Material essencial

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Idéias tem Conseqüências

Fonte: EDUCAÇÃO LIBERAL

Por Richard M.Weaver
Tradução: Murilo Resende Ferreira


Introdução


Este é mais um livro sobre o declínio do Ocidente. Tento aqui realizar duas coisas raramente encontradas na crescente literatura sobre o tema. Primeiramente, apresentarei um relato deste declínio baseado na dedução e não em analogias. Os pressupostos são a inteligibilidade do mundo e a liberdade humana e por isso considero que as conseqüências que estamos agora expiando são produtos não de uma necessidade biológica ou de qualquer outro tipo, mas sim de escolhas pouco inteligentes. Secundariamente, serei ousado o suficiente para propor, senão uma solução completa, pelo menos o começo de uma, pois acredito que um homem não deve permitir que um atestado de impotência moral seja o complemento de uma análise científica.


Ao considerar o mundo para o qual esta problemática é endereçada, fiquei fortemente impressionado pela dificuldade de se fazer com que certos fatos iniciais sejam admitidos. Esta dificuldade se deve em boa parte à Teoria Whig (liberalismo anglo saxão) da história e sua crença de que o ponto mais avançado no tempo representa também o ponto de maior desenvolvimento humano. Sem dúvida alguma esta teoria é amparada pelas “teorias da evolução” que sugerem aos ingênuos uma espécie de passagem necessária do simples para o complexo. Mas ainda assim o problema central se encontra em um estrato mais profundo. É o problema terrível, quando se trata de casos reais, de se fazer com que os homens saibam distinguir entre o melhor e o pior.

Existiriam pessoas hoje dotadas de uma escala suficiente de valores racionais e capazes de conectar estes predicados à inteligência? Há bases suficientes para se dizer que o homem moderno se tornou um idiota amoral. São tão poucos os que se dão ao trabalho de examinar suas vidas, ou aceitar a resposta necessária à admissão de que nosso estado presente pode ser um estado decaído, que somos levados a perguntar se as pessoas de hoje realmente sabem o que se quer dizer com a superioridade de um ideal. Pode-se esperar que a razão abstrata seja falha nestas pessoas, mas o que se pode pensar quando fatos do tipo mais concreto lhes são apresentados, e elas continuam impotentes em fazer alguma distinção ou em aprender alguma lição? Por quatro séculos todo homem tem sido não somente seu próprio padre, mas também seu próprio professor de ética e a conseqüência é uma anarquia que ameaça até mesmo aquele consenso mínimo necessário para a existência de uma sociedade política.

Estamos com certeza justificados em dizer o seguinte sobre o nosso tempo: se desejares encontrar o monumento à nossa loucura, olhe a sua volta. Em nosso próprio tempo, vimos cidades sendo obliteradas e crenças ancestrais completamente afligidas. Podemos até perguntar, com as palavras de Mateus, se não estamos face a face com “uma grande tribulação, uma como nunca ocorreu desde o princípio dos tempos”. Nos movemos por muito tempo com a confiança impetuosa de que o homem havia atingido uma posição de independência que deixara as antigas restrições completamente inúteis. Agora, na primeira metade do século vinte, no topo do progresso moderno, assistimos a explosões inéditas de ódio e violência, vimos nações inteiras desoladas pela guerra e transformadas em campos penais por seus conquistadores; encontramos metade da humanidade olhando para a outra metade como se olham para criminosos. Em todos os lugares surgem sintomas de psicoses em massa. E de forma ainda mais impressionante aparecem discordâncias sobre os valores mais básicos, fazendo com que todo o globo planetário seja ridicularizado por palavras com múltiplos e conflitantes significados. Estes sinais de desintegração despertam medo, e o medo leva a tentativas desesperadas e unilaterais de sobrevivência, o que faz com que o processo de declínio se acelere.

Como Macbeth, o homem ocidental fez uma má escolha, que se tornou a causa final e eficiente de outras más escolhas. Será que esquecemos nosso encontro com as bruxas na floresta? Ele ocorreu no final do século quatorze, e as bruxas disseram ao protagonista deste drama que o homem poderia se realizar mais completamente se ele abandonasse sua crença na existência dos transcendentais. As forças das trevas estavam agindo sutilmente, como sempre, e elas esconderam essa proposição sob a forma de um ataque inocente aos “universais”.

Neste momento pode ser levantada a acusação de simplificação excessiva do processo histórico, mas eu tomo o ponto de vista de que as políticas conscientes de homens e governos não são meras racionalizações daquilo que foi trazido por forças não compreensíveis. Eles são, na verdade, deduções de nossas mais básicas idéias sobre o destino humano e elas tem, apesar de não total, poder para determinar nosso percurso.

Por esta razão, irei voltar minha atenção sobre William de Occam como o melhor representante de uma mudança que se abateu sobre a concepção humana de realidade neste momento histórico. Foi Willian de Occam quem propôs a doutrina fatal do “nominalismo”, que nega a existência real dos universais. Seu triunfo fez com que os termos universais se tornassem meros nomes servindo nossa conveniência. A questão verdadeira aí é a de se realmente existe uma fonte de verdade superior e independente do homem; e a resposta para esta questão é decisiva para a visão de qualquer um sobre a natureza e o destino da humanidade. O resultado prático da filosofia nominalista é o banimento da realidade que é percebida pelo intelecto e o coroamento da realidade que é percebida somente pelos sentidos. Com esta mudança na afirmação do que é real toda a orientação da cultura é alterada e já estamos na estrada para o empirismo moderno.

É fácil ser cego em relação ao significado de uma mudança que está distante no tempo e é de um caráter abstrato. Aqueles que não descobriram que a visão de mundo é a coisa mais importante a respeito de um homem devem considerar a seqüência de circunstâncias que, com perfeita lógica, procederam desta mudança. A negação dos universais traz consigo a negação de tudo que transcende a experiência. A negação de tudo que transcende a experiência significa inevitavelmente – apesar de se encontrarem caminhos para se proteger disto – a negação da verdade. Com a negação da verdade objetiva não há escapatória de um relativismo onde “o homem é a medida de todas as coisas”. As bruxas falaram com o habitual equívoco dos oráculos quando disseram ao homem que ele poderia se realizar mais completamente com esta escolha fácil, pois elas estavam iniciando um caminho que corta o homem da realidade. Assim começou a “abominação da desolação”, aparecendo hoje como um sentimento de alienação de qualquer verdade fixa.

Devido ao fato de que uma mudança de crença tão profunda eventualmente influencia todos os conceitos, emergiu após algum tempo uma nova doutrina da natureza. Se antes a natureza era considerada uma imitação de um modelo transcendente e uma realidade imperfeita, a partir deste momento passou a ser vista como portadora dos princípios de sua própria constituição e comportamento. Esta revisão teve duas conseqüências importantes para o questionamento filosófico. Primeiramente, estimulou um estudo detalhado da natureza que veio a ser chamado de ciência, devido à suposição de que seus atos e experimentos revelavam a própria “essência” das coisas. Secundariamente, e através da mesma operação, ela descartou a doutrina das formas imperfeitamente realizadas. Aristóteles tinha reconhecido um elemento de irracionalidade no mundo, mas a visão da natureza como um mecanismo racional expulsou este elemento. A expulsão do elemento de irracionalidade na natureza foi seguida pelo abandono da doutrina do pecado original. Se a natureza física é a totalidade e se o homem é da natureza, é impossível vê-lo como constitucionalmente mal; seus defeitos agora devem ser atribuídos somente à ignorância ou alguma forma de privação social. Chegamos então por pura dedução à doutrina da bondade original do homem.

E o fim ainda não chegou. Se a natureza é um mecanismo autônomo e o homem um animal racional adequado às suas necessidades, o próximo passo é elevar o racionalismo para o status de filosofia. Como o homem se propôs a não ir além do mundo sensível, era adequado que ele considerasse como sua vocação intelectual mais alta os métodos de interpretação dos dados fornecidos pelos sentidos. Esta foi a transição para Hobbes, Locke e os racionalistas do século dezoito, que ensinavam que o homem precisava somente raciocinar corretamente sobre a evidência natural. A pergunta sobre como o mundo foi feito se torna então sem sentido, pois este questionamento pressupõe algo anterior à natureza na ordem dos existentes. Assim, não é mais o misterioso fato da existência do mundo que interessa ao novo homem, cuja sistematização dos fenômenos é, como Bacon declarou em Nova Atlantis, um meio para o domínio.

Neste estágio a religião começa a assumir uma dignidade ambígua, e a pergunta sobre sua sobrevivência em um mundo de racionalismo e ciência empírica não pode deixar de ser feita. Uma solução era o deísmo, que transforma Deus no resultado de uma leitura racional da natureza. Mas esta religião, como todos que negam uma verdade anterior e superior, era impotente para cativar as pessoas, ela simplesmente deixava cada homem livre para fazer o que quisesse do mundo aberto para seus sentidos. Seguiram-se as referências à “natureza e ao Deus da natureza”, e a anomalia de uma religião “humanizada”.

O materialismo já aparecia próximo no horizonte, porque já estava implícito no que já havia sido dito e feito. Logo se tornou imperativo explicar o homem por seu meio ambiente, trabalho que coube a Darwin e outros no século dezenove (é ainda mais significativo do caráter geral dessas mudanças que outros estudantes estivessem chegando a explicações similares quando Darwin publicou a sua em 1859). Se o homem tinha chegado a este século ainda perseguindo nuvens de glória transcendental, ele agora estava explicado de uma forma que agradava aos positivistas.

Com o ser humano agora firmemente escorado na natureza, de um só golpe se tornou necessário questionar o caráter fundamental de suas motivações. A necessidade biológica, na forma da de sobrevivência dos mais aptos foi oferecida como causa causans, depois que a importante questão da origem do homem foi decidida em favor do materialismo científico.

Depois de ter sido concedido que o homem é moldado completamente por pressões ambientais, é-se obrigado a estender a mesma teoria de causalidade a todas suas instituições. O filósofo social do século dezenove encontrou em Darwin um poderoso suporte para a idéia de que o homem só age a partir de incentivos econômicos, e foram eles que completaram a abolição do livre-arbítrio. O grande espetáculo da história se tornou reduzível ao esforço econômico de indivíduos e classes; e elaborados prognósticos foram construídos sobre a teoria do conflito econômico e sua resolução. O homem criado como imagem divina, o protagonista de um grande drama no qual a alma tem seus interesses, foi trocado pelo homem consumidor e perseguidor de riquezas.

Finalmente surgiu o behaviorismo psicológico, que negou não somente o livre-arbítrio, mas até mesmo meios elementares de direção como o instinto. A natureza escandalosa deste tipo de teoria é facilmente aparente e por isso o behaviorismo não conquistou tantos adeptos quanto seus antecessores; apesar disso, era somente uma extensão lógica dos antecedentes e deveria ser abraçado com paixão pelos defensores das causas materiais. É, essencialmente, uma redução ao absurdo da linha de raciocínio que começou quando o homem deu um adeus caloroso para o conceito de transcendência.

Não há melhor palavra para descrever a situação do homem moderno do que “abismalidade” (“abysmality”, no original). Ele está em um profundo e escuro abismo, não possuindo nada para levantar a si mesmo. Sua vida é uma prática sem teoria. Assim que ele se vê cercado de problemas, acaba aumentando a confusão ao lidar com eles a partir de ações ad hoc. Secretamente ele tem um apetite pela verdade, mas se consola com o pensamento de que sua vida deve ser experimental. Ele vê suas instituições se esmigalhando e racionaliza o fato com alusões à emancipação. Guerras devem ser travadas, aparentemente com uma freqüência crescente; e por isso ele revive velhos ideais – ideais que seus pressupostos atuais tornaram sem sentido – e, através da máquina do Estado, os força a serem funcionais novamente. Este homem luta contra o paradoxo de que uma imersão total na matéria o torna despreparado para lidar com os problemas do mundo material.

Seu declínio pode ser representado como uma longa série de abdicações. Ele tem encontrado cada vez menos bases para a autoridade, ao mesmo tempo em que se acreditava no centro da autoridade do Universo; na verdade, parece existir um processo dialético que toma o seu poder na mesma proporção em que demonstra que sua independência o torna apto para o poder.

Esta estória é eloqüentemente refletida nas mudanças que se abateram sobre a educação. A mudança de verdades do intelecto para fatos da experiência se seguiu rapidamente ao encontro com as bruxas. Um pequeno sinal aparece, “uma nuvem menor do que a mão de um homem”, em uma mudança que surgiu no estudo da lógica no longínquo século quatorze de Occam. A lógica foi “gramaticizada” (“grammaticized”, no original), passando de uma ciência que ensinava o homem à “encontrar a verdade” a uma que o ensinava a “falar corretamente” ou de uma divisão ontológica por categorias para um estudo da significação, com o foco inevitável em significados históricos. Aqui começa o assalto sobre a definição: se as palavras não correspondem mais a realidades objetivas, não parece errado ter grande liberdade com estas palavras. A partir deste ponto, a fé na linguagem como uma forma de se chegar à verdade enfraquece, até o nosso próprio tempo, e preenchida por um profundo sentido de dúvida, passe a procurar por um remédio na nova ciência chamada semântica.

Voltemos então ao assunto da educação. A Renascença, com intensidade crescente, adaptou a orientação de seus estudos para a produção de um homem de sucesso no mundo, apesar de não o ter deixado sem a filosofia e as graças, porque era ainda, por herança ao menos, um mundo “ideacional” (“ideational”, no original) e, portanto, estava próximo o suficiente de concepções transcendentais para ser capaz de perceber os efeitos desumanos da especialização. No século dezessete as descobertas físicas pavimentaram o caminho para a incorporação das ciências, mas foi só no século dezenove que estas começaram a questionar a própria continuação das antigas disciplinas intelectuais. E neste período a mudança ganhou impulso, ajudada por dois desenvolvimentos de enorme influência. O primeiro foi o aumento patente do domínio humano sobre a natureza, fato que impressionou a todos a não ser os mais pensativos; e o segundo foram as reclamações crescentes por educação popular. O último poderia ter se mostrado um bem em si mesmo, mas naufragou no problema insolúvel da democracia igualitária: ninguém estava na posição de dizer com o quê as multidões famintas deveriam ser alimentadas. Finalmente, em uma rendição abjeta à situação, em uma abdicação da autoridade do conhecimento, veio o sistema eletivo. Este foi seguido por um carnaval de especialismo, profissionalismo e vocacionalismo, normalmente gerados e protegidos por estranhos instrumentos burocráticos, fazendo com que sob o nome honrado da Universidade, fossem negociados uma variedade curiosa de interesses, entre os quais não poucos eram anti-intelectuais em suas pretensões. A instituições de ensino não controlaram, mas sim contribuíram para o declínio ao perder interesse no Homo sapiens em favor do desenvolvimento do Homo faber.

Estudos se tornam hábitos e é fácil ver estas mudanças refletidas no tipo dominante de líder de época para época. No século dezessete era, de um lado, o monarquista e defensor culto da fé e, de outro, intelectuais aristocratas do tipo de John Milton e os Puritanos teocratas que colonizaram a Nova Inglaterra. O próximo século assistiu a dominação dos Whigs na Inglaterra e o surgimento dos enciclopedistas e romancistas no Continente, homens que não careciam de uma base intelectual, mas que freqüentemente cortavam as ligações com a realidade ao sucumbirem à ilusão de que o homem é bom por natureza. A resposta de Frederico o Grande para um sentimentalista, “Ach, mein lieber Suler, er kennt nicht diese verdammte Rasse” marca a diferença entre as duas visões de mundo. O próximo período foi testemunha da soberania do líder popular e demagogo, o típico inimigo do privilégio, que expandiu a franquia eleitoral na Inglaterra, gerou a revolução no Continente, e nos Estados Unidos substituiu a ordem social que os “Founding Fathers” haviam contemplado com o demagogismo e a máquina política urbana. O século vinte trouxe à luz o líder de massas, apesar de que neste ponto ocorre uma divisão cuja importância profunda teremos a oportunidade de demarcar. Os novos profetas da reforma se dividem agudamente entre humanistas sentimentais e um grupo elitizado de teóricos sem remorsos e que se orgulham de sua liberdade de qualquer sentimentalidade. Ao odiarem este mundo que eles não fizeram e marcados por uma libertinagem de séculos, os comunistas modernos – revolucionários e teóricos – se movem em direção ao rigor intelectual. Em sua decisão se encontra a mais aguda resposta à deserção do intelecto pelo homem da Renascença e seus sucessores. Nada é mais perturbador para o homem moderno do Ocidente do que a clareza lógica com que os comunistas enfrentam todos os problemas. Quem pode dizer que este sentimento não é nascido de uma profunda apreensão de que aqui estão os primeiros realistas verdadeiros em centenas de anos e que nenhum desvio pelo caminho do meio poderá salvar o liberalismo Ocidental? Esta estória da passagem do homem de um transcendentalismo religioso ou filosófico foi contada muitas vezes, e, como ela foi contada usualmente como uma estória de progresso, é extremamente difícil fazer com que as pessoas de hoje possam ver implicações contrárias. Ainda assim, estabelecer o fato da decadência é o dever mais urgente de nosso tempo, pois, até que tenhamos demonstrado que o declínio cultural é um fato histórico – algo que pode ser estabelecido – e que o homem moderno vem destruindo sua herança, não poderemos combater aqueles que se tornaram presos do otimismo histérico.

O otimismo histérico irá prevalecer enquanto o mundo não admitir novamente a existência da tragédia, e ele não pode admitir a existência da tragédia até que distinga novamente entre o bem e o mal. A esperança de uma restauração depende da recuperação da “cerimônia da inocência”, daquela clareza de visão e conhecimentos das idéias que nos permitem perceber o que é alheio e destrutivo, aquilo que não é compatível com nossas ambições morais. O tempo para se perseguir isto é agora, antes que tenhamos adquirido a perfeita despreocupação daqueles que preferem a perdição. Pois, se deixarmos as coisas seguirem seu curso, o movimento se torna centrífugo; alegramos-nos em nossa miséria e nunca estamos cansados da sensação de realização negativa que se segue à destruição mortal de mais uma referência cultural e intelectual. Sob estas circunstâncias, não é surpresa alguma que, ao pedirmos às pessoas que pelo menos considerem a possibilidade da decadência, encontremos incredulidade e ressentimento. Devemos considerar que de fato estamos pedindo uma confissão de culpa e a aceitação de uma dura obrigação; estamos fazendo exigências em nome do ideal ou supra pessoal e não podemos esperar uma acolhida melhor do que a que os perturbadores da complacência receberam em qualquer outra época. Ao contrário, nossa acolhida deve ser ainda pior hoje, pois um século e meio de ascensão burguesa gerou um tipo de mente altamente fechada para pensamentos preocupantes. A isto se deve adicionar o egotismo do homem moderno, alimentado por muitas fontes, algo que dificilmente dá espaço à humildade necessária para a autocrítica.

Os apóstolos da modernidade normalmente principiam sua resposta por um catálogo das conquistas modernas, não percebendo que elas são somente testemunhas de sua imersão nos particulares. Devemos lhes recordar que não podemos começar a enumerar antes que esteja definido o que deve ser procurado ou provado. Não será suficiente apontar para as invenções e progressos de nosso século a não ser que possa ser demonstrado que são outra coisa além do que uma esplêndida eflorescência da deterioração. Quem quer que deseje elogiar alguma conquista moderna deve esperar até que tenha relacionado a mesma com os objetivos professados de nossa civilização assim como os Escolásticos relacionavam um teorema à sua doutrina da natureza de Deus. Todas as demonstrações que não contenham isto carecem de sentido. Se estivermos de acordo, no entanto, que iremos falar de fins antes de meios, podemos começar perguntando algumas questões perfeitamente comuns sobre a condição do homem moderno. Comecemos, antes de tudo, inquirindo se ele sabe mais ou é, na totalidade, mais sábio do que seus antecessores.

Esta é uma consideração de peso, e se a reivindicação de maior conhecimento por parte dos modernos for correta, nossa crítica cai pelo chão, pois é dificilmente imaginável que pessoas que tem aumentado seu conhecimento por século tenham escolhido um mau caminho. Tudo depende, é claro, do que queremos dizer com conhecimento. Eu irei aderir à proposição clássica de que não há nenhum conhecimento no nível da sensação e que, portanto, o conhecimento se refere aos universais, e que tudo que o que conhecemos como verdade deve nos permitir a predição. O processo de aprendizado envolve interpretação, e quanto menos particulares precisarmos para chegar até uma generalização, pupilos mais aptos na escola da sabedoria nós seremos. Toda a tendência do pensamento moderno, e poderíamos até dizer todo o seu impulso moral, é manter o indivíduo ocupado com uma indução sem fim. Desde o tempo de Bacon que o mundo tem se distanciado, ao invés de se aproximar, dos primeiros princípios. Assim, no nível verbal vemos a “verdade” sendo substituída pelos “fatos”, e no nível filosófico, somos testemunhas de ataque após ataque sobre as idéias abstratas e o conhecimento especulativo. O pressuposto implícito do empirismo é de que a própria experiência nos dirá o que é que estamos experimentando. Em âmbito mais popular, pode-se deduzir de certas colunas de jornal e programas de rádio que o homem médio está imbuído com esta noção, imaginando que a conquista industriosa dos particulares irá torná-lo um homem de sabedoria. Com que rapidez patética ele recita os seus “fatos”! Disseram-lhe que conhecimento é poder e que o conhecimento consiste na acumulação de muitas coisas pequenas.

A mudança de conhecimento especulativo para a investigação da experiência deixou o homem moderno tão aterrado com a multiplicidade que ele não consegue mais enxergar seu caminho. A partir disto podemos entender o dito de Goethe, segundo o qual só se pode dizer que alguém sabe muito no sentido de que ele sabe pouco. Se o nosso contemporâneo exerce alguma profissão, ele pode ser capaz de descrever um pedaço minúsculo do mundo com fidelidade, mas ainda não possui entendimento. A Verdade não pode existir em um programa de ciências separadas e o pensamento especializado será invalidado assim que novas relações sejam introduzidas.

O mundo do conhecimento “moderno” é como o universo de Eddington, se expandindo por difusão até que se aproxime do ponto de nulidade. O que os defensores da presente civilização querem dizer, quando dizem que o homem moderno tem uma educação superior à de seus antecessores, é que ele é um literato dos grandes números. Esta habilidade pode ser demonstrada; ainda assim pode-se questionar se já existiu uma panacéia tão enganadora, e se não estamos compelidos, depois de centenas de anos de experiência, a ecoar a observação amarga de Nietzsche: “A todos sendo permitido o aprendizado da leitura, se arruinou a longo prazo não só a escrita, mas também o raciocínio”. O problema não é que as pessoas possam ler, mas sim o que elas efetivamente lêem, e o que elas podem aprender com estas leituras, impulsionadas por todos os meios imagináveis. É isto que define o valor deste nobre experimento. Nós lhes demos uma técnica de aquisição; mas quanta tranqüilidade podemos ter em relação à forma em eles a utilizam? Em uma sociedade em que há a livre expressão e a popularidade é recompensada, eles lêem principalmente aquilo que os rebaixa e estão constantemente expostos às manipulações dos controladores das máquinas de impressão. Eu tentarei deixar isto bem claro mais à frente. Pode-se duvidar que uma pessoa em cada três consiga retirar algum conhecimento verdadeiro de suas leituras livremente escolhidas. O número assustador de fatos a que o homem tem acesso hoje somente o afasta da concentração sobre os princípios fundamentais, fazendo que com que sua orientação se torne periférica. E vagando acima de tudo como uma lembrança deste fato está a tragédia da Alemanha moderna, a grande nação completamente alfabetizada e educada.

Aqueles que se juntam aos baconianos na preferência por sapatos em detrimento da filosofia responderão que esta é uma reclamação inútil, porque a verdadeira glória da civilização moderna é a perfeição material que o homem atingiu. E provavelmente poderia se mostrar estatisticamente que o homem médio de hoje, em países não desolados pela guerra, tem mais coisas para consumir do que seus antepassados. Mas em relação a isto devem ser feitos dois importantes comentários.

O primeiro é que como o homem moderno não definiu seu caminho dentro da vida, ele sempre entra em uma “série infinita” assim que se joga na luta por um “melhor” padrão de vida. Uma das disparidades mais estranhas da história se encontra no sentimento de abundância percebido por sociedades mais antigas e simples e o sentimento de escassez percebido pelas sociedades ostensivamente mais ricas de hoje. Charles Feguy se referiu ao sentimento de “lenta estrangulação econômica” do homem moderno, seu senso de nunca ter o suficiente para manter o que seu padrão de vida exige. Padrões de consumo que ele não pode alcançar, e que ele não precisaria alcançar, se tornam literalmente deveres. Com a abundância do viver simples sendo substituída pela escassez da vida complexa, parece que, de uma forma ou outra ainda não explicada, formalizamos a prosperidade até que ela tenha se tornado, para a maioria das pessoas, somente uma fábula da imaginação. Certamente a disputa nunca estará vencida para os baconianos até que se tenha provado que a substituição da ganância pelo desapego, de um espiral ascendente de desejos por um padrão estável de necessidade, leva a uma condição humana mais feliz.

Suponha-se, no entanto, que ignoremos este sentimento de frustração e voltemos nossa atenção para o fato de que, por comparação, o homem moderno tem mais. Esta mesma circunstância gera um conflito, pois é uma lei constante da natureza humana de que quanto mais o homem tem para se contentar, menos disposto ele se torna para suportar a disciplina do trabalho – ou seja, ele se torna menos capaz de produzir aquilo que o permite consumir. O trabalho deixa de ser funcional dentro da vida e se torna algo que é rancorosamente trocado por aquela competência, ou superficialidade, a que todos têm “direito”. Uma sociedade mimada a este ponto pode ser comparada a um bêbado: quanto mais ele bebe menos capaz se torna para trabalhar e adquirir os meios para prosseguir em seu hábito. Uma grande organização material, por sua tentação para a luxúria, torna seu proprietário despreparado para o trabalho necessário para mantê-la, como já foi observado inúmeras vezes nas vidas dos indivíduos e das nações.

Mas vamos abandonar todas as considerações particulares deste tipo e perguntar se o homem moderno, por razões claras ou obscuras, sente uma maior felicidade. Devemos evitar percepções superficiais e procurar por algo fundamental. Eu estaria disposto a aceitar a definição de Aristóteles de um “sentimento de vitalidade consciente”. Será que ele se sente à altura da vida; será que ele olha para ela assim como um homem forte olha para uma corrida?

Primeiramente, devemos tomar conhecimento da profunda ansiedade psíquica, da prevalência extraordinária da neurose, algo que torna nossa época única. O típico moderno tem o olhar de um perseguido. Ele sente que nós perdermos o contato com a realidade. Isto, por sua vez, produz uma desintegração interior, e a desintegração torna impossível aquele tipo de previsão razoável pela qual, nas eras de sanidade, os homens são capazes de ordenar suas vidas. E o medo que a acompanha libera a terrível força desorganizadora do ódio e então Estados são ameaçados e pululam guerras por todos os lados. Poucos homens de hoje estão certos de que alguma guerra não irá acabar com a herança de seus filhos, e mesmo que o mal seja controlado, o indivíduo não se sente tranqüilo, pois sabe que o Juggernaut tecnológico pode bagunçar ou destruir o padrão de vida que ele criou para si mesmo. Uma criatura ordenada a olhar o antes e o depois descobre que fazer o último está fora de moda e que fazer o primeiro está se tornando quase impossível.

Adiciona-se a isto outra privação. O homem de hoje está continuamente escutando que ele tem mais poder do que nunca na história, mas sua experiência diária é de impotência. Olhe para ele hoje em algum lugar de uma grande cidade. Se ele está numa organização de negócios, as chances são grandes de que ele tenha sacrificado qualquer outro tipo de independência em retorno de uma dúbia independência financeira. A moderna organização social e a organização corporativa transformam a independência em algo caro, e, de fato, pode tornar a integridade comum um luxo proibitivo para o homem ordinário, como Stuart Chase demonstrou. Não somente é bem possível que este homem seja um escravo em seu lugar de trabalho, como ele é alocado, encaixotado e confinado de maneiras incontáveis, muitas das quais são somente mecanismos que tornam possível a existência física conjunta das grandes massas. Devido à privação do que é justo, o resultado é a frustração, e por isso o olhar, nas faces daqueles que ainda não se tornaram minúsculos, de desejo e infelicidade.

Há algumas questões que devem ser feitas para os apologistas do progresso. Certamente será objetado que a decadência desta época é a das ilusões permanentes da humanidade; será dito que cada geração sente em relação à próxima a mesma desconfiança que os pais sentem em relação à capacidade dos filhos em lidarem com o mundo lá fora. Em resposta devemos afirmar que, dadas as condições descritas, cada geração sucessiva demonstra um declínio, no sentido de que se aproxima cada vez mais do abismo. Quando a mudança está em curso, cada geração terá sua parte na mesma, e que algumas culturas passaram de um alto estado de organização para a dissolução pode ser demonstrado objetivamente como quase nada na história. Deve-se somente pensar na Grécia, Veneza e na própria Alemanha. A asserção de que mudanças de geração para geração são ilusórias e que só existem ciclos de reprodução biológica, é outra forma de negação das normas superiores, e, em ultima instância, do conhecimento, sendo este o próprio fenômeno que está na raiz de nossa degradação.

A civilização tem sido um fenômeno intermitente; a insolência do sucesso material nos blindou para esta verdade. Muitas sociedades tardias demonstraram um brilhantismo pirotécnico e uma capacidade para o refinamento muito além do que qualquer coisa vista em seus dias de vigor.

Que tal coisa ainda possa existir e ainda trabalhar contra a resolução de caráter ligada à capacidade de escolha, que é âncora da sociedade, é a grande lição a ser aprendida. No final de tal análise nosso problema é o de como recuperar a integridade intelectual que permite ao homem reconhecer a hierarquia dos “bens” dentro da realidade. O capítulo inicial, portanto, tenta definir qual a fonte última de nossos sentimentos e pensamentos sobre o mundo, e que torna nossos julgamentos sobre a vida não cambiantes e casuais mais sim necessários e corretos.

Educar todo mundo não funciona

Educar todo mundo não funciona


Entrevista concedida a Karla Correia

Jornal do Brasil, 01 de junho de 2008
http://www.olavodecarvalho.org/textos/080601entrevista_jb.html


Jornalista, escritor, filósofo, editor do site Mídia Sem Máscara, Olavo de Carvalho é uma das poucas vozes na imprensa assumidamente conservadoras. E vê essa mesma "escassez" do pensamento de direita no ambiente político. Para Carvalho, a direita no Brasil não sabe ser oposição e só tem fortalecido os partidos de esquerda ao tentar copiar suas bandeiras históricas. Também tem empobrecido o debate político ao deixar de ocupar espaço no ambiente acadêmico e de pesquisar referências em outros países, onde o conservadorismo tem voltado a ter força. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao JB.


Há uma certa dificuldade hoje em encontrar movimentos políticos, partidos ou líderes que se proclamem claramente como de direita no Brasil. A direita está envergonhada?


Faz mais de 20 anos que a direita está sendo burra. Estão todos acreditando nessa coisa de roubar as bandeiras do adversário. Como o abortismo. O pessoal de direita pensa em roubar a bandeira do abortismo e vê nisso uma forma de adquirir também o apoio das pessoas que são abortistas. Mas quando faz isso, pensando em uma vantagem imediata, vai apenas reforçar a ideologia de seu oponente. Todo sujeito que se deixa moldar à idéia de seu inimigo, já está derrotado. É a vitória perfeita, Lênin já dizia que a vitória perfeita era obtida sem lutar, o adversário se entrega. Pois eles, a esquerda, conseguiram


Como isso aconteceu?


A esquerda adotou uma tática muito inteligente criada pelo Antonio Gramsci, o pensador italiano. Consiste em dominar primeiro todo o universo da cultura, das idéias, da educação, antes de conquistar o poder. Então, esse pessoal durante o regime militar já estava aplicando isso. Ocuparam as universidades, as redações de jornais. De repente, não havia mais idéias conservadoras em circulação. E se você não tem as idéias, as pessoas não tem como se definir. Elas não têm nem como se expressar. Se um político hoje vai se expressar, ele usa a linguagem da esquerda. São burros e presunçosos.


E qual é a primeira conseqüência dessa ocupação?


O poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal dizia que nada está no ambiente político de um país que não esteja primeiro em sua literatura. Porque é do imaginário formado que você tira as idéias. Agora, você estupidificou a cultura superior e, em conseqüência, a política. Veja a que se dedica o governo brasileiro hoje: a destruir o país e a cuidar de futilidades. Ele quer doar um pedaço do território, doou um pedaço da Petrobras para a Bolívia, quer doar um pedaço de Itaipu para o Paraguai. Deixa aí duas ou três cidades à mercê do PCC, que é o mesmo que as Farc. Está entregando tudo. E ao mesmo tempo está preocupado com a perseguição aos gays. Que perseguição, meu Deus do céu?


O senhor fala que a esquerda dominou os espaços acadêmicos e da mídia. O PT diz a mesma coisa.


Quais são os autores conservadores que escrevem na imprensa brasileira? Eu cito dois: eu e o Reinaldo Azevedo. E só. A esquerda ocupa todos os espaços, manda em tudo, depois briga com ela mesma e fica fazendo choradeira de que está sendo atacada pelos direitistas. Mas o que eles chamam de direita é o que? O PSDB? Ouça o discurso do José Serra. Veja o que o Fernando Henrique fez. Ele praticamente criou o MST com o dinheiro do Estado.


O PSDB é um expoente de direita?


É o máximo de direita que se admite no país, hoje. É o PSDB, a social-democracia, que é a mais velha tradição da esquerda. A verdadeira direita sumiu do Brasil.


Não tem um líder, um expoente conservador que mereça destaque no País?


Dom Bertrand é um grande estadista. Pergunte de qualquer assunto brasileiro para ele e ele conhece tudo e nunca teve um cargo público na vida. E sem ter pretensão, ele não é nem o príncipe herdeiro, faz isso por interesse pelo Brasil. Se ele se candidatasse, eu votava nele na hora.


E no Congresso?


Não consigo pensar em ninguém.


O pouco espaço ocupado pelo conservadorismo faz do brasileiro um povo liberal?


O brasileiro é essencialmente um conservador. É um povo religioso, que acredita na família, no trabalho. Mas não é de perseguir ninguém, então passa essa imagem de liberal. Uma coisa é a crença que o brasileiro tem. Outra é o sentimento que ele nutre pelos outros seres humanos. Claro que existem malucos em qualquer lugar do mundo, você pode pensar no movimento skinhead... mas são quantos em uma população de 180 milhões de habitantes?


O brasileiro é cordial mas se identificou muito com o Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite.


O brasileiro está aterrorizado pelo crime. Cinqüenta mil homicídios por ano são duas guerras do Iraque por ano. É uma coisa brutal, as pessoas estão é conformadas até demais. O pessoal vê o filme com o capitão Nascimento dando porrada em bandido e pensa que é isso que tem de fazer. Eles querem alguém que tome uma providência.


Qual seria o programa de um governo de direita no Brasil, hoje?


Em primeiro lugar, ele teria um enfoque moral, religioso e tradicional. São valores e princípios gerais, veja bem, o governo não pode se meter a ser o grande moralista. O governo não deve educar ninguém nesse aspecto, são as entidades religiosas que devem se fortalecer e atuar. Em segundo lugar, a economia de mercado, que é a única que funciona. Não tem esse negócio de socialismo, intervenção do governo no mercado, isso não funciona. É só o governo meter a mão que a coisa vai para trás. Terceiro é educação clássica. Você tem que primeiro formar uma elite intelectual capaz de educar o restante do país. O governo vem com essa história de educar todo mundo, mas isso não funciona. Não é possível.


A educação então não deve ser para todos?


Não. Educação é um processo irradiante, que vai por círculos concêntricos. Você educa dez, que educam cem, que educam mil, que educam um milhão e vai assim.


Nem ao menos cuidar de erradicar o analfabetismo?


Isso não adianta. Você vai investir um dinheiro maluco nisso e os caras vão sair todos analfabetos funcionais. Porque se você não cria uma tradição de educação, a educação não pega. Se você não tem essa tradição, não tem o amor à cultura, ao conhecimento. A educação deve ser muito séria e começar por uma elite, que vai irradiando esse valor. Quem vai dar a educação para todos? A educação que se dá ao povo hoje não deveria ser dada a ninguém. Oferecer essa educação para meia dúzia de pessoas é um insulto. Para milhares, é um crime.


Qual o maior problema do atual governo federal?


Eu acho que o Brasil concedeu ao Lula todos os direitos. Que presidente brasileiro chega ao poder e, dois anos depois, o filho dele está milionário? Só isso aí seria suficiente para ele perder o cargo. Mesmo que não comprovasse nada, isso é falta de decoro. Presidente deve ser como a mulher de César. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto também.

Cubazuela: uma realidade?

Fonte: MÍDIA SEM MÁSCARA

Valdés teria vindo para, usando sua experiência, consolidar os primeiros anos da repressão comunista de verdade na Venezuela.


Há seis anos, em
A Colheita Final: URSAL em marcha, especulando sobre o futuro da Iberoamérica, e frente à dependência cada vez maior de Cuba em relação à Venezuela, imaginei que a união entre os dois países num só era bem possível.


Na ocasião eu já havia cunhado o termo URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) como a colheita final do Eixo do Mal Latino-Americano: a união dos países do continente já em mãos comunistas, ou em vias de, numa confederação que visava ameaçar os EUA pelo flanco sul. A URSAL seria a coroação dos objetivos do Foro de São Paulo: recriar na Iberoamérica o que se perdera na Europa Oriental, a URSS e os países satélites do Pacto de Varsóvia. Citei o blog Notalatina: "
em 2004, o sociólogo comunista germano-mexicano Heinz Dieterich, guru de Chávez e Fidel, explicou que a idéia de criar a "Pátria Grande" sonhada por Bolívar, só seria viável se fosse criado um "bloco" com todos os países de corte comunista da América Latina (Cuba, Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e Equador), com pensamentos e ações coordenadas desde um líder, para o qual foi designado Chávez. Para tanto, criou o projeto do "Bloco de Poder Regional", onde se unificariam as Forças Armadas de todos esses países para fazer frente ao inimigo externo, evidentemente, os Estados Unidos". A federação saiu, mas com o nome de UNASUL, escondendo sua verdadeira origem e seus objetivos.


O que eu escrevi na ocasião não perdeu a validade:


Cada vez mais se percebe a união de interesses entre Chávez e Castro. Não falo de Venezuela e Cuba porque seria um atentado contra os dois povos, dos quais o primeiro perde a cada dia mais um pouco de sua liberdade e o segundo não a tem há muitos anos, já até esqueceram o que significa a palavra liberdade! A formação de uma Federação ou Confederação entre os dois países é algo a ser considerado em curto prazo, já tendo sido tal intento, mencionado por ambos os líderes.


Em 2006 Cuba estava às voltas com uma sucessão difícil, com Fidel seriamente doente, e parecia que Raúl não teria capacidade de dominar o quadro facilmente por sua falta de carisma. Chávez aparecia cada vez mais na paisagem de Havana com mais e maiores outdoors do que os irmãos Castro ou outros líderes cubanos. Imaginei que Chávez seria o líder do novo país. Mas desde então a situação se inverteu: Raúl consolidou seu poder, a repressão em Cuba aumentou assustadoramente - menos para
blogueras cariñosas com proteção D(g)Ivina! - e a situação na Venezuela vem se deteriorando rapidamente pondo em risco a manutenção de Chávez em Miraflores. Notícias daquele país dão conta do aumento do número de "assessores" cubanos para as mais diversas áreas administrativas. Fala-se até que a renúncia do Ministro da Defesa se deveu a uma ordem de Chávez para entregar o comando da Força Armada Venezuelana a Generais cubanos. Os militares venezuelanos ainda não perderam o brio e a honra e a maioria se recusa seja a atirar em civis, seja a dar esta ordem odiosa. Os cubanos já estão há muito desprezando estes escrúpulos "burgueses".


Noticiou ontem o
Notalatina que Chávez cedeu mais uma vez às ordens vindas desde Havana, (segundo ele, "pedido" diretamente feito por Fidel Castro), e apresentou ontem ante as câmeras de televisão a Ramiro Valdés, com estas palavras: "Está conosco à frente dessa comissão um dos heróis da revolução cubana, o comandante Ramiro Valdés" que, segundo Chávez, veio para ajudar a resolver o problema elétrico na Venezuela.


Só que Valdés é conhecido como um dos repressores mais sanguinários dos 51 anos do regime comunista e participou de incontáveis fuzilamentos múltiplos na primeira década da revolução. (Ler mais detalhes no Notalatina). Valdés teria vindo para, usando sua experiência, consolidar os primeiros anos da repressão comunista de verdade na Venezuela.


Membros da
Federación de Organizaciones Venezolanas en el Exterior (FOVE) já se pronunciam claramente: "Ya no somos Venezuela, sino Cubazuela'', remató tras subrayar que "se sabe que quienes manejan la salud, quienes controlan a la Fuerzas Armadas, a las oficinas de registro [de identificación] y a las notarías'' en el país suramericano "son funcionarios cubanos''. O Fausta's Blog já tem uma seção denominada Cubazuela.


Será que nossos netos aprenderão que a Capital da Venezuela é Havana?


Ao menos enquanto existirem venezuelanos intrépidos e corajosos isto certamente não ocorrerá. Mas Cuba também tinha e sucumbiram num banho de sangue,
pero con ternura!

Música para os ouvidos - A escola austríaca e a refutação cabal do socialismo

A escola austríaca e a refutação cabal do socialismo


Por Alceu Garcia
http://www.oindividuo.com/convidado/alceu2.htm




Provar que na economia de mercado não existe mais-valia nem exploração, todavia, não é o mesmo que dizer que a exploração não existe. Existe. Ela ocorre quando somos forçados a dar alguma coisa em troca de nada, como, v.g., no caso dos tributos recolhidos pelo Estado. O Estado é a máquina perfeita de exploração. E o marxismo, por conferir um poder absoluto ao Estado, é o veículo insuperável da exploração sistematizada.


Introdução

O fracasso do socialismo como princípio de ordenamento social é hoje evidente para qualquer pessoa sensata e informada – o que exclui, é claro, os socialistas. Estes, porém, insistem que o malogro coletivista foi um mero acidente histórico, que a teoria é fundamentalmente correta e que pode funcionar no futuro, se presentes as condições apropriadas. Tentarei demonstrar nesse texto, recorrendo na medida das minhas limitações aos ensinamentos da escola austríaca de economia, que absolutamente não é esse o caso, que a teoria econômica (para não falar dos fundamentos filosóficos, éticos, sociológicos e políticos!) do socialismo é insustentável em seus próprios termos, e que ipso facto os resultados calamitosos constatados pela experiência histórica são, e sempre serão, uma consequência inevitável de uma ordem (rectius: desordem!) socialista. Não é preciso enfatizar a importância de se ter plena consciência da natureza perniciosa dessa corrente política e de suas funestas implicações, uma vez que em nosso país um poderoso movimento totalitário está muito próximo de tomar o poder.


O Erro dos Clássicos


O núcleo do pensamento econômico socialista está na concepção do valor como decorrente do volume de trabalho necessário para a produção das mercadorias, e isso não só em Marx como também em outros teóricos como Rodbertus, Proudhon etc. Essa teoria do valor constitui a premissa elementar da qual a mais-valia e a exploração são deduzidas. Marx, como se sabe, não inventou a teoria do valor-trabalho. Ela foi exposta bem antes por Adam Smith e David Ricardo e, dada a autoridade desses mestres, ganhou foros de ortodoxia. É difícil entender como esses dois pensadores notáveis, cujas descobertas foram realmente magníficas, puderam fracassar tão cabalmente justamente na questão crucial do valor. Talvez por causa dos avanços das ciências naturais, que estavam revelando propriedades antes insuspeitadas nas coisas, eles acharam que era mais "científico" considerar o valor também como um atributo da coisa. Vários pensadores antes de Smith já tinham tido o insight correto: o valor das coisas depende da avaliação subjetiva de sua utilidade. O valor está na mente dos homens. Hoje se sabe que os filósofos escolásticos e os primeiros economistas franceses, Cantillon e Turgot, haviam concebido uma teoria econômica superior em muitos pontos a dos clássicos britânicos, sobretudo quanto ao valor. Smith e Ricardo, porém, puseram a economia na pista errada com uma teoria do valor falaciosa e, nesse aspecto, causaram um grave retrocesso no pensamento econômico. Mas não por muito tempo. Enquanto Marx e outros pensadores socialistas faziam da teoria objetiva do valor a pedra fundamental de sua doutrina, diversos estudiosos já tinham constatado o desacerto dessa teoria e, independentemente, buscavam alternativas. Em todo caso, não seria exagero afirmar que Marx foi um economista clássico ortodoxo e que seus mestres, Ricardo em especial, podem ser considerados os fundadores honorários involuntários do socialismo "científico". Por ironia, o "revolucionário" Marx foi um conservador extremado em teoria econômica, enquant o que os economistas "burgueses" austríacos empreenderam uma verdadeira revolução nesse campo científico.


A Redescoberta da Subjetividade do Valor


Vários economistas, entre eles o austríaco Carl Menger, chegaram basicamente a mesma conclusão que seus esquecidos antecessores pré-clássicos: o valor é subjetivo. A teoria subjetiva do valor - ou teoria da utilidade marginal - resolve o problema satisfatoriamente, sem deixar lacunas. O valor nada tem a ver com a quantidade de trabalho empregada na produção da coisa., mas depende de sua utilidade para a satisfação de um propósito de uma determinada pessoa. A utilidade decresce à medida em que mais unidades de um dado bem são adquiridas, posto que a primeira unidade é empregada na função mais urgente segundo a escala de valores de cada um, a segunda unidade exerce a função imediatamente menos urgente etc. Para um sujeito que já tem uma televisão, por exemplo, ter outra já não tem a mesma urgência – dito de outra forma, as tvs são idênticas, exigiram a mesma quantidade de trabalho na sua produção, mas não têm o mesmo valor. Cada indivíduo tem uma escala de valores diferente, e o que é valioso para um pode não valer nada para outro. Até para o mesmo indivíduo a utilidade – e daí o valor – de um determinado bem varia no tempo.


Isto posto, é fácil verificar que os preços refletem a interação entre ofertantes e demandantes, cada um com sua respectiva escala de valores. Compradores e vendedores potenciais expressam suas preferências no mercado, condicionadas por suas valorações pessoais e intransferíveis, e dessa interação surge uma razão de troca, um preço, que vai variando para igualar oferta e procura ao longo do tempo, de modo que em um determinado instante todos os que valoram o que querem adquirir (no caso a tv) mais do que o que se propõem a dar em troca (no caso um preço monetário x) conseguem comprar o produto. O fabricante de tvs, segundo Marx, primeiro fabrica o produto e da quantidade de trabalho por unidade sai o valor e, consequentemente o preço. Isso é precisamente o inverso do processo real. Na verdade, o fabricante inicialmente faz uma estimativa de um certo preço que ele espera que atraia compradores e esgote o estoque – compradores que valorem mais a tv do que o dinheiro correspondente ao preço. Em seguida ele calcula o custo de produção aos preços correntes e, se for suficientemente inferior à receita final prevista, aí sim ele contrata e combina os fatores de produção para obter o produto. Não é pois o trabalho ou de modo geral o custo de produção que determina o valor e o preço. É justamente o contrário: o preço projetado determina o custo de produção.


O Emaranhado de Falácias Marxistas


Visando definir o valor com mais rigor do que Ricardo e levar a teoria às suas últimas consequências lógicas, Marx acaba demonstrando involuntariamente a invalidade das proposições pertinentes. Como seus antecessores, Marx distingue entre valor de uso e valor de troca. Para ele, as trocas só ocorrem quando coincide a quantidade de trabalho empregada no que se dá e no que se recebe. Só há troca, pois, nos termos marxistas, quando há coincidência de valor, que por sua vez é função do volume de trabalho dispendido. Ocorre que essa linha de raciocínio logo esbarra em um obstáculo insuperável: o trabalho é heterogêneo. Na ausência de homegeneidade, não há como tomar o trabalho como unidade de conta e medida de valor. Marx tenta superar o problema com os conceitos de trabalho "simples" e trabalho "complexo", fixando uma proporção entre eles, mas falha totalmente. Comos os preços flutuam, Marx decreta que essas variações são ilusórias; o real é um certo "preço médio" que equivale ao valor, que equivale ao volume de trabalho dispendido na produção do bem.


Ao procurar fugir da rede de falácias que vai tecendo, Marx incorre em uma óbvia petição de princípio que até hoje engana os ingênuos: a medida do valor seria a quantidade de trabalho "socialmente necessário" para a produção de determinada mercadoria. Ora, só podemos saber o que é "socialmente necessário" investigando o que leva os indivíduos que compõem uma sociedade a valorar uma coisa o suficiente para que sua fabricação seja "socialmente necessária". Porque mais cds de pagode são produzidos do que cds de música clássica? Porque o pagode é mais "socialmente necessário" do que a música erudita? Porque há muito mais gente que gosta de pagode do que os que preferem música erudita. Fica claro que o que foi dado como provado, que o valor depende da quantidade de trabalho "socialmente necessário", é precisamente o que se necessita provar. O que é "socialmente necessário"? É aquilo que os indivíduos desejam. Sendo assim, é evidente que temos que procurar o valor das coisas nas preferências individuais, não no custo de produção. Ademais, o trabalho não é o único fator de produção. Marx evidentemente sabe que o trabalho sem o fator terra – os recursos naturais – é inútil e vice-versa. Ele assevera que só o trabalho humano cria valor, pois a natureza é passiva. Mas se o trabalho isolado é incapaz de criar valor, o que nos impede de afirmar que o valor depende da quantidade de recursos naturais "socialmente necessários" à produção disso ou daquilo? E, como toda produção demanda tempo, porque não pode ser o valor definido como a quantidade de tempo "socialmente necessário" para a fabricação de uma mercadoria? Nessa ordem de idéias, mais lógico seria conceber o valor como função da quantidade de trabalho, terra, tempo e capital "socialmente necessários" para a produção de um bem. No fim das contas, é isso mesmo que Marx faz no vol. III de O Capital, relacionando o valor ao custo de produção, contradizendo sua própria concepção do valor-trabalho exposta no vol. I.


Para a teoria subjetiva, todavia, não há mistério e não há exceções: o "valor de troca" não é função do trabalho ou do custo de produção, e jamais pressupõe igualdade de valor. Se eu dou tanto valor ao que me proponho a trocar quanto ao que me é oferecido, simplesmente não troco. Só há troca quando os valores são diferentes, quando cada parte quer mais o que recebe do que o que dá. O contrato de trabalho não foge à regra. Cada contratante valora mais o que dá do que o que recebe, logo não há exploração. De fato, provando-se a falsidade da teoria do valor-trabalho, invalida-se inexoravelmente a exploração e a mais valia, e todo o edifício teórico deduzido dessa teoria desaba como um prédio do Sergio Naya.


Ademais, baseando-se na "lei de ferro dos salários", segundo a qual sempre que a remuneração do trabalho subisse acima do nível de subsistência os "proletários" aumentariam a sua prole, trazendo os salários de volta para o nível de subsistência original, Marx assegurou que o capitalismo engendrava a miserabilização crescente do proletariado. Trata-se de uma tese contraditória em seus próprios termos, vez que se a tendência fosse a de que a remuneração do trabalho permanecesse estagnada num patamar de miséria não haveria uma miserabilização "crescente", e sim uma "miserabilidade constante". Na verdade, o padrão de vida dos trabalhadores não cessou de aumentar nos países capitalistas avançados, o que é o resultado natural da liberdade individual de maximizar a utilidade – o valor – nas trocas livres, voluntárias e mutuamente benéficas travadas no que se chama economia de mercado. A conseqüente acumulação de capital investido per capita em grau maior do que o aumento demográfico da força de trabalho torna o trabalho cada vez mais escasso em relação ao capital – e os salários reais cada vez mais altos. Marx, como é comum entre os intelectuais, odiava a divisão do trabalho. Mas foi o aprofundamento da divisão do trabalho que permitiu o aumento da produtividade do trabalho e o consequente aumento do poder aquisitivo real dos salários. O "alienado" operário que aperta parafusos na linha de montagem é recompensado pelo fato de que a produtividade do seu trabalho é tal que lhe permite adquirir produtos antes sequer existentes e ter um padrão de vida muito superior ao artesão autônomo do passado que controlava todo o processo de produção. Marx acreditava que a livre concorrência levaria a uma superconcentração do capital. Na verdade, a concorrência força sem parar a redução de custos e preços, resultando numa melhor utilização de recursos escassos e os liberando para emprego em novas linhas de produção. Marx não distinguiu o capitalista do empresário. Na realidade, capitalista é todo aquele que cons ome menos do que produz – que poupa. Hoje nos países civilizados os trabalhadores são capitalistas e suas poupanças reunidas em grandes fundos de pensão e investimentos capitalizam empresas no mundo todo. O empresário é todo aquele que vislumbra um desequilíbrio entre a valoração corrente de custos e preços futuros de um produto qualquer, e nele uma oportunidade de oferecer aos consumidores coisas que eles valoram mais do que o seu custo de produção. A figura do empresário é insubstituível – o Estado não pode exercer esse papel. Isso os comunistas (e não apenas os comunistas!) puderam verificar na prática, para sua tristeza.


No sistema de Marx, como vimos, as trocas pressupõem igualdade de valor entre os bens negociados. Acontece que, como demonstrado acima, as trocas pressupõem precisamente o contrário: desigualdade de valor. Ou não há troca alguma. Assim, se a realidade se comportasse como na teoria de Marx, não haveria trocas. Na realidade, ninguém trabalharia sequer para si mesmo, posto que tal envolve uma substituição de um estado atual considerado pelo agente como insatisfatório por um estado futuro reputado como mais satisfatório. Quer dizer, até o trabalho autônomo envolve uma troca e valores desiguais. O mundo de Marx seria povoado por seres autárquicos, autísticos e estáticos. Um mundo morto. Não admira que os regimes socialistas sofram invariavelmente de uma tendência para a completa estagnação e paralisia da atividade econômica.


A Lei da Preferência Temporal


Outra descoberta fundamental, feita por um discípulo de Carl Menger chamado Eugen von Bohm-Bawerk, relaciona-se com a influência do tempo no processo produtivo. Ele percebeu uma categoria universal da ação humana: as pessoas dão mais valor a um bem no presente do que o mesmo bem no futuro, posto que o tempo é escasso, e logo é um bem econômico. Os indivíduos ao agirem elegem determinados fins e quanto mais cedo puderem alcançá-los, melhor. Partindo desse axioma ele obteve a explicação definitiva do fenômeno do juro, e mais, que o juro nas operações de crédito financeiras é um caso especial de um fenômeno geral. A produção demanda tempo; do início até a venda do produto há uma demora, sem falar no risco de o produto não ser vendido. Ocorre que ninguém quer esperar até que a venda ocorra para receber sua parte no total – isso se a venda realmente acontecer, e o preço for recompensador. Os proprietários dos fatores de produção - os trabalhadores, os proprietários do espaço alugado, os fornecedores de insumos, os donos dos bens de capital – querem receber logo sua parte sem partilhar dos riscos. Dito de outra forma, eles preferem bens presentes a bens futuros. Mas os bens presentes sofrem um desconto. Daí receberem menos agora do que receberiam no futuro. Ficam livres do risco, que é assumido pelo empresário e pelos poupadores que lhe outorgaram seus recursos.


A parcela que um determinado trabalhador agrega ao produto final – o valor do produto marginal, como dizem os economistas – pode ou não ser remunerado integralmente. Há frequentemente casos em que o trabalhador recebe mais do que produziu, quando o preço não cobre os custos, o que não tem explicação pela teoria marxista. O capitalista paga a mais-valia ao proletário! O que é certo é que na economia de mercado há forças operando incessantemente para igualar o salário ao valor do produto marginal. Tanto o lucro quanto o prejuízo são sinais de desequilíbrio. As perdas significam que os compradores não valoram um determinado bem mais do que o dispêndio mínimo corrente para produzi-lo. Os trabalhadores estão recebendo mais do que o seu trabalho produz. O empresário tem que reduzir custos para reduzir o preço do seu produto, ou quebra. O lucro significa que os consumidores valoram um dado bem a um dado preço mais do que o custo de produzi-lo. Os trabalhadores estão recebendo menos do que o valor do produto marginal. Isso quer dizer que os compradores querem mais desse produto. O retorno alto atrai a concorrência, o que aumenta a demanda por fatores de produção – trabalho incluso – e faz cair o preço pelo aumento da oferta do produto. A taxa de lucro baixa e os salários tendem a igualar o valor do produto marginal, descontada a taxa social de preferência temporal - o juro.


Marx nunca compreendeu – ou não quis compreender - que o empresário é um preposto dos consumidores e que são estes quem determinam indiretamente o nível de remuneração dos fatores de produção – salários inclusos. A tarefa dos empresários é satisfazer os caprichos dos consumidores. Nessa função ele deve assumir riscos pois o futuro é sempre incerto. Nota-se, pois, o absurdo da condenação da produção "para o lucro" pelos marxistas vulgares e sua veneração pela produção "para o uso". Sucede que toda produção sempre tem por fim o consumo, i.e., o uso. A produção não é um fim em si mesmo, e sim um meio para se alcançar um fim: o consumo. O lucro e as perdas monetários são sinais fundamentais que orientam os empresários a organizar eficientemente a produção de modo a satisfazer os usos mais urgentemente desejados pelos usuários (presupondo-se a ausência de privilégios concedidos pelo governo aos produtores em detrimento dos consumidores, tais como tarifas, monopólios, subsídios, licenças etc). A lei da preferência temporal exerce um papel determinante no processo produtivo. Se todos os proprietários de fatores (os empregados donos de sua força de trabalho, os fornecedores de insumos, o proprietário do espaço onde a fábrica ou loja se situa, os capitalistas) decidissem partilhar do risco e aguardar até a efetiva venda do produto final total para então dividirem pro rata a receita total, todos eles seriam empresários. Como porém, o ser humano prefere o mesmo bem agora do que no futuro (que é sempre incerto), surge a necessidade social de que um indivíduo, ou grupo de indivíduos reunidos (empresa), exerça essa função empresarial, que é absolutamente indispensável para o progresso da sociedade. O empresário, assim, paga agora aos proprietários de fatores com bens presentes em troca de receber os mesmos bens (dinheiro) no futuro, correndo o risco de não receber. Esse desconto dos bens presentes em termos de bens futuros, como já assinalado, é o que se chama de juro.


A Impossibilidade do Cálculo Econômico em uma Comunidade Socialista


Tendo demonstrado satisfatoriamente que a crítica marxista ao capitalismo é inteiramente equivocada, resta empreender por nosso turno a crítica ao sistema socialista, conforme idealizado por Marx, seus sucessores e outras correntes socialistas. Esse sistema exige a propriedade pública dos meios de produção – terra, trabalho e capital – e o conseqüente planejamento central de toda as atividades econômicas. A primeira objeção que vem à mente é a questão dos incentivos: quem planeja e quem obedece às ordens do planejador ou planejadores? Quem determina o padrão de remuneração dos serviços e que padrão é esse? Numa sociedade que se presume igualitária, a remuneração deve ser igual para todos os tipos de trabalho? Nesse caso, o neurocirurgião terá o mesmo incentivo para exercer suas funções que o lixeiro? Segundo os marxistas, cada um contribui para a coletividade segundo as suas possibilidades e recebe de um fundo comum segundo suas necessidades. Já é possível até aqui imaginar a complexidade do problema.


Pois um discípulo de Bohm-Bawerk, Ludwig von Mises, foi mais além, atingindo a raiz do problema do socialismo, que é ainda mais profunda do que a complicação dos incentivos permite vislumbrar. Mises descobriu que a atividade econômica em uma economia complexa depende de um cálculo prévio que leve em conta os preços monetários dos fatores de produção. Impossível esse cálculo, impossível a atividade econômica. Ocorre que, numa sociedade socialista pura, todos os fatores de produção pertencem a um único dono: o Estado. Sem propriedade privada os fatores não são trocados e, logo, não têm preço. A escassez relativa dos fatores de produção e seus usos alternativos fica oculta e o planejador central inexoravelmente é levado a agir às cegas. Mises admitiu para argumentar que a questão dos incentivos não apresentasse nenhum obstáculo, que todos se empenhassem diligentemente em suas tarefas. Ou seja, postula-se que a natureza humana seja aquela que os teóricos socialistas quiserem que ela seja, não o que ela de fato é. Mesmo assim, na ausência de preços para os fatores de produção, o cálculo econômico é impossível e a atividade econômica se torna caótica, vez que não se pode discernir entre os vários tipos de combinação de fatores aquele que é o mais econômico. Dado um determinado estado de conhecimento tecnológico, sempre existem inúmeras maneiras de se empreender um projeto econômico qualquer, digamos uma siderúrgica, mas somente se a escassez relativa dos fatores de produção é expressa em preços monetários é possível escolher dentre as soluções técnicas possíveis aquela que é mais econômica, ou seja, a que representa os menores custos em relação ao preço futuro do produto final, e só assim se pode avaliar ex ante se o projeto sequer é economicamente viável no momento. Como nada disso é a priori possível numa sociedade socialista, todos os empreendimentos tocados pelo estado não passam de um gigantesco desperdício de recursos que mais cedo ou mais tarde leva ao colapso econômico. A experiên cia comunista comprovou tudo isso, muito embora não tenha nunca existido uma sociedade socialista realmente pura. A URSS podia usar o sistema de preços do mundo capitalista como referência e copiar seus métodos de produção, e um florescente e gigantesco mercado negro supria até certo ponto as monumentais falhas do planejamento estatal. Mesmo assim, a economia soviética sempre foi um caos. Funcionou por algum tempo graças ao uso sistemático do terror como "incentivo". Mas o terror não pode durar para sempre. Quando arrefeceu, foi-se o incentivo e a economia comunista anquilosou rapidamente e morreu.


A Natureza Dispersa do Conhecimento


A crítica de Mises publicada em 1920 causou consternação na intelligentsia socialista. Ao menos o desafio foi levado a sério e muitas respostas foram aventadas. Nos anos 30 alguns economistas socialistas (Oskar Lange, Abba Lerner) formularam a teoria do "socialismo de mercado", baseada nas idéias do economista do séc. 19 Léon Walras, que concebeu um método de equações matemáticas capazes de permitir a compreensão do estado geral de equilíbrio de uma economia. Tudo o que se fazia necessário, pois, era outorgar certa autonomia aos gerentes das unidades produtivas de modo que igualassem o preço do produto ao custo marginal para que o comunismo funcionasse tão bem como o capitalismo. Muitos economistas liberais eminentes, como Joseph Schumpeter e Frank Knight, aceitaram a validade dessa solução e se convenceram de que não havia obstáculos econômicos ao socialismo. Ainda outro economista austríaco, contudo, Friedrich Hayek, discípulo de Mises, desenvolveu certos aspectos implícitos na análise de seu mestre para refutar a "solução" socialista. O esquema walrasiano padece de um defeito fatal: é estático. O conhecimento técnico, os recursos e as informações são considerados dados no sistema. Hayek argumentou que o conhecimento é disperso na sociedade e a sua utilização racional é levada a efeito por cada indivíduo traçando seus próprios planos segundo circunstâncias personalíssimas e intransferíveis. O mercado coordena esses planos espontâneamente, sobretudo por intermédio do sistema de preços, de forma muito mais racional e útil do que um planejamento central poderia esperar fazer. O planejamento central implica na supressão dos planos individuais. Os indivíduos tornam-se instrumentos do planejador central, mas esse não pode ter jamais a esperança de coordenar a produção racionalmente. O estado de equilíbrio é uma quimera que não tem lugar no mundo real, dinâmico por natureza, e o conhecimento, as oportunidades e a informação nunca estão "dados". Ao contrário, estão sendo incessantemente criados e ampliados através das iniciativa individuais e suas interações.


Mesmo assim, Mises e Hayek foram tidos como refutados e relegados ao ostracismo pela comunidade dos economistas. Mises morreu esquecido em 1973, mas Hayek viveu o suficiente para rir por último quando o comunismo soçobrou e todas as análises de ambos se revelaram certas. Ele morreu em 1992, após testemunhar a queda do Muro de Berlim e o colapso soviético.


Conclusão


Provar que na economia de mercado não existe mais-valia nem exploração, todavia, não é o mesmo que dizer que a exploração não existe. Existe. Ela ocorre quando somos forçados a dar alguma coisa em troca de nada, como, v.g., no caso dos tributos recolhidos pelo Estado. O Estado é a máquina perfeita de exploração. E o marxismo, por conferir um poder absoluto ao Estado, é o veículo insuperável da exploração sistematizada. A doutrina socialista por ser intrinsecamente falsa leva inevitavelmente a uma perversão e inversão do sentido das palavras, como notou Orwell – por ironia ele mesmo um socialista convicto. Liberdade é escravidão e escravidão é liberdade; democracia é ditadura e ditadura é democracia; cooperação voluntária é coerção e coerção é cooperação voluntária. O Estado socialista é dono de tudo, o que traduz a triste realidade de que os que comandam o governo são os senhores implacáveis, os proprietários absolutos dos comandados. Socialismo é mais do que uma restauração da escravidão; é seu aperfeiçoamento e culminância.


Vale lembrar ainda que a análise supra vale para qualquer espécie de socialismo, seja o comunismo (socialismo de classe), nazismo (socialismo de raça) ou fascismo (socialismo de nação).


Tudo o que foi exposto aqui é conhecido há décadas. Contudo, pouca gente sabe pois a intelligentsia de esquerda bloqueia a sua divulgação. É uma vergonha, pois uma das tarefas principais dos intelectuais – os que se dedicam ao estudo das idéias – deveria ser justamente a de esclarecer a sociedade a respeito das idéias certas a serem adotadas para o bem comum, e advertir do perigo de se aceitar teorias erradas. Mas não é isso que acontece, infelizmente. Parece que os intelectuais sofrem de uma propensão irreprimível para o socialismo, certamente porque nele vislumbram a chance de empalmar o poder absoluto em causa própria. Em termos marxistas, o próprio marxismo não passa de ideologia, a falsa consciência, que uma classe – a intelligentsia – difunde em função de seus próprios interesses. Essas falsas idéias se propagam e iludem – alienam – as futuras vítimas da classe "revolucionária". É um dever inadiável de todo cidadão consciente denunciar esse esquema podre, desmascarar a falácia socialista e esclarecer a opinião pública na medida de suas possibilidades.



Alceu Garcia

Rio de Janeiro – abril/2002

Hemograma do Brasil

Fonte: LIBERTATUM

QUINTA-FEIRA, FEVEREIRO 04, 2010


Por Klauber Cristofen Pires


Há alguns dias atrás redigi o artigo Lula, de A a Z, com o fito de enumerar, pelas 26 letras do alfabeto, um rol não exaustivo das desastrosas e perigosas ações do governo de Lula e do PT. Desta vez, trago à baila o retrato de um Lula tão fiel quanto Capitu, somente para que os leitores tenham a concreta percepção de sua natureza de escalador profissional da política; somente para que os indecisos compreendam que ele não possui nenhum senso de liderança baseado em visão de estadista, muito menos em valores que mereçam tal denominação.

Acaso se lembram do projeto do biodiesel? Quanta propaganda nos entrava nos lares pela tv? Quantos sorrisos de caboclos plantando palmeiras oleaginosas? Quanta megalomania a apresentar o símbolo da Petrobras em tomadas de baixo para cima? Quantos dedos em riste de um Lula falando cuspindo a anunciar a nossa revolução eco-energértica? E hoje? Alguém se lembra disto?

Qual foi o problema do biodiesel? Por quê ele não funcionou? Ele não deu certo porque a sua concepção foi praticamente toda fundada num estilo de produção socialista. Era um negócio de comprar a produção de "agricultores familiares" (leia-se "assentados do MST") a preço previamente estipulado, antes mesmo de ter-se desenvolvido a tecnologia necessária para uma saída economicamente competitiva. No final, os caboclos ficaram no calote, e ninguém na imprensa tradicional fala mais nisso. E aí, Lula? Silêncio....

Carapanã comeu, voou. Carrapato de bicho morto pula pra outro, e pulou, agora para o álcool. E lá está ele, grudadinho na maior promessa de alternativa aos combustíveis fósseis do mundo, "The Guy", anunciando a boa nova. O quê? Estão plantando cana na Amazônia? O álcool está roubando as áreas de produção de comida? "Não vi, não sei, assinei sem ler"....

Pra completar, o álcool foi abandonado pelos motivos inversos ao do biodiesel: se um não deu certo porque não funcionava, este não deu porque funciona. Hoje o álcool é um negócio quase que totalmente privado, que, ora bolas, não tem muito a depender da máquina estatal, e por isto mesmo, tem pouco a oferecer à parasitagem eleitoreira. O bicho, aqui, tá vivo, mas tem o couro muito espesso...e os bicudos não chegam até à fonte. Tá na hora de pular de novo...

Pré-sal! Ô beleza! Uma máquina gigantesca, forrada de sindicalistas! Dá beleza de estender os olhos pelas suas amplas salas e contemplar aquela plantação de cargos de confiança! E que tranquilidade! O pré-sal está prometido para quando todos nós estivermos mortos, e é disto que precisamos! De promessas! Promessas vendem! Ademais, quem vai dizer, na bomba, se aquele litro de gasolina veio do pré-sal ou dos Emirados? Aqui sim, o hematófogo se cria, tanto é que pretende se instalar para além do seu governo.

Depois deste singelo lembrete, que fatia do empresariado pode acreditar em Lula como defensor do seu respectivo setor? O negócio do álcool, trabalhando em paz, estava indo muito bem até que por ele vampirizado. Depois, o que sobrou foram as proibições de plantio na Amazônia e em outras áreas com boa vocação, e mais intervenção na forma de regulações estorvadoras, com prejuízos incalculáveis para muita gente e perda de empregos para muitos mais.

E o que esperam obter os grupos políticos regionais de uma liderança tão volúvel, quando "o cara" dá no pé justamente na hora em que as perspectivas de investimentos estão para serem concretizadas?

Trabalhadores! que pensar de um líder que, de tão embriagado pelo seu carisma, não dá a mínima para os seus empregos? Perguntem àqueles produtores e empregados do biodiesel e do álcool!

Lula é carrapato, e o cachorro somos todos nós!

Lula é o PT. Lula é a Dilma. Lula é a esquerda. Nada que dele emana se difere de todos os demais que lhe cercam e bajulam.

O Modelo Nazista Para a Educação Orientada Para Resultados

O Modelo Nazista Para a Educação Orientada Para Resultados

Autora: Berit Kjos


Autora: Berit Kjos — Kjos Ministries, em http://www.crossroad.to/text/articles/tnmfobe1196.html
Tradução: Walter Nunes Braz Jr.
Data de publicação: 4/7/2004
Revisão: http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/EducacaoNazista.asp


A história continua se repetindo, mas poucos dão ouvidos às suas advertências. Se nossos líderes prestassem atenção, saberiam que o esforço maciço atual de transformar a cultura pela estatização da educação trará repressão, não a liberdade. Veriam que as estratégias manipuladoras do sistema pedagógico conhecido com "Domínio da Aprendizagem" criarão fantoches humanos, não pensadores independentes.


Apesar da explosão da informação, o mundo ocidental não ouviu a mensagem. Talvez nossos principais agentes de mudança não saibam o que as estratégias enganadoras e os currículos emburrecidos farão às nossas crianças. Talvez não tenham observado que as similaridades entre essas estratégias educacionais e as táticas nazistas para moldar as mentes dos jovens e ensinar a conformidade com o grupo. Talvez as manipulações psicológicas de hoje sejam simplesmente uma expressão moderna da "sabedoria humana" sem orientação bíblica. Entretanto, parece claro que os agentes de mudança de hoje compartilham com os nazistas uma característica trágica: a falta da honestidade e integridade que uma vez fizeram este país seguro para crianças.


Não é segredo que a propaganda e a doutrinação eram as duas pedras de esquina da educação nazista. O objetivo de Hitler era o nacional-socialismo, um estado fascista que dominaria o mundo. Aprendendo suas lições dos revolucionários soviéticos, ele sabia que somente promessas falsas e visões enganadoras poderiam ganhar o apoio das massas crédulas e construir um exército submisso de jovens radicais. Que nossos líderes educacionais e políticos se inclinariam para o mesmo padrão baixo é algo que continua escondido do público geral. Que o alvo deles é o socialismo global com vigilância do berço à sepultura é negado raivosamente pelos guardiões treinados e confiados das mentes das nossas crianças.


Se o público adormecido não acordar logo e resistir, será certamente tarde demais para fazer parar a maré de engano que se levanta e ameaça engolfar nossas crianças. Se for assim, o povo de Deus uma vez mais terá demonstrado as conseqüências cegas de chutar para fora a verdade e amar a mentira.


A fonte das citações seguintes é o livro Nazism: A History in Documents and Eyewitness Accounts (Nazismo: Uma História em Documentos e Relatos de Testemunhas Oculares), 1919-1945, publicado em 1983 e editado por J. Noakes e G. Pridham em cooperação com o Departamento de História e Arqueologia da Universidade de Exeter, na Inglaterra. Esse livro representa anos de pesquisa em documentos da era nazista. Muitas das citações seguintes foram encurtadas de modo a incluir o maior número possível de ilustrações dentro do espaço deste artigo. Os números das páginas aparecem no fim de cada citação.


Visto que esta comparação foi escrita para acompanhar meu livro, Brave New Schools (Admiráveis Escolas Novas), não incluí definições e explanações do novo sistema de educação americana/internacional. Todos os termos e palavras-chave são explicados em Brave New Schools e definidos em seu glossário.


As palavras em negrito que introduzem as citações referem-se aos vários aspectos do sistema global programado para ser implementado por volta do ano 2001. As citações representam o sistema nazista.


Acordem, pais!



Transforme o Mundo Por Meio da Transformação das Crianças


Transforme as crianças primeiro: "Os líderes nazistas reconheceram a dificuldade de doutrinar a geração mais velha... Estavam mais determinados em moldar a geração mais nova nas diretrizes nazistas. Como disse o líder da Liga dos Professores Nazistas, Hans Schemm: 'Aqueles que têm a juventude do seu lado controlarão o futuro.'" (416).


Crie o cidadão de classe mundial: "... crie um novo tipo de aluno..." (440).


Ensine Valores e Crenças Politicamente Corretos


Condicione os estudantes para a nova ordem social e econômica: "A juventude alemã não deve mais... ser confrontada com a escolha se deseja crescer em um espírito de materialismo ou idealismo, de racismo ou internacionalismo, de religioso ou sem deus, mas deve conscientemente ser moldada de acordo com os princípios que são reconhecidos como corretos... de acordo com os princípios da ideologia do nacional-socialismo." (432).


A censura aos modelos contrários: "O ensino... direcionado para encorajar 'uma consciência de ser alemão... Na seleção dos materiais de ensino eles devem evitar as obras que 'contradizem os sentimentos alemães ou paralisam as energias necessárias para auto-afirmação' e selecionar somente obras modernas que 'têm uma afinidade com o espírito da nova Alemanha'." (437).


Estabeleça um Sistema de Educação Orientado Para Resultados


Reestruture as escolas e nacionalize os testes e padrões: "O regime esforçou-se para afirmar seu controle sobre o sistema de educação com a reorganização e a centralização..." (433).


Aprendizado afetivo (centrado em sentimentos, de atitudes), não-cognitivo, ganha o certificado da graduação: "Muitos alunos acreditam que podem simplesmente cursar os oito anos e assegurar seu diploma escolar mesmo com mínimo desempenho intelectual... Os alunos que estão em posições de liderança... freqüentemente mostram comportamento sem modos e preguiça na escola. Em general, pode-se dizer que a disciplina na escola declinou em um nível alarmante..." (429).


Vínculo com o Programa Escola-Trabalho: "O novo movimento ofereceu perspectivas de emprego futuro em um tempo de maciço desemprego nos níveis de graduação." (440).


Implemente o Sistema "Domínio da Aprendizagem"


Condicione os estudantes a se transformarem em servidores da sociedade, não indivíduos — mas diga ao público o contrário: "'... a tarefa principal da escola é a educação da juventude no serviço do... Estado no espírito do nacional-socialismo.' Isto tornou clara a determinação nazista de desviar o foco da educação para fora das necessidades do indivíduo e do desenvolvimento de seu potencial como ser humano para as exigências da comunidade da nação e do Estado, da qual o indivíduo era membro e a qual deve se subordinar." (436).


Padrões politicamente corretos para o certo e o errado: "Os professores de Munique foram advertidos: 'De agora em diante não cabe a vocês decidir se algo é ou não verdadeiro, mas se é do interesse da revolução nacional-socialista.'" (446).


Defina objetivos (resultados) afetivos, não cognitivos: "Quanto mais entusiasmados eles ficarem, mais fáceis serão os exames e mais rápido passarão de ano e terão um emprego... A nova geração nunca fez muito uso da educação e da leitura. Agora nada é exigido deles; ao contrário, o conhecimento é publicamente condenado." (427).


Esqueça os fatos. Ensine atitudes e caráter "certos" por meio de experiências "sinta-se bem consigo mesmo": Um aspecto importante da educação nazista era o culto da "Experiência" como sendo mais crucial ao desenvolvimento do indivíduo do que o processo acadêmico de aprendizagem com seu enfoque no "conhecimento". Ao contrário do conhecimento que envolve o intelecto, a experiência envolvia o "sentimento" que fornecia sozinho o acesso às verdades profundas do nazismo que estavam baseadas essencialmente em unidade ideológica. Essa "experiência"... era considerada essencial à construção do caráter. (441).


Rejeite as velhas figuras de autoridade por meio do pensamento crítico e clarificação de valores: "Apelou ao desejo da juventude de ser independente do mundo adulto e explorou o conflito de gerações e a tendência típica dos jovens de desafiarem as figuras de autoridade, sejam pais ou professores." (429).


Confunda os valores dos estudantes por meio de estímulos chocantes e exercícios de clarificação de valores (incluindo a educação sexual e sobre a AIDS): "... particularmente os professores em escolas secundárias ficaram indispostos pela crueza de sua doutrinação." (433).


Infunda Novos Valores Por Meio do Aprendizado da "Vida Real"


Crie novas crenças e valores por meio da educação multicultural e global: "Novos cursos foram introduzidos em campos como estudos raciais, eugenia, e os estudos de defesa e havia uma nova ênfase na pré-história... Os cursos de Direito e Ciência Política foram adaptados para se ajustarem às mudanças introduzidas pelo regime." (446).


Artes, ofícios e experiência multicultural: "As pessoas contavam histórias, dançavam e faziam trabalhos manuais..." (423).


Ensine a Matemática por meio do currículo integrado: "Outros assuntos, como Matemática e língua estrangeira eram menos sujeitos à contaminação ideológica. Mesmo aqui, entretanto, a ideologia nazista podia entrar pela porta dos fundos, como fica claro nas seguintes questões em testes... 'Questão 95: A construção de um manicômio custa 6 milhões de marcos. Quantas casas de 15.000 marcos cada uma poderiam ser construídas com essa quantia?'." (438-439).


Aconselhamento de Colegas: "O slogan 'Os jovens devem ser liderados pelos jovens'... foi ecoado ritualmente e até certo ponto seguido na prática. Mas o espírito em que foi aplicado era muito diferente. Esses líderes jovens não representavam uma cultura autônoma da juventude, mas eram funcionários de uma burocracia oficial, regimentados por regras e regulamentos e que seguiam os padrões determinados no treinamento." (422).


Condicione os estudantes à conformidade: "É preferível que as pessoas não tenham uma vontade própria e se subordinem totalmente umas às outras." (428).


A Aprendizagem por Toda a Vida requer treinamento, teste, correção, mais teste e treinamento: "Se eles ainda não se tornassem nacionais-socialistas reais, então entravam no Serviço de Laborterapia e eram polidos lá... Se após seis ou sete meses, ainda restassem resíduos de consciência de classe ou orgulho no status, então a Wehrmacht [i] faria um tratamento mais profundo... e quando eles retornassem após dois ou quatro anos, então, para impedir que deslizassem de volta aos velhos hábitos novamente, eram levados imediatamente para a SA [ii], SS [iii], etc., e não ficariam livres outra vez para o resto de suas vidas." (417).


Exija o Serviço Comunitário


"Aprendizado de serviços": "A finalidade do Serviço de Laborterapia era parcialmente prática — para... fornecer uma fonte de mão de obra barata — mas principalmente ideológica. Era uma parte do culto da comunidade corrente no movimento da juventude agora manipulado pelos nazistas para seus próprios fins. Os estudantes seriam confrontados com a vida real e, sendo forçados a se misturarem com os segmentos menos privilegiados da comunidade, seriam lembrados de que estavam todos [os camaradas nacionais] juntos." (440-441).


Serviço compulsório: "O serviço na Juventude Hitlerista é um serviço honorário ao povo alemão. Todos os jovens são obrigados a partir dos dez até os dezenove anos de idade a servirem na Juventude Hitlerista [iv]." (420).


Formação do Caráter e Aprendizagem Cooperativa: "Não podemos lutar para sair desta crise profunda por meio do intelectualismo... A escola para o caráter... que é um teste prático da verdadeira camaradagem no trabalho e na vida é insubstituível... a verdadeira, grande e prática escola está... nos acampamentos de trabalho, porque aqui a instrução e as palavras cessam e ação inicia." (441).


Revise a História


Novo conteúdo: "... além de controlar e doutrinar a profissão do magistério, reorganizar o sistema educacional e estabelecer novas escolas de elite, o regime procurou influenciar a juventude por meio do conteúdo daquilo que era ensinado nas escolas." (436).


"Relevância" e revisão histórica: "O curso de História não deve parecer aos nossos jovens como uma crônica que amarra os eventos juntos indiscriminadamente, mas, como em uma peça de teatro, apenas os eventos importantes, aqueles que têm um impacto maior na vida, devem ser retratados." (438).


Treine Novamente os Professores


Primeiro doutrine os professores: "A tarefa real da NSLB [v] é criar o novo educador alemão no espírito do nacional-socialismo. Ela está sendo realizada com os mesmos métodos com os quais o movimento conquistou a nação inteira: doutrinação e propaganda." (432).


Garanta professores submissos. "O Partido Nazista... percebeu que poderia fazer pouco com os professores existentes se eles se conformassem apenas exteriormente. Portanto, concentrou-se em tentar transformar a profissão controlando a entrada e a promoção dentro dela por meio do processo de doutrinação política..." (444).


As táticas opressivas da NEA [vi]: "Os professores eram, entretanto, também sujeitos ao controle de sua associação profissional, a Liga Nacional-Socialista dos Professores (NSLB)... ela se expandiu por meio de uma mistura de propaganda e intimidação... As funções principais da liga eram, primeiro, a preparação de relatórios sobre a confiabilidade política dos professores para nomeações e promoções e, segundo, a doutrinação ideológica dos professores..." (431).


Conforme-se ou renuncie. "A maioria dos acadêmicos era apolítica ou aprovava pelo menos alguns aspectos do regime... Aqueles que não aprovavam eram forçados a se desligar ou eram intimidados ao silêncio." (445).


Silencie a Oposição


Bloqueie a influência negativa dos pais e da cultura tradicional: "... estes meninos ingressam na nossa organização aos dez anos... quatro anos mais tarde, passam da Jungvolk [vii] para a Juventude Hitlerista, e lá nós os mantemos por outros quatro anos. E então estamos menos preparados para colocá-los de volta nas mãos daqueles que criaram nossas barreiras de classe e de status..." (417).


Puna os pais que protegem seus filhos da doutrinação do Estado: "O pai ou responsável receberá uma multa de até 150 marcos, ou prisão, se deliberadamente violar a determinação número 9 deste decreto (matrícula na Juventude Hitlerista)." (420).


Escolas privadas e cristãs: "As escolas privadas e as confessionais sucumbiram gradualmente às várias pressões: a perda de subsídios do governo ou as deduções de impostos..." (434).


Enfrente as Conseqüências


Alguns resistem ao clima rude, imoral, e antiintelectual e às pressões para se conformarem: "Ao fim dos anos 30, um número crescente de estudantes estava começando a sentir asco pelo regimento, pelas pressões para se conformarem, pelo clima antiintelectual, pela rudeza do estilo do regime e por sua duplicidade moral." (443).


Estudantes arrogantes: "Os professores, em particular, estavam também preocupados com o desdém ao intelecto cultivado pela Juventude Hitlerista e pela arrogância exibida em relação a eles pelos alunos que eram líderes da Juventude." (429).



Notas do Tradutor


[i] Forças Armadas do Terceiro Reich.

[ii] Sturmabteilung, Tropa de Choque.

[iii] Schutzstaffel, Esquadrão de Proteção.

[iv] Hitler-Jugend, HJ. Grupo criado pelo Partido Nazista em 1926 para treinamento militar e doutrinação em nazismo. Mais informações podem ser encontradas em http://encyclopedia.thefreedictionary.com/Hitler%20Youth.

[v] National-Sozialistischer Lehrer-Bund, Liga de Professores Nacional-Socialista. Hans Schemm, presidente da NSLB até 1937, tinha como slogan “O Nacional-Socialismo é biologia aplicada”. Lembremos que o nazismo era evolucionista. Observe agora esta questão do vestibular da Unicamp de 2001 (http://www.convest.unicamp.br/vest_ant/2001/download/fase1.pdf):

"9. Desde 1995 alguns estados norte-americanos estão excluindo o ensino da teoria da evolução biológica dos seus currículos alegando, entre outras razões, que ninguém estava presente quando a vida surgiu na Terra. Alguns cientistas defendem a Teoria da Evolução argumentando que, se é necessário 'ver para crer’, então não poderemos acreditar na existência dos átomos, pois estes também não podem ser vistos." (adaptado de IstoÉ, 25/08/99).

"a) Apresente três evidências que apóiem a teoria da evolução biológica."

"b) A mutação gênica é considerada um dos principais fatores evolutivos. Por quê?"


[vi] Nacional Education Association, (Associação Nacional da Educação), dos EUA. Sobre a política da NEA, veja a cronologia da Educação Global da UNESCO em http://www.crossroad.to/Books/BraveNewSchools/Chronology.htm. Segue a tradução de alguns trechos:

"Todos nós, incluindo os 'proprietários', devemos estar sujeitos a um largo grau de controle social... Uma distribuição igualitária de renda será buscada... a maior função da escola é a orientação social do indivíduo. Ela deve procurar dar a ele a compreensão da transição para uma nova ordem social." (Willard Givens, ex-secretário executivo, 1934).


"Engolimos todas as formas de certezas venenosas fornecidas por nossos pais... Os resultados são frustração, inferioridade, neuroses e a incapacidade para... tornar o mundo adequado para viver..."


"Por muito tempo aceitou-se que os pais têm o direito perfeito de impor qualquer ponto de vista, quaisquer mentiras ou medos, superstições, preconceitos, ódios, ou fé aos seus filhos indefesos... As pessoas com culpas, medos, complexo de inferioridade projetam seus ódios sobre os outros... Tal reação transforma-se agora em uma ameaça perigosa para o mundo inteiro... " — Trecho do livro Learning Mastery (essa tradução é a citação da mesma obra em http://www.espada.eti.br/n1497.asp).


[vii] Em alemão, Povo Jovem, ou Nação Jovem. Outra organização nazista para adolescentes.




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