Material essencial

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sobre os jovens senis que nos governam

Do blog MOVIMENTO ENDIREITAR
Escrito por Alceu Garcia em 14 de novembro de 2007

Atualmente, a geração dos anos 60 e 70 está no poder em toda parte. Eles mandam na política e na cultura. Lamentavelmente, esse pessoal, em sua grande maioria, conservou basicamente a mesma ideologia de seus verdes anos. Envelheceram de corpo e alma, ficaram mais cínicos, mas guardaram e nutriram a imaturidade intelectual da mocidade. Como seus antepassados descritos pelo grande economista austríaco, eles permanecem "enfeitiçados por superstições totalitárias."

Na minha adolescência, ali pela virada dos anos 70 para os 80, o clima cultural era uma espécie de rescaldo - outono, para combinar com o site - do movimento hippie e da new left importados dos Estados Unidos. As experiências com drogas, por exemplo, retinham ainda algo do charme de veículo para grandes revelações místicas, conforme garantiam escritores celebrados como Carlos Castañeda. Eu, particularmente, seduzido por aquele mítico passado recente, lamentava não ter vivido os tempos épicos da ascensão e apogeu da contra-cultura. Admirava o ineditismo e a grandeza trágica de tudo aquilo, jovens generosos e libertários dispostos a redimir e purificar a civilização decaída, salvando-a de si mesma, mas no fim derrotados por um mundo mau.

É claro que a percepção que tenho hoje daquela época é outra. O traço mais saliente do que então se produziu culturalmente é, a meu ver, uma enorme confusão intelectual e moral, ornada por um hedonismo irresponsável e um romantismo errático. Nada é mais perigoso do que gente imatura, convencida de que é generosa e libertária, e imbuída da missão auto-conferida de transformar o mundo à revelia dele. É preciso muito estudo e reflexão para sugerir com segurança princípios gerais de organização social, até para se saber com alguma certeza se esses princípios são válidos ou não, e quais seriam as consequências de sua adoção. São, e sempre foram, poucos os indivíduos ˆ sobretudo jovens - capazes de trilhar a árdua trilha intelectual e espiritual rumo ao saber genuíno. A sabedoria não é coisa que se adquira por osmose ou por mero contato com companheiros de geração, nem que se adquira pronta de intelectos alheios. Há que alcançá-la solitariamente, por esforço próprio.

Este artigo, contudo, não pretende ser mais um relato de ex-hippie ou ex-guerrilheiro, mesmo porque não haveria muito o que relatar. Sou muito novo para ter sido uma coisa ou outra; porém me assusta perceber que, se eu fosse um daqueles jovens enragé dos anos 60, provavelmente teria sido hippie ou guerrilheiro. A insensatez acomete os moços com muita frequência. O melhor mesmo é não confiar cegamente em ninguém com menos de trinta anos, nem em si mesmo.

Negócio seguinte: Dia desses li em certo livro de um contemporâneo penetrantes comentários sobre o movimento dos jovens, fenômeno que o autor reconhecia como inaudito: "Bandos turbulentos de rapazes e moças vagavam pelo país, fazendo muito barulho e fugindo das lições escolares. Com palavras bombásticas eles anunciavam o evangelho de uma Idade do Ouro. Todas as gerações precedentes, enfatizavam, eram simplesmente idiotas. Sua incapacidade convertera a terra num inferno. Mas a nova geração não toleraria mais a supremacia dos velhos. Doravante os brilhantes jovens governariam. Eles destruiriam tudo o que era velho e inútil, rejeitavam tudo o que era caro a seus pais, substituiriam os falsos e antiquados valores e ideologias da civilização capitalista e burguesa por valores verdadeiramente reais e substanciais. Eles construiriam uma nova sociedade."

Se o leitor acredita que acabou de ler um exame crítico da revolta juvenil dos anos 60 enganou-se redondamente. Pois o livro citado é o clássico Bureaucracy, de Ludwig von Mises, publicado em 1944, e o movimento referido não é naturalmente o hippie, e sim fenômeno análogo - e hoje completamente esquecido - ocorrido na Alemanha e outras partes da Europa no início do século XX, antes da 1ª Guerra. Quando li essas linhas há alguns anos fiquei admirado; então os contestadores dos anos 60 sequer foram originais!

A análise de Mises se aplica esplendidamente às jornadas de vinte anos depois, cujos protagonistas eram crianças ou nem tinham nascido em 1944. "A inflada verborragia desses adolescentes era apenas um pobre disfarce para a sua carência de idéias e programas. Eles nada tinham a dizer exceto isto: Nós somos jovens e consequentemente ungidos; nós somos os portadores do futuro; somos os inimigos mortais da burguesia podre (lembra daquela música do Cazuza?). E se alguém lhes perguntava sobre seus planos, eles tinham apenas uma resposta: Nossos líderes resolverão todos os problemas."

Esses moços ardorosos mais tarde se tornaram os comunistas e nazistas que assolaram a Europa. Na Alemanha, segundo Mises, eles converteram-se em "tímidos burocratas", "fiéis e obedientes escravos de Hitler". Atualmente, a geração dos anos 60 e 70 está no poder em toda parte. Eles mandam na política e na cultura. Lamentavelmente, esse pessoal, em sua grande maioria, conservou basicamente a mesma ideologia de seus verdes anos. Envelheceram de corpo e alma, ficaram mais cínicos, mas guardaram e nutriram a imaturidade intelectual da mocidade. Como seus antepassados descritos pelo grande economista austríaco, eles permanecem "enfeitiçados por superstições totalitárias." A única doutrina consistente e coerente composta pela geração rebelde dos anos 60 é o ambientalismo (o marxismo, claro, já era coisa antiga), uma religião pervertida da natureza. Trata-se de uma doutrina totalitária no sentido exposto por Hannah Arendt, pois de sua premissa central - a superioridade de animais e coisas sobre os homens - decorre inexoravelmente uma conformação político-social tirânica e genocida. Tal é o principal e triste legado da juventude sediciosa de outrora para as futuras gerações. Como costuma dizer o Nivaldo Cordeiro, quem viver, verá. Eu espero não ver.

Publicado originalmente em http://outonos.com - 04 de outubro de 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá internauta

O blog Cavaleiro do Templo não é de forma algum um espaço democrático no sentido que se entende hoje em dia, qual seja, cada um faz o que quiser. É antes de tudo meu "diário aberto", que todos podem ler e os de bem podem participar.

Espero contribuições, perguntas, críticas e colocações sinceras e de boa fé. Do contrário, excluo.

Grande abraço
Cavaleiro do Templo