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segunda-feira, 31 de março de 2008

História Geral da África – Uma Introdução

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Thomas Sowell em 21 de julho de 2006

Resumo: Se a história recente da África for bem contada – ou seja, se terceiros não forem culpados pela pobreza do continente –, ela será de grande utilidade para o Brasil.

© 2006 MidiaSemMascara.org

Nota do Tradutor
: Já que teremos, conforme nos informa
Janer Cristaldo, uma História Geral da África obrigatória em nossos colégios por obra e graça do senador Paulo Paim, vou dar minha humilde, mas patriótica, contribuição a tão nobre iniciativa.

Se a história recente da África for bem contada – ou seja, se deixarmos de lado a baboseira de culpar, pela pobreza do continente, a exploração dos países ocidentais –, ela será de grande utilidade para o Brasil, como se pode ver abaixo. É claro que não tanto quanto a história da Grécia que está, aliás, desaparecendo de nossos currículos.

Um excelente texto sobre os africanos e sua história aparece numa obra de Thomas Sowell: Conquests and Cultures: An international history (Basic Books, 1999). São míseras 74 páginas (capítulo 3) que valem uma leitura atenta [*].

Traduzo, a seguir, o trecho final do capítulo em que o autor apresenta um sumário do material exposto. Espero com isso me habilitar a entrar no fantástico mercado(?) oficial de livros didáticos referendados pelo MEC, com a eventual tradução do capítulo inteiro.

***

Os Africanos – Sumário e Implicações: páginas 170-173 [**]

Para entender a África, a Geografia é mais importante que a História.

Fernand Braudel

É um fato central na história da África moderna, e na de muitos países do terceiro mundo, a existência de uma enorme disparidade em termos de riqueza, tecnologia e poder entre as nações imperiais européias e os povos das regiões colonizadas. A magnitude dessa disparidade possibilitou a várias nações européias superar, com o uso de uma pequena porção de seu poderio total, os mais desesperados esforços dos africanos para permanecerem independentes, adquirindo vastas áreas da África que eram, em sua maioria, de pouca significação econômica para os europeus, no esquema geral das coisas. Como diz Geoffrey Blaine, num influente estudo sobre as guerras nos últimos trezentos anos (The causes of war, p.198), “os custos, financeiros e em termos de vida humana, de um ano de guerra colonial eram menores do que aqueles de um mês de guerra no continente europeu”.

A África era, certamente, de grande importância para os africanos e algumas vezes, para certas autoridades européias coloniais, alguns missionários e determinados interesses financeiros. Mas, para os europeus residentes na Europa a África significava mais uma porção de seu império mundial. Para as autoridades governamentais, especialmente britânicas, a grande preocupação era de que a África não se tornasse um transtorno ou um peso excessivo para os tesouros nacionais. A política britânica do “governo indireto” através de autoridades nativas locais e instituições nacionais – modificada para se adequar aos propósitos coloniais – foi o resultado do desejo de minimizar os custos em função de uma dada quantidade de controle governamental. Na maioria dos casos, com a exceção das “regiões montanhosas brancas” do Quênia ou das sociedades de colonos brancos da Rodésia e da África do Sul, não houve a intenção de transplantar a sociedade européia para os países africanos, como aconteceu nos EUA ou na Austrália. Mas, apesar do controle governamental indireto ter sido um mero expediente para os europeus, ele afetou profundamente as instituições, a sociedade e o futuro dos povos colonizados. Não raro, as autoridades nativas tradicionais que originalmente possuíam poderes limitados por amarras tradicionais, tornavam-se pequenos autocratas quando contavam com o apoio das forças aparentemente invencíveis das nações imperialistas.

Os brancos, nessas condições, eram ainda mais autocráticos. Além do mais, imperialismo de baixo custo exigia que se agisse imediatamente em relação a idéias, indivíduos e movimentos que pudessem necessitar mais tarde, caso fossem desconsiderados, do uso de tropas e de material bélico para a manutenção do controle. Uma outra experiência do controle imperialista de baixo custo foi a mística do homem branco, muito além e acima do que o racismo espontâneo pudesse produzir. Apesar de eficaz por muitos anos, essa mística era vulnerável a qualquer revelação de sua fragilidade humana.

A natureza de um castelo de cartas do imperialismo europeu na África tornou-se aparente com a rápida expansão das independências nacionais nos anos 1960. Poucas nações africanas tiveram de empreender guerras desesperadas, do tipo empreendida por George Washington ou Simon Bolívar, para a obtenção da independência. Quando a repressão de baixo custo fracassou na África, os líderes africanos foram, em mais de um país, simplesmente soltos e postos na chefia dos estados independentes pelos governos imperialistas que em muitos casos não consideraram a situação merecedora de uma guerra em grande escala.

Naqueles casos excepcionais em que a independência só aconteceu depois de lutas longas, ferozes e sangrentas – no Quênia, na Argélia ou Rodésia-Zimbabwe, por exemplo – a resistência-chave à independência veio mais das comunidades de colonos europeus na África do que de interesses econômicos no interior das nações imperialistas. Isso é parte de um amplo padrão de amargas relações entre os povos nativos e os colonos estrangeiros que se recusavam a deixar suas terras que eram agora seu solo nativo – ou aceitar serem governados pelos colonizados, com quem eles compartilhavam uma história de desconfiança e hostilidade. Ulster na Irlanda e West Bank em Israel são outros exemplos a mostrarem que nem grandes interesses econômicos, nem diferenças de cor são essenciais a este fenômeno.

Apesar dos africanos apresentarem padrões comuns a outros povos conquistados, eles são únicos em alguns aspectos. Os países africanos não foram, na maioria dos casos, diferentes tanto das colônias americanas ou da Inglaterra sob o Império Romano, nem réplicas da sociedade imperial, nem verdadeiramente integradas ao seu sistema legal ou às suas tradições sociais. Não obstante muitas nações africanas independentes imitarem no início e de forma superficial as sociedades democráticas ocidentais, o período relativamente curto de governo de molde ocidental, dificilmente poderia reproduzir na África os séculos de tradição que tornaram viáveis as instituições democráticas na Europa e em sociedades dela derivadas [EUA e Austrália, por exemplo].

De forma similar, os feitos econômicos da Europa não foram prontamente transferidos para a África, parcialmente por causa das severas limitações geográficas e climáticas que, por muito tempo, retardaram o desenvolvimento político, econômico e cultural em muitas partes do continente. Além disso, a breve história de exposição da África à cultura da Europa não possibilitou a reprodução, em solo africano, do progresso econômico europeu, tal como ocorreu com a reprodução do desenvolvimento das instituições democráticas. Contudo, de algum modo a cultura européia deixou sua marca nos africanos. Essa transferência cultural limitada se fez de várias formas, variando desde influências inconscientes até através de estudos formais. Entretanto, apesar do desejo inicial de muitos países independentes em imitar o Ocidente, por meio da construção de um parque industrial, por exemplo, muito pouco de ciência, tecnologia ou capacidade de gerência organizacional do Ocidente foi transferido para os africanos.

Apesar de muitos africanos destinados a se tornarem líderes de seus países, terem passado anos, em alguns casos décadas, vivendo e estudando na Europa e nos EUA, o que eles trouxeram de volta do Ocidente não foram as habilidades práticas e o conhecimento tecnológico que fazem a riqueza e o poder do Ocidente mas, ao invés disso, eles trouxeram as teorias sociais e as especulações morais dos intelectuais europeus e americanos. Muito da penosa história do primeiro quarto de século de independência da África foi uma história dos líderes africanos – sem o conhecimento e a experiência prática nem da África, nem do Ocidente – tentando experimentos sociais radicais em seus próprios povos, baseados em teorias não testadas de intelectuais ocidentais.

Os resultados foram catastróficos. Todo o quarto de século, começando em 1965, presenciou um crescimento econômico per capita negativo em Uganda, Tanzânia, Chad, Zâmbia, Gana, Senegal, Madagascar, Zaire, Nigéria, Benin e República Central Africana. Isso significa que muitos africanos estavam mais pobres uma geração após a independência do que eles eram sob os governos imperialistas. Depois de muita decadência econômica, tragédia social, repressão política, freqüente brutalidade e derramamento de sangue, alguns países e seus líderes começaram a mudar de curso nos anos 1980, liberando a economia de controles estatistas e assim estimulando a iniciativa e as energias de seus próprios povos, levando a soerguimentos econômicos em países economicamente devastados, como Nigéria e Gana. Por volta de 1997, talvez uma dezena de países africanos estava crescendo a taxas anuais de 5% ou maiores.

Isso sugere que uma dose, mesmo que atrasada, de pragmatismo estava começando a substituir a fascinação inicial de visões grandiosas e inflamada retórica que marcaram o começo da era da independência na África. Porém, na última década do século XX, o crescimento econômico na África ainda estava atrás daquele de muitos outros países em termos percentuais ou em termos absolutos. Entretanto, a África não era a única nesta situação. O grau de liberdade está correlacionado à taxa de crescimento econômico das nações em geral. Para a maior parte da África, liberdade para o povo permanece uma aspiração, três décadas depois que as independências nacionais foram alcançadas

Tradução: Antônio Emílio Angueth de Araújo

[*] Ver também, de Sowell, A tragédia da África e A tragédia da África II

[**]Os negritos são do tradutor

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