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segunda-feira, 10 de março de 2008

As raízes históricas do Eixo do Mal Latino-Americano - Parte I

por Heitor De Paola em 04 de agosto de 2005

Resumo: Para entender porque os riscos de uma radicalização esquerdista na América Latina não são irrelevantes, é necessário conhecer o longo processo histórico que envolve as atividades comunistas ao longo do século XX.

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Uma nova ameaça terrorista (...) pode bem vir de um eixo incluindo Cuba de Fidel Castro, o regime de Chávez na Venezuela e um recém eleito presidente radical no Brasil, todos com ligações com Iraque, Irã e China.

(…) Isto pode levar a que 300 milhões de pessoas em seis países caiam sob o controle de regimes radicais anti-EUA (...). Um eixo Castro-Chávez-da Silva significaria ligar 43 anos de luta anti-americana de Castro com a riqueza petrolífera da Venezuela e com o potencial econômico e a incipiente capacidade nuclear incluindo mísseis, do BrasiL. Constantine Menges, 2002

Quem primeiro usou a expressão “eixo do mal” foi o Professor Constantine Menges, do Hudson Institute, num artigo para o Washington Times intitulado “Blocking a new axis of evil”, publicado em 07/08/2002, em plena campanha presidencial brasileira quando todas as pesquisas indicavam a vitória de Lula. Posteriormente, escreveu vários artigos sobre o tema. Tiveram quase nenhuma repercussão no governo americano e no Brasil onde somente os articulistas ligados ao Professor Olavo de Carvalho, eu incluso, deram a devida atenção. Nos EUA a predominância da preocupação era com o Oriente Médio e as análises errôneas dos assessores do Secretário de Estado Colin Powell, notadamente Otto Reich, sobre a AL e a então Embaixadora dos USA em Brasília, Donna Hrinak, que declarou em junho de 2002 que Lula “encarnava o sonho americano”, sem tomar conhecimento do apoio de Lula ao terrorismo internacional, incluindo islâmico, o que viria a ser confirmado pela seleção de países árabes a que visitou como Presidente. Denunciava Menges: “este candidato radical é o promotor do terrorismo internacional por coordenar planos terroristas de organizações anti-americanas radicais que se reúnem anualmente no Foro de São Paulo”.

Suas observações continuam pertinentes ainda hoje mas necessitando de algumas atualizações. A principal delas, a de rastrear a evolução deste Eixo com as estratégias comunistas de dominação mundial anteriores e inseri-lo em seu lócus apropriado dentro das mesmas. Para isto, as políticas do Eixo serão estudadas à luz das informações contidas nos Memorandos enviados à CIA por Anatoliy Golitsyn e reunidos nos livros New Lies for Old e The Perestroika Deception.

À guisa de apresentação, basta por enquanto dizer que Golitsyn foi agente graduado do KGB, formou-se pela Universidade de Marxismo-Leninismo e pela Escola Diplomática, foi membro do Komsomol (Juventude Comunista) e tornou-se membro do Partido Comunista em 1945, tendo percorrido todos os passos dentro dos serviços de contra-informação soviéticos. Em 1961, exilado nos EUA, passou a escrever memorandos para a CIA, denunciando a estratégia comunista que não estava sendo percebida porque o Ocidente usava métodos superados de avaliação.

O grande mérito de Golitsyn, que extrapola o estudo específico da URSS, é o de fornecer aos analistas políticos de qualquer situação ligada a partidos comunistas, inclusive no presente, uma nova metodologia de avaliação, até mesmo para o estudo – que eu saiba inédito - que pretendo fazer neste artigo.

AS TRÊS GRANDES ESTRATÉGIAS COMUNISTAS DE DOMÍNIO MUNDIAL E SUA REPERCUSSÃO NA AMÉRICA LATINA [2]

Find the beginning of things – And you will understand much. Abbie Farwell Brown

Perguntado em 1994 pelo Deputado americano Clark Bowles, se o objetivo de longo prazo do movimento comunista continuava a ser o mesmo, de dominação mundial, Mo Xiusong, Vice Presidente do Partido Comunista Chinês, disse: Sim, certamente. Esta é a única razão pela qual existimos! Note-se que em 1994 já haviam transcorrido nove anos do início da Perestroika, cinco da Queda do Muro de Berlim e a China já “se abria” economicamente para o capital internacional. E o pior é que muitos, alguns ingênuos, outros mal intencionados, ainda acreditam que esta “abertura” é para valer e não apenas parte de uma estratégia de usar o capital ocidental – único lugar onde ele existe! – para tornar-se cada vez mais forte militarmente e mais facilmente destruir o Ocidente. Os chineses mostram que aprenderam a lição leninista: “os capitalistas comprarão a corda com que serão enforcados”. Já os capitalistas não aprenderam nada, com sua crença mística no “mercado” onipotente capaz de gerar milagres somente por seu apelo à liberdade, e estão não apenas comprando a corda mas financiando a fábrica de cordas e investindo em suas ações na bolsa para serem destruídos com o bolso cheio de dinheiro!

A PRIMEIRA GRANDE ESTRATÉGIA

O objetivo desta primeira estratégia era apenas derrubar o Regime Tzarista na Rússia e conquistar o poder para os Bolcheviques. Em 1917, quando da revolução que acabou com a Monarquia russa, enquanto todos os partidos agiam às tontas, improvisando, apenas um, o Partido Bolchevique, sabia exatamente o que queria e já fora definido por Lenin em seu “O que fazer?” publicado em 1902. Na realidade esta primeira estratégia foi preparada durante 20 anos, desde o final do século XIX, implementada e testada durante a Revolução de 1905 e acalentada durante todo o tempo de exílio de Lenin.

As repercussões na América Latina foram indiretas. Foram escassos os interesses na região, Lenin voltou-se para os países ricos na ânsia de conseguir sobreviver às contradições do regime e à violenta guerra civil que se seguiu à tomada do poder. Foram fundados partidos comunistas em vários países latino-americanos - como o Partido Comunista do Brasil - mais por difusão ideológica do que propriamente por uma ação direta da incipiente URSS. Uma iniciativa mais séria do Komintern só veio a se desenvolver durante a Segunda Estratégia (1919-1953).

SEGUNDA GRANDE ESTRATÉGIA

Seus objetivos principais foram promover o comunismo na Rússia e fomentar a Revolução Comunista Mundial. Inicialmente, Lenin desenvolveu um ataque frontal ao mundo capitalista através da fundação do Komintern em 1919.

Posteriormente, para tentar salvar a economia que entrava em colapso aceleradamente, Lenin lançou a NEP Nova Política Econômica – precursora do pseudo-capitalismo chinês atual, com a promoção de reformas políticas para tornar o comunismo mais atraente, um limitado capitalismo controlado pelo Estado visando conseguir créditos e tecnologia do Ocidente, o aumento do comércio internacional, e atrair capitais de que necessitava desesperadamente.

Com a morte de Lenin, Stalin partiu para a industrialização e coletivização forçadas, repressão maciça e poder pessoal absoluto, liquidando a NEP em 1929. Na década de trinta passou a explorar as contradições entre as Grandes Potências – principalmente através do Pacto Nazi-Soviético (Molotov-Ribbentrop).

Com a ruptura do Pacto por parte de Hitler, Stalin aliou-se com os Estados Unidos e a Inglaterra para conseguir ajuda militar americana e enfrentar o Exército alemão. Para enganar aos novos aliados, Churchill e Roosevelt, mostrou-se apenas um líder nacionalista, sem pretensões expansionistas, às expensas da ideologia, escondendo a grande estratégia expansionista já em preparo e posta em prática no pós-Guerra: expansionismo para o Leste Europeu e a Ásia.

OFENSIVAS NA AMÉRICA DURANTE A SEGUNDA ESTRATÉGIA
Para abordar este assunto utilizarei o termo “Ofensivas” que facilita a apresentação didática do assunto. Durante a Segunda Estratégia, distingo duas ofensivas, separadas pelo período da Segunda Guerra Mundial.

PRIMEIRA OFENSIVA (1919-1943)
Com a criação do Komintern (Terceira Internacional ou Internacional Comunista [3]) em 1919, Lenin deu o passo principal no sentido de completar a tarefa legada por Marx e Engels no Manifesto Comunista: o internacionalismo proletário. Georgij Mikhailov Dimitrov, o búlgaro que viria a desempenhar importantes funções no Komintern, sendo Secretário Geral de 1934 até 1943, num artigo publicado em Sófia em maio de 1919 para o Partido Comunista Búlgaro, [4] já se referia a duas cartas enviadas por Lenin: uma para os trabalhadores da América (do Norte) e outra para estes e os trabalhadores europeus. Na primeira carta Lenin distribuía as principais tarefas do proletariado mundial, ressaltava o caráter eminentemente pacífico da URSS, a importância da Ditadura do Proletariado e da Revolução Russa para um novo mundo. Na segunda, notando o sucesso do proletariado revolucionário em vários países em sua luta pelo poder político, ele reforçava a importância da Internacional Comunista como meio para atingir os fins da revolução mundial proletária. A política central do Komintern era estabelecer Partidos Comunistas em todos os países como forma de incrementar a revolução proletária mundial.

Ainda sob a direção de Grigory Yevseievich Zinoviev, a área principal de atuação do Komintern foi a Alemanha onde logo após o final da guerra e a queda da Monarquia Hohenzollern estourou uma revolta popular, a Revolução Alemã de 1918, incitada pela Spartakus Bund (Liga Spartacus), fundada por Rosa Luxemburg (“Rosa Vermelha”) e Karl Liebknecht, que em dezembro deste mesmo ano mudou o nome para Partido Comunista Alemão aceitando as 21 Condições do Komintern [5]. Além da Alemanha ser o principal país onde uma revolução era possível, a Spartakus Bund tinha grande influência nos sindicatos de marinheiros mercantes, dos mais atuantes em 1918, e o Komintern anteviu o potencial de disseminação mundial desses marujos [6]. Foi logo fundada em Hamburgo uma “Casa Liebknecht”, na aparência totalmente apartidária, para “descanso e lazer” dos marujos alemães e de outros países. Estas casas foram logo espalhadas pelos principais portos europeus, como Rotterdam, Antuérpia, Le Havre, Marselha, etc., e daí para o mundo. Organizava-se também a estiva nestes portos.

Na área sindical foi estimulada a filiação das centrais nacionais de trabalhadores à Internacional Vermelha de Centrais de Trabalhadores, Profintern, simultaneamente combatendo todos os outros movimentos sindicais, chamados de anarco-sindicais, por não terem uma direção internacional unificada. Na área política, principalmente após o Sétimo Congresso do Komintern em 1935, foi recomendada a política de Frentes Populares com outros partidos “progressistas”, mantendo no entanto o PC sua plena autonomia como Partido de Vanguarda. Esta política foi muito bem sucedida na França e na Espanha. Num memorável artigo [7] Dimitrov resume toda a importância desta política.

Nos Estados Unidos a grande vitória foi a penetração cultural, levada a efeito sob a direção de Willi Münzenberg. Münzenberg, um radical alemão com grande talento para trabalhos secretos, foi apresentado por Trotsky a Lenin ainda no exílio na Suíça e desde 1915 foi seu companheiro fiel. Foi apresentado por Lenin a Karl Radek, um intelectual radical polonês já do círculo íntimo de Lenin e protegido de Féliks Dzerzhinsky, o inventor do estado policial e fundador da primeira polícia política do regime comunista, a VTchK GPU (iniciais russas para Comissão Extraordinária de Todas as Rússias para Combater a Contra-Revolução e a Sabotagem; posteriormente foi abreviada para VTchK e popularmente conhecida como Cheka). Este trio comandou a infiltração na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.

Münzenberg foi o primeiro grande mestre numa nova forma de serviço secreto: o front secreto de propaganda e a manipulação de “companheiros de viagem”. Seu objetivo, plenamente alcançado, era criar o principal preconceito político de seu tempo: a crença de que qualquer opinião que servisse à política externa da URSS era derivada dos mais essenciais elementos da decência. Conseguiu instilar o sentimento, que passou a ser tido como a mais pura verdade, de que criticar a política soviética era típico da maldade, estupidez e da inveja, enquanto apoiar a URSS era prova de uma mente esclarecida e avançada, comprometida com o que há de melhor na humanidade e sensibilidade refinada [8]. Todos os “formadores de opinião” foram envolvidos: escritores, artistas, comentaristas, padres, professores, cientistas, capitães da indústria, psicólogos, etc. Todos faziam parte do que Münzenberg chamava com desprezo “Clube dos Inocentes” (daí derivam as expressões inocentes úteis e idiotas úteis). Estes não faziam parte dos que “sabem das coisas”, que conhecem a agenda secreta, e assim tinha que ser para que defendessem a “causa” com ardor moralístico e religioso. A lista dos “inocentes” é qualitativamente impressionante: Ernest Hemingway, John dos Passos, Lillian Hellman, George Groz, Erwin Piscator, Mary McCarthy, Adré Malraux, André Gide, Bertold Brecht, Dorothy Parker, Kim Philby, Guy Borgess, Sir Anthony Blunt, Romain Rolland, Albert Einstein, Upton Sinclair, George Bernard Shaw, H. G. Wells e muitos mais.

Em junho de 1933 Münzenberg organizou um encontro de intelectuais europeus no Congresso Anti-Fascista Europeu, em Paris que veio a se juntar a outros sob o nome Comitê de Luta Contra a Guerra e o Fascismo [9]. A década de 30 foi chamada de “A Década Vermelha” [10].

Na América Latina as principais realizações comunistas nesta infiltração foram em Cuba e no Brasil. Em 1933 em Cuba, seguindo a recomendação de fronts populares, apoiaram a “Revolta dos Sargentos” liderada por Fulgencio Batista, o qual se candidatou e foi eleito Presidente em 1940, com pleno apoio do PC Cubano. Exilado em 1944 retornou em 1952 e foi ditador até a vitória de Fidel Castro em 1959. Durante todo o tempo, até quase a chegada de Castro a Havana, o Partido Comunista apoiou Batista. Castro teve que se entender diretamente com Moscou.

No Brasil, a primeira grande ofensiva comunista se deu em 1935, na chamada Intentona, devidamente barrada pela pronta reação militar. Por ser sobejamente conhecida a sua história, deixo de apresentar detalhes.

INTERREGNO

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O FIM DA ALIANÇA TEUTO-SOVIÉTICA

Em agosto de 1939, uma semana antes da invasão da Polônia, após anos de propaganda maciça e falsa contra o nazi-fascismo, a URSS assina o Pacto Molotov-Ribbentrop [11] com o até então propagandeado arqui-inimigo dos “povos amantes da paz”. No entanto, o Pacto que desamarrou as mãos de Hitler para começar a guerra, apenas culminou e trouxe às claras uma conspiração secreta muito mais antiga, iniciada logo após a I Guerra Mundial, que precisava mais do que nunca ser negada de todas as formas possíveis após a invasão da URSS por Hitler em 1941, já que agora o antigo aliado tornara-se o inimigo temido e odiado.

A história desta aliança de 11 anos (considerando-se oficialmente os anos de 1922 a 1933, mas que na verdade começou em 1919 e só terminou de fato em 1941) jamais foi contada no Brasil, pois a negação e a desinformação com que foi dissimulada desde o início, ainda continua vigorando entre nós, apesar da abertura dos arquivos secretos de Moscou. Já se pode perceber aqui uma das mais importantes conseqüências da terceira onda de infiltração que será descrita adiante: a má fé que faz com que parte da pseudo-intelectualidade brasileira omita, de caso pensado, todos os fatos do mundo comunista e o total apatetamento e anomia dos demais. Os cursos de história continuam falando de um antagonismo mortal entre a “esquerda socialista” (a palavra comunista é proibida e a socialista é atraente) e a “direita fascista”. Como esta foi uma das mais bem sucedidas operações de desinformação soviéticas, levantarei uma ponta do véu que a tem encoberto, baseado em relatos de documentos [12] que hoje estão à disposição de quem quiser ler – se puder se livrar de suas pré-concepções ideológicas.
* * *

O já citado Karl Radek foi preso em Berlim em fevereiro de 1919 pela participação e organização através da Spartakus Bund da Revolução de 1918. Depois da assinatura do Tratado de Versailles, no verão do mesmo ano, Radek foi transferido de uma cela de segurança máxima para outra extremamente confortável. Nesta foram realizadas as primeiras reuniões secretas que levaram à cooperação entre o Exército Vermelho dos Operários e Camponeses e o Reichswehr (Exército Alemão). Em dezembro do mesmo ano Radek é libertado sem julgamento e vai a Moscou levando o esboço de um tratado de cooperação que reativaria o acordo feito por Lenin com o governo do Kaiser que lhe permitiu passar pelo território alemão para assumir o poder na Rússia em 1917 e que teve como conseqüência o cessar fogo e a paz de Brest-Litovsk de 3 de março de 1918. Durante este intervalo houve realmente antagonismo entre as forças “de direita”, (representada por diversos grupos para-militares, principalmente os Stahlhelm - Capacetes de Aço) e a Spartakus Bund. Os Stahlhelm podem ser considerados o núcleo de onde se originaram as Sturm Abteilungen (SA) do Partido Nazista.

Esta cooperação era de interesse fundamental para as duas partes. Na URSS, com a eliminação de quase toda a oficialidade do exército tzarista, principalmente do Generalato, o recém fundado Exército Vermelho não passava de um amontoado de amadores dirigidos por outro amador: Trotsky. Além de tudo, a Rússia estava diplomaticamente isolada. Já a Alemanha, encontrava-se limitada e humilhada pelo Tratado de Versailles que impusera pesadíssimas indenizações mas sobretudo uma suprema humilhação para os valorosos guerreiros prussianos: o Tratado proibia a Alemanha de possuir uma Força Aérea, submarinos, navios de guerra de grande tonelagem (cruzadores e encouraçados); proibia ainda a fabricação de aviões militares e dirigíveis, tanques e blindados em geral, e armas químicas. Limitava os efetivos em 100.000 homens. Portanto, os dois países poderiam ser chamados apropriadamente de “Párias de Versailles”.

Ficou acertado, portanto, que a Rússia incrementaria suas defesas ao receber capital e assessoria técnica, enquanto a Alemanha poderia fazer uso de bases altamente secretas no território russo para fabricar armamento ilegal, principalmente tanques e aviões de guerra, além do fornecimento de metais como molibdênio, níquel, tungstênio e especialmente manganês, sem o qual a produção alemã de aço ficaria paralisada. Formou-se uma empresa de fachada chamada GEFU (Gesellschaft zur Förderung gewerblicher Untermehmungen - Companhia para o Desenvolvimento de Empresas Industriais). Finalmente em 1922 foi assinado o Tratado de Rapallo, confirmado pelo Tratado de Berlin [13] de 1926. O Reichswehr foi autorizado a organizar bases militares na URSS para realizar testes de material, ganhando experiência em táticas e treinamento de pessoal nos setores proibidos pelo Tratado de Versailles. A Alemanha retribuía com compensações materiais e com o direito do Exército Vermelho participar dos testes e manobras. Uma fábrica de produção de gás mostarda e outra de munição de grosso calibre foram estabelecidas.

O segredo era total de ambas as partes. Os soldados alemães usavam trajes civis e não podiam dizer onde estavam nem para seus familiares. Mesmo após a nazificação da Alemanha e a mudança de nome de Reichswehr para Wermacht a colaboração continuava. Em 13 de maio de 1933 numa recepção na Embaixada do Reich em Moscou, Kliment Efremovitch Voroshilov, Comissário do Povo para Assuntos Militares e Navais (Ministro da Guerra), falou da aspiração de manter boas relações entre os “exércitos amigos” no futuro. E o General Mikhail Nikolayevich Tukhachevsky, Vice Comissário e Chefe do Estado-Maior afirmou: “Não se esqueçam que é nossa política que nos separa, não nossos sentimentos de amizade do Exército Vermelho e da Wermacht (...) vocês e nós, Alemanha e URSS, podemos ditar nossos termos ao mundo todo se permanecermos juntos”. Não obstante, uma das razões para os grandes expurgos de 1936-38, os chamados “Julgamentos de Moscou” [14], foi para manter o segredo destas operações altamente secretas. Stalin executou todos os principais artífices soviéticos desta conspiração, incluindo Tukhachevsky, Radek e Zinoviev. Voroshilov foi um dos acusadores.

Os dois países encontravam-se unidos contra o mundo ocidental, independentemente das agitações maquinadas pelo Partido Comunista Alemão e pelas divergências internas, o que levou Lloyd George a declarar, no final da Primeira Guerra: “O maior perigo do momento consiste no fato da Alemanha unir seu destino com os Bolcheviques e colocar todos os seus recursos materiais e intelectuais, todo seu talento organizacional ao serviço de fanáticos revolucionários, cujo sonho é a conquista do mundo pela força das armas. Esta ameaça não é apenas uma fantasia” [15]. E não era! A história posterior só fez comprovar a idéia profética do ex Primeiro Ministro Britânico!
* * *

Esta conspiração precisava ser mais dissimulada ainda após as hostilidades e, em parte, para isto foi fundado em 1943 o Kominform [16] (Bureau Comunista de Informação) que durou até 1956, quando foi dissolvido na “desestalinização”. O Kominform era coordenado pelo PCUS e pelos partidos comunistas da Bulgária, Checoslováquia, França, Hungria, Itália, Polônia, Romênia e Iugoslávia (esta última até sua expulsão em junho de 1948). O Komimform foi o responsável pela intensa desinformação durante a guerra e o pós-guerra imediato e através dele Stalin plantou no Ocidente a falsidade da oposição entre o socialismo – de esquerda – o bem maior para o qual curvava-se o “processo histórico”, e o nazi-fascismo – de direita – na contramão do “processo histórico”. Quando na realidade são vinhos da mesma pipa.

A SEGUIR: SEGUNDA OFENSIVA – TERCEIRA ESTRATÉGIA E TERCEIRA OFENSIVA

Notas:

[1]Este artigo é baseado em Palestra com o mesmo título apresentada no Clube Militar do Rio de Janeiro em 05/07/05, sob os auspícios da ONG TERNUMA (Terrorismo Nunca Mais)
[2]Uma abordagem mais detalhada dessas estratégias será feita num próximo artigo: True Lies III: Perestroika, a Mentira do Século.
[4] Two open letters by Lenin to the American and European workers, in http://www.marxists.org/reference/archive/dimitrov/works/1919/lenin.htm
[6] Uma descrição romanceada mas fiel está no livro de Richard Julius Hermann Krebs, sob o pseudônimo de Jan Valtin, Do fundo da Noite. Em inglês Out of the Night.
[8] Stephen Koch, Double Lives: Spies and Writers in the Secret Soviet War of Ideas Against the West, Free Press, NY, 1994.
[9] Richard Gid Powers, Not Without Honor: The History of American Anticommunism, Yale Univ. Press, London & New Haven, 1995.
[10] Eugene Lyons, The Red Decade: The Stalinist Penetration of America, Bobbs-Merril, Idianapolis, 1941.
[12] Ver The Red Army and the Wermacht: how the Soviets militarized Germany, 1922-1933, and paved the way for Fascism, Yuri Dyakov & Tatiana Bushueyva, Prometheus Book, NY, 1995.
[15] Citado em Truth about Peace Treaties, Munich, 1957.
Sobre o assunto leia também: Uma questão de metodologia - Parte I e II; True Lies I e II

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