Do Portal do NIVALDO CORDEIRO
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O DESALENTO DE FHC
06/04/2008
Fernando Henrique Cardoso será talvez o único político de expressão nacional a dar voz a um inconformismo comedido contra o governo Lula. É o máximo que temos de oposição política no Brasil, a única oposição consentida, visto que a direita política inexiste. Infelizmente os tempos não são para comedimento, mas para enfrentamento. FHC, todavia, como um dos pais construtores das instituições vigentes e o patrono na chegada do PT ao poder central não haveria de fazer diferente. Quando FHC em Lula bate, assopra para não doer. Como negar a si mesmo uma biografia que se aproxima do seu epílogo? Como rasgar uma obra que se propõe teórica? E, muito importante, como negar por seus próprios critérios que foi altamente bem sucedido?
FHC foi bem sucedido não apenas porque ocupou os mais altos cargos da República, mas sobretudo porque viu triunfar as suas teses e a sua visão de mundo, porque sua ação política destruiu o pouco que restava da estrutura conservadora que vigorava no Brasil até tornar-se presidente da República, porque suas crenças socialistas foram implantadas contra toda a tradição brasileira. Moldou a Constituição vigente e as instituições de Estado.
É com muita tristeza que vejo hoje o conteúdo programático do que se ensina nas escolas brasileiras à juventude. Propaganda socialista da pior espécie. E foi no governo FHC que esse veneno ganhou corpo. Desde o berço as nossas crianças estão programadas para serem militantes “progressistas” e FHC é o responsável direto pelo que está ocorrendo há pelo menos uma geração. O PT e Lula apenas levaram às últimas conseqüências essa pedagogia do revolucionário. Nossas escolas não formam cidadãos, mas imbecis. O mesmo pode ser dito da tibieza, talvez melhor dizer cumplicidade, com que seu governo tratou o MST e os movimentos indígenas, estes que se tornaram quistos separatistas e liberaram áreas gigantescas do território brasileiro para ações contrárias à soberania nacional. As áreas indígenas hoje estão vedadas até mesmo para a circulação das nossas Forças Armadas. Um crime terrível de lesa-majestade, uma voluntária renúncia de soberania, uma traição aos nossos antepassados e às futuras gerações.
O fato é que a diferença entre FHC e o PT não é programática e nem mesmo de prática política. Nem mesmo ética, visto que o socialismo programático, pregando e executando o distributivismo, nega toda a ética judaico-cristã. A crença na super-tributação (roubo puro via Estado) e na super-regulação (escravidão do mercado ao Estado) está igualmente inscrita nos programas do PSDB e do PT. O que diferencia este último é sua disposição carbonária para o enfrentamento, seu elemento de partido de vanguarda que vê o processo democrático como mero meio para chegar ao fim maior, o poder total do qual não quererá mais sair. E vão fazê-lo, a menos que os brasileiros conscientes levantem-se contra o golpe fatal. O ensaio final para a obtenção do terceiro mandato está em curso e os brasileiros podem esquecer o significado da expressão alternância de poder por longo período.
No artigo publicado hoje no Estadão FHC (“Oportunidade perdida”) escreveu: ”Causa-me repulsa a falta de compromisso com a verdade dos fatos, a desonestidade intelectual e, principalmente, o tratamento cínico dispensado a indícios graves de improbidade na administração pública e a benevolência com que são tratados infratores amigos ou aliados”. Não é coerente, posto que toda teoria e ação socialistas são uma negação da realidade imediata, uma tresvalorização de todos os valores, são o roubo travestido de bom-mocismo, são a transformação do Estado em uma monstro a devorar seus próprios súditos. FHC conseguiu, em seu governo, aproximar a arrecadação de impostos em algo próximo a 40% do PIB, uma desgraça que irá perseguir os brasileiros por muitas décadas. E criou um sistema de favorecimento de apaniguados políticos e de nutrição de cabos eleitorais nos grotões pela compra de votos com bolsas disso e daquilo de difícil superação. Orgulha-se desses feitos nefastos. Deveria envergonhar-se, pois é o mal em política, em mais alto grau. Não tem estatura moral para criticar o PT.
