Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por João Luiz Mauad em 15 de dezembro de 2007
Resumo: Muito embora o parentesco entre comunismo e nazismo seja incontestável sob muitos aspectos, permanece latente a recusa sistemática de qualquer paralelo entre elas.
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Após a publicação, em 1997, de O Livro Negro do Comunismo, um trabalho histórico científico que expôs de forma insofismável os crimes do totalitarismo comunista, a defesa da esquerda foi muito pouco centrada na materialidade desses crimes, desde então dificilmente impugnáveis. “Que fez ela, então? Invocou, sobretudo, a pureza de motivos que havia determinado a sua perpetração. A mesma velha história! Desde os primeiros instantes da revolução bolchevique, tivemos que engolir, ad nauseum, essa insípida poção”, resume Revel.
O nazismo e o comunismo cometeram atrocidades comparáveis, tanto por sua extensão quanto por seus pretextos ideológicos. Isso não foi, entretanto, resultado de uma “coincidência fortuita de comportamentos aberrantes”. Ocorreu, muito pelo contrário, porque ambos comungavam os mesmos princípios e idéias fundamentais, sedimentados por convicções pétreas, e – mais importante! – empregavam o mesmo modus operandi. É emblemático o fato – aliás, inconteste – de que tanto uma ideologia quanto a outra sempre defenderam – e nunca esconderam isso – a tese de que os fins justificam quaisquer meios.
O socialismo, segundo Revel, “não é mais ou menos de esquerda do que o nazismo”. A característica fundamental de ambos “é que seus dirigentes, convencidos de serem detentores da verdade absoluta e de comandarem o curso da história, sentem-se no direito de destruir os dissidentes, reais ou potenciais, as raças, categorias profissionais ou culturais, que lhes parecem entravar (...) a consecução de seus supremos desígnios”.
Por isso, prossegue Revel, “tentar distinguir entre os dois regimes totalitários, atribuir-lhes diferentes méritos em função do afastamento de suas superestruturas ideológicas, em vez de constatar a identidade de seus comportamentos reais é bem estranho, principalmente vindo da parte dos socialistas, que deveriam ter lido Marx um pouco melhor. Não se pode julgar, dizia ele, uma sociedade pela ideologia que lhe serve de pretexto, assim como não se julga uma pessoa pela opinião que ela tem de si mesma”.
“O próprio Adolf Hitler foi um dos primeiros a saber captar as afinidades entre o comunismo e o nacional-socialismo. Ele certamente não ignorava que uma estratégia política é julgada por seus atos e métodos e não pelos adornos de oratória ou pelos ‘pompons’ filosóficos que a cercam. Ele declara a Hermann Rauschning, que o relata em Hitler me disse, livro lançado ainda em 1939:
Aprendi muito com o marxismo e não pretendo escondê-lo (...). O que despertou interesse nos marxistas e me forneceu ensinamentos foram seus métodos. (...) Todo o nacional-socialismo está lá contido. Veja bem: os grêmios operários de ginástica, as células empreendedoras, os desfiles monumentais, os folhetos de propaganda redigidos em linguagem de fácil compreensão pelas massas. Esses novos métodos da luta política foram praticamente todos inventados pelos marxistas. Eu só precisei me apoderar deles e desenvolvê-los para conseguir assim os instrumentos de que necessitávamos...”.
Pode ser um tanto surpreendente para alguns – principalmente em virtude da habilidade com que a intelligentsia esquerdista contorce e escamoteia os fatos históricos – encontrarmos a mesma linha filosófica em Karl Marx e Adolf Hitler, contra quem, a propósito, é chocante a ingratidão dos atuais pensadores socialistas. Num livro de entrevistas de Otto Wagener, também citado por Revel, Hitler é incisivo:
“Agora que terminou a era do individualismo, nossa tarefa é encontrar o caminho que leva ao socialismo sem revolução. Marx e Lênin enxergaram perfeitamente o objetivo, mas escolheram o caminho errado”.
Se o Führer comungava com Marx a opinião sobre a necessidade de mutilar o individualismo, não é menos emblemática a convergência de ambos acerca do anti-semitismo. Num ensaio muito pouco conhecido – Sobre a Questão Judaica –, mas que Hitler certamente leu com toda atenção, a ponto de tê-lo praticamente plagiado em algumas passagens, Karl Marx desfere contra os judeus uma torrente de insultos coléricos, como estes:
“Qual é a origem profana do judaísmo? A necessidade prática, a cupidez. Qual é o culto profano do judeu? O comércio. Quem é o seu Deus? O dinheiro.”
Além disso, para o profeta, o comunismo seria “a organização social que faria desaparecer as condições para o comércio e tornaria o judeu inviável”. Vemos aí, claramente, a origem do ódio incontido – tanto de nazistas quanto de comunistas – ao povo judeu. Ódio este que, diga-se de passagem, perdura até os dias de hoje.
Judeu ou não, entretanto, é nitidamente o indivíduo, seja na ideologia nazista ou comunista, quem deve ser aniquilado. Aniquilação essa que, como ensina Revel, “é a própria aniquilação do ser humano, que nunca existiu de outra forma, que não individualmente”.
Muito embora o parentesco entre essas duas sórdidas ideologias seja incontestável sob muitos aspectos, além da ululante semelhança entre suas estruturas de poder e seus aparatos repressivos, permanece latente a recusa sistemática de qualquer paralelo entre elas. Segundo Jean-François, essa recusa peremptória, aliada à execração diária de um nazismo dito de direita, “serve de anteparo protetor contra um exame mais apurado do comunismo”. Ou ainda, nas palavras de Alain Besançon, citado por Revel: “a hipermnésia do nazismo desvia a atenção da amnésia do comunismo”.
O autor é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.
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