Do blog ALERTA TOTAL
Por Márcio Accioly, Quinta-feira, Dezembro 20, 2007
Que dizer de uma “administração” que cobre “caixinha” de 17% de propina nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos? Onde os processos parem de andar se tais agrados não forem colocados nas mãos dos responsáveis pela burocracia?
Pois era isso o que acontecia no reinado de D. João VI, o Imundo, monarca que fugiu de Portugal para o Brasil, em 1807, com medo de ser aprisionado pelas tropas francesas de Napoleão que invadiram Portugal naquele ano. Nossa herança é pesada.
Quem quiser saber dessa e de outras histórias, basta examinar o excelente livro de Laurentino Gomes, “1808”, publicado pela Editora Planeta. Retrato sem retoques do nosso país e nossas desgraças.
A caixinha do século XIX nada tem a ver com notícia veiculada na Folha de S. Paulo (20/12/07), mostrando que o laptop de 100 dólares, preço pretendido pelo presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP), em novembro de 2006, saiu por “cerca de 360 dólares”, preço ofertado pelo grupo Positivo no pregão acontecido na quarta-feira (19).
Deve ser por essa e algumas outras razões que o ex-presidente FHC (1995-2003), pretende voltar ao Palácio do Planalto, conforme anunciou em recente entrevista. Ele disse que “muitos insistem” na sua volta, mas que ele ainda não tomou qualquer decisão. O rei da sociologia só pensa em moralizar o serviço público.
Os maiores interessados pelo seu retorno devem ser os fidalgos que tomaram parte na sua gestão, já que em todas as pesquisas de intenção de voto efetuadas a população quer FHC responsabilizado pela grave desnacionalização econômica (78%) e desvios monumentais a que o “governo” Dom Luiz Inácio dá seqüência.
Ora, se o atual presidente está fazendo tudo exatamente igual ao que seu antecessor fazia, para que mudar os participantes? Se a política econômica é a mesma, se os escândalos se amontoam (com a diferença de que pelo menos algumas CPIs puderam ser instaladas), por que trocar figurantes?
Com relação ao pregão de laptops, é bom ressaltar que nada foi ainda definido e que nossas autoridades, sempre zelosas com o dinheiro público, ainda estão negociando. Afinal de contas, não se irão torrar impunemente os recursos do erário, não é verdade?
Enquanto isso, o Estado brasileiro exibe os horrores de seu mecanismo interno, com a tortura e morte de um adolescente de 15 anos numa delegacia da cidade de Bauru (SP). Ele foi vítima de choques elétricos aplicados por policiais militares.
Na seqüência, o construtor civil André Luiz Araújo Costa contou ter sido vítima também de torturas na sede do Departamento de Polícia Judiciária do Interior, Deinter 4, no dia 29 de março último. Aconteceu na mesma cidade de Bauru. Ameaçado de morte, ele resolveu contar o caso depois da repercussão da morte do adolescente.
Dessa forma, temos cenário completo do desmando administrativo que rola por todo o país. Não é apenas no Pará (e sabe-se lá mais onde), que mulheres e meninas são colocadas em celas masculinas e submetidas a estupros e outras violências.
As “autoridades” brasileiras não têm noção do que seja administração pública. Elas têm consciência, isso sim, do grau de impunidade e descaso que permeia a estrutura de poder. A maioria está aí para locupletar-se e acumular riqueza.
Agora, acontecem os indultos de Natal e de final de ano, porque a hora é de soprar, depois do ferro em brasa no couro. Que todos se cuidem. Salve-se quem puder!
E ainda tem gente que defende a pena de morte, como se ela já não fosse praticada abertamente. Os presídios brasileiros são escolas categorizadas na formação de monstros irrecuperáveis. A culpa maior é da imprensa, pela divulgação dos fatos.
Márcio Accioly é Jornalista.
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