Mas quem não tem cão caça com gato, dizemos em nossa sabedoria popular. Se não temos um Churchill, temos que ir de FHC mesmo. Melhor tê-lo na oposição do que apoiando abertamente Lula, do contrário à essa altura nem se discutiria mais o terceiro mandato. Mas o leitor atendo não pode deixar-se enganar. FHC e Lula são farinha do mesmo saco ideológico e são os grandes responsáveis pela grande crise que se avizinha, econômica e institucional. O sofrimento será inevitável, único meio para, de novo, colocar as coisas nos eixos.
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NOVO ALERTA DE FHC
04/02/2008
Devo dizer ao meu caro leitor que a mim tem agradado muitíssimo a posição pública de crítica ao governo petista que tem adotado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, malgrado seus textos serem recheados do credo social-democrata e igualitarista que eu tanto abomino. Refiro-me aqui ao artigo publicado no Estadão do último domingo (“Apenas nomes ou reais alternativas?”). Com a sutileza que lhe é própria, mas com a coragem de dizer o que precisa ser dito, FHC renovou suas preocupações com os rumos do Brasil e da nossa democracia.
Ele corretamente aponta o modelo político que está sendo posto em marcha pelo governo do PT e seus aliados:
“O velho modelo monopolista de Estado ressurge das cinzas nos corações da velha direita e da “nova” esquerda capitalista estatizante. Nada há de negativo na existência de empresas públicas. A Petrobrás é um bom exemplo, ou mesmo o Banco do Brasil. Mas elas funcionam adequadamente quando submetidas a alguma competição e quando as forças políticas - o governo e seus aliados - dão vigência à idéia republicana da separação entre Estado e governo. Quando às pressões político-clientelistas se soma a ganância de poder de um partido, como o PT, que controla os fundos de pensão das empresas públicas, e quando esses mesmos fundos se aliam às empresas ou agências do Estado para promoverem o cerceamento da competição entre empresas privadas, as distorções ficam preocupantes”.
A palavra “preocupante” aqui, na sua postura diplomática, deve ser tomada como um grito de alerta. A posse de Edson Lobão no Ministério das Minas e Energias será talvez o emblema dessa simbiose da velha “direita” (o PMDB do “centrão” de Sarney e sua laia) com os sindicalistas que formam a espinha dorsal do governo Lula, ambos conduzidos pelos velhos quadros revolucionários oriundos do velho Partidão. Estamos a ver a recriação do modelo fascista intentado por Getúlio Vargas, no qual as corporações de ofício e as empresas estatais formam uma amálgama que descarta a democracia e aspiram ao poder totalitário, como vimos na Itália assim como na Alemanha no século passado. FHC conclui com muito rigor:
”Este amálgama espúrio entre interesses privados, interesses partidários e interesses corporativos pode dar sustentação a formas arbitrárias de exercício de poder. Pior, ele tem o condão de sensibilizar ideologicamente tanto a esquerda que o vê erroneamente como limitação ao capitalismo quanto setores autoritários de direita, que justificam tudo em nome da ideologia do Brasil-potência”.
Não faço qualquer reparo a essa análise do ex-presidente. Penso que aqui foi cirúrgico. Mais ainda quando arrematou: “Acontece que todo modelo que tende ao monopólio e à concentração do poder é também concentrador de rendas e redutor de oportunidades (C.T. - e por isto os projetos revolucionários não se extendem muito sobre a questão econômica além de não se importarem em contar qualquer tipo de mentira sobre o assunto se perguntados. Para resumir, eles sabem que tomando o poder, a grana vem junto, oras...). Sem falar das conseqüências políticas negativas para a alternância no poder que podem advir da utilização eleitoral (eivada de corrupção) de recursos gerados pelas superorganizações empresariais regadas com dinheiro público, aliadas ao governo. Mesmo porque é este o objetivo: a manutenção do mesmo grupo no poder para expandir ainda mais essa esdrúxula aliança entre o grande capital público e privado com os fundos estatais de pensão e com o sindicalismo dócil aos governos”.
