Senhor Diretor de Redação
Definitivamente a Veja se engajou na campanha do PT para prefeitos e está, com todo o cuidado, preparando seus leitores para o terceiro mandato de Lula. Os sinais do que estou afirmando estão ai bem à mostra sob a forma de longas reportagens com títulos pomposos e coloridos, juntamente com a decisão que a revista adotou de não querer enxergar o lado podre do país e de seus governantes, justamente aquele lado que aflora, queiram ou não, influindo decisivamente nas vidas dos cidadãos. Vou citar apenas três exemplos recentes que comprovam a minha afirmação.
1 - Na edição 2054, de 2 de abril de 2008, Veja publicou a reportagem A classe dominante, onde informa que 86 milhões de brasileiros que ganham em média R$ 1.062,00 constitui hoje o maior contingente populacional do país. Dentre outras bobagens, afirmou Veja: "Em dois anos, 20 milhões de brasileiros saíram da pobreza e emergiram para a classe C", emendando com outra: "A maior parte desses brasileiros emergiu das classes pobres (D e E), que perderam 20 milhões de pessoas devido à estabilidade econômica". Informa ainda que as classes A e B (ricos e classe média) são 28 milhões de pessoas. Assim, numa população de 187 milhões de pessoas, 28 milhões de ricos e bem de vida, 86,2 milhões ganhando pouco mais de dois salários mínimos e 82,8 milhões de miseráveis, sendo que a metade vive às custas das esmolas do governo tipo Bolsa Família. A esse quadro desesperador, Veja tece loas e afirma, para espanto de quem sabe pensar, esta pérola de mediocridade: "Esse fenômeno catapultou o consumo e expandiu a classe média, deixando o país a um salto do desenvolvimento.
Comentário: Veja omitiu o fato de que quem vive com menos de três salários mínimos não pode ser classificado como classe média, e sim, como pobre vivendo no limite da indigência. Além disso, omitiu o fato notório de que a classe C foi engordada também por muitos da classe média que está sendo esmagada via impostos escorchantes, trabalhando 4,5 meses por ano apenas para pagar de impostos. Omitiu ainda o fato de que, em qualquer país do mundo, é a classe média, em vias de extinção no Brasil, quem comanda o processo de desenvolvimento por ser esta a que, pelo seu nível de conhecimentos, mais produz, e pelo seu nível de ganho, mais consome. Num processo natural de desenvolvimento a classe A entra com o capital (e o risco evidentemente) e a classe B com o trabalho, a produção e o consumo. À classe C compete limpar o chão da fábrica e as D e E produzir a sujeira, pois não sabem fazer outra coisa. Donde se conclui que, no Brasil, a matéria prima indispensável para a construção de uma grande nação é de uma escassez desconcertante.
2 - Na edição 2070, de 23 de julho de 2008, Veja publicou a reportagem Show dos bilhões, com mais de 60 páginas onde se esmera por tentar mostrar aos desinformados que o Brasil já deslanchou, deixou para trás o subdesenvolvimento e daqui para a frente será somente samba, futebol e cerveja. Aos que sabem pensar e lidar com números e estatísticas, Veja demonstrou apenas que existem no Brasil alguns bolsões de progresso espalhados pelo país cuja prosperidade depende mais da iniciativa privada e menos de ações governamentais, notadamente no interior, enquanto as grandes cidades brasileiras estão cada vez mais sufocadas pelas favelas e pela violência, produtos de um empobrecimento crescente e da decadência moral que assola o país. Dentre outras pérolas da mediocridade que tomou conta da imprensa tupiniquim, Veja enumera os 8 motores do desenvolvimento, quais sejam: 1, soja - 2, cana - 3, carnes - 4, ferro e aço - 5, petróleo - 6, automóveis - 7, portos - 8, indústria têxtil. Ou seja, Veja considera como motores do desenvolvimento quatro exportadoras de comodities (produtos primários), uma empresa estatal que provoca um rombo de oito bilhões de dólares em suas contas de comércio exterior e produz os derivados de petróleo mais caros do mundo, montadoras de automóveis estrangeiras que operam com tecnologia 100% de suas matrizes e se beneficiam de mão de obra barata, portos onde a eficiência e os custos civilizados existem somente nos privados porque os públicos estão operando além do limite de suas capacidades o praticam as tarifas mais caras do mundo e, por fim, a indústria têxtil, que só funciona graças aos teares produzidos lá fora.
Comentário: Veja se omitiu de informar aos seus leitores que nenhum país do mundo enriqueceu e atingiu um razoável grau de desenvolvimento exportando comodities e produzindo com fábricas e tecnologias importadas de outros países. Omitiu também o fato de que o progresso de uma nação tem como ponto de partida o conhecimento gerado por um sistema educacional eficiente e por pesquisas públicas e privadas, coisas em que o Brasil ainda está atrasado algumas décadas, haja vista que o sistema educacional brasileiro é hoje considerado um dos piores do mundo e o investimento em pesquisas é insignificante, com o agravante de que o país tem perdido seus melhores cientistas para universidades e institutos de pesquisa do exterior por não encontrarem no Brasil condições adequadas de trabalho e desenvolvimento pessoal.
3 - Na edição 2071 de 30 de julho de 2008, Veja publicou ampla reportagem intitulada Poucos e bons, louvando o fato de que a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras caiu para 1,8 filho por mulher, informando ainda que "Com a taxa de fecundidade em 1,8 filho por mulher, a população brasileira cresce mais devagar. Isto melhora a renda e o padrão de vida do país". Veja, creio eu, baseou-se para escrever esta reportagem nos dados do IBGE, um instituto público de pesquisas atualmente politizado e empenhado apenas em divulgar dados que agradem ao governo de plantão. E o governo de plantão não aceita más notícias.
Poucos e bons! Poucos e bons o que, cara pálida tupiniquim? Como dar credibilidade a uma média matemática geométrica num assunto que merece e deve ser dissecado por camadas? Onde estão nascendo os poucos e bons? Seria nas favelas? Ou nos bolsões de miséria espelhados por todo o país? Alguém ai conhece os sertões onde as mulheres procriam como ratazanas e os homens afirmam a sua masculinidade pelo número de filhos que conseguem gerar?
Vamos falar sério, por favor! Em 1970 a população brasileira era de "90 milhões em ação, salve a seleção". Em 2008 são 190 milhões. Cresceu 100 milhões em apenas 38 anos sendo que 15% gerados pelas classes ricas e média com condições de dar uma boa educação aos filhos e 85% nas classes baixas e miseráveis cujos filhos têm que amargar o péssimo ensino oferecido pelo governo. Observa-se, portanto, que os poucos e bons surgiram e continuam a surgir dos 15% abastados que realmente reduziram a geração de filhos sobretudo pelos custos que acarretam, enquanto os 85% restantes continuam a abastecer a praça, sobretudo as favelas e os bolsões de miséria, de pobres coitados que se lhes fossem dada a opção entre nascer ou não nascer, optariam pela última.
Lá no meio da reportagem, Veja se dá ao desplante de plantar uma mentira: "A taxa de fertilidade brasileira é agora igual à da China, que há tempos limita o número de filhos por família". Deve ter sido a influência das olimpíadas que levou a Paula Neiva e Roberta de Abreu Lima a escreverem tal culhuda (culhuda: em linguagem chula, mentira). Eu aproveito para convidar as duas notáveis jornalistas a esquecerem os números fajutos do IBGE e, por conta da Veja, darem umas voltas pelas favelas das grandes cidades e pelos bolsões de miséria espalhados pelo país. Assim verão uma realidade completamente diferente e constatarão que a explosão demográfica nesses lugares tenebrosos é simplesmente assustadora. Mas não esqueçam de levar um contingente do exército para protege-las, já que nesses lugares a polícia não é mais respeitada.
Comentário final: Veja, com tais reportagens, seguramente vestiu a camisa do PT e está empenhada até o pescoço pela retumbante vitória dessa notável agremiação de picaretas na maioria das prefeituras brasileiras nas próximas eleições e que servirão como aquecimento para a conquista do terceiro mandato pelo senhor Lula da Silva, para euforia geral da nação tupiniquim que se contenta apenas com o arco e a flecha para atingir os píncaros da mediocridade.
Sinceramente, não dá mais para ler a Veja. Até porque o que mais me motivava a faze-lo eram colunistas como Roberto Pompeu de Toledo, Diogo Mainardi e André Petry. O primeiro agora perde tempo escrevendo sobre quem já se foi tarde e que muito contribuiu para o jeito brega e irresponsável de ser do brasileiro, o segundo está arrependido de ter se tornado pai e nos enche o saco escrevendo sobre esta sua frustração e o terceiro está empenhado em ajudar a eleger Barak Obama presidente dos Estados Unidos.
Assim sendo, vou voltar a ler meus gibis da infância e adolescência, correndo com isto menos risco de mergulhar na mediocridade geral que assola as mentes brasileiras.
Otacílio M. Guimarães
Em tempo: Sugiro a redação de Veja publicar uma ampla reportagem sobre a dívida pública brasileira, que caminha célere para os dois trilhões de reais e sobre os gastos públicos descontrolados. Mas ponham para fazer esta reportagem gente que entende do assunto, assim os leitores de Veja ficarão sabendo que o país está simplesmente falido.
Carta de Otacílio M. Guimarães à Revista VEJA, 28/07/2008
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