu a média histórica de US$ 40 bilhões de superávit na balança comercial, quase o dobro em relação ao início do governo.
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