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domingo, 15 de junho de 2008

Quem escondeu o óleo?

Do portal do DIÁRIO DO COMÉRCIO

Por Alvaro Vargas Llosa

Behrouz Mehri/AFP

Quem é responsável pelo astronômico preço do petróleo? A maior parte da culpa - como foi mostrado nas recentes farsas no Congresso dos EUA, com executivos das petroleiras defendendo seus salários sob questionamentos de congressistas beatos e preocupados - estão sendo posta nas empresas de petróleo.

Nos países europeus, manifestantes estão denunciando o governo por não ter tomado ações imediatas para proteger os consumidores. Nos jornais, de Hong Kong à Austrália e a Buenos Aires, traders responsáveis por US$ 260 bilhões atualmente investidos em fundos de commodities estão sendo condenados como especuladores.

Na verdade, esses não são os culpados. Durante anos, países com petróleo como Rússia, Venezuela e México têm desarrumado sua própria capacidade de produção para usá-la como arma política. Isso não significa que eles não estão produzindo milhões de barris por dia, mas significa que estão incapacitados de aumentar a produção para aumentar a demanda -- e o mercado não conta com eles para aumentar o fornecimento de petróleo no futuro.

Para piorar a situação, a política monetária nos Estados Unidos, a maior economia dos Estados Unidos, tem sido muito frouxa nos últimos anos, ajudando a alimentar o que alguns observadores estão chamando de bolha do petróleo .

Se também considerarmos que nas últimas três décadas os EUA, representando um quarto da demanda mundial por petróleo, tem visto sua capacidade de refino se limitar por causa das restrições ambientais, o que temos é, bem, o preço da gasolina chegando às alturas.

Todas essas causas levam a um pecado original: políticos interferindo no processo de demanda e fornecimento. Adicionando um insulto à injúria, agora temos políticos lançando a esmo propostas que, no máximo, não vão fazer nada para solucionar o problema (imposto de feriados) e, no pior cenário (como aumentar impostos das cinco empresas da Big Oil , usando leis antitrustes para frear a "concentração de mercado", aumentar os subsídios a combustíveis alternativos, controle de preços), vão manter o petróleo no subsolo.

Durante boa parte de sua presidência, a idéia de Vladimir Putin de diversão era jogar os proprietários das grandes empresas na cadeia e assumir o negócio deles. Como resultado, Rosneft e Gazprom, os gigantes de energia controlados pelo governo, têm mais de metade das reservas de petróleo e gás da Rússia. Putin também aumentou os impostos sobre o petróleo para 90%.

Tudo isso deu ao potentado russo força política e econômica para chantagear os importadores europeus dos hidrocarbonetos russos e pressionar países vizinhos, como a Ucrânia.

Quando a produção russa de petróleo aumentou para 9 milhões de barris por dia, parecia que Putin era Midas . Mas, ao mesmo tempo, a tecnologia russa estava ficando defasada e os investimentos de capital necessários para garantir um aumento saudável na produção não estavam sendo realizados.

O resultado: a produção caiu neste ano pela primeira vez. Nenhum trader está especulando que a Rússia não vai ajudar a baixar o preço do petróleo no futuro.

Uma história parecida pode ser contada na Venezuela, onde nos últimos anos, o presidente Hugo Chávez conseguiu reduzir a produção em um milhão de barris, segundo dados da Opep. A petroleira estatal, PDVSA, é um instrumento-chave da ridícula Revolução Bolivariana de Hugo Chávez, com bilhões de dólares sendo transferidos para outros países em vez de investidos no aumento da capacidade de produção. No México, o Projeto Cantarell , o segundo maior campo de petróleo do mundo, tem visto sua produção despencar nos últimos anos porque a legislação não permite que o capital privado manche a honra nacional com sua sede por lucro. Mas o fornecimento insuficiente não é o único fator agindo.

Um grupo de economistas, entre eles Paul van Eeden e Frank Shostak, argumentam de forma convincente que a política monetária frouxa do Federal Reserve , entre janeiro de 2001 e junho de 2004, e novamente desde setembro de 2007, alimentou a inflação. Ao fazer isso, a política monetária induziu investimentos ruins na economia -empreendimentos empresariais que não se realizariam de outra forma e que agora aumentam a demanda por petróleo. É claro, em outros países - na China em particular - a inflação causada pela política monetária também engrossou a demanda por energia.

As pessoas estão certas em estarem irritadas. Não há nenhuma razão para que um barril de petróleo possa custar tanto e para que numa economia tão produtiva quanto a dos EUA as pessoas paguem US$ 4 a mais por um galão de gasolina.

Desfazer os erros que nos levaram aonde estamos custará caro e será extremamente impopular. Para começar, é bom colocar a culpa em quem a tem.

Alvaro Vargas Llosa é diretor do Center on Global Prosperity no Independent Institute

(C) The Washington Post Writers Group

Tradução: Rodrigo Garcia

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