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segunda-feira, 21 de julho de 2008

Encruzilhada colombiana: revés guerrilheiro, “reconciliação” e desmobilização

D portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por CubDest em 18 de julho de 2008


Resumo: O tema da “reconciliação” na Colômbia vai-se transferindo de uma forma mais ou menos explícita ao centro dos debates e acontecimentos dentro desse país e em torno dele.

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Com a libertação inesperada e espetacular de 15 reféns das FARC, o povo colombiano e suas atuais autoridades ganharam o que até o momento constitui uma das mais importantes batalhas psicológicas, políticas e militares contra as narco-guerrilhas que assolam a Colômbia desde há quatro décadas. Não obstante, segundo destacam diversos observadores, a justificada alegria ante a possibilidade de aproximação da paz não deveria deixar perder de vista que ainda podem faltar outras etapas para que a Colômbia chegue a uma paz estável e duradoura, vencendo completamente a guerra.

A rápida mudança de opinião na linguagem da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, pouco depois de ser resgatada e posta em liberdade, serve de exemplo que ilustra a complexidade da psicologia humana e, ao mesmo tempo, serve de reflexão sobre eventuais mudanças análogas que possam se produzir não somente em nível individual como coletivo.

Deixando rapidamente para trás um primeiro momento de elogio às autoridades colombianas, e de justificação da arriscada ação de resgate, a Srª Betancourt passou a afirmar com ênfase que seu pensamento “sempre” será “de esquerda”, que é “necessária” uma negociação com as FARC e que as autoridades colombianas devem “abandonar a linguagem do ódio”; fez elogios a Chávez e chegou a justificar a existência das FARC com a velha tese de esquerda de que a causa da “violência” guerrilheira se encontraria na “injustiça social” e não nas próprias metas e métodos revolucionários, próprios de um sistema intrinsecamente perverso.

A ex-refém, que já é qualificada como “a Mandela colombiana”, como uma referência ao líder esquerdista sul-africano que, depois de sair da prisão chegou à presidência de seu país, foi mais longe ainda quando afirmou à BBC que “Uribe e não só Uribe, mas toda a Colômbia, devem corrigir algumas coisas”, no sentido do diálogo, da negociação e da reconciliação.

No contexto do pensamento da Srª Betancourt, essa “correção” que “toda a Colômbia” deveria realizar, nas atuais circunstâncias poderia redundar em uma perigosa desmobilização psicológica e ideológica de um país inteiro.

Neste momento, com relação à Colômbia, a palavra “reconciliação” está sendo pronunciada genericamente por diversas personalidades, desde setores diferentes, em nível nacional e internacional, embora sem que se especifique até o momento em que consistiria concretamente essa “reconciliação”. A ineludível interrogação que se coloca é: qual seria o significado que cada ator ou protagonista concede a essa palavra? Em seu sentido mais simples, “reconciliar-se” significa voltar a ser amigos aqueles que em algum momento, por alguma razão, deixaram de sê-lo.

Em que consistiria, concretamente, essa “reconciliação” em relação às FARC e a seus membros, conhecidos por sua crueldade e radicalização, os quais até o momento não deram nenhum sinal de arrependimento por seus crimes?

No plano religioso, Bento XVI, em suas primeiras palavras depois de ser informado da libertação dos 15 reféns, incluiu a meta da “reconciliação” na Colômbia, segundo transmitiu imediatamente à imprensa o Padre Lombardi, porta-voz da Santa Sé. O tema da “reconciliação” na Colômbia já havia sido abordado pelo Pontífice em diversas oportunidades, como por exemplo no Angelus de 3 de fevereiro pp., e também em mensagem aos bispos colombianos por ocasião do centenário da Conferência Episcopal desse país.

Por outro lado, em um plano que vai mais além do religioso e incursiona no sócio-político, os referidos bispos colombianos também têm insistido na reconciliação, e também no diálogo e na negociação. Pouco depois da libertação dos reféns, o até há pouco presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, monsenhor Luis Augusto Castro Quiroga, dirigiu-se às FARC manifestando-lhes que estudassem “com muita seriedade” a possibilidade de “dialogar” com o governo e acrescentou que no momento atual “a saída negociada é o melhor” para os guerrilheiros.

Também no plano político internacional a primeira atitude do presidente Lula, do Brasil, quando se produziu a libertação de Betancourt, foi a de emitir uma nota na qual chama à “reconciliação entre todos os colombianos”.

O tema da “reconciliação” na Colômbia vai-se transferindo dessa maneira, de uma forma mais ou menos explícita, ao centro dos debates e acontecimentos dentro desse país e em torno dele. É um tema sumamente delicado porque, como já se disse, se precisaria saber o quê é que cada um dos promotores da “reconciliação”, e os eventuais atores em jogo, entendem por “reconciliação”.

A preocupação provém do fato de que esta palavra, em si mesma tão notável, pode adquirir significados ambivalentes “talismânicos”, que contribuam para desmobilizar os colombianos no momento em que a guerrilha atravessa uma situação especialmente difícil, e a abertura de processos de reconciliação, negociações e diálogo poderia dar-lhe tempo para cicatrizar suas feridas psicológicas, políticas e militares.

Tradução: Graça Salgueiro

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