Só faltou FHC dizer que estamos caminhando para a ditadura aberta. Mas não precisaria, pois para bom entendedor meia palavra basta, ensina o velho ditado. O ex-presidente, todavia, não podia ser mais explícito, falou a palavra inteira. A alternância de poder corre perigo, a ditadura de partido único é uma ameaça real.
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FHC E O PT
25/11/2007
Nesta semana duas notícias sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mostraram que o sinal vermelho finalmente piscou para ele: o seu posicionamento firme contra a prorrogação da CPMF, contrariando outras grandes lideranças do PSDB, e a sua surpreendente fala na convenção do partido dizendo que um eventual terceiro mandato de Lula seria “nazismo”. FHC é um homem muito inteligente e ponderado e raramente foi flagrado em arroubos verbais e nunca foi um crítico severo do PT, muito ao contrário. Já escrevi em outros momentos que considero o ex-presidente o principal cabo eleitoral do PT, por ação ou omissão. Então, por que o alarme dele agora?
Entendo que FHC finalmente enxergou a fera a quem nutriu e ajudou a criar (C.T. - eu vejo diferente. FHC não seria tão bobo a ponto de se enganar assim deste jeito, esta é minha opinião. Para mim, ele não só sabia disto e esperava que acontecesse o que está acontecendo como vai querer agora aparecer como o SALVADOR DO BRASIL, apresentando-se ao Brasil como aquele que seria "oposição ao PT"). O PT sempre foi um partido de vanguarda do tipo leninista, mas o ex-presidente deve ter avaliado erroneamente no passado que, uma vez no poder, com as benesses e a fartura de recursos à disposição de suas lideranças, ficaria mais brando e aceitaria as normas civilizadas de uma democracia madura, basicamente o respeito à Constituição e à alternância de poder. Finalmente ficou claro para ele, como estava claro para os críticos mais agudos da cena brasileira desde há muito, que o PT continua o partido revolucionário que sempre foi. Só ficará saciado quanto dispuser do poder total.
O arroubo verbal do ex-presidente só aumentou a minha angústia, pois o ouvi como um grito de alerta e desespero. É um firme sinal de que os acontecimentos estão se precipitando e que a ameaça do terceiro mandato é real. Um cenário desses significa rasgar a Constituição e acabar e vez com a alternância de poder em curto período de tempo, levando o Brasil para uma forma de governo parecida com a de Hugo Chávez, o totalitarismo aberto. Some-se a isso o empenho do governo brasileiro em apoiar o ditador venezuelano e se empenhar para que o Congresso Nacional formalize a entrada daquele país no Mercosul e aí o circulo se fecha. O PT quer se eternizar no poder e está se movendo para isso. É uma grande ameaça à liberdade da gente brasileira.
A luta de classe dos vanguardistas do PT está em curso e se traduz na prática na perseguição aos empresários, sob o pretexto de combate à sonegação de impostos, acabando com a reputação de pessoas inocentes, e também com a exacerbação da arrecadação de impostos. A prorrogação da CPMF deve ser tomada menos como uma necessidade de mais recursos para a demagogia petista do que um imperativo ideológico a ser perseguido, um ponto de honra para o partido governante. O cerco fecha-se por todos os lados.
A criação da TV pública – mais uma no vasto repertório de canais estatais em operação – foi outro sinal claro de que o partido governante quer ter o controle total, se possível, das fontes de notícias. Esse é sempre um passo que antecede a supressão das liberdades públicas onde o totalitarismo se instalou.
Penso que os brasileiros devem ouvir o grito de alarme de FHC. É uma voz abalizada e bem informada sobre os fatos de bastidores, de um homem equilibrado e capaz de fazer boas análises dos fatos. Devo lhe confessar, meu caro leitor, que fiquei muito mais preocupado depois de ouvir as falas do ex-presidente.
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