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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Trechos de entrevista de Olavo de Carvalho sobre a cultura brasileira

Caros amigos, para este post eu copiei e colei um e-mail que recebi do meu amigo Lucas Mafaldo. Ele também postou em seu site, se quiser veja aqui.


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Caríssimos,

Nesta semana, decidi fazer algo diferente: ao invés de escrever um texto para o boletim, fiz uma seleção dos meus trechos preferidos de uma das últimas entrevistas do filósofo Olavo de Carvalho.

Gostei tanto dos trechos abaixo que quis dividi-los com vocês – mas, como a entrevista é excepcionalmente longa, eu sabia que poucos se dariam ao trabalho de lê-la por inteiro. Decidi então facilitar a vida dos meus assinantes mais apressados e oferecer os meus trechos preferidos.

Selecionei especificamente os trechos onde Olavo fala sobre a cultura brasileira e a importância do conhecimento – pois são assuntos que me interessam bastante -, mas muitas outras questões também são abordadas na entrevista: por isso, espero que os trechos seguintes sirvam de aperitivo para a leitura da entrevista completa.

A minha seleção está logo abaixo, mas quem quiser lê-la em um formato mais agradável, pode seguir este link:
http://snipurl.com/clm13

A entrevista completa está aqui:
http://www.olavodecarvalho.org/textos/poesiaeafins01.html

Um grande abraço,
Lucas Mafaldo

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Trechos de entrevista de Olavo de Carvalho sobre a cultura brasileira
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Entrevista realizada por Raimundo Bernades para o "Poesia e Afins"
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" [A] situação cultural do Brasil piorou de tal maneira que agora a gente nem saberia mais por onde começar uma reforma, uma cura ou coisa parecida (...) Naquela época [década de 60 e 70] havia a idéia de cultura superior, hoje não se tem mais. Há três coisas que deveriam ser diferentes, e por si mesmas e pela própria natureza delas já são diferentes, mas que hoje em dia se fundiram numa espécie de pastiche: a cultura superior, a propaganda política e o show business, que se transformaram num complexo no qual os elementos são indistinguíveis

Por que é que aconteceu isso? Principalmente por causa da aplicação sistemática da tal da estratégia do Antonio Gramsci por parte dos partidos de esquerda. A cultura tomada na sua inteireza, a começar pela cultura superior e terminando até na cultura no sentido puramente antropológico, no sentido de usos e costumes, é o campo de batalha da revolução gramsciana. Isto quer dizer que toda a cultura tende a ser aí instrumentalizada a serviço de um grupo político cujo objetivo é a conquista do poder total (...) este processo faz com que, pelo menos idealmente, o partido revolucionário assuma o controle de todos os canais de comunicação cultural (...) O que interessa realmente [ao movimento revolucionário] é mudar as estruturas profundas de pensamento: os valores, os símbolos, a linguagem (..) [para criar] criar uma mutação cognitiva.

(...)

Quando se começa uma revolução cultural não se tem o controle do governo ainda, só se tem o controle das instituições de cultura. (...) [A] destruição da cultura brasileira vem da sua submissão a objetivos políticos imediatos, imediatos e concretos. A tomada do poder, a aquisição do controle sobre a sociedade, é a única coisa que interessa, (...) eles não querem nem saber, se o que eles estão dizendo é verdade ou erro, (...) só importa a tomada do poder, [reduzir] tudo à luta pelo poder, que é uma coisa que antes acontecia no domínio político exclusivamente, se alastra por toda a cultura.

Isto quer dizer que a possibilidade da atividade cognitiva normal é totalmente eliminada. (...) Isto quer dizer que todo debate público se desvia para elementos secundários (...), ou seja, a discussão pública fica deslocada da realidade, e isso imbeciliza, cria um estado de alienação, um estado de embriaguez (...) Ninguém resiste a uma coisa dessas. Falar em cultura diante de uma coisa dessas, me faz rir. Não há mais cultura, aí o crítico português, o Fernando Cristóvão, dizia: "cultura, novo nome da propaganda". Tudo virou propaganda apenas. Então, como esse processo se aprofundou muito no Brasil, chegou a um ponto catastrófico, não dá pra voltar mais, eu só vejo possibilidade de sobrevivência de uma cultura brasileira ou no exílio ou em grupos isolados regionais, como esse pessoal da própria revista Poesia e Afins exemplifica.

(...)

Bom, desde o início da história independente do Brasil o que se entendia por educação e cultura eram duas coisas: ou era um adorno da classe dominante, dos ricos, e um adorno que na verdade era desnecessário à manutenção da sua posição (...) Por outro lado, o que se entendia como educação e como cultura era a educação popular, que deveria qualificar as pessoas para o exercício de um trabalho que permitisse a sua sobrevivência. (...) A introdução das ideologias revolucionárias a partir dos anos 20 e 30 dá a elas uma terceira função, que é a função de propaganda ideológica. À medida que a Igreja Católica adquire alguma força no Brasil, (...) surge a cultura também como meio de catequese.

Dessa forma, o que existe no Brasil de cultura é: adorno e divertimento, meio de subsistência, meio de propaganda política e conquista de poder e meio de catequese. Em todos estes casos a cultura está submetida a outras coisas, (...) ela não é um valor em si mesma, ela não tem função em si mesma.

O Brasil até hoje não percebeu (...) a importância que o conhecimento tem para a formação da própria personalidade humana. O conhecimento é sempre visto como instrumento [e não como] (...) uma coisa que tem que se integrar à sua personalidade.

(...) Um elemento que ficou faltante na cultura brasileira é uma coisa que aqui nos Estados Unidos a gente percebe pelo contraste de uma maneira quase chocante. Eu vejo que aqui eu recebo quase diariamente quarenta, cinqüenta pedidos de ajuda para campanhas de caridade, socorro aos veteranos de guerra, ajuda para criancinhas órfãs do terceiro mundo, combate ao câncer, o tempo todo. E essas contribuições fazem parte da vida diária do americano, todo mundo contribui para essas coisas, é uma coisa normal. Além disso, quando se vai à igreja, há o culto e depois as oportunidades de servir, porque a igreja te convoca: nós precisamos de uma pessoa para ir lá ajudar a construir casas para os pobres no bairro tal, nós precisamos de uma pessoa para fazer companhia para fulano que está doente no hospital foi operado, etc . Isso quer dizer que a vida da igreja ocupa a semana inteira da pessoa. Outra coisa, o trabalho voluntário é considerado um elemento essencial para integração do americano na sociedade , quer dizer, todo mundo presta trabalhos voluntários e se não presta trabalho voluntário é mal visto pelos outros. Na escola, se o sujeito tirar zero em todas as matérias ninguém liga, mas se o sujeito não prestar nenhum trabalho voluntário, vão falar mal dele. Mais ainda, o trabalho voluntário é incluído entre as práticas disciplinares da escola e o sujeito ganha nota com isso. O sujeito melhora sua situação, se ele é meio burrinho mas fica lá varrendo a escola, se ajuda, vai ter uma nota melhor por causa disso.

Então, a idéia da colaboração intensa do ser humano com o ser humano faz parte da vida diária do americano e mostra o quanto Santo Agustinho tinha razão ao dizer que a base da sociedade humana é o amor ao próximo. O amor ao próximo faz com que as pessoas participem do estado de espírito comum e isto que estou dizendo é totalmente ausente na sociedade brasileira, as pessoas não sabem o que é isso, não que não haja pessoas cristãs, pessoas boas, mas é que isso não faz parte da cultura, sobretudo não faz parte da realidade tal como o brasileiro a entende.

O brasileiro acha que existe por um lado a realidade, que é constituída de concorrência, de sacanagem, de vigarice, de luta pelo poder e do outro lado existe a bondade que é um negócio idealista e que está totalmente fora da realidade. Aqui na sociedade americana você não vê isso. Existe a realidade, que é a colaboração de todos e existe o mal que aparece de vez em quando: a vigarice, o engano... Então aqui o mal é considerado uma exceção, o mal é anormal. No Brasil o mal é normal e a bondade é que é uma exceção e às vezes até um sinal de desequilíbrio, de marginalidade, exotismo e loucura, o que significa que a substância moral da sociedade é uma coisa ausente na cultura brasileira.

Do mesmo modo, (...) pode-se imaginar o que acontece com a cultura superior, ela não tem nada a ver com a vida diária, a não ser que ela se integre na vida diária através de um desses quatro canais: ou como divertimento, ou como aquisição de meios para subir na vida, ou como luta pelo poder, ou como parte de uma religião, mas quando entra pelo lado da religião, que seria o que há de mais elevado aí, ainda assim ela continua puramente instrumental.

(...)

Daí também a tendência da discussão cultural no Brasil ou ser levada para o lado econômico, a nossa cultura está mal porque não temos verbas, como se as verbas para a cultura e a educação no Brasil já não fossem monstruosas. O Brasil é o país recordista no número de professor universitário per capita, um professor para cada oito alunos (...), no entanto, (...) os nossos alunos tiram os últimos lugares nos testes (...) quando se verificam essas coisas as pessoas imediatamente dizem: não, nós precisamos investir; ou seja, elas acham que dinheiro é cultura.

Então, o que você tem no Brasil é a organização da anti-cultura, a organização da destruição da cultura. E é claro que o conhecimento não é um adorno, o conhecimento não é só um meio de se ganhar dinheiro, o conhecimento é um meio de estruturar e de dar densidade a sua própria personalidade. Resultado: como as coisas estão do jeito que estão, as personalidades são fracas, as pessoas são exultantes, quanto mais burras ficam mais se acovardam, não chegam à maturidade, nem emocional, nem intelectual, nem social, nem financeira. Em qualquer meio que você for no Brasil o número de pessoas que já estão com seus 30, 40 anos e que ainda dependem da ajuda alheia para sobreviver (...) é muito grande, são pessoas muito frágeis.

(...)

Leia o restante da entrevista neste endereço:
http://www.olavodecarvalho.org/textos/poesiaeafins01.html

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