por Claudio Téllez em 14 de junho de 2004
Resumo: A perda de referenciais de moralidade através da propagação de uma idéia confusa de bem e de mal e o abandono do senso crítico por parte das sociedades embotadas com a propaganda esquerdista, constituem o terreno fértil no qual a desinformação se desenvolve.
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Após a leitura de livros como (SHULTZ; GODSON, 1987), (BITTMAN, 1987) ou (GOLYTSIN, 1983), podemos ser levados a pensar que o uso da desinformação como elemento estratégico em política internacional é um fenômeno pontual que ocorreu em determinadas épocas e lugares, motivado por fatores extrínsecos ou pelo reconhecimento de conveniências e oportunidades. Entretanto, a motivação para o uso da desinformação reside em fatores intrínsecos à doutrina marxista.
Para Karl Marx, a compreensão da realidade tem que levar à sua superação, já que as realidades históricas não passam de construções humanas que visam perpetuar uma relação de dominação de uma classe (burguesia) sobre a outra (proletariado). Partindo do pressuposto de que tudo é construção e nada é natural, a teoria marxista ataca criticamente a realidade ao mesmo tempo em que se coloca numa confortável posição de imunidade às críticas que possam ser formuladas a respeito dela (OLIVA, 2001).
Já o Marxismo-Leninismo, ou Marxismo Soviético, baseou-se nos trabalhos filosóficos de Marx. Entretanto, enfatizava o caráter revolucionário e transformador do Marxismo e abordava de outro modo o movimento comunista, por exemplo através da análise do imperialismo (LENIN, 1985), da possibilidade de termos revoluções em países não-industrializados, da participação dos camponeses nas ações revolucionárias e da organização do Partido Comunista como vanguarda da classe proletária.
Lênin foi o fundador do Partido Comunista da União Soviética. Ele estudou o Marxismo e o incorporou ao seu momento histórico, mantendo-se sempre fiel ao pressuposto de que as realidades históricas não passam de construções para manter a dominação de uma classe sobre a outra.
Para Lênin, a desinformação era mais do que uma tática militar de informação falseada, era um verdadeiro instrumento para a eficácia da engenharia social e política. Ele defendia que os comunistas deviam estar preparados para utilizarem as “armas envenenadas” da mentira e da calúnia. A difamação sistemática dos adversários políticos e o recurso a estratégias e ardis para a ocultação da verdade eram não somente válidos, mas essenciais para o sucesso revolucionário (LENIN, 1975).
Vários pensadores ocidentais entraram em desacordo com o materialismo histórico determinista e constituíram o que conhecemos por Marxismo Ocidental (MERQUIOR, 1987). Trata-se de um corpo de idéias, intervenções teóricas e análises históricas que denotam o pensamento marxista não-soviético. O Marxismo Ocidental abarca autores como Lukács, Althusser, Walter Benjamin, Jean-Paul Sartre, Antonio Gramsci, os representantes da Escola de Frankfurt e outros. Esses autores trabalham com a cultura e com as idéias, acreditando que a revolução está fadada ao fracasso se os aspectos culturais das sociedades não forem levados em consideração.
Dentre os marxistas ocidentais, podemos destacar Antonio Gramsci (1891 - 1937). Ele percebeu que a revolução feita de “cima para baixo” não conseguiria alcançar a superestrutura das sociedades, portanto a ênfase não deveria ser na violência revolucionária, mas na penetração ideológica, na manipulação das mentalidades através dos meios informativos e nas expressões artísticas e culturais. A difusão bem sucedida da ideologia socialista deveria partir da conquista do cultural.
Atualmente, constatamos um forte tendencionismo de cunho marxista nos meios informativos e um verdadeiro imperialismo ideológico de esquerda nos centros acadêmicos, onde verifica-se um intenso patrulhamento contra aqueles que não rezam a cartilha da hegemonia intelectual do “politicamente correto”.
A perda de referenciais de moralidade através da propagação de uma idéia confusa de bem e de mal e o abandono do senso crítico por parte das sociedades embotadas com a propaganda esquerdista (baseada em um arcabouço teórico que nega toda a possibilidade de conhecermos a realidade) constituem o terreno fértil no qual a desinformação se desenvolve e se reproduz com quase total liberdade de ação. É assim que a doutrina da mentira é engolida pelas multidões, que aplaudem satisfeitas enquanto chafurdam no engano socialista.
Desde as origens com Marx, passando pelo Marxismo-Leninismo revolucionário e culminando com os marxistas ocidentais e teóricos críticos do século XX, as técnicas de propaganda velada, de manipulação de idéias e de influência da opinião pública têm estado presentes nas diretrizes socialistas. Sabemos que a desinformação foi utilizada sistematicamente pelos soviéticos durante o período da Guerra Fria (1945 – 1989), mas essa prática tem um embasamento doutrinário substancial que não podemos ignorar.
Referências:
BITTMAN, Ladislav. El KGB y la desinformación soviética: panorámica desde el interior. Barcelona: Juventud, 1987. 332 p.
GOLITSYN, Anatoliy. New lies for old: the communist strategy of deception and disinformation. New York: Dood, Mead & Co., 1983. 412 p.
LENIN, Vladimir Ilyich. Que fazer? Problemas candentes do nosso movimento. Lisboa: Estampa, 1975. 261 p. (Biblioteca do Socialismo Científico)
LENIN, Vladimir Ilyich. O imperialismo: fase superior do capitalismo. 3a. ed. São Paulo: Global, 1985. 127 p. (Coleção Bases, 23)
MERQUIOR, José Guilherme. O marxismo ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. 323 p.
OLIVA, Alberto. À espera da ciência: um mundo de fatos pré-interpretados. Episteme, Porto Alegre, n. 13, p. 17 – 43, jul./dez. 2001.
SHULTZ, Richard; GODSON, Roy. Desinformação: medidas ativas na estratégia soviética. Rio de Janeiro: Nordica, 1987. 188 p.
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