Do portal do ESTADÃO
Por Andres Oppenheimer em domingo, 30 de Março de 2008
O presidente venezuelano Hugo Chávez, o presidente do Equador, Rafael Correa, e guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) emitiram declarações frenéticas refutando a autenticidade de arquivos de computador explosivos recolhidos pela Colômbia depois de seu ataque de 1º de março a um acampamento rebelde no Equador. Eles podem ter boas razões para estar preocupados.
Se forem provadas autênticas por uma equipe de especialistas forenses em computador da Interpol convidada pelo governo colombiano para examinar três laptops Toshiba arrebatados do líder rebelde morto, Raúl Reyes, durante o ataque, os documentos indicariam, entre outras coisas, que as carreiras políticas de Chávez e Correa foram parcialmente financiadas por um dos grupos terroristas mais violentos do mundo.
Além disso, os documentos falam de um fundo de cerca de US$ 300 milhões que Chávez estaria criando para as Farc, e de um apoio ativo de Correa a acampamentos das Farc no Equador.
Enquanto Chávez pede que o mundo dê às Farc um status de "beligerante", o que equivaleria a uma legitimação diplomática, os EUA, o Canadá e os 27 países da União Européia definem as Farc como um grupo "terrorista". A equipe da Interpol que está examinando os computadores deve emitir seu veredicto sobre a autenticidade dos arquivos em meados de abril.
O governo Chávez ridicularizou os arquivos como "falsificações", e Correa os tem chamado de "infâmia". Uma declaração das Farc publicada no site do Ministério da Informação da Venezuela ridiculariza as afirmações da Colômbia sobre os arquivos, dizendo que eles não teriam sobrevivido ao ataque do Exército colombiano "mesmo que fossem à prova de bala".
Ante essas negativas, telefonei para altas autoridades colombianas, incluindo o chefe de polícia, general Óscar Naranjo, o encarregado da investigação da Colômbia, e para analistas políticos. Perguntei como eles pretendem convencer o mundo de que os documentos são autênticos. Entre suas respostas:
Primeiro, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, estaria cometendo o maior erro de sua carreira - equivalente à afirmação de George W. Bush de que havia armas de destruição em massa no Iraque - se tivesse divulgado documentos que se revelariam falsificações.
Segundo, Uribe seria muito tolo de convidar a Interpol para examinar os computadores de Reyes e tornar público seu relatório. A Colômbia informa que deu à equipe da Interpol pleno acesso não só à investigação, mas também aos próprios computadores.
Terceiro, é quase impossível manipular um disco rígido de computador sem deixar traços que seriam detectados por especialistas. "Os especialistas da Interpol poderão determinar, além de qualquer dúvida, se esses documentos foram modificados, apagados ou acrescentados à memória do computador após o ataque de 1º de março", disse-me o general Naranjo.
Quarto, há mais de 2 mil fotos de Reyes e seus colegas guerrilheiros das Farc nos computadores, incluindo alguns visitantes bem conhecidos em acampamentos rebeldes. Como o Exército colombiano poderia ter forjado essas fotos?, perguntam autoridades colombianas. Até mesmo uma foto do computador de Reyes que autoridades colombianas haviam erroneamente descrito como mostrando Reyes em companhia de um ministro equatoriano revelou-se uma foto autêntica do líder rebelde morto com outra pessoa, dizem elas.
Quinto, autoridades costa-riquenhas encontraram US$ 480 mil em dinheiro na casa de um simpatizante das Farc perto da capital da Costa Rica, com base em informações encontradas em computadores de Reyes, segundo autoridades colombianas e costa-riquenhas.
Sexto, as autoridades colombianas ridicularizam as alegações das Farc de que os computadores não poderiam ter sobrevivido ao ataque: mais da metade das estimadas 60 pessoas que estavam no acampamento guerrilheiro no momento sobreviveu, e muitos objetos sofreram poucos danos, dizem eles.
Depois de entrevistar autoridades colombianas, liguei para vários especialistas em computador para perguntar se seria tecnicamente possível o Exército colombiano ter alterado os computadores sem deixar marcas. "Seria extremamente difícil, se não impossível, alguém plantar evidências consistentes depois do fato", disse Jason Paroff, chefe de operações forenses de computadores da Kroll Ontrack Inc., uma das maiores empresas mundiais de recuperação de dados, com sede em Minneapolis. "Se alguém plantou evidências, a equipe (da Interpol) descobrirá."
Ou Uribe é louco de convidar a Interpol para verificar a autenticidade dos arquivos, ou Chávez e Correa em breve ficarão expostos ao mundo como mentirosos compulsivos e aliados de terroristas. A julgar pelo que os especialistas em computadores dizem, será uma coisa ou outra. Façam suas apostas.
Andres Oppenheimer é colunista do "Miami Herald"
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