Por Donald Boudreaux
Karol, minha esposa, compartilha meu profundo apreço pela criatividade das pessoas quando elas podem agir em mercados livres, bem como meu ceticismo em relação à política. Concordamos em quase tudo.
Apesar disso, em algumas questões nós divergimos – não fundamentalmente, mas por uma questão de ênfase ou, talvez, apenas por questão de gosto.
Karol aplaude as ações privadas para encorajar os consumidores a “serem verdes”. Eu, por outro lado, desconfio da maioria desses esforços. Não que eu prefira as ações políticas. Pelo contrário. Se algumas mães de diferentes partes do país sentem a necessidade de “fazer algo pelo meio ambiente,” eu preferiria que elas fizessem algo voluntariamente – como comprar sacolas reutilizáveis – ao invés de ser forçadas pelo governo. Sem a força governamental, aqueles dentre nós que não estão interessados em demonstrar suas credenciais verdes estariam livres para seguir suas vidas. O que é sempre bom.
Eu desconfio desses esforços por duas razões. A primeira é idêntica à razão pela qual eu fico insatisfeito ao pensar que as pessoas voluntariamente compram livros que ensinam como enriquecer rapidamente ou como perder peso durante o sono. Embora eu não deseje usar a força para evitar que adultos gastem seu dinheiro em tais produtos, ainda assim, essas coisas são uma fraude. Os fornecedores desses produtos aproveitam-se da credulidade dos consumidores.
E o mesmo acontece com as várias propostas de como “valorizarmos o verde”. Por exemplo, pense nos avisos a respeito o uso de copos de vidro ao invés de copos de papel ou de isopor. A idéia é que a produção de copos de papel leva à derrubada de mais árvores, e que os copos de isopor causam a extração de mais petróleo. E essas atividades são consideradas “não-verdes”. Porém, a produção de copos de vidro necessita de um calor intenso – um requisito que consome recursos. E ainda, por serem mais pesados que copos descartáveis, os copos de vidro necessitam de uma quantidade maior de energia para serem transportados para o mercado. Finalmente, não podemos esquecer que a lavagem de copos de vidro também utiliza energia e água.
Agora, eu não faço a menor idéia se os copos descartáveis são melhores ou piores para o meio ambiente do que os copos de vidro – isso é o que eu quero dizer. A complexidade da nossa economia moderna é bem maior do que a maioria das pessoas pode imaginar. Como Milton Friedman (seguindo os passos de seu amigo Leonard Read, fundador da Foundation for Economic Education - FEE) explicou no seu famoso programa de TV “Free to Choose”, em 1979, ninguém sabe como fabricar um simples lápis comum.
A produção de cada lápis, no fim das contas, requer o conhecimento de como fazer serras mecânicas (para cortar as árvores), como extrair petróleo bruto (para alimentar as serras e os caminhões de entrega), como encontrar bauxita (para a fabricação da parte de alumínio que segura a borracha do lápis), como extrair grafite (para fazer a “ponta”) e, literalmente, milhões de outras tarefas necessárias para a produção do lápis que usamos em nosso dia a dia. Nenhuma pessoa ou comitê de pessoas poderia, nem de longe, tentar reunir e processar todo esse conhecimento. Os lápis são produzidos porque milhões de pessoas, cada uma com suas próprias habilidades e conhecimentos, são guiadas pelos sinais do mercado e contribuem para a fabricação dos lápis. Ninguém, entre as milhares de pessoas cujos esforços são necessários para a fabricação de um lápis, tem consciência que um dos resultados finais de seus esforços será um lápis.
Dada a enorme complexidade da economia, seria uma mentira qualquer pessoa insistir que, digamos, o uso de copos de vidro é melhor para a economia do que o uso de copos descartáveis (ou vice versa). O mesmo se aplica às várias iniciativas “verdes” famosas, como a reciclagem ou o uso de lâmpadas fluorescentes.
Dói ver tantas pessoas adotando ingenuamente a última moda “verde”, como se ela fosse baseada em estudos científicos e em dados suficientes.
Minha segunda razão para desconfiar até mesmo de iniciativas voluntárias é meu temor que elas alimentem o ambientalismo como religião. E uma religião ambientalista difundida ameaçaria se transformar em mais restrições, irracionais e destrutivas, à propriedade privada e ao livre mercado.
Exatamente porque ninguém que tome parte nas mais recentes iniciativas “verdes” privadas tem como saber se suas ações realmente ajudam o meio ambiente, o hábito da ação baseada no simbolismo vai-se tornando arraigado, em prejuízo da ciência (ou mesmo do senso comum). As pessoas se tornam seguras demais a respeito de suas crenças em relação às conseqüências de suas ações – seguras demais de que suas intenções são razão suficiente para agir dessa forma – sem nenhuma necessidade de verificar suas crenças à luz dos fatos.
Existem iniciativas verdes privadas que são válidas, como dirigir menos quando o preço da gasolina aumenta. Porém, quase todas as iniciativas que valem a pena são respostas às mudanças nos preços do mercado – preços que contêm informações de todos os lugares do planeta a respeito do estado objetivo do mundo. E agirmos baseados nessas informações é o melhor que podemos fazer.
(adendo C.T.) A bandeira verde, hoje, pode muitas vezes estar substituindo a falida bandeira vermelha.